terça-feira, 30 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXXII

    O show dos petizes. A estação 232 traz uma overdose de fofura e também de tensão, porque assim a vida quer que seja. Embarquem, o trem vai partir.


O show em Charleston. Dentro do estádio, brancos, negros, orientais, latinos e indígenas convivem bem (...) Os ídolos de bilhões tocam a festa e o público corresponde, chamam alguns ao palco e eles vão ao delírio. Vem o intervalo e todos, fãs e músicos, vão fazer coisas que ninguém pode fazer por eles, como comer, beber, expelir, enfim... Vão também ver os bebês, enquanto Deborah cuida primeiro de Sandra, para ela também ajudar com os outros (...) Aquelas crianças estão aprendendo desde já a tratar o trabalho como algo normal na vida, não como um castigo. Os fundadores da banda se desmancham, se lembram um pouco da turnê no Brasil.

Vem a notícia de que uma fã maluca decidiu ir ao show, mesmo grávida, e está sentindo as contrações. Sandra dispara, se recordando dos partos que auxiliou (...) Os paramédicos chegam e ela já colocou a mulher em posição, sempre massageando-a, porque não vai mesmo dar tempo para sair de lá. Phoebe fez uma pesquisa e informa o histórico médico da paciente, Sandra orienta os socorristas e o parto acontece lá mesmo (...) com as câmeras profissionais registrando o nascimento dos gêmeos Sandra e Sandro. Infelizmente agora ela terá que ir (...) mas...

- Sandra Pancada fez o meu parto! A imprensa filmou tudo! Ninguém vai tirar isso de mim! NINGUÉM!!! WOOOOHOOOO!!!

Ela vai muito feliz. Sandra instrui os paramédicos e é cercada pela banda, exibindo um sorriso meigo enquanto é abraçada pelo marido, envolvida pela madrinha e pela prima...

- Cada parto que eu faço, sofro menos pela Abigail.

Ela fica linda, sorrindo daquele jeito. E fica mais linda ainda (...) em Sunshadow, ao ouvir “você está grávida” e confirmar por si com os exames. Um misto de euforia e insegurança a faz hesitar, mas liga para o marido e ele vai festivo, sem pensar duas vezes, levando Inga. Marcia tem a notícia em primeira mão por Glenda, via mediunidade...

- Por que você não usa o telephone como todo mundo?

- Por causa da minha mãe.

- O que a tia Eddie tem a ver com isso?

- Ela sempre me disse “Você não é todo mundo, mocinha”.

Ela vai transmitir o recado primeiro ao marido, que estaria na sala, lendo um livro, mas está conversando com Elias e Enya (...) Solta “Abigail voltou” e tem a atenção dos três, então completa “A Sandra tá grávida” e o pai da moça se debulha em lágrimas. Patrícia não demora a saber e ordena que ela não fique sozinha sob hipótese alguma (...) Beasties, Street Warriors, agentes da organização e da guarda imperial se oferecem, inclusive Aisha, tem certeza de que alguém vai querer vingar os elementos que tentaram mata-la...

- Não vamos mais correr riscos. Você vai trazer essa menina à luz. Vocês treinem para reagirem imediatamente a qualquer emergência. Phee, você inicia o turno agora.

- Vamos, Pancada, temos trabalho a fazer!

- Temos?

- Cálculos, Pancada! Milhões de cálculos, conjecturas e alucinações científicas para colocar no papel! Coisas que poderão ser úteis daqui a trezentos anos. E vamos fazer tudo isso curtindo a vida!

Os outros vão cuidar de aprimorar a mira. Desta vez Abigail nasce!

Josephine voa para ir ter com a garotinha um pouco acima da média, que a educação transformou em um gênio. Ela dá um recado ao governo, em última instância ela perdeu as outras crianças e quase perde a vida lutando contra o terrorismo, que (...) aprimorem a vigilância. Não só intensificar, mas aprimorar, porque lobos solitários não seguem protocolos de agências oficiais

&

Ver a família olhar artigos para bebês não seria nada de extraordinário, se Sandra Monteiro Castro e Giovanni Crepaldi não fossem os pais dessa família. Os paparazzi tiram no palitinho quem vai arriscar o pescoço, o escolhido é justo um novato na cidade; na verdade deram deliberadamente o palito mais curto ao coitado. Ele vê sua vida passar diante de seus olhos, se dá conta de que é trash demais (...) então vai de improviso mesmo...

- Eh... Desculpe... Prazer, sou Henry Douglas... É o que eu estou pensando?

- Sim, é. Estou grávida.

Conversam pouco, ele congratula a família, volta normalmente e, saindo das vistas da moça, treme feito vara verde (...) A imprensa logo anuncia a felicidade da família, conseqüentemente a de Patrícia, que é o mesmo que a cidade inteira estar feliz. Mas sempre há os que estragam a festa e tiram o pão da boca alheia. Sandra decreta segredo de Estado (...) há um bolão sobre quando Sandra vai perder o bebê e se vai ou não sobreviver ao novo atentado. Henry corre para eximir-se da responsabilidade, temendo pela própria vida...

- Eu sei que não foi você. Você tem cara de idiota, anda e fala feito um pateta, mas te investiguei e sei que não é canalha.

- Bom dia, senhora e senhores – anuncia-se Beatrix. Sandra, Dirt Job e Grenade serão sua escolta oficial, até você dar à luz.

- E aí, bando de dementes... Valeu, Mamma Buzzy. Gente, quero apresentar o Henry, paparazzo novo na cidade, que veio correndo para preservar a própria pele e não ser confundido com aquele esgoto. Hey, você não é de Michigan, é? Vamos entrar, gente.

A calma é só aparente (...) Por dentro ela seleciona espadas e golpes adequados a cada caso. Patrícia confia nesse treinamento, então vai ter é com o pai da moça (...) E lá está ele, com aquela cara, aquelas rugas na testa e aqueles punhos fechados. Já esperava que Enya o estivesse contendo, não esperava que estivesse tão furiosa quanto. Chama Rebeca para ajudar e Robert vai junto. Estavam ambos na casa dela, justamente se estarrecendo com a notícia.

De longe observa Aisha. Ela vasculha na discrição de um arbusto os arredores (...) Photographa alguns estranhos que estão muito próximos às casas, com o zoom de até 100000X de seu smartrain, de lá mesmo manda as imagens detalhadas para Phoebe (...) são apenas teóricos da conspiração, inofensivos para este caso. Entretanto...

- Choc, eu creio que se eles ficarem noiados com a Pancada, podem ser bons vigias involuntários.

- Sabe que não é má idéia? Só preciso arranjar um jeito...

Vai à Maquina de Costura e busca Lady Spy, depois à casa de Sandra (...) Põe um aplicativo de entretenimento infantil no tabletrain, onde luzes piscam de forma ordenada até formarem uma figura (...) Fica parecendo que a Savannah está controlando o aparelho e as duas recebendo instruções dela. Funciona. Os teóricos dos antigos astronautas (...) filmam tudo e mandam as provas imediatamente, antes que a tecnologia alienígena o detecte e apague tudo. Elas vêem um gordinho barbudo sair apressado de forma suspeita...

- É ele?

- Sim, é ele. Deu certo. Agora eles vão vigiar sua casa de graça.

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra...

Vai ao site na hora a prova de que uma raça felina alienígena age disfarçada em Sunshadow (...) Patrícia é informada de que sua gata tornou-se a líder de uma conspiração interplanetária. Não demora mais esse boato chegar à Casa Branca, a CIA apenas diz “Vindo de lá, o absurdo é provável” e o presidente liga para Princess...

- Aisha fez aquilo para criar um boato falso e colocar aquela gente para proteger involuntariamente Knockout. Funcionou mais do que ela esperava, por isso estamos colocando todos os bichos da cidade para fazerem o mesmo, sempre ao redor da casa dela.

- E quando perguntarem, vocês negam sem precisar mentir... Se bem que os animais de vocês são monstros, são gigantes, mas... Vamos usar isso também!

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Matthew aperta o enter e está feito. Vai avisar Renata e Naomi que o último herdeiro do Coast to Coast News vendeu-lhes sua participação na companhia (...) Amhrán na Farraige não disse o que seria, para não estragar a surpresa, mas avisou Naomi de que uma boa notícia estava chegando nesta manhã. As duas festejam, claro, mas não era essa a boa notícia. Com a saída do cidadão, ficou vaga uma coluna semanal que era dirigida ao público infanto-juvenil (...) A menina recebe a chance de ter seu primeiro dinheirinho, tendo em vista a competência em contar sobre suas aventuras nos shows da banda, e o acompanhamento quase diário dos trabalhos de imprensa, como colunista regular.

Ela recebe a senha de administradora, entra na página e começa a (...) narrar com licenças poéticas o convite do pai para assumir a coluna. É um frescor espontâneo que seu antecessor nunca teve. Ela ramifica o momento com flashes do dia anterior, para mostrar como tudo chegou ao ponto. Como imagem para o texto, usa um dragão bebê estilizado. Amhrán na Farraige sente-se lisonjeado com aquilo. Os leitores habituais logo notam as diferenças gritantes com o que se tinha até ontem (...) e lêem o nome da infanta no rodapé. A curiosidade se alastra pelas redes sociais, enquanto Renata dissemina a conquista de sua caçula, mal cabendo em si. Fica repentinamente mais forte e a carrega até a casa de solteira, para os avós poderem paparicá-la também.

Mais paparicos vêm à tarde, quando Josephine vai ter com a afilhada (...) quer saber o que se passou por sua cabecinha mediúnica para escrever aquele artigo tão encantador e repleto de referências...

- Assumo que não fiz sozinha, meu dragão me ajudou muito. Me fez lembrar dos momentos na chocolateria e na fazenda...

Assusta a fala de quem não sabe o que é uma vida restrita a um plano de existência. É a fala de uma criança, mas tem nuances fortes de bucolismo e saudades que ela não deveria sentir, não em tão tenra idade. Eduarda explica que (...) ela (...) se propôs a um trabalho e vai levá-lo às últimas conseqüências.

Enquanto os despeitados são calados pela ira dos fãs da banda e dos novos leitores da coluna, Nancy e Stephanie analisam aquele texto. A moça é professora dela, sabe identificar qualquer coisa importante e identifica muitas. A menina chama as pessoas, de modo subliminar, a apreciarem e usufruírem das coisas mais simples da vida (...) As professoras se olham, é mais uma que está amadurecendo rápido demais. Vão planejar algo para ela não atropelar a própria infância, suspeitam que não demora a se revelar mais parecida com a sobrinha do que só nos traços.

Melinda também toma conhecimento e se derrete, enquanto lê uma mensagem das moças do Lovely Wagon. Planejam um álbum com canções da Dead Train adaptadas para crianças. Chama Patrícia e manda um demo para ela avaliar...

- Galera, seus babadores estão atados? Então ouçam isto!

Se desmancham. Elas conseguiram timbres bem próximos aos de quando eram crianças (...) começaram a cantar para distrair e veio a idéia...

- Mel, todo mundo tá vomitando arco-íris, manda elas virem pra cá agora! Vamos gravar isto o quanto antes!

Despencam de Ohio e já são levadas para o estúdio (...) Vai apenas uma tarde com a banda original absolutamente encantada com a performance de seu cover oficial, chamam a Culture Train e fazem uma campanha de emergência para lançar o álbum. Hamira e Samira se descabelam para fazerem a arte com pitacos de Elvira, mas a idéia maluca é justamente fazer algo pueril (...) Matthew, Mikomi, Klauss, Mary Ann e Billy estão lá (...) Até que Naomi chega com um texto prontinho, redondinho e bem fechado, de criança para crianças. Trabalho poupado, menina afagada, Klauss e Mikomi traduzindo. Em tempo recorde a campanha vai à internet e atiça a sanha dos ghost drivers, que finalmente terão canções decentes de ninar para seus rebentos, ou até para si mesmos.

Nem todos gostaram, os fundamentalistas enxergaram uma chance para saírem do esquecimento e anunciam uma cruzada contra a satanização das crianças, para isso pedem donativos e prestação de serviços (...) aceitam cartão de crédito e hipoteca da casa. Richard suspira...

- Não tem jeito! Só vamos aprender mesmo da pior forma! Nossa filha ajudou a lançar uma das obras mais lindas que eu já vi, mas eles nem querem ouvir, já começaram atacando. Provavelmente vão dançar e gostar sem saber o que estão ouvindo, quando alguém ligar o som na rua.

- E depois vão odiar quando souberem de quem é, eu sei... Mas acho que você já esperava por isso.

- Saber que estou caindo não torna o impacto menor. Um povo que repete “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, mas não procura pela verdade, em vez de aceitar qualquer uma que o pastor impõe, não me dá esperanças no futuro... Precisamos sabotar, é isso! É só esperar que eles mesmos vão nos dar subsídios.

O casal conversa a respeito e reafirma sua cumplicidade, enquanto as lojas de discos fazem reservas do álbum, e a loja virtual aponta para um disco de ouro em pouco tempo. É a primeira versão para crianças do repertório da banda, a mídia especializada entra em parafuso para ouvir tudo e publicar primeiro (...) Os bebês da banda são os primeiros beneficiados, já nesta noite.

Vão todos dormir após o pandemônio que foi o dia (...) Hoje Dirt Job dorme na casa de Sandra e Giovanni. Nunca dormiu em um sofá tão confortável, até coloca uma tábua envolta em toalhas no lugar do travesseiro, para que aquele conforto todo não tire sua capacidade de reação. Inga estranha alguém dormindo na sala, não imagina do que ele os estaria protegendo, então sua cabecinha voa alto, sonha com bichos coloridos tentando levar seus brinquedos embora. Na manhã seguinte conta à turma da escolinha e à professora, só não arranca risos de Colleen e Natasha. As meninas têm sido motivo de preocupação, têm tido dificuldades até para sorrir (...) Hoje vão para a Máquina de Costura com a avó.

Mais tarde os outros aparecem para os relatórios do resort em Marrakesh, até lá vai ministrar suas generosas doses de abraços e afagos (...) Fala pouco, acolhe muito, verifica milimetricamente seus corpinhos (...) Vem a refeição e depois a sesta, sempre abraçadas à avó. Patrícia medita enquanto elas sonham com viagens espaciais. As mães preocupadas chegam pouco depois, mas (...) Patrícia quer deixa-las dormir enquanto tiverem sono...

- Para o meu alívio, não é depressão. Para o alívio de vocês, foi só uma exposição prolongada aos noticiários. Elas me contaram do que viram nos portais e nada era adequado às suas idades. Fiquem mais atentas ao que elas fazem com a internet. Eu já avisei que a imprensa tenta mostrar um cenário pior do que a realidade, para conseguir acessos alimentando as neuroses.

- Lyn, vem pra mamãe... Tô me sentindo péssima.

- Não é para tanto, Elizabeth. Vocês se empolgaram com o trabalho e confiaram que as meninas estariam seguras. Mantenham elas mais próximas. Vocês duas, evitem que suas mães ponham fogo na casa, me liguem imediatamente!

Agora as petizes disparam a rir (...) a experiência da avó mostrou o ponto a ser atacado com a devida precocidade. Agora ela tem outros problemas a resolver.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXXI

    A intolerância de cara nova. A estação 231 demonstra alguns perigos da barbárie moderna, vindos de quem se rotula como progressista. Todos à bordo, o trem vai partir.


Ronald conclui a negociação de uma coleção barn find de Cadillacs em Nashville (...) O acervo é quase todo de conversíveis, abrange do pós-guerra até o início dos anos oitenta (...) Apesar de o pai estar vivo e forte, todos os chamam de conde. Patrícia conclui a vistoria e dá a boa notícia...

- Uma limpeza pesada, calibrar pneus, trocar fluido de freio e sair curtindo sua coleção. Estão perfeitos.

- Perfeito! Senhora, o dinheiro já está na sua conta, pode conferir.

- De jeito nenhum, senhor conde! Sua palavra é um documento!

- Eu insisto, pelo menos para que não perca o hábito e não se torne presa fácil para malandros.

Ela confere, lá está o dinheiro, pronto para virar viagem. Mas eles não se vão sem uma tietagem. Ela conheceu a princesa Grace e a reencontrou algumas vezes (...) Patrícia não passa ilesa, a idosa busca um álbum de photos e as comparações são inevitáveis.

Na volta, enquanto os carros seguem por terra, eles voam no Phenom de Josephine para Los Angeles. Ronald olha para a amiga, vê aquela cara se formar de novo, sabe que são saudades (...) A madrinha da banda também sente a falta de Grace e Romy, ainda se lembra de quando as conheceu, ambas estranharam quando disse, após algum tempo, que é espírita (...) Ronald gostaria de comemorar agora a aquisição, mas precisa dar atenção às duas, o que inclui ouvir desabafos e até curtos choros. Foram perdas muito estúpidas.

Em meia hora as duas se recuperam e olham com carinho para o nobre cavalheiro. Se lembram que ele tem algo a celebrar e abrem os sorrisos, querem saber dos planos dele para aqueles Cadillacs, dois coupés e onze conversíveis (...) Patrícia oferece seu galpão para guarda-los, afinal são old school full size cars, e são treze! Não cabem em qualquer lugar! Fará uma estante de três pavimentos para eles (...) Um bom software e seus conhecimentos de engenharia mecânica resolvem o resto, os operários estudam o projecto e já sabem o que fazer (...) Em um dia os decoradores podem trabalhar cada vaga com o tema da época do carro que vai guardar, os mais antigos no terceiro piso.

Os carros chegam como se fosse a chegada da maior banda da história (...) Alguns concidadãos, colegas de profissão e fãs insistem para que pelo menos um dos carros vá para o museu. Ok, os pidões podem comemorar, o Series 62 Convertible Coupé cereja metálico 1947 vai para o museu. Rebeca o dirige até lá, de capota baixa, para a ala dos anos 1940, com sete outros Cadillac do mesmo ano. O carro vira celebridade entre os repórteres especializados, inclusive Billy (...) Ele faz uma matéria fora de série, em vídeo, texto e imagens. Sanaa cuida de disseminar pelo mundo inteiro, pela internet, exaltando o marido.

Um pequeno incidente perturba a paz, ligam para Patrícia avisando que Sandra e Giovanni estão com Inga no veterinário. Strip pulou no cofre do motor do Crosley e se feriu, enquanto a moça regulava o ponto da ignição. Joan e Zsa-Zsa também aprontaram o berreiro quando a gatinha miou alto de dor (...) Com curativos, medicada e cercada de recomendações, ela volta no mesmo dia para casa. Patrícia chega preocupada com a afilhada, checa o bicho, depois enxuga as lágrimas e acompanha os quatro até em casa. Vê um espião amigo olhando estranho para a menina, de brincadeira ela faz sinal de positivo e ele se preocupa, porque deu a entender que a criança também será agente da organização.

Logo os chefes de Estado têm confirmada a suspeita de que a organização está treinando colaboradores desde a mais tenra idade (...) o que seria particularmente um grave risco para muitos deles. Dispara a rir com Sandra, quando lhe conta...

- Eles devem estar pensando que qualquer criança no mundo pode ser um agente em treinamento!

- Re, re, re, re, re... E o que a madrinha pensa que estou fazendo com a minha?

- Tá falando sério?

- Todo mundo deveria estar pronto para ingressar na organização, efetivando ou não. Se ela decidir, podem chama-la de agente Kitty. Minha facilidade em ser aceita não foi por acaso, meu pai soube me educar e minha filha sequirá a mesma linha.

- Em outras épocas eu estaria preocupada... Mas isso é tão vão e vocês têm sido tão úteis! Além do mais, Angel nos deu mais três! Vou avisar Star.

Josephine sorri com uma cara de perplexidade, medita um pouco e se resigna (...) Phoebe vai parabenizar a comparsa e principal parceira de missões, levará suas petizes para passarem mais tempo com Inga, a começar por agora.

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O mês parecia não conseguir ficar mais cheio, mas conseguiu. Sakura tem sua conta de e-mail hackeada. Phoebe resolve o problema num instante, mas muitos arquivos foram copiados e muitas mensagens falsas mandadas em nome da cantora (...) Ela vai à público avisar do ocorrido e pedir que desconsiderem e deletem tudo o que tiverem recebido no período. O que atenua foi (...) não colocar na internet o que for realmente importante e, principalmente, pessoal...

- O maior problema é que viram meus contactos no Japão e Coréia, vai ser muito difícil todo mundo ver meu comunicado a tempo.

- Por isso estou escrevendo um antivírus apropriado... Quando te chamarem, mande este arquivo e que deixem rodar até a limpeza completa... Eu conheço esses caras. Vou mandar um ultimato a eles e avisar a quem devo...

- Quem são?

- Piratas virtuais... Devem ter pagado bem pra eles te atacarem assim... Vó, jogaram lixo na rua de novo... Lixo com língua presa, pra ser mais precisa.

- Então vamos limpar. Me aguardem, conversamos quando eu chegar aí. Mascote, me acompanhe.

Vêem o caso, enquanto Rebeca mima a sobrinha. Dão instruções aos agentes locais e só então informam Robert, Mikomi e Kenji, com tudo sob controle (...) Mas não acabou. Um dos contactos graduados do Japão (...) Descobriu que Sakura está a poucos contactos do imperador e menos ainda do primeiro ministro japonês...

- Então era isso... Podem avisar o serviço secreto de vocês, vamos avisar o nosso.

Os outros ficam estarrecidos, mas elas explicam o quanto é simples chegar a um figurão, a partir do contacto certo. Por isso reiteram que evitem usar computadores comuns e tenham sempre um gadget train consigo. Enquanto a CIA vasculha as ramificações da ação detida logo no começo, as três retomam sua rotina (...) Pedem aos outros que procurem retomar suas rotinas, o que é necessário está feito.

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- Eu estive em todos os lugares do mundo. Nunca vi um sistema, regime ou uma ideologia com justiça. Só vi justiça quando era praticada por pessoas que queriam ser justas. Não é o coletivo com sua síndrome de manada, é cada um dos indivíduos, e cada um só pode responder por si.

Consuelo suspira fundo. Patrícia sabe que lhe tirou uma ilusão muito reconfortante, a de que em algum lugar do mundo deveria haver uma sociedade justa...

- Quer uma sociedade justa e fraterna? Construa começando por você. Foi assim que Sunshadow se tornou o que é hoje.

Lamenta ter desiludido a moça, mas fica feliz de ela ter falado a respeito tão cedo (...) Volta aos comparsas, precisam rever os prognósticos de lucros, porque farão investimentos vultuosos em tecnologias novas e estratégicas (...) a maioria das companhias está receosa, esperando que os custos caiam (...) Como foi quando investiram em microchips, votam todos a favor, então Carly levanta a mão e pergunta se eles também podem participar...

- Vocês disseram que em questões assim, toda ajuda é bem-vinda. A gente quer ajudar. Vocês falaram em quarenta bilhões para o desenvolvimento da tecnologia, acho que mais quinze bilhões para testes de campo e aplicação em productos comerciais bastam pelos próximos dez anos.

- Querem realmente isso? Entramos nessa porque os outros se acovardaram em uma área que não pode esperar.

- Se não pode esperar, a gente dá uma carona – diz Jerry.

Os seis olham para os seis. Sabem que esse montante é proporcionalmente muito mais vultuoso para eles (...) Aceitam a parceria, afinal nenhum dos garotos tem planos de comprar um país. Conseguem agilizar todo o processo e mandam Melinda fazer as compras necessárias, com o devido incremento. A idéia inicial é recuperar o investimento vendendo licenças e patentes (...) Na copa encontram Consuelo lendo um livro de philosophia. Rebeca nota a cara de contrariedade da moça, ao lado um bloquinho de nota com uma planilha de citações, cinscunstâncias e origens; a coluna das citações está cheia, a das circunstâncias está pouco preenchida, a das origens está vazia...

- Não há ligações claras entre as conclusões e suas causas... Não posso simplesmente dizer isto em sala de aula só porque está escrito!

- Sua rebeldia é tocante. Já se serviu da biblioteca? A Patty não se importa, Luppy costuma emprestar livros para ler em casa.

- Posso mesmo?

- Claro que pode! Deve. Não mantenho aqueles livros para ostentar intelectualidade. Algumas dessas respostas que você procura estão nas biographias. Vai lá, a gente se arranja aqui.

Ela se esbalda (...) Quando vê, é quase noite. Guarda os livros na estante, recolhe seu trabalho e corre para pegar suas coisas e ir embora. Encontra a família reunida na sala...

- Empolgou, heim! Não, não fique assim... Essa biblioteca é para ser usada mesmo...

Patrícia tranqüiliza a diarista (...) Estava falando aos outros justamente de terem-na encontrado a raciocinar por conta própria, sem aceitar algo que é idolatrado e repetido indefinidamente (...) Sabe que a moça terá problemas por isso, mas também que esses problemas vão filtrar suas amizades.

Ouvem o Honda Civic hatch amarelo 1992 sair acelerado para a faculdade. Foi comprado por oitocentos dólares, depois que conseguiu o emprego (...) Enquanto todos os outros vasculham o que copiaram e colaram da internet, ela vê e organiza o que fez de próprio punho, com todas as referências. O professor não (...) resiste àquela cor de tinta de caneta e pede para ler. Ah, que alívio! Inglês bem escrito, caligraphia bem feita, margens, espaços, as palavras da acadêmica em cada parágrafo. Isso não tem preço! As páginas dedicadas às planilhas impressionam (...) a quarta coluna cita os problemas de saúde, psicológicos ou desvios de personalidade notórios dos citados. Não valia nada, em princípio, mas ela ganha meio ponto.

Sim, ela causa estranheza entre os colegas e vários docentes (...) “Quem você pensa que é para questionar Nietzsche?” e se espalha pela faculdade. Na manhã seguinte volta ao trabalho, visivelmente cansada e estressada, tentando prosseguir com suas tarefas. Luppy a detém, quer saber o motivo daquela cara de choro...

- Você fez a coisa certa, menina, mas se comprometeu pelo resto da vida. Vem relaxar um pouco, antes que a Patty...

- Chegue? Me avisaram que ela estava estranha, me informei com os pais dela e depois com a faculdade. Aisha, chame a Sandra. Você venha comigo, vamos tirar essa cara de luto e fortalecer essa autoestima. Eu passei por isso, sei o que está sentindo. Mas meus parabéns, agora as sua referência é uma só e você só precisa dela: Você mesma.

Sandra (...) Encontra travas em cada articulação. Enquanto massageia, pergunta que dogma social ou acadêmico ela afrontou (...) alerta para evitar conversar qualquer coisa com adoradores de heróis históricos, tudo o que disser pode ser interpretado com desafio. Também aconselha que aprenda a se defender de agressões físicas.

domingo, 28 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXX

    Canções dos sonhos. A estação 230 traz uma pitada de épico fantástico para aliviar a tensão de um mundo em desmoronamento. Embarquem, o trem vai partir.


- Como assim “Dragão”?

- Dragão! De asas, pescoço longo, crina de pele bem longa, escamas, chifres, do tamanho do shopping... Só vi o vulto, a Nah fez a descrição... Agora está morando no nosso quintal...

Patrícia olha para os outros, que olham estranho de volta e começam a rir de perplexidade. Eles (...) já viram coisas demais para serem simplesmente céticos, mas aquilo lhes soa muito fantástico, quase absurdo. Vão à casa dela. Renata consegue ver aquele monte aparentemente adormecido em seu quintal, todo recolhido, como se a casa tivesse mais que os três andares abaixo (...) Mas a proximidade dos seis o põe em alerta e ele se ergue e abre suas imensas asas, fazendo a brasileira ter uma reação de espanto totalmente coerente. Os convence de que há algo gigantesco em seu quintal.

Entram, são cercados por Palhaço até a dona o pegar nos braços. Fora ela, ninguém percebe coisa alguma, além de algumas idéias surgirem e canções se formarem com muita facilidade (...) Renata avisa, é Amhrán na Farraige que os está inspirando (...) Vão imediatamente transcrever e cifrar. São canções de estilo épico suficientes para dois álbuns (...) encaixam fácil no estilo da banda. Chamam a nova formação e os músicos de apoio, têm o álbum duplo para 2016 e querem ensaiar já, para estarem afiados. Mesmo com o recente “Morbid Planet” ainda causando furor pelas críticas às Nações Unidas e à inércia do americano (...) Não que o álbum em gestação não tenha críticas, as tem, mas é tudo muito poético e pedagógico, em forma de parábolas cantadas.

Gravam o que podem agora, mandam para Melinda e ela registra o enredo de “Songs of Dreams”. Agora vão à orquestra, querem aproveitar o furor das canções ainda frescas para fazer os melhores arranjos possíveis, sabem de antemão o que Happy Moon lhes diz...

- Cabe fazer arranjos celtas em todas, algumas em trechos, outras do começo ao fim, mesmo com elementos de pop rock na estrutura... Foi aquele dragão na casa da Renata, não foi?

- Você viu?

- Mas é claro que eu vi! Sea Bear viu, Quick Hawk viu, não há segredos, Renata. Está tudo acontecendo de acordo com o cronograma. Evelyn está descansando na varanda, mas vou adiantar alguma coisa, venham.

Os longos cabelos brancos em um rabo-de-cavalo balançam no percurso até o estúdio #1. Começam escolhendo a percussão, especialidade em que Rebeca e Sandra se esbaldam (...) É uma festa! Assim que a primeira maestrina chega do descanso, vê todo mundo pronto para iniciar seu trabalho. São vinte e sete músicas que renderão um álbum duplo e toda promoção que um producto do tipo pode proporcionar (...) Passam três dias entretidos no que mais amam fazer, estão com todas as canções na ponta da língua.

Josephine chega para saber das novidades, quer detalhes dessa movimentação toda. Renata lhe conta do dragão e a diva puxa pela memória a literatura espírita que tem...

- Mas já?

- Já e no meu quintal!

- Então Sunshadow está pelo menos cem anos adiantada!

- E justo na minha casinha de 1923!

- Boa questão... De quem foi aquela casa, Patty?

- Do pastor Robinson... No, I can’t believe! Será que virou bruxo depois de morto?

Nasce mais uma canção. Terão que espremê-la no disco 2 do álbum. Josephine liga para Tobby, que manda Julia em caráter emergencial entrevistar os seis, o programa é hoje. Não quer ficar um segundo atrás da concorrência, que varia de medíocre a razoável, mas é numerosa. Ela (...) Espalha câmeras em lugares estratégicos da sala e espera a contagem do cinegrafista profissional, que controla todas elas...

- 3... 2... 1... Gravando!

- Boa Noite Mundo! Eu sou Julia Foster e esta é a sala de estar da mítica Máquina de Costura! O Dead Train teve a proeza de compor, arranjar e gravar vinte e sete músicas completamente novas em um só dia! E hoje surgiu mais uma para o próximo álbum...

O que vai ao ar à noite leva os fãs ao delírio, alguns ao orgasmo. O interior da casa nunca tinha sido mostrado na televisão (...) A visão que têm é, independente do furor de fãs, maravilhante. Os programas de fofoca enfrentam o risco de processo e retransmitem a matéria ao vivo, como atração em seus palcos, para seus fofoqueiros poderem comentar e destilar peçonhas em tempo real. O estilo retrô de Patrícia novamente polariza as más línguas; embora o jeito motoqueira de ser de Rebeca não seja bem visto entre eles, ela bate mais forte.

A rara condição de ainda hoje ter todos os seus álbuns à venda normalmente, não esfria a expectativa para o “Songs of Dreams”. As demonstrações feitas durante a entrevista adoçaram os ouvidos e algumas lojas já recebem reservas informais (...) Os desafetos voltam à tona com a ladainha de que a banda dá mostras de cansaço e muda para tentar se manter, como seis ou sete outras vezes (...) Junto com essa inspiração draconiana súbita, vem um avanço tecnológico inesperado e Phoebe se reporta imediatamente à avó...

- Eu estava estudando o comportamento de partículas polarizadas, na prototipadora quântica, para meu pós doutorado em engenharia topológica, submetendo elas às mais variadas ondas possíveis, quando percebi que mesmo a base de polietileno estava se comportando como as amostras de nióbio... Cada átomo parece ter sido envolvido em uma aura... Como direi... Parece ter perdido a inércia e a interação gravitacional... Completamente...

- Você neutralizou a inércia de um polímero? Estava na balança? O que ela egistrava?

- Zero grama.

- Feche as portas... Star, é Princess! Precisamos decidir se contamos uma coisa ao governo.

Chamam a cúpula da organização e Jeremy Nelson. Genius e Brain tentam compreender como ela conseguiu isso, os cientistas da organização prevêem mais uns bons anos sem entender coisa nenhuma até começarem a perceber como tudo funciona (...) não é assunto para leigos conversarem à mesa do bar. Lá fora Luppy e Consuelo especulam o que seria desta vez, enquanto a família começa a encher a casa.

Decidem que vão contar, mas não tudo, ao governo. Nelson se encarrega de abrir canal com o Pentágono...

- Senhores, estamos diante de uma revolução sem precedentes, que está agora se descortinando diante de nós, com especial aplicação nas viagens espaciais. A agente Angel conseguiu trazer à vida real o anulador de inércia das ficções científicas. Foi uma amostra pequena de nióbio, mas peso e inércia foram completamente anulados por alguns minutos, durante as medições...

Ele não diz que alguns minutos foram a duração total das medições (...) Ligam para a CIA e a Casa Branca, dão a notícia e passam a discutir como colocar essa tecnologia em prática sem chamar a atenção de nações hostís. O programa espacial é o mais óbvio, mas as aplicações potenciais são inúmeras, talvez até limitar o comprimento de um facho de laser. Assim que fecham os canais (...) eles decidem o que realmente farão com aquilo. Knockout sugere que os próximos gadgets da banda incorporem o que se puder colocar neles, dessa tecnologia. Sem a ação da gravidade, a precisão das medições e a uniformidade do funcionamento serão absurdamente altas. Todos a favor, Angel transfere os arquivos para os cientistas e Star encerra a pauta da organização.

Agora é festa, com os laboratórios da organização revendo todos os seus procedimentos e metas (...) Ela ainda quer refinar o controle, para ajudar a aplicação veicular, mas o estrago no atraso mundial foi feito. Lá está Marcia, firme em sua posição, querendo saber o que aconteceu. “Nossa filha antecipou pelo menos cem anos de desenvolvimento científico” é o suficiente para a preocupação dar lugar aos mimos. Avisam que os próximos aparelhos terão uma faísca do sol que ela trouxe ao mundo (...) Para eles basta, a festa começa assim mesmo.

sábado, 27 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXIX

    O passado presta contas. A estação 229 acelera um pouco e apresenta os elementos dos últimos capítulos. Todos à bordo, o trem vai partir.

O novo casal escalado para conversar com Elias vai antes falar com Patrícia (...) Vão encantados e constrangidos, por saberem que existe uma espionagem maior do que a que deixa todas as outras oficiais no chinelo, mas precisa prestar satisfações a muita gente...
- Não precisam agradecer, faz parte do nosso trabalho. Apenas levem à sério o aviso que demos. Estamos cada vez mais perto de enterrar de vez as chances de uma terceira guerra mundial, mas nunca corremos tanto o risco de ela eclodir... Lhes contaram de Sandra?
- Sim, vimos um vídeo dela em ação.
- Pois a conversa da CIA com meu afilhado nunca acontece sem ela presente. Ricky, leve nossos amigos e esclareça qualquer dúvida pertinente que tenham.
Eles aproveitam para saber o que devem evitar e o que devem aproveitar dessas conversas. Chegam e lá está ele, sóbrio, discreto (...) E lá está ela, altiva, imponente, ameaçadora, não escondendo que é capaz de esquartejar alguém e que o fará, se precisar defender seu pai. Richard dá as últimas recomendações e volta para casa, de onde vai para a Culture Train, conferir a finalização de uma animação, a edição de seis livros, mais um pedido de Hollywood e os preparativos para os próximos dez shows da Dead Train. E pensar que tudo isso começou com a organização de um evento para equipes de corrida.
Encontra Brenda na sala de reuniões, discutindo a transcrição de uma graphic novel para a animação digital (...) A surpresa é agradável, alivia a seriedade da visita da CIA...
- Sério? A CIA fala com o Elias rotineiramente, eu entendi direito?
- Suponho que tenha idéias para isso – diz Richard.
- Mas é claro que sim! Conte tudo o que eu puder saber!
Ela fica impressionada com a importância que aquele imigrante baixinho tem para o governo, apenas sendo ele mesmo. Os agentes concordam com o “Quem tem que levar vocês a sério é seu chefe, não a imprensa. Vocês são do serviço secreto, não de um reality show”. Sandra permanece calada (...) assim que eles se vão, confidencia ao pai...
- Eles estão escondendo o jogo. São mais experientes do que deixam parecer.
- Notei. Foram muito hábeis em demonstrar inocência, hábeis demais para ser verdade... ou pensa que eu disse tudo o que tinha a dizer a respeito? Terão que acordar mais cedo para me pegar.
- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra...
Vão falar com Patrícia, mas pegam outro caminho, para evitar levantar suspeitas. Entram na chocolateria, conversam com Audrey e saem pelos fundos, dali vão para a Máquina de Costura (...) Comunica Josephine e ela também ri, logo toda a organização sabe dos agentes que se fizeram de bobos e foram feitos de bobos. Quando ligam para a agência, recebem os parabéns pela contribuição que conseguiram, mas também são avisados do papel que fizeram, subestimaram a experiência do brasileiro.
É claro que Brenda adora saber disso, cai na risada e pede ajuda a Hamira e Samira para rascunhar alguns quadrinhos. A irmã delas (...) está cada dia mais séria, imersa em meditações. Nancy atende um pedido de Sanaa e vai falar com a garota...
- “Motherfucker badass”? É este o critério que as pessoas usam para escolher a quem admirar? Mesmo sendo um tirano ou um psicopata, ou ambos? O cara monta num urso, se alia à máfia, faz ameaças e desdenha o ocidente em público e passa a ser admirado? É isso? Isso é truque de desenho animado idiota para fazer o vilão parecer legal, só adolescentes bobos cairiam nessa... Mas muitos adultos caem! E são adultos formadores de opinião!
- E você acha que o mundo é habitado por adultos bem resolvidos? Não, meu amor, as pessoas só envelhecem, raramente alguém cresce de verdade. É por isso esta testa que vou desfranzir?
- Também... Alguns conhecidos de Marrakesh estão começando a simpatizar com eles, simplesmente porque parecem que estão fazendo mais do que vocês. As ditaduras estão ganhando mais do que terreno, estão ganhando adeptos dentro das democracias.
- Nós temos mesmo feito corpo mole nas últimas décadas, mas isso não vai durar para sempre, eles sabem disso. Fingem que se esquecem de que foi negociando com o ocidente, desde a idade antiga, que o oriente prosperou. Deite-se aqui.
Põe a cabeça nas pernas da matriarca e recebe alguns beliscões na testa, que antecedem a massagem propriamente dita. Conta a Patrícia assim que leva a garota de volta para casa...
- Amor da vovó está ficando parecida demais comigo, isso não é bom. Quem dera houvesse outro Greg para você!
Arthur vê aquilo com um misto paradoxal de elogio e tristeza (...) Ela conta pormenores de quando o conheceu, de como ataram namoro, o caso do maníaco e consegue fazer a neta sonhar um pouco. Parte daquela carinha de quem está delirando forma-se novamente. Experimenta contar do episódio entre Rebeca e Ronald, na Grande Turnê e ela dispara a rir. Encontrou o ponto de equilíbrio da garota, tem ferramental de sobra para manipula-lo.
&
Conrad não teve filhos, mas tinha irmãs e elas os tiveram. Um sobrinho neto supera a vergonha em que o tio mergulhou todos e leva a família para conhecer Sunshadow. Crazy Horse reconhece suas feições (...) Ele paga por uma porção de pães de queijo e o garçom reconhece o sobrenome. Vê o apache por perto e faz aquela cara de “Há algo estranho aqui”. Ele se aproxima e pede uma tapioca com queijo e bacalhau, enquanto ouve o que o rapaz soube pelo cartão de crédito (...) Liga para Richard, explica a situação e se mantém atento. Até agora ele parece mão ter mais do que a aparência a ver com o tio.
Um garoto vê o prato do velho índio, chama o garçom, pergunta do que se trata (...) e pede um, mas de frango. Arthur chega logo em seguida e os adolescentes o tietam, antes de o pai os impedir. Eles ainda guardam o canhoto da animação “Sally, a Ameba” que ele produziu. Perguntam se não haverá mesmo uma continuação...
- Nancy fez uma história perfeitamente fechada e muito simples. Eu pensei em duas seqüências, mas seria muita encheção de lingüiça, melhor ficar só em um filme mesmo.
Crazy Horse fica atento, nota o constrangimento do homem, olha para Arthur, se levanta e trata de acalmá-lo. Sabem que ele é e dão as boas vindas. O homem desabafa, fala do tabu que está quebrando (...) da vergonha que ainda sentem quando precisam dar seus nomes em público...
- Não se preocupe com isso, por aqui. Eu superei esse trauma.
Olham para trás e vêem o céu descer à terra nas figuras de seis serafins do coro celestial mais elevado (...) O Dead Train entra na lanchonete e os paparazzi brotam do chão ao redor do sexteto. A manchete nos mais diversos meios de comunicação é “Patrícia Petty faz as pazes com a família do maníaco” (...) é uma boa chance para tirar do baú matérias que já foram pagas e que ainda podem render bem. Vão para o show em Charleston no dia seguinte, já sabendo o que vai predominar na coletiva. Ela é sucinta nas respostas...
- Não posso culpar você pelas besteiras que seu avô tiver feito.
Naomi observa dos bastidores, vê (...) jornalistas que já tinham entrevistado a banda noutras décadas e ainda não se deram conta de que morreram. Conta à mãe o que viu. Ela e Phoebe precisaram ficar atentas à coletiva, mas também viram vultos sussurrando perguntas aos ouvidos dos repórteres. Diga-se de passagem, as melhores perguntas que fizeram foram as sugeridas...
- Phee e Marcia, vamos as quatro fazer uma leitura do evangélio nesta noite, pra tentar encaminhar eles. Vocês, se quiserem, podem vir.
- Rê! Oh, Rê! Seu exorcismo é nosso exorcismo! Se precisar de um exú, pode contar comigo!
As médiuns disparam a rir. Mais ainda porque a baixinha sabe do que está falando e, basicamente, seu trabalho na organização se assemelha ao dos exus. Está toda a equipe da banda no auditório do hotel, na hora marcada (...) Alguém avisa aos desencarnados que haverá uma coletiva da banda naquele local, eles vão selecionando as perguntas que já fizeram dez, vinte, até quarenta anos antes (...) Passam pelas portas, mas (...) entram onde deveriam estar desde que morreram. Missão cumprida.
Na manhã seguinte estão ensaiando, demonstrando força e vigor que muita gente não tem aos quarenta anos. Os operários cochicham entre si que eles recebem energia do além, com santeria e coisas do tipo. Um deles (...) vê Naomi, ela lhes entrega livretos sobre espiritismo e mediunidade, simplificados (...) Volta para a discrição dos bastidores, onde algumas tarefas de escola a esperam. Marcia acolhe a irmã e volta a ajudar (...) Evelyn tem notícias de Leonard, que precisou desta vez deixar Lyonel com David e Diana para poder ir ao show em Orlando. Rebeca e Ronald cercam o rebento, para terem detalhes.
Marie leva o sobrinho para casa, enquanto manda mensagem para a irmã. Os paparazzi surgem como zumbis (...) Para seu público o resultado do casamento de um gay assumido com uma hétero é um alien...
- Vocês não têm mais o que fazer?
- Na verdade não, é disso que a gente vive.
- Aff!
Chega aliviada em casa. Jackes e Zsa-Zsa cercam o pequeno, que ri desatadamente da jovem tia pândega. Mandam um vídeo para os pais do petiz e eles se desmancham. Cada gargalhada do menino é uma lágrima que cada um solta (...) Leonard parece estar chorando pelo saxophone, enquanto Evelyn põe a alma na regência, a ponto de a deixarem fazer um número só com a orquestra.
Leonard correu para pegar um vôo mais cedo e recepcionar a esposa com o filho nos braços (...) Quando eles chegam, lá estão os dois, esperando pela mamãe, que corre para abraçar, sacudir e cheirar sua pequena família. Por hoje todos podem se dedicar aos seus assuntos domésticos, que no caso de Renata e Matthew significa dar mais atenção à caçula (...) Chegando em casa, lá estão Glenda, Elvira, Morgana e Juan; ele apenas como motorista e carregador de sacolas. Ela dá as boas vindas e procura acalmar os pais da petiz (...) se oferece para ajudar a monitorar o desenvolvimento de Naomi, mas é só, não vai limitar o passo de seu desenvolvimento.
O casal se entreolha, olha para a caçula sorridente, olha para a bruxa e consente. Ela designa um dragão branco para aconselhar e cuidar da menina...
- Amhrán na Farraige, apresente-se à sua protegida.
Matthew não vê absolutamente nada, Renata vê um vulto branco brilhante gigantesco (...) Naomi vê com nitidez aquele dragão absolutamente lindo, com cheiro de brisa do mar e vibração tão evoluída que limpa sozinho a cidade inteira. No peito largo uma esmeralda brilha como se fosse um sol verde. Ele simplesmente passa por sobre a casa e se instala no quintal, e ai de quem tentar entrar sem permissão!

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXVIII

    A guerra mandou recado. A estação 228 conta algo de modo didático e rápido, antes que vocês embarquem. Todos à bordo, o trem vai partir.


Spark pula no peito e derruba o paparazzo (...) Está sendo amigo e brincando com o rapaz, que demora um pouco a perceber que aquele gigantesco Maine Coon de cem libras não quer devorá-lo. É conhecido da família, o gato está acostumado a ele...

- Desculpe, Lou... Vem, Spark – diz Marcia. Machucou?

- Só meu orgulho. Tudo bem, garoto... O que vocês dão para esse gato comer?

- Ração da boa... Em quantidades enormes!

- Por favor, mantenham ele bem alimentado!

- Você iria me dizer alguma coisa?

- Sim... É sobre a sua aparência. Você faz algum tratamento? Tem uma polêmica começando.

- Sério? Eu não sabia! Não faz dez anos viviam dizendo que meu marido é bonito demais pra mim!

- Só que o tempo passou, essas pessoas decaíram muito, mas você continua com essa carinha de adolescente!

Ele a acompanha até a Caixinha de Música, onde de algum lugar sai a questão eleitoral. Ela lhe dá uma entrevista improvisada, enquanto ele faz seu trabalho (...) Ele raciocina um pouco, vai à BYOP, vende algumas photos e usa outras específicas para falar de democracia e participação eleitoral em seu blog, usando a conversa para mostrar como uma democracia pode se firmar em bases sólidas (...) é convidado para uma entrevista no Boa Noite Mundo.

Tobby liga agradecendo, tanto pela pauta quanto pela conversão de um paparazzo ordinário em um jornalista útil (...) Ela volta à leitura das anotações que faz de seus pacientes. Manda um recado para Zigfrida e ela responde na hora...

- Oi, lindinha! Tá preocupada por quê?

- Sabe de quem eu tô falando?

- Claro que sei, fiz anotações idênticas às suas. Não grila, você está agindo direitinho!

- Mas tá foda! Tô cansada, minha mãe me obrigou a tirar o dia de folga...

- E mesmo assim está estudando anotações? Eu vou contar pra ela! Rê, entra na conversa!

Renata não hesita, sai de sua casa, busca a filha e a faz brincar com Naomi e Palhaço, na sua frente, enquanto trabalha. A recusa de Patrícia em levar o Dead Train a Cuba gerou uma saia justa (...) Voar até lá, fingir que está tudo bem e ainda falar uma frase em favor do regime, mesmo que vagamente, foi uma proposta rejeitada prévia e unanimemente pelos vinte e quatro. Ela despacha com os comparsas o que pode ser feito a distância (...) à tarde vão se reunir na Máquina de Costura para arrematar tudo, e decidir algumas coisas que simplesmente não podem ser faladas por rede.

Deixa Matthew encarregado de cuidar das duas meninas (...) Encontra Phoebe e Carly pelo curto caminho (...) Patrícia dá um aviso logo de início, a banda está sofrendo novamente ataques de Estados. A recusa de prestigiar um ditador vazou, como já esperava, agora todos os simpatizantes dele estão fazendo propaganda contra o Dead Train, omitindo fria e deliberadamente tudo o que os seis já fizeram pelo mundo. A Casa Branca se desculpou, mas isso não vai desfazer o ocorrido.

Eles se preparam para ver mais manifestações contra (...) especialmente Ronald e Phoebe. Ele reitera suas posições e ela endossa. Aproveita a deixa para contar sobre um punk brasileiro que domou o sistema, dentro da empresa em que trabalha. Ele apresentou os resultados que os chefes desejavam e hoje faz o que acredita. Punk e com dinheiro, hoje canta só o que quer e onde quer...

- Ou seja, ele vive o jeito Dead Train de ser – completa Patrícia.

- O sistema não é um deus invulnerável, é o próprio homem se recusando a assumir que ajudou a fazer merda. Neste caso o cara limpou a sujeira alheia, ele foi um sistema justo.

Olham para ela (...) fazem algazarra e carregam Sandra pela sala (...) ela se adianta e confessa que saiu daquelas conversas que teve com o pai, sobre a crise de 1929. Patrícia se preocupa agora, Elias sabe se defender, mas não é exactamente um mestre em artes marciais como a filha. De imediato a encarrega da proteção do pai, liga para Window e a encarrega quando Knockout estiver fora. Renata comanda os outros e a carregam de volta ao sofá, para começar a sessão de desfranzimento de cenho.

Voltam aos negócios, enquanto Matthew se descabela para lembrar ao mundo quem é a Dead Train e porque se recusa a fazer-se de amiga de um ditador. Alguns jornalistas o bombardeiam com alegações diplomáticas, ataques ao capitalismo e ele simplesmente “Experimente viver lá, mané” para então voltar ao trabalho. Naomi interfere, perguntando se a execução de crianças de opositores do regime o torna menos cruel do que um sistema que nos permite nos indignar contra ele...

- Vou colocar isso no editorial!

Ela poupou o pai de esquentar a cabeça e forçar o coração (...) pode se concentrar só em atacar, o que ele faz com maestria. Melinda recebe as palavras da menina e manda como resposta a todos os picaretas editoriais de Los Angeles. Ditador bonzinho, ela completa, é ditador deposto. Vai pegar Aubrey para ir ter com a madrinha e voltar para casa, a encontra de mãos dadas com um actor da nova safra (...) Daqui a pouco ele volta ao set, mas consegue finalmente uma garota que aceita um bobo romântico e caseiro como parceiro. Mas não sem antes dar satisfações à madrinha...

- Monsieur Flag, precisamos conversar sobre minha protegida.

Ele quase desmaia. Nesses três anos de carreira no cinema, jamais tinha encontrado a diva de bilhões, a musa de gerações, a majestade do cinema...

- Jose De Lane!

Precisa ser acudido e socorrido pela namorada. Em vez de elas irem, Yuri vem com Nancy e Richard (...) O rapaz gostaria agora de ter os poderes de invisibilidade, super força e vôo de seu personagem, para encarar aquele moscovita enorme e aquele sunshadower gigantesco. Viu o vídeo do velho Gardner levantando meia tonelada nos alteres, as cem mil que consegue levantar não passam de truque de computador, mal levanta cem quilos. Nancy toma a frente...

- Marcel Flag, você está mesmo decidido a ser um Gardner? Se quer alguma chance com minha neta, é bom que cogite isso.

- Foi o que eu te disse, man – completa Aubrey.

A garota (...) liga para o estúdio e diz que Marcel vai passar sua folga em local ignorado, para repensar sua vida. Desliga e ele vai acompanhado do jeito que está a Sunshadow, vestido de Star Hunter.

Durante o vôo, conversando com o pretendente, nem imaginam o que a organização está enfrentando em terra. Princess aciona Genius, Angel e Knockout. Algum louco iniciou a contagem regressiva de um míssil nuclear e o governo local não consegue detê-la, os códigos foram completamente alterados. Angel usa o smartphone de um dos técnicos para se conectar ao controle do míssil, enquanto Knockout avisa e instrui a ABIN nos procedimentos para evacuar Brasilia em tempo hábil, se hover o disparo. Genius auxilia o serviço secreto do país para ajudar a identificar o autor, enquanto a CIA e o Pentágono são postos secretamente em alerta vermelho...

- Isto não é um exercício! Repito: Isto não é um exercício! Há uma ogiva de quinze megatons apontada para Brasília, em contagem para disparar! Princess está conversando com o primeiro ministro, enquanto nossos agentes estão tentando abortar o disparo. Não contem ao governo brasileiro até ser necessário... Seria inútil.

É um pandemônio secreto! Angel consegue um acesso, mas pelo canal limitado do smartphone só pode evitar a decolagem, a explosão ainda é um risco. O cilo é evacuado, o smartphone ligado no carregador e Knockout vai ajudar (...) Adoraria que o alvo preciso fosse simplesmente sublimado pelo calor da explosão, mas tem gente inocente dentro do raio de efeito da bomba. Princess termina de dar o maior esporro que aqueles dirigentes já receberam em suas longas vidas, quando as duas caem exauridas no sofá...

- Desarmado – diz Phoebe. Quem fez aquilo tinha colocado uma faixa analógica para dificultar a abortagem.

- A gente mudou tudo... Agora só nós podemos direcionar e disparar aqueles mísseis.

- Senhores, suspendam o alerta! A ameaça foi eliminada, pelo menos por agora, mas tenham uma conversa séria com aquele governo imbecil, antes que outra falha dessas ecloda a terceira guerra!

Patrícia vai mimar as duas (...) Pensa em um modo de contar pelo menos parte aos outros, especialmente aos pais delas. Star e Brain foram avisados quando a crise estava sendo resolvida, disparam para a Máquina de Costura (...) os detalhes são os mais sórdidos possíveis. Sabem quem foi, mas está foragido, a proximidade da fronteira facilitou a fuga...

- O que explica ele ter acionado o timer – conclui Brain – queria o álibi da distância. Então deve ter usado um transporte muito rápido, para cobrir uma distância convincente.

- Um avião de carga decolou meia hora antes de a contagem começar – diz Knockout ainda exausta. Só pode ser isso.

Investigam, enquanto Star fala com Washignton e aconselha reforçarem os escudos do país. O governo fica na incômoda posição de depender de uma organização que não deve satisfações ao congresso (...) Uma coisa Richard pode contar a Marcia, alertada pela mediunidade que algo estava muito errado naquela casa...

- Nossa filha e Sandra evitaram um holocausto nuclear e a terceira guerra mundial.

- Baby! Fale com a mamãe, baby!

Elias entra intempestivo, quase atropelando Giovanni. Acolhe a filha dolorida pelas tensões e sonolenta pelo estresse (...) mandam chamar toda a banda, vão contar o que é seguro saberem, e mesmo assim não poderão contar ao público, isso é função do governo e ele já foi instruído para tanto. Consuelo olha assustada para Luppy...

- Eles salvaram o mundo de novo.

- Como assim? Como super heróis? Aquela não é Jose De Lane?

- Tem muitas lendas sobre eles que são verdadeiras. E sim, é ela mesma. Espere eles saírem, você vai poder tietar.

Por precaução, Marcel está na casa de Aubrey.