quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O triste ocaso de Austin Beebach

Imagem de The Everyday Goth

Austin era um garoto doce, afável, com uma voz suave e bem afinada. Ele ganhava seus trocados cantando na rua, tocando seu velho violão, único bem material que tinha. Tudo o que cantava, saía do coração, ele cantava o que não conseguia falar, por isso encantava tanto os passantes.

Um dia, em uma de suas sessões ao ar livre, um figurão do show business o ouviu, se aproximou e colocou-se a ouvir. Jogava uma moeda a mais por cada música, até que se deu por satisfeito e conversou com ele. Ainda criança, precisou dos pais para assinar um bom contracto.

Como uma criança, Austin era totalmente moldável ao bel prazer de seus tutores, só tinha os pais para colocar limites na ganância dos empresários, que viam imitadores de marginais ganhando milhões em pouco tempo. A imagem de Austin, pelo contrário, era a do garotinho tímido e bom partido para casamento, algo que os pubianos dias vigentes pouco ou nada valorizam.

Línguas maldosas começaram a atacá-lo, variando entre gay e retardado os adjetivos que lhe dirigiam. O empresário, vendo o quanto ele se irritava com o assédio moral, deixou correr solto, esperando para colher uma imitação de bandidão barra pesada, quando ele pudesse se livrar dos pais. Foram alguns anos, com ele sofrendo de depressão e a raiva crescendo. Como fizeram com Elvis, o empresário queria que ele se matasse para lhe dar o retorno desejado.

E Austin fez dezoito anos. E Austin fez tudo o que seu empresário previra. Estava perfeito, o garoto tímido estava revoltado, uma presa fácil para sua manipulação egoísta. A imagem de bom homem para casamento, que muitas mães tinham nutrido, se desmanchava rapidamente.

Austin começou a esnobar os fãs. De início era só isso. O market que o envolvia se tornava paulatinamente maior do que ele, e todas aquelas garotas começavam a achar natural que um ídolo fosse esnobe mesmo. Mais ou menos como no caso do sapo cozido, que fora colocado em água fria e não percebeu o aumento lento da temperatura, até ser tarde.

Com o tempo, Austin passou a maltratar deliberadamente os fãs, cuspindo neles e os xingando publicamente. Passou a ser visto em baladas perigosas, cultivou a fama de machão promíscuo, tornando-se mais um bad boy boboca que só é valente quando cercado de jagunços.

Aos poucos, os fãs cozidos acharam natural que ele se tornasse vândalo, alegando que era autenticidade, que não precisava ser o bonzinho que todos esperavam e tudo mais. Afinal, a mídia idolatra bandido, os quadrinhos até os tornaram mais fortes do que os heróis. Embora nenhum deles queira estar diante de um de verdade.

Ser expulso de hotéis que ainda mantêm uma dignidade mínima, tornou-se comum, assim como a peregrinação dos fãs cozidos para onde quer que ele se hospedasse, deixando de estudar, de trabalhar, de tomar banho e até fazendo tratos com marginais de verdade, para garantir um lugar nos shows.

Aliás, foi-se o tempo em que os shows eram de musiquinhas açucaradas e imaturas. Atrasos e péssimo comportamento passaram a predominar. Muitas vezes ele só mexia a boca, pois estava rouco com a vida desregrada, deixando a cargo de uma gravação o trabalho que ele deveria fazer.

ídolo marginal não atrai público comportado. Tornou-se comum também os fãs atirarem coisas ao palco. No começa eram só lingeries, que o deixavam assustado, depois começaram a atirar garrafas d'água, sapatos, discos e até celulares, na esperança de que ele devolvesse pessoalmente; a infantilidade era inaparente, mas ainda sobrevivia, em ambas as partes.

O único adulto na história era o empresário, que estava sugando toda a juventude de Austin, espremendo tudo a qualquer custo não só para obter mais lucro,  mas mais para se sentir poderoso e dono da vida de alguém. No caso, ele era o amo e senhor do artista, que pensava sê-lo.

Um dia o esperado aconteceu. Austin foi encontrado morto em um quarto de hotel. O empresário ligou rapidamente para a agência e mandou quadruplicarem a produção de tudo o que fosse relacionado a ele. A comoção pela morte durou meses, detratores e defensores, ambos histéricos, alimentavam com polêmicas fúteis a venda alucinada de quinquilharias feitas por mão de obra semi-escrava.

Ironicamente, em seu tumultuado sepultamento, ele foi lembrado justo pela imagem que tinha abandonado. Por horas tocaram o hit açucarado "Oh, baby darling, oh!" no cemitério. Houve suicídios de fãs que insistiam em segui-lo para onde quer que fosse, a qualquer custo.

A causa mortis nunca foi conhecida com exatidão. Descobriram tantas coisas, que qualquer uma delas poderia tê-lo morto. DST, drogas, AVC, cirrose, cânceres resultantes da "vida louca"... Ninguém sabia ao certo. O certo, como ocorreu com Elvis, é que a única doença de verdade de Austin, era o empresário.