quinta-feira, 27 de março de 2014

Kojak, o pirulito mais rápido da cidade!



   Há casos em que a vida imita a arte, outros em que a arte imita a vida, mas um caso pelo menos foi de a arte esculhambar a vida. foi como nasceu o seriado Kojak. Theo Kojak apareceu pela primeira vez em um tele filme (que era moda, Audrey Hepburn fez muito sucesso com eles) inspirado em um caso real, chamado The Marcus-Nelson Murders, em 1973. O público amou, então os picaretas da televisão trataram de espremer a fruta até o bagaço, e olha que tiraram muito suco dali.

   De Outubro de 1973 a Março de 1978, a CBS exibiu a série de um detetive criado por Abby Mann, com uma combinação tão rara quanto inusitada; era careca, durão, meio malandrão, debochado, terminando cada episódio chupando um pirulito... Sim, aquele doce colorido com uma haste de madeira ou plástico, para não melecarmos as mãos enquanto o degustamos.


   Ele era tenente do 13º Distrito de New York, Zona Sul de Manhattan, reconhecido por sua competência e intimidade com o submundo, que lhe garantia informações privilegiadas. Bem, na época os Estados Unidos viviam uma onda de criminalidade jamais vista, mas que era um paraíso de tranqüilidade se comparado ao que vivemos hoje no Brasil. Telly Savallas vivia um herói carismático, que conseguia ser do bem sem ser chatonildo, o que certamente angariou alguma simpatia da população pela polícia, que estava muito em baixa.

   Para quem não sabe, o supersticioso povo americano ainda hoje tem paúra do número treze. O 13º Distrito seria algo como "Tem tudo para ser um fiasco, mas é o melhor distrito da cidade". Eles não se levavam à sério, levavam o trabalho, não a si mesmos. Comandando com uma dureza leve os detetives Stavros (George Savalas, irmão de Telly e às vezes identificado como Demóstenes nos créditos de abertura), Saperstein (Mark Russel) e Rizzo (Vince Conti), Kojak não deixava serviço para o pepisódio seguinte. Faziam parte do elenco ainda o detetive-chefe Frank McNeil (Dan Frazer), ex-parceiro de Kojak nas ruas, e o tenente Bobby Crocker (Kevin Dobson). Era um elenco meio grande para uma série de televisão, mas não havia atropelos por causa disso.

   Os 125 episódios foram tão bem sucedidos, que foram também um sucesso de vendas para outros países, com reprises insistentes por muitos anos depois do seu fim. Savallas, aliás, ganhou o Emmy por sua atuação, e o seriado legou o Globo de Ouro em 1975. Ele mostrou algo que parece não ter sido aprendido pelos picaretas de Hollywood, mostrou como um herói moderno deveria ser. Ainda hoje é considerada uma das melhores séries da história da televisão.

   No Brasil, Kojak virou sinônimo de calvice, tamanho o sucesso da série. Tanto, que Savallas nos fez várias visitas promocionais. Era quase uma ponte aérea. O sucesso foi tamanho, que a Manchete exibou a série até 1989, nas madrugadas, antes de sua administração imbecil acabar com o legado de Adolpho Bloch.



   Aliás, Vin Diesel, que tal fazer um papel diferente? Candidate-se! Chupar pirulito é fácil!

quinta-feira, 13 de março de 2014

Castidade à brasileira


   Irmãos! Os baluartes da moralidade, de decência, dos bons costumes, da família tradicional e dos especiais ruins de fim de ano estão firmes em sua sina! Nossas famílias podem dormir em paz, quer dizer, depois que a Joseneide parar de bater no carteiro. Como o coitado grita!

   Irmãos! Após tentarem invadir a sacramentalidade de nossos abençoados lares, os ímpios impuros foram barrados novamente, impedidos de colocar em nosso mercado um filme imoral, indecente, uma verdadeira chacota aos nossos valores! Graças aos controladores de conteúdo importado, o blu-ray de Ninfomaníaca (ver aqui) foi recusado pela Sonopress. E ninguém vai importar, por que importaria um... Joseneide, deixa o homem em paz, ele tá quase morrendo, coitado!

   Como ia dizendo, irmãos, nossas famílias podem agora ficar tranqüilas, mas não pensem que é censura! Não, de jeito nenhum! É apenas controle de conteúdo! O Brasil é uma democracia plena, um país justo, desenvolvido e com o maior IDH do mundo! Não precisamos disso. Nossos jovens sabem o que não devem der e não vêem! Só porque mostra uma puritana em cenas de sexo explícito que beira o bizarro, com um apetite insaciável e contrariando sua aparência de religiosa fervorosa? Por que seria censura? Ninguém se identificaria com ela! A Joseneide me explicou todas as posições e disse "Isso aí eu faço enquanto escovo os dentes". Se minha santa esposa, que teve três filhos pelo Espírito Santo (um nissei, um negro de bengala e um louro caucasiano) diz que não se identifica, é porque nenhum de nossos irmãos se identificaria também. Foi recusado porque é imoral, só isso!

   Nossas famílias podem descansar em paz, irmãos! Poderemos nos entreter com programações sadias, como aquele reality show que mostra adultos brincando de esconde-esconde feito crianças, sob lençóis, sempre focando partes baixas de seus corpos, para seus rostos não serem expostos desnecessáriamente à curiosidade popular. Já pensaram, se nossos jovens descobrem... Sexo? Menores de dezoito anos, ainda com as lembranças da infância fresquinhas, se escandalizando e se traumatizando com cenas escandalosas! Cenas que nossas televisões nunca mostrariam nem por insinuação!

   Ah, que desgraça seria que nossos jovens começassem a ver pernas nuas! Colos descobertos! Glúteos insinuados por sob os tecidos! Bocas pintadas! Cinturinhas finas requebrando! Ah, eu nem quero imaginar! Seria a completa ruína de nossa pátria casta e imaculada... Joseneide, o moço é vegetariano, ele não gosta de lombo! Pare de fazer ele comer o que não gosta! Você está sendo dura demais por causa de uma carta atrasada, minha santinha!

   Não se preocupem, irmãos, pois temos quem defenda nossa moralidade! Poderemos nos divertir sem medo com as novelas, repletas de personagens equilibrados, bem intencionados, com noção de decência e respeitadoras de nossas inteligências, que promovem a boa convivência, mostrando vizinhos brincando de esconde-esconde debaixo dos lençóis... Joseneide, o que é isso?? Meu bem, o rapaz vai acabar fazendo um B.O! O que ela tanto bronqueia com ele? Irmãos, me dêem licença, vou ver o que está acontecendo... Joseneide, você acabou com o rapaz!

- Ensinei umas coisinhas que ele não sabia! Agora vai fazer direito, não vai?
- Só!
- Moço, me desculpe, pode pegar uma de minhas camisas... Joseneide, você não precisa ser tão brava, meu bem!


E o casal conversa tranqüilo, certo de que a inocência dos jovens jamais será maculada por costumes que nunca existiram no sagrado solo brasileiro.