sexta-feira, 29 de julho de 2011

Eu recomendo Lisa Ono

Esta Paulistana, descendente de japoneses veio ao mundo em 1962, emigrou para o Japão com os pais aos dez anos. Em 1989 lançou "Your So Unique", dando início a uma carreira primorosa e estável. Sites aqui, aqui e aqui.

Lisa é considerada a melhor cantora de bossa nova do mundo na actualidade, o que é fácil de se acreditar. Ela é uma das maiores razões de os japoneses gostarem tanto de bossa nova e samba, se empenhou em popularizar os ritmos em português no arquipélago. Seu modo de cantar une o melhor de dois mundos, a espontâneidade e maleabilidade musical que o Brasil há muito está perdendo, com a disciplina e a técnica bem cuidada que o Japão mantém.

Por não ser adulada pela mídia, as pessoas não sabem que a maior cantora de música brasileira viva passa grande parte do ano no Rio de Janeiro.. Isto para ela deve ser uma vantagem, porque ao contrário das megastars, pode passear com tranqüilidade pelas ruas da cidade, o que é muito valioso no processo criativo e na preparação para uma apresentação. Seu português, por conseqüência, continua perfeito. Idioma, diga-se de passagem, não é empecilho para ela, que empresta sua interpretação doce a qualquer música.

Lisa também canta clássicos em espanhol, como "Besame mucho", sendo considerada (aqui) a legítima sucessora de Nara Leão (aqui e aqui) por quem conhece música. Aliás, interessante notar que as pessoas que conseguem se impor pela competência, mesmo não gozando de popularidade em massa, vivem muito bem obrigado nas graças do público que cativa. A quantidade de páginas que encontrei, com citações ou dedicadas à Lisa Ono me impressionou. Sinal de que seu público preza pela mesma discrição e não faz questão de ser adicionado a estatísticas. Eu, pelo menos, não faço a mínima.

Apesar do sorriso farto e escancarado, sua descendência imprimiu-lhe o gosto pela discrição e reserva. Sua beleza singela e meiga convida à conversa, não necessáriamente à intimidade. Enquanto profissionais talentosos como ela continuarem no páreo, a legítima música brasileira não precisa do público brasileiro para sobreviver. No que depender de países que cultivam a própria memória, essa gente continuará a ter lugar garantido ao sol.



Esta emocionaria Audrey:

quarta-feira, 27 de julho de 2011

De volta pra casa - III

Entonces, voltar pra casa é um tema bem recorrente na música, como vimos, algumas das quais tem uma boa dose de cinismo - como "Casa", citada no post anterior. Mas não é só voltar pro amor de sua vida que nossos compositores falam.

Voltar pra sua terra e/ou pra casa da mamãe também volta e meia aparecem, como em "O Portão", agora usada naquela propaganda em que uma certa empresa de tevê por assinatura é tão incrivelmente maravilhosa que nem a Giselle Bündchen apaixonada e dona de casa impecável tem condições de superar (sim, porque o gordinho preguiçoso que só sabe apertar os botões do controle remoto só volta por causa dos trezentos zilhões de canais da dita-cuja-empresa e não por causa da esposa linda e perfeita).

A saudade da terrinha aparece mais comumente em canções sertanejas, desde "Adeus, paulistinha" a "Fogão de lenha", passando pela sempre lembrada "Asa Branca".

Também tem aqueles que voltam para uma casa vazia, sem o amor da vida deles, como em "De mais Ninguém" e "Volta", além, é claro, de "Volta pra mim", que eu citei no primeiro post da série. Ainda do Roupa Nova, temos "Vício", "A força do amor" e, falando de regresso, "A viagem", tema da novela homônima.

Agora, nenhuma música consegue retratar a volta a um lugar vazio e a saudade do amor como a que colocarei abaixo, e encerro com ela a parte das músicas em português sobre o tema.

As Rosas não falam (Cartola)

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Eu recomendo Gigliola Cinquetti

Questa ragazza non cambia píu!

Da série "Mulheres que dormem no formol", esta belíssima sagitariana de Verona veio ao mundo em Vinte de Dezembro de 1947, estudou no Liceu Artístico e estreou em 1963, no Festival de Castrocaro (aqui) com a canção "Le Strade di Notte". Mais aqui, aqui, aqui e aqui. É muitíssimo fácil encontrar suas letras, músicas, cifras e vídeos, basta digitar seu nome em um buscador que aparece uma lista interminável de referências. Ainda hoje Castrocaro lança talentos, clique lá.

Pois sim, meus amigos, ela não é só voz aveludada e beleza fina, Gigliola tem formação e conteúdo! Além de cantora é jornalista, actriz e apresentadora de televisão. Hoje trabalha da Televisão Pública Italiana, a RAI (aqui), que o ridicolo stronzi do Berlusconi tentou fechar.

Gigliola sempre primou por só cantar o que gosta e do jeito que gosta, para isso tomou o cuidado de não depender da carreira musical e não deixar a fama lhe subir à cabeça. E que fama! Ela é praticamente uma unanimidade em toda a classe artística mundial. Não se envolve em escândalos e não precisa deles, fez sua fama pela competência e pelo suor, um bom exemplo que faz muita falta nos dias que se seguem.

Apesar de ter sido lançada com músicas adocicadas e chorosas, ela foi uma das pioneiras no alerta à agressão contra a natureza, como em "La Rosa Nera", cujo tom poético não lhe tolhe a dureza do alerta.
No Brasil, de quando a música italiana era febre, ficou mais famosa com "Non ho l'etá" e "Dio Come ti Amo", músicas tão românticas que quem as canta logo pé apontado como tímido apaixonado. Por conta de sua formação, sua voz forte é bem empostada e muito bem projectada, muitas vezes dispensando equipamento de som.

É também uma mulher muito simpática, uma nonna italiana por excelência, com todos os prós e contras inerentes. Aliás, una nonna che fa male a il cuori innamorati, porque é bonita até cair de costas, apesar de se recusar a ser sócia de clínicas estéticas e cirurgiões plásticos; cuida da beleza como toda mulher sã o faz, e só. Não há registros oficiais de garotos tentando cortejá-la, mas tenham certeza de que muitos corações foram quebrados assim.
É humana até o último fio de cabelo, capaz de deixar o entrevistado à vontade ou altamente constrangido, mas também rouba o show quando é entrevistada porque é também muito inteligente. Inteligente o bastante para manter sua vida privada onde deve ficar, dentro de casa.

Abaixo uma entrevista no programa "Le Amicce Del Sabato", em Maio último, o que desmente os constantes boato de que ela teria morrido. como se a imprensa mundial e os fãs não fossem chorar um oceano quando isso ocorrer. Deus queira que os lenços permaneçam secos por muitos anos, artistas e humanos como ela fazem toda a diferença neste orbe expiatório.


Não seria uma veronesa legítima não fosse uma torneirinha, e é. Mas chora com classe, sem perder o controle da situação. Che donna meravigliosa! Carinhosa com as pessoas como é com a canção.
Agora chega, senão não paro de escrever! Mais vídeos dessa pessoa adorável, aqui.

Ah, eu nasci muito tarde!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

De volta pra casa - II

Seguindo minha pesquisa gugólica sobre a volta pra casa, continuo nas músicas.
Tem o/a cafa que apronta todas mas sempre volta pra casa porque a mulézinha/o homezinho a/o espera com amor e comida quentinha:

Casa (Lulu Santos)

Primeiro era vertigem
Como em qualquer paixão
Era só fechar os olhos
E deixar o corpo ir
No ritmo
Hiê! Hiê!...

Depois era um vício
Uma intoxicação
Me corroendo as veias
Me arrasando pelo chão
Mas sempre tinha
A cama pronta
E rango no fogão...

Luz acesa
Me espera no portão
Prá você ver
Que eu tô voltando pra casa
Me vê!
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez...

Às vezes é tormenta,
Fosse uma navegação.
Pode ser que o barco vire
Também pode ser que não

Já dei meia volta ao mundo
Levitando de tesão
Tanto gozo e sussurro
Já impressos no colchão...

Pois sempre tem
A cama pronta
E rango no fogão, fogão!...

Luz acesa
Me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
E vê! ê! ê! ê! ê!
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez...

(...)

Ou, como dizem aqueles dois blogs divertidos, homem é tudo palhaço e mulé (é tudo) burra. Ou o contrário, né, que isso também acontece.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Manda-Chuva! Hooooo!!!

Como?! Esculhambaram minha série no filme??!

Saiu o trailer do filme do Manda-Chuva... Que desastre!
Alguém deve ter exagerado na tequila e inventou de colocar um super vilão na trama, uma grua virtual maluca e exorcizou o espírito do desenho.

A série original se esmerava em dar glamour e conteúdo ao cotidiano. Os vilões eram criminosos comuns, que ficavam a cargo da polícia, na pessoa do guarda Belo. As situações eram todas resolvidas no âmbito dos cinco gatos e seu policial preferido.

Bem, as cousas mudaram. A simplicidade deu lugar ao supérfulo e as tramas interessantes do cotidiano a um roteiro presunçoso. Tudo começa na abertura, em que abusam da grua virtual, como se quisessem mostrar que sabem desenhar e animar o desenho, às custas de deixar o protagonista em segundo plano.
O mote do filme é um bandidão que domina a cidade com um exército de robôs, que executam furtos e roubos a mando de seu criador...


Me pergunto o que virá, se essa porcaria fizer sucesso. Pensem bem: Manda-Chuva descobre que é descendente directo de antigos gatos cósmicos, então passa a procurar toda a verdade a seu respeito. Então, com a grua virtual girando desnecessáriamente ao seu redor, senão os estúdios não descobrem que o pessoal sabe desenhar, ele vê um antigo desenho animado em uma chamada da tevê a cabo. Tem um estalo, flashes de vidas passadas vêm à tona, ele ergue sua bengala e o céu se escurece; Chu-Chu, Bacana, Espeto, Gênio, Batatinha e Belo páram o que faziam, fazem poses ridículas e tudo começa. O líder do bando grita "Manda! Manda! Manda-Chuva! Hooooooooooooooo!!!" e suas identidades se revelam! Manda-Chuva se transforma em Lion-O, Chu-Chu em Cheetara, Bacana em Tygra, Espeto em Panthro, Gênio em Snarf, Batatinha Desdobra-se em Wilykit e Wilykat, e Belo em Jaga... Juntos, combaterão o mal no terceiro mundo em que os Estados Unidos se tornarão, se democratas e republicanos não deixarem Obama governar.

Agora vejam como não precisa viajar na maionese para mostrar que se tem talento, inclusive para desenhar. Eis a abertura da temporada única original:


Agora pergunto, é tão difícil imaginar o Batatinha se metendo em encrenca, por causa de uma rede social virtual? Seria pedir demais que traficantes (se não drogas, de jóias ou outra muamba qualquer) tentassem usá-lo como mula, atraindo a ira do guarda Belo? Seria tão menos emocionante assim o Manda-Chuva ter que livrar sua turma de problemas com a internet, em vez de enfrentar robôs-ladrões indestrutíveis? A série ainda hoje faz sucesso justo por abrilhantar o cotidiano, que hoje precisa disso mais do que a era de ouro em que ela foi criada.

Mas não! Imagina! O público tem que engolir uma grua virtual biruta e acreditar que sem emoções extremas, sua vida não vale nada. Tem que acreditar que só com perigo de morte se pode ter diversão, como se pseudo-artistas medíocres e bons de marketing já não o fizessem.

Dêem-me licença, que essa picaretagem reacendeu a chama do meu saudosismo. Vou ver o original no youtube.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Eu recomendo Celtic Woman


A Irlanda nos presenteia com mais uma demonstração de gigantismo musical, em termos de qualidade. Eu recomendo o quarteto (aqui, aqui e site brasileiro aqui) Celtic Woman.

Formado em quinze de Setembro de 2004, no The Relix, da Universidade da Cidade de Dublin, as três vocalistas e a violinista colecionam sucessos de crítica e público, por não se renderem às fórmulas fáceis e se manterem firmes nas raízes célticas de sua civilização. As sacerdotisas da música celta são Chloë Agnew, Lisa Kelly, Lisa Lambe e Máiréad Nesbitt, a violinista; que faz suas aparições como se fosse uma fada serelepe no palco. A formação já sofreu mudanças, sendo Chloë e Lisa Kelly da formação original.
Como Enya, o Celtic Womam canta também em gaélico - língua original da Irlanda - e outros idiomas, além do inglês. Tudo nas apresentações delas remete às comemorações da Irlanda antiga, como as danças, os arranjos, o modo medievalesco de executar muitas canções e a percussão, esta com potencial hipnótico forte.

Os shows têm ares de celebração ritualística, o que é proposital. Tudo é muito elaborado, com uma métrica geralmente só encontrada entre os japoneses. Nenhum detalhe está lá por questões estéticas nem para pegar carona em modismos, a verdade é que Roma e Vaticano não conseguiram eliminar a cultura celta. Os celtas existem principalmente no Reino Unido e na Bretanha, norte da França, e neste século decidiram mostrar-se retomando seus idiomas e suas tradições, como o uso de coiffe (hoje opcional) pelas moças.

Em comum, todas as formações têm o esmero e o respeito como norte de seus trabalhos. "Assim está bom" não tem lugar no grupo, é preciso atingir o ponto exacto, a perfeição para que elas e sua equipe se dêem por satisfeitas e então se mostrem ao público. Os vestidos muitas vezes são de gala e elas dançam cantando com desenvoltura, como se fossem vestidinhos rústicos de camponesas. Aliás, pode-se notar facilmente o teor folclórico de suas danças, que são bem ordenadas e executadas com cuidado, apesar do aparente descompromisso.

O trabalho delas pode soar muito elitizado para o gosto reinante, mas é conseqüência de dois factores: manutenção da identidade cultural de seu povo, que há milênios vê na música uma forma de comunhão com  Deus, então há espaço compulsório para a alegria e a espontâneidade, mas não para relaxamentos; Tudo é feito como na cultura ancestral, com o envolvimento de toda uma comunidade nos festejos, o que resulta em um grande número de músicos para guarnecer as sacerdotisas cantoras. Em suma, as canções do Celtic Woman são autênticas mesmo quando compartilhadas de outros cantores. O facto de terem as vozes bem empostadas não quer dizer que estejam só fazendo seu trabalho, para os antigos celtas não havia diferença entre lazer e trabalho, eles faziam o que gostavam e se entregavam complertamente à sua actividade, como as moças.

Ao contrário de Superfly, elas não se interessam muito pelo experimentalismo dos anos psicodélicos, pois o que cantam é a preservação e divulgação das tradições celtas, especialmente as irlandesas. A alguns,que não aprenderam que culturas diferentes não fazem as mesmas cousas pelos mesmos motivos, as performances podem fazê-las parecer muito convidativas, mas isto faz parte da cultura celta e das religiões mais antigas, ainda não deturpadas. Nada tem a ver com os motivos popularescos que tanto vendem por cá. Talento e técnica são ítens excludentes para quem quer integrar o grupo.

Para quem não tem medo de parecer chique, elegante ou elitista, Celtic Woman é uma luva. Ligue o som e deixe-se levar pelos encantos das irlandesas, deixe-se devaneiar, subir às nuvens enquanto o mundo abrutalhado lá fora se desmancha todo.. de inveja.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

De volta pra casa - I

Após um breve período de afastamento, retorno a esse blog amado de meu coração. E para começar, em vez de contar as aventuras que vivi para conseguir um lugar decente para minha mãe morar, como pediu o Nanael (pretendo fazer isto mais tarde, meu amigo!), vou iniciar uma breve pesquisa gugólica de músicas e filmes que abordam o tema - voltar para casa.

Descobri na arqueogooglia que a maioria das músicas é relacionada à volta do ser amado.
Uma das minhas nesse sentido preferidas é "Volta pra mim", do Roupa Nova. É brega? Nem quero saber, amo e pronto.

Vai na íntegra:

Amanheci sozinho
Na cama um vazio
Meu coração que se foi
Sem dizer se voltava depois
Sofrimento meu
Não vou agüentar
Se a mulher
Que eu nasci prá viver
Não me quer mais...

Sempre depois das brigas
Nós nos amamos muito
Dia e noite a sós
O universo era pouco prá nós
O que aconteceu
Prá você partir assim
Se te fiz algo errado
Perdão!
Volta prá mim...

Essa paixão é meu mundo
Um sentimento profundo
Sonho acordado um segundo
Que você vai ligar
O telefone que toca
Eu digo alô sem resposta
Mas não desliga
Escuta o que eu vou te falar...

Eu te amo e vou gritar
Prá todo mundo ouvir
Ter você é meu
Desejo de viver
Sou menino e teu amor
É que me faz crescer
E me entrego, corpo e alma
Prá você...

Sempre depois das brigas
Nós nos amamos muito...

Essa paixão é meu mundo
Um sentimento profundo
Sonho acordado um segundo
Que você vai ligar
O telefone que toca
Eu digo alô sem resposta
Mas não desliga
Escuta o que eu vou te falar...

Eu te amo e vou gritar
Prá todo mundo ouvir
Ter você é meu
Desejo de viver
Sou menino e teu amor
É que me faz crescer
E me entrego, corpo e alma
Prá você...(2x)


Arrá!!! Eu vi você cantando junto!!! Agora é tarde. Sei que você é tão brega quanto eu.

Volto ao tema "de volta pra casa" no próximo post.

:)

domingo, 10 de julho de 2011

Eu recomendo Superfly

O sonho americano está vivo no Japão.

Superfly (aqui e aqui) é uma das muitas pérolas que conheci pelo J-Station. O grupo japonês tem como vocalista a sobrenatural Shiho Ochi. Uma cantora jovem e bonita, com talento e maturidade musical já quase extintos. O grupo não é novato, está há pelo menos quatro anos com um website regularmente actualizado, já tem chão para contar história.

Shiho dá ao grupo uma versatilidade imensa, e as composições de Koichi Tabo (ex-guitarrista do grupo) dão uma qualidade musical difícil de se conseguir hoje em dia. Em plena era de downloads e piararia, o álbum anterior "Box Emotions" vendeu mais de quinhentas mil cópias, o actual "Mind Travel" não pretende ficar para trás. Até agora vendeu duzentos e cinqüenta mil discos... E foi lançado no último dia dezesseis.

A voz de Shiho é uma combinação rara de doçura e potência, com a qual o grupo vai do rock mais pesado até as melodias mais doces e emocionantes. Ouvindo-a, lembrei imediatamente de karen Carpenter. Aliás, as semelhanças de estilo são grandes, muito bem aplicadas e exploradas pelos integrantes. Em certas músicas há um psicodelismo bem dosado, o bastante para os marmanjos ocidentais matarem saudades de quando boas vendas eram sinônimo de talento musical, não só de marcketing e apelação.

Para quem tem saudades da riqueza experimentalista musical dos anos sessenta e setenta, eu recomendo Superfly. Aqui o website do grupo, divirtam-se.


"Ah", do Superfly.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O ocaso da comédia


Houve época em que o humor era livre. Ironicamente, durante a ditadura havia mais liberdade dentro das emissoras do que hoje, para o humorismo.

Houve época em que um programa de humor podia satirizar programas de outras emissoras, imaginem os programas de dentro.

Os humoristas eram exímios parodiadores de actores e cantores de sucesso. O escracho corria solto e o riso ia atrás, se molhando de tanto "ra, ra, ra". Era para os outros artistas um bom negócio ser parodiado, ajudava a vender ingressos, discos, até mesmo os productos que eles anunciavam. Famílias inteiras ficavam à espera dos programas de humor começarem, dos oito aos oitenta anos, sem medo de que uma piada pudesse perverter o caráter das crianças. E asseguro que as roupas da época eram bem curtas e justas.

Houve uma excelente safra de humoristas até início dos anos noventa. A última foi o Casseta e Planeta, que enquanto teve liberdade conseguia arrancar suor de tanto seu público rir. Rapidamente descobriram que citar, ainda que por alto, a programação de outras emissoras era considerado crime hediondo. Concentraram-se na programação da casa. Foram uns poucos, mas profícuos anos de dores de barriga, motivação para ficar acordado até um pouco mais tarde.

Mas a vaidade e a incapacidade de receber críticas acabou com a festa, e o poder humorístico começou a declinar. Ninguém trabalha a contento sem liberdade para pazer o que sabe, mesmo um torneiro mecânico sabe disso. Sabe que há uma diferença entre regulamentar os procedimentos e engessar um bom profissional. Foi isto que fizeram com o humor.

Começou com gente que se aventurou em novelas e se enchia de "não-me-toques". As paródias ficavam tão mais interessantes quanto mais se reclamava delas, mas também crescia a pressão para a censura interna, que acabou ocorrendo. Um se achou no direito, todos também se acharam e os risos deram lugar à perplexidade, com a vontade de mastigar o televisor, de raiva.

As moçoilas, digo, os garotos do Casseta e Planeta, todos muito alegres, beberam na fonte de outro programa épico, o TV Pirata. A trupe pirata chegou a satirizar novelas de outras emissoras, garantindo altíssimos índices de audiência à casa onde trabalhavam. Era o auge dos anos oitenta, da hiper inflação, da miniaturização dos biquinis. A liberdade da televisão parecia excessiva a muita gente, era justo regulamentar, mas com o tempo o que se fez foi amordaçar mesmo, porque programas de mau gosto e deliberadamente ofensivos estão no ar, mas os "regulamentadores" não os incomodam. O mundo-cão é deixado solto, enquanto o mundo-riso ficou na memória de quem o conheceu. Sem humor de qualidade, os programas de baixaria passaram a polarizar a audiência do público mais simples, e com o tempo também os ditos mais esclarecidos. Se antes ria-se do exagero humorístico, hoje ri-se da pessoa sendo ridicularizada em público, à sério, via satélite. Ria-se do contexto, ri-se do indivíduo.

A televisão foi invadida por piadas fracas, excessivametne contextualizadas, que abusam de bordões apelativos e pecam ainda mais por serem longamente explicadas pelos seus contadores. De piada que não se entende hoje, um dia se ri. Piada que não se entende e te explicam, um dia vida philosophia de botequim, mas nunca arranca risos de ninguém.

No andar da carruagem, um dia o expectador será processado se não rir sonoramente de uma piada ruim, de um porgrama ruim, com um elenco ruim.  Porque as piadas estão caminhando para a completa alienação, tomando os extremos como balizas, o do tão inofensivo que não faz efeito, e o do propositalmente ofensivo. Ente os dois, os programas de mundo-cão e baixarias de família ganham o espaço que já foi do humorismo.

Não delongarei em explicar as implicações de os melhores humoristas estarem velhos ou já de pés juntos, pois quem discerne sabe o quanto isto agrava a situação. Apenas declaro o meu direito reservado de não dar audiência à televisão de hoje, não que uma só pessoa faça falta às emissoras, mas a falta das emissoras faz muito bem a esta pessoa. Não me darei o trabalho de me adequar aos "novos tempos", porque eles nada mais são do que a idade média em roupagem contemporânea.




Mais TV Pirata, cliquem aqui e rachem o bico de rir.