domingo, 31 de agosto de 2008

Somos também aquilo que perdemos

Ou o que esperava da sala de aula.

Ruína: tudo que um dia esteve, não está mais, porém, permanece. Uma lembrança, certo? Coisa que todos temos. Pergunte-se então, quais são suas ruínas pessoais, e qual a função delas no fundo da gaveta ou no alto da estante, além de acumular poeira.
Ana Teixeira, artista plástica que reside e trabalha em São Paulo, partiu desses resíduos para conceber [in]cômodo. Algumas dezenas de objetos foram doados por [in]cômodo :: Ana Teixeiraamigos à artista, e possuem, para seus ex-donos, um valor simbólico e pessoal: mecha de cabelo, maço de cigarros, um pente de bolso. Todos foram sepultados por Ana, um a um, em blocos de resina transparente, e dispostos numa mesa branca, antiga.
Ali, expostos à manipulação, os pequenos blocos-esquifes são testemunhas materiais da imaterialidade da memória: você consegue tocar o bloco de resina, mas não os objetos em si. Nos é permitida uma experiência tátil, concreta, com um objeto que, pela sua condição encapsulada, não está mais presente ou disponível para nós. Objeto morto, lembrança viva. É paradoxal? Bem, se não fosse, não estaria escrevendo sobre este trabalho...
Quando afirmo que ruínas são as lembranças de algo que morreu, arrisco colocar tudo que tenho hoje à prova da utilidade. Não guardo entradas de cinema, anotações ou fotos, mas lembranças. Restos de algo que não existe mais. Por que vivemos, se não para guardar tais ruínas? Na vontade de ter de volta, repetir - às vezes justamente não repetir - algo que o tempo levou embora.
Sua vez: faça um pouco de arqueologia pessoal. O seu primeiro dente de leite, ou o par de abotoaduras do seu querido e falecido avô. Ressignifique-o, modifique-o, ou mesmo jogue-o fora. A lembrança (como a arte contemporânea) faz parte de você, e o caracteriza como indivíduo. E você pensava que com arte era diferente?

(Esse pequeno texto-proposta fez parte do meu TCC, nos idos de 2003 e reencontrado pela Mai. Relendo-o, percebo que os motivos que me levaram ao Magistério em 2004 e os que me tiraram dele, em 2008, são exatamente os mesmos)

sábado, 30 de agosto de 2008

Parem de ter bebês!

Não há coisa melhor do que aquele professor daquela matéria faltar, néam?
Daí que outro dia aconteceu exatamente isso e a coordenação levou todos os alunos para a sala de projeção para assistir a um filme... Como as equipes pedagógicas sempre acham que alunos de pré-vestibular são escravos e não podem pensar em outra coisa que não o estudo, tentaram colocar um filme cult sobre algo que nós fossemos aproveitar. A mandinga, contudo, é grande e o DVD acabou não funcionando. Daí colocaram um filme bem fuleiro* pra assistirmos por que ficar conversando não pode...
Daí que, em determinado momento, o personagem principal (um treinador de futebol americano que usa técnicas igrejasuniversalescas para motivar os atletas) descobre que não pode ter filho e começa chorar... A reação de maior parte da sala foi tipo, aaaaaaaaaaaaaaaaawn, coitado... Mas a minha foi diferente, por que oi? Pra que ter filhos!?!
Minha primeira reação foi gritar lá do fundo da sala de projeção: Pára de chorar e corre pra o orfanato!
Não que eu seja insensível, mas é que, se uma coisa não tem mesmo conserto, o jeito é ir atrás de outra solução... E, se você olhar bem, esse é o tipo de opinião mais politicamente correta que alguém pode ter no mundo!
Mas claro que a coordenação super conservadora da minha escola (católica) achou um absurdo minha posição - c0m0 provavelmente acharia qualquer outra- e resolveu criticar... É por isso que eu vou expor aqui minhas razões de defender a adoção no lugar de ter filhos biológicos...
(até por que, descobri que as pessoas da coordenação às vezes lêem esse blog, comenta aí, suas gostosa!)

1- Todos sabem que passamos por uma crise mundial de alimentos e de recursos naturais, logo, em alguns anos seu filhinho que você colocou no mundo vai sofrer pracaráleo.
2- Adotando, cê estará salvando uma criança de um futuro que provavelmente seria terrível
3- A matemática é simples, você coloca um a menos no mundo, logo colocará um poluidor a menos.
4- fechando a equação, é o seguinte. Um poluidor a menos + uma criança salva de um futuro terrível = excelente ação!

Eu mesmo, muito dificilmente terei um filho biológico, mas penso em adotar uns dois... Ou seja, serei greenpeacemegapowerultracontraafomenaáfrica! E tudo bem que tem gente que essa minha posição é contra a lei de Deus de crescer e multiplicar (olha só no que deu!), mas tem coisa mais cristã que ajudar o próximo e ainda cuidar pra um futuro mais sustentável?


Por isso galera, sijoga na adoção!

_____

* quando eu digo fuleiro é por que é MUITO fuleiro MESMO! É como se o redator desse filme tivesse passado por uma espécie de tortura à la Laranja mecânica na qual obrigaram ele a passar três meses assistindo a Sessão da Tarde, Malhação e Roda do descarrego simultâneamente... Sério!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

MEME: Special Album Gold Edition Repetecus Songs For All Times Plus Advanced (com équio)

Seguindo o ensejo de Dave Coelho e entrando nesse MEME, concordo com a afirmação de que tem músicas que marcam vários momentos de nossas vidas. E que a gente poderia criar um CD e lançar como "Soundtrack of my life". O meu não tem lado A e B, porque eu sou mais avançado que o Dave, portanto, já sou da era digital. A e B é coisa de gente antiga, que curtia vinil. Chiado, tô fora!

Complementando, vou ter que deixar várias de fora, mas explicarei sucintamente suas devidas importâncias.


Fio's Life Soundtrack

1. Iron Maiden "Afraid to Shoot Strangers" - Marca porque foi uma das primeiras que eu ouvi e que me fez me apaixonar por Heavy Metal. E a letra é linda.

2. Helloween "A Little Time" - É uma música simples, mas profunda. Gostosa de ouvir, ad aeternum.

3. Black Sabbath "After Forever" - É o que dá vontade de gritar na frente de qualquer cético ou ateu.

4. Slipknot "Surfacing" - É pra aqueles momentos que dá vontade de matar alguém. É como o "Foda-se". Desestressa, te bota no eixo, um foda-se bem mandado dá até sono. É essa música. Desestressante master.

5. Slipknot "Snuff" - É do último CD deles, mas é de passar mal. Faz lembrar de relacionamentos que acabaram, de uma forma mal resolvida. Dói no coração.

6. Sigur Rós "Ný Batteri" - É um som esquisito. É triste. É deprê. Mas é gostoso de ouvir.

7. Legião Urbana "Eu era um Lobisomem Juvenil" - A letra é poesia pura. A música, uma orgia sonora. Deleite puro.

8. Raul Seixas "Tente outra vez" - Pra aqueles momentos em que você sente vontade de desistir de tudo.

9. Radiohead "Fake Plastic Trees" - É sobre a artificialidade do mundo. Faz por os pés no chão.

10. Queensrÿche "Suite Sister Mary" - Vem de um disco que é uma opera rock, masterpiece total.

11. King Diamond "Lucy Forever" - É uma das músicas mais tristes, de um dos álbuns mais incríveis. Só ouvindo o álbum inteiro pra entender. O álbum em questão é "The Graveyard".

12. Chico Buarque "Construção" - Não, não gosto do Chico porque ele "entende a alma feminina". Gosto dele porque ele é um dos melhores letristas da história do mundo.

13. Chico Buarque "Eu te amo" - Talvez a música que mais fale de amor sem falar de amor.

14. Chico Buarque "Cotidiano" - Quem é ou foi casado, sabe que essa música traduz o casamento: é monótono, mas é maravilhoso.

15. Savatage "The Chance" - Obra prima. Remete à minha adolescência (a fase boa dela) e à coisas boas, em geral.




Acho que é isso. Muitas músicas eu vou me arrepender de não ter posto aqui. Mas se eu fosse por todas, também, seria um texto interminável.

É isso, acho.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

História Universal Talicôsica - Tomo III

O roubo de um bordão – cap. 2

Na Avenida mais nobre da cidade, enquanto Nena se mantinha em suas atividades para cuidar de suas família e dos animais que acolhia, um sóbrio edifício – o mais luxuoso de todos – abrigava uma reunião de poderosíssimo grupo empresarial. Eram inescrupulosos especuladores imobiliários, que tinham pérfidos planos de dominar o mundo, bairro a bairro.
O pior deles, Fioxós Augustus Felipe Gutierrez usava bengalas com uma cabeça de harpia em ouro como enfeite. No bolso, lenço combinando com a gravata, sempre enfeitada com um alfinete de ouro, ônix e diamantes. Sua capacidade de iludir podia ser detectada na equipe que o acompanhava. Muitos ali trabalhavam sem sequer suspeitar das atividades obscuras que praticava. Sua sócia, a bondosa e linda Luna Maria Hernandes, acreditava que ele era um homem de sinceros propósitos. A gerente geral, Mel del Carmen Torres y Gonzáles, linda e cultíssima herdeira do grupo, que trabalhava por amor à profissão, jamais suspeitaria dele – que já havia pedido sua mão em casamento e a tratava como uma rainha. Seu meio irmão, o bondoso e ingênuo Dave Antônio Soledad Coelho, sempre apoiava Fiodoxós Augustus e tinha plena confiança no potencial dele.
Aquela reunião mudaria para as pacatas vidas ali representadas, e muitas outras mais. A única que tinha uma pequena idéia do que estava acontecendo era a ambiciosa Vivi Margarida Ciudad Abadie, uma lindíssima morena, que tinha planos matrimoniais em mente e pretendia adonar-se de toda fortuna dos Gutierrez. Naquele dia, o ardiloso Fiodoxós Augutus veio com um sorriso ainda mais misterioso que nos outros dias. Numa pasta selada, um documento secretíssimo. Diante dos olhares incrédulos de seus sócios, abriu o envelope e anunciou:
- Tenho aqui algo que nos trará fama, fortuna e o domínio do mercado (e do mundo, pensou ele, com umarisada mental male´vola). Uma frase mágica que nos servirá para sempre, acompanhará nossa empresa e estará em todos os nosso documentos oficiais, mas criptografada, para que ninguém a roube (como eu o fiz... ráráráráráráráráráraráaaaaaaa - pensa ele).
- O que é, meu irmão? – Disse Dave Antônio, com um sorriso de aprovação.
- Um bordão! Veio a mim num acaso maravilhoso da fortuna. Ouçam isto: Talicoisa, coisitali.
- Estranho, doutor Fiodoxó Augustus, parece-me familiar, mas parece que há algo a mais aí – disse Mel del Carmen.
- Nunca discutam minhas decisões! Eu sei exatamente o que estou fazendo! Bateu a mão na mesa, para espanto geral, e dali em diante passaram a usar o bordão, apenas com a primeira parte dele, até que o anúncio público do empreendimento usou o bordão inteiro, mas com a deturpação que lhe havia promovido o ardiloso Fiodoxó Augustus, acrescentando dois “is” ao bordão de nossa heroína, que, até então, inocentemente, de nada sabia.

(Aguardem cenas do próximo e emocionante capítulo!)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

FIXAÇÃO

Todo mundo consegue montar pelo menos um álbum particular só com músicas que já foram uma fixação em algum período da vida. Daquelas que se ouve 15 vezes seguidas no player. Ou daquelas que de tanto você ouvir, resolve poupá-la um pouquinho, pra não enjoar.
[Só servem aquelas que você ouviu tanto que vivia cantarolando a letra! Aquela que era a primeira a tocar quando você ligava a radiola, vitrola, computador, ipod!]
O meu disco tem lado A - Nacionais e B - Internacionais, ok? Arrasei.
Eu vou tentar montar meu Special Album Gold Edition Repetecus Songs For All Times.

LADO B

The Good Life - Weezer.
Movies of Myself - Rufus Wainwright
All These Things That I Have Done- The Killers
The End Has No End - The Strokes
I'm Shakin' - Rooney
Everything's Just Wonderful - Lilly Allen
Cry Me a River - Cat Power
S'Wonderful - Gene Kelly

LADO A

Bilhete - Ivan Lins e Zizi Possi
Cais - Elis Regina
Os Outros - Kid Abelha
Onde Andarás - Maria Bethânia
João e Maria - Chico Buarque
Mensagem de amor - Lucas Santana
Todo o Sentimento - Chico Buarque
Trocando em Miúdos - Chico Buarque

Tive que deixar uma pá de fora pra atender a exigência da gravadora: 16 músicas.
Mas ficou de fora especialmente a trilha do período trash da vida de todo mundo no quesito musical: a adolescência. Nessa época eu gostava de qualquer coisa que estivesse entre os 10 mais das rádios. Tipo OOOOOOHH CARLAAAAA, do LsJack. Já parei. Té quarta que vem!

"ÊÊÊÊÊÊ Goiâniaaaaaaa"

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A beesharada fica toda assanhada...

Hoje eu vou falar sobre a beesharada. Não a beesharada talicoiser, a beesharada aqui de casa.
Temos cinco cachorros, ou seja, tem mais bicho do que gente na minha casa. É o que aconteceu quando se é filha de veterinária e neta de uma apaixonada por Yorkshires (são quatro Yorks, minha vó deve encarar isso como uma coleção).

Não que eu não goste de animais, eu até gosto, mas acho que um cachorro só já é suficiente. Agora que acumulamos cinco, não posso fazer nada, já se tornaram parte da família.
Meg é uma Cocker Spaniel, tem sete primaveras e o olhar canino mais pidão que existe. Certa vez ela comeu uma nota de vinte reais, ela come tudo que passar na frente, é praticamente uma vira-lata disfarçada.

Yasmin tem seis anos, é a Yorkshire-mãe e a mais chata de todas, tem ciúmes de minha vó, então, ela acha legal morder quem passar por perto de sua dona. Isso inclui a canela do meu avô, o nariz da minha prima...

Kyra, Pity e Nicole (segundo meu primo, tudo nome de puta) são as filhas de Yasmin, têm um ano. Kyra é low profile, Pity pensa que é filha de Meg e Nicole é um pouco maior que um hamster (deve pesar umas 200 gramas).


Minha mãe está ameaçando comprar um gato (um Maine Coon, que pesa uns treze quilos), eu falo que isso é absurdo, mas claro que ninguém me ouve, aqui as pessoas se deixam seduzir por imagens assim...


E o zoológico continua crescendo.

Update:

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Quem sou eu?

Como responder a essa pergunta? A gente pode se utilizar de vários meios, mas nenhum é satisfatório. Nenhum responde a pergunta direito.

Tem gente que lembra de falar da profissão. “Sou Fulano de Tal, advogado". Isso não me ajuda muito, porque eu trabalho, mas o que eu faço não é nem de longe o que eu gostaria de fazer. Meu trabalho não me define. Eu passo mais horas devaneando do que realmente presente. Coisas de quem já é capaz de ligar o piloto automático. Coisas de quem faz sempre a mesma coisa.

Tem gente que fala da família. Bem, eu sou filha de duas pessoas (jura?) e irmã de três outras. E daí? Isso também não explica muita coisa, porque não fui eu que escolhi. Falar da família talvez explique algumas manias, alguns valores, alguns modos de ser. Mas será que só isso me define?

Quem sabe o orkut possa ajudar? Quem for dar uma espiadinha, pode ficar sabendo que eu tenho medo de galinha, que eu odeio quem grita “Toca Rauuuuul”, que eu amo Eça de Queirós, que as minhas unhas estão sempre feitas e que eu tenho um blog. E daí?

Para alguns, eu sou aquela moça magrinha e de óculos, que todo dia pega o mesmo ônibus e desce no mesmo lugar, sem falar com ninguém. Ou aquela voz no telefone. Ou aquela que todo o dia vai à padaria e não compra pão, só lanchinhos.

Eu sou aquela que odeia acordar cedo, e mais ainda ter que dormir cedo. Aquela que gosta de cutucar a unha encravada, porque dói e eu acho bom. Aquela que já não tem muita paciência para um monte de coisas. Aquela que sabe rir de si mesma. Aquela que tem dois cachorros e não gosta muito de crianças. Aquela que acha que amor é só coisa de filme. Aquela que gosta mais de ouvir do que de falar. Aquela que não sabe dizer onde é a esquerda e onde é a direita, sem pensar um tantinho. Aquela que acha o Nanael e o Frank siacabantes, cada um a sua maneira.

Sou muitas coisas, tenho algumas certezas e muitas dúvidas. Mas não preciso me definir, porque amanhã ou depois, tudo pode mudar...

Na verdade, eu não sou nada. Eu sempre estou.

sábado, 23 de agosto de 2008

Tinteiro sim.

Eu uso canetas-tinteiro.

Elas são mais difíceis de controlar, ao contrário da espherográphica, esta é um burro domado à mercê de quem escreve.

Elas são muito mais caras que as melhores(?) espherográphicas de papelaria, que facilmente custam cinqüenta centavos ou menos.

Elas demandam cuidados de manutenção que as descartáveis dispensam, bem, porque são descartáveis. Falhou, joga fora. Tu não vais querer jogar uma Parker de cento e tantos reais no lixo.

Elas não aceitam escrever de qualquer jeito, ao contrário da descartável, que aceita ficar quase deitada e em qualquer posição.

Er... então qual é a vantagem? Nanis ficou doido? Nanis gosta de sofrer? Nanis é vendedor da Bic?

Nein. Os primeiros parágrafos são justamente os motivos, embora pareçam desvantagens.

Uma tinteiro é mais difícil de controlar, demanda um aprendizado, mas isto te faz ter mais auto controle, ficas mais ciente do que estás escrevendo ou desenhando.

Uma tinteiro é bem mais cara, mas não tão cara que não se possa ter uma boa por dez ou quinze reais, sabendo procurar. Uma caneta-tinteiro é para a vida toda, o que leva à próxima...

Uma tinteiro de boa qualidade vara décadas, por vezes os séculos, de geração em geração. O único resíduo que gera é um cartuchinho plástico minúsculo ou, quando tem bombinha, o vidro de tinta. Mas ambos são facilmente recicláveis, junte um monte de cartuchinhos e um monte de vidros que nem será preciso fazer triagem para separar tipos, é colocar na máquina e transformar em algo novo.

Uma tinteiro é exigente para com seu dono. As minhas me fizeram penar até eu aprender a lidar com elas, mas a minha caligraphia melhorou horrores, sem precisar fazer curso nem nada. Além de moderarem a minha velocidade, o que me faz pensar melhor no que escrevo, o que aumenta o vocabulário e a riqueza do texto que redijo. Conseqüência imediata, evido ao máximo repetir palavras em um parágrafo. Também não escrevo supérfulos.
Eu já tinha uma consciência clara de que nada sai do nada e nada vai para o nada, e que isto se aplica também aos resíduos diários. Por isto sou a favor da venda a granel, para a qual cada um teria seu próprio recipiente; dos objectos duráveis, que consomem mais matéria-prima de início, mas poupam-na em muito maior escala com o passar dos anos. Os fabricantes não teriam o que temer, pois a manutenção e venda de peças de reposição também dão lucro. É muito mais charmoso e elegante andar com uma sacola de algodão estampado ou uma cesta de vime, cheia de tupperwares e latinhas decoradas, do que com um monte de embalagens de papelão cujas ilustrações quase sempre pecam pelo mau gosto e pela gratuidade. Isto também ensina às crianças que tudo tem um destino e que não é preciso se entregar aos valores efêmeros para ser feliz, muito pelo contrário. Perguntem às suas avós se elas (ou suas mães) deixavam de se divertir por falta de red bull, ou qualquer outra bobagem que as propagandas juram que tu não podes viver sem. Não condeno a espherographia, afinal ainda há documentos com várias vias e carbono, que precisam de uma certa rudeza, mas também há delas recarregáveis. Prefiram-nas.
Mas sejamos francos, uma pena Compactor sem clipe, própria para se levar na bolsa, em sua grande variedade de cores, é um presente para qualquer menina-moça. Ei, garoto, estou falando contigo. Por cinqüenta reais (até menos) tu compra uma para o teu broto, e é presente que ela vai guardar pela vida inteira.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Isto não é um post.

Tá vendo aquele cara, sentado ali, no banco da praça?

Ele tinha uma vida. Era feliz. Tinha emprego. Tinha uma esposa, que amava mais que a vida. Tinha esperanças. Tinha sonhos. Tinha um futuro.

Não, ele não começou a beber. Não, ele não começou a usar drogas. Não, ele não traiu a esposa.

Não, ele não é um mendigo. Nem tampouco pede esmolas.

Ele apenas observa sua vida. Tenta entender onde errou.

Porque ela foi embora?

Porque não o quiseram mais na empresa?

Porque ficou velho?

Porque perdeu a esperança?

Ele não encontra respostas. Nunca.

Vários passam à sua frente. Dizem milhares de palavras, que não tem conexão. Palavras que não chegam ao seu coração.

Porque pra ele, nenhuma delas tem a verdade.

Ele não se levanta do banco, porque não tem mais forças. Alguns passam por ali e dizem "Ele é um caso perdido" ou gritam "Seja homem e levante-se daí!".... Mas nenhum deles entende que esse homem não tem mais forças.

Ele pensa "As pessoas gostam de falar umas das outras. Mas nunca entendem o que se passa com os outros".

Ele olha pros céus. Não vê nada.

Olha pros lados, não vê nada.

Pelo canto do olho ele nota...

A esperança indo embora.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

História Universal Talicôsica - Tomo II

Continuando a saga talicôsica, como prometi. Preparem-se, meus caros, para a mais pungente de todas as novelas mexicanas, a moça mais sofredora da história da dramaturgia e os vilões mais sórdidos da humanidade.
"O Roubo de um bordão.": traição, vaidade, roubo, especulação imobiliária e troca de crianças na maternidade. Não necessariamente nesta mesma ordem... Né pouca coisa não!

O roubo de um bordão - cap. 1

Adriane Cristina Sosa, conhecida de todos como Nena, uma ingênua moça e pobre, que sustenta sua avozinha doente, um irmãozinho preso à cadeira de rodas e ainda cuida dos cães e gatos de rua, teve um dia uma revelação que adoçaria sua triste vida. Um bordão.
Ela estava cuidando das feridas dos bichinhos quando viu uma velha cigana, aparentemente cega, que tentava atravessar a rua. Estranhamente, ela usava chinelos azuis. Nena foi a única pessoa a ajudar a cigana, pois todos os outros viraram as costas e nem mesmo se dignavam a tentar ajudá-la. Quando conseguiu levá-la ao outro lado da rua, a cigana assumiu um ar jovem, com lindas roupas, e disse:
- Eu sou uma cigana encantada, da tribo dos Smurfs, e tenho uma revelação a te fazer. Esta noite terás um sonho com teus antepassados e eles te dirão algo que deves anotar. Será teu bordão e o usarás apenas para o bem. Nunca esqueças disto, ou o mal se abaterá para sempre sobre o mundo!
Nena nunca mais esqueceria aquele momento. Durante toda sua vida dali para frente, a cena se repetiria infinitamente (em preto-e-branco e com aquele eco típico de flashback). Quando dormiu, o sonho profetizado aconteceu, e seus antepassados lhe trouxeram a frase, aparentemente banal, mas que trazia um poder infinito:
- Nenaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.... Talicosaaaaaaaaaaaaaaa... cositaliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.....
E ela passou a usar o bordão, com a pureza que seus antepassados lhe trouxeram.
Enquanto isto, do outro lado da cidade, um grupo de inescrupulosos especuladores imobiliários traçava um pérfido plano para dominar o mundo, bairro a bairro.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

I love to hate


Odeio quando as pessoas, no terceiro semestre, se vestem como se estivessem no Fórum. A menina aqui do lado está usando um tailleur (e eu sei que ela não faz estágio), a minha calça jeans tem uma broca de uns dez centímetros no joelho.
Odeio quando tem Brasil X Argentina, e eu tenho que ficar ouvindo sobre “A Ética e os Vizinhos”. Meus tocam Babado Novo nas alturas, cadê a ética? Meu consolo é que minha vó revida de vez em quando. Aposto que o pessoal do lado odeia a trilha sonora de Terra Nostra...

Odeio gente que pensa que sabe. Hoje, após uma brilhante análise sobre Hitler (Vocês sabiam que Hitler era austríaco? Hitler era austríaco! Vocês sabiam que Hitler era austríaco?), eu tive que ouvir que a Segunda Guerra Mundial acabou em 1949. Esse tipo de coisa me tira do sério, pode parecer idiotice, mas eu fico fula da vida. No fim das contas eu tive que corrigir. Não agüento.
Pensando bem, a Segunda Guerra rende muitas pérolas. Lembro que no ano do vestibular alguém me perguntou quem foi que ganhou.

Odeio quando visto uma calça e a calça não entra direito. Eu nasci com o gene da melancia, todo mundo adora muito isso. Na minha família é mais ou menos assim:
- E aí, Olho?
- Como vai, Bunda?
- Meu Deus, você só tem olho...E bunda!
- Tudo que você come vai parar no olho, né? E na bunda!
Até de Horácio eu já fui chamada. O motivo? Ele só tem bunda e olho, e bracinhos minúsculos.
Mas eu não odeio minha família.

Odeio quando acordo atrasada e pulo o café da manhã para chegar no horário, e aí o professor falta.

Odeio quando uma ex-BBB e capa da Playboy fala que é tímida. Tímida sou eu, que nunca fiz clipe mandando a galera sacudir a bundinha no fim de semana.

Odeio quando alguém escreve coisas assim na frase do MSN:
Mais que uma roupa íntima – De Millus!!!!
Fácil perceber que meu amor é seu!EU TE AMO MT MINHA FLORZINHAAAAAAAA!
Já pensei saber o que eh amar várias vzs! Hj sinto o amor! + descobri que eh impossível definir! N foi feito p s vr! Sim p s sentir!

Anotação mental: favor nascer menos neurótica na próxima encarnação.Odiar menos, ser mais compreensiva com os seres humanos, ser mais paciente...




NOT!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Corra, que as crianças vêm aí!


Há quem acredite que as crianças são pequenos anjos. A gente ouve por aí: “Crianças são puras. Crianças são inocentes. Crianças não mentem. Crianças nunca fazem nada por mal, pois não sabem direito o que estão fazendo. Crianças são totalmente inocentes, sem nenhuma malícia”.

Quando ouço esses disparates, só duas coisas me vêm à mente: ou a pessoa que diz isso tem uma fé inabalável na humanidade, ou não se lembra da própria infância. Eu acredito que as frases acima só podem ser aplicadas às crianças bem pequenas. Porque, depois de certa idade, todas deixam de ser hobbits bonzinhos e se transformam em pequenos gollums.

Vasculhando o baú das memórias de infância, lembro de várias historinhas nem um pouco cor-de-rosa. Havia o lado bonitinho, é claro, mas também muita podridão.

Como aquele menino sardento e enjoado, que corria atrás das meninas com um sapo na mão. Ele fazia isso simplesmente porque sabia que a gente tinha medo. E seus olhos brilhavam, enquanto corria e ouvia os nossos gritos. Isso é sadismo!

Ou aquele outro, que ganhou dinheiro do pai e jogou na churrasqueira, que estava acesa. Arrependido, começou a chorar e ainda teve a coragem de dizer que quem jogou o dinheiro lá foi o irmão. Foi uma interpretação digna de novela mexicana. Quem consegue chorar quando é conveniente? Só um ator, ou uma criança querendo se safar de um castigo.

E eu e a minha amiga, que quando queríamos pular corda convidávamos outra menina para brincar com a gente? Só que nós combinávamos o seguinte: assim que cansássemos da brincadeira, arrumaríamos um motivo qualquer para brigar e expulsar a menina. O estranho é que a coitada sempre caía nas nossas armações.

Isso sem falar na pobrezinha que ia de casa em casa pedir água e a gente ia atrás, cantando uma musiquinha maldosa. A gente achava engraçadíssimo alguém não ter água encanada em casa.

Além de todos os exemplos citados, ainda havia as crianças fofoqueiras, que inventavam coisas, as que colocavam apelidos maldosos nos colegas da escola, as que maltratavam animais (essas mereciam morrer na fogueira), as que roubavam brinquedos dos próprios amigos e depois diziam, com a cara mais cândida deste mundo, que “ele me deu”.

Alguém até pode achar que todos esses desvios de conduta são culpa dos pais, que não educam direito. Mas a maioria das crianças daquele tempo tinha pais presentes, sem falar que a escola era bem melhor do que é hoje. Todas sabiam que estavam agindo mal e estavam cientes de que seriam castigadas, se fossem descobertas.

Por isso é que eu não acredito que as crianças sejam anjos. Elas são simplesmente humanas e precisam testar seus limites. E, para falar a verdade, a infância seria muito chata, se a gente não cometesse nenhuma transgressão.

sábado, 16 de agosto de 2008

Momoko





Voltando aos temas do arco da bisa, no meu tempo era comum as meninas brincarem de boneca. Mesmo as feinhas eram engraçadinhas, mas o normal era o fabricante ou o artesão fazer o producto mais bonito que pudesse. Por mais bonito, eu digo traços suaves e/ou alegres, jeito de mãe, moça ou nenê, cores em profusão e outros quetais, de modo que mesmo as crescidas gostavam de ganhar uma, ainda que só para abraçar no aconchego do quarto.



Nesta época, a Barbie ainda não tinha cara de garota de programa, "profissão" hoje glamourizada. Nem de viciada em heroína, o que hoje é cool. Se alguém aparecesse com uma Bratz no mercado, sua venda ficaria restrita aos sex shops e às ZBM, até porque aquilo deve causar pesadelos nas crianças.



A melhor cousa que poderia ter acontecido à Susie, foi ter saído de linha quando e Estrela conseguiu a licença para fabricar a Barbie, quando ela ainda tinha cara de Barbie. Quando voltou, usaram as mesmas matrizes que tiveram o bom senso de não sucatear, para reduzir custos, e a Susie é, provavelmente , a única boneca de grande marca nas Américas a ter cara de gente saudável. E tem proporções de mulher brasileira, por tabela.



Mas a Susie é uma excessão no ocidente. Viajando pelos cabos da internet, pesquisando (chutando) nomes em japonês, encontrei "Momoko". Para quem já encontrou mulheres chamadas Mikomi, não surpreendeu. Surpreendeu a qualidade do que vi.



A Momoko produz bonecas com cara de adolescente mesmo, sem excessos de maquiagens, sem expressões de prostitutas com tpm, enfim. Braços, pernas, cabeça, torax e abdomem são articulados. Não uma articulação camuflada para dizer "É tua amiguinha", são articulações robustas, mas discretas, que deixam claro que se trata de um brinquedo, que as amiguinhas são as de carne e osso. Também não têm o efeito que as bonecas alemãs de porcelana, que de tão realistas dão medo em algumas crianças. Estas são para se colecionar, não para brincar. Momoko é para se brincar e se esbaldar. Além de as roupas serem muito mais copiáveis do que as da maioria.


Infelizmente não é vendida directa e oficialmente no Brasil, só por importadores independentes, até onde consegui pesquisar, e custam caro. Bem, quem paga seiscentos reais para colocar uma miniatura de meretriz no quarto da menina moça, não se importará em pagar trezentos por uma boneca com carinha de menina moça. Em vez de a garota sonhar com "Cuidado com a Bratz, que a Bratz te pega, te pega daqui, te pega de lá! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!", certamente sonhará com o universo que um brinquedo bem feito e bem planejado porporciona.
É uma franquia que valeria à pena a Estrela usar em uma linha mais elitizada.

Pré-vestibulose...

Hoje deveria haver um texto completo sobre toda essa coisa do vestibular, mas oi? Eu estudando, tenho conteúdo de história atrasado... E isso é HISTÓRIA que eu nunca atraso, prefiro nem lembrar o quanto de Física tenho que estudar... sem tempo.




Bjos!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

História Universal Talicôsica - Tomo I

Pois bem, eis-me a escrever no blog que eu vi nascer entre as páginas do Fórum do Garotas que dizem Ni e conversas de MSN.
No Fórum, de tanto usar uma expressão bem comum aqui em Florianópolis (talicosa), meu querido Amigo Dave Coelho passou a usá-la também. E, quando eu menos percebi, acresci o "cositali", devido à incrível mania que temos qui de acrescer o 'i" às palavras (reais ou inventadas) terminadas em "l".
E coloquei na minha assinatua forística o bordão "Talicosa, colitali". Um belo dia, vi um tópico no fórum com esta exata expressão, apenas acrescentando um "i" em cada palavra, formando então "Talicoisa, coisitali", em vez da expressão original aqui na minha cidadezinha inventada.
E era o anúncio do Blog!!!
Logo, brinquei que aquilo era um roubo do bordão até então usado por mim, que me senti traída e talicoisa.
Eu, gente, euzinha vi o Talicoisa praticamente nascer. E, desde então, tenho acompanhado com muito carinho o crescimento deste bebê, do qual de uma certa forma me sinto mãe e madrinha.
Breve, publicarei uma "novela mexicana" que escrevi brincando com esta idéia toda - um bordão "roubado" e um certo "ciúme bom" de amigos queridos que jamais encontrei pessoalmente.
Hoje, graças à minha amiga Luna, faço de fato e de direito parte disto tudo... Obrigada, Vossa Corcelidade Tântrica!
Certas coisas parecem ter vida própria, e poucas são realmente muito boas. O Talicoisa é uma delas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Reclame

Interrompemos nossa programação para fazer alguns anúncios de extrema importância.

Nossa colaboradora Melzinha não escreve mais neste humilde blog. Perdemos um ponto em luxo e opulência, mas a vida é assim. As portas estarão sempre abertas, Mel. Obrigada por tudo!

Em compensação, ganhamos mais dois reforços para o nosso time. E que reforços! Um deles já escreve aqui há algum tempo, o nosso mestre Nanael Soubaim. A outra é nada mais, nada menos, do que Adriane, a teóloga da Verdade Suprema. Corceluia!

Sejam bem vindos, leiam as regras, não sumam e tenham cuidado com Dave, que é bonitinho, mas ordinário.

Também quero vender três peixes – se alguém comprar algum, já saímos no lucro. Temos três blogs novinhos em folha: o Demônios Internos, parceria de Nanael e Fio, o Encesiadas Mulheres, pura besteira da Meg e minha e o Tudo fora do lugar, que é a minha tentativa de ter um blog para chamar Dirceu. Os links estão todos na barra lateral.

Um beijo muito carinhoso, fiquem com Deus e até a próxima semana! Roubei esta do Miguel Falabella.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

1992-2008


Como as coisas mudam, não é? Em 1992 eu ficava a tarde inteira comendo doce e assistindo os jogos de vôlei nas Olimpíadas de Barcelona.
O Tande era o meu muso. Eu ainda não tinha completado cinco anos, tá?
Dezesseis anos depois...Não tenho mais essa folga toda, não dá mais para ficar esticada na cama me entupindo de açúcar e assistindo ao pessoal lá em Pequim. Uma pena.

Rio 2016? Medo, muito medo. É tão difícil botar fé no Brasil...
Em mais de oito anos de obras, ainda não terminaram a primeira etapa do metrô de Salvador (já tá virando lenda) etapa esta que consiste em aproximadamente seis quilômetros (sim, você não leu errado, são míseros seis quilômetros). São "só" cinco anos de atraso. Isso, infelizmente, explica muito sobre o nosso país.
Lá na China, providenciaram para que o máximo possível de pessoas aprendessem inglês, aqui o ensino vai piorando a cada ano que passa.

Eu gosto das Olimpíadas, eu gosto muitcho [/Cumpádi], de algum modo ainda carrego aquele sentimento de 1992 (só que com um gosto melhorado em relação aos caras, ok?). Apesar de não poder acompanhar, torço para que os atletas brasileiros consigam superar a histeria da imprensa e a pressão do povo.
Para um país que, dentre outras coisas, não investe no esporte, qualquer medalha é lucro. E toda medalha é um ouro.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Antes isso do que...

Você está insatisfeito com a sua vida? Queria ter mais dinheiro, mais sucesso, mais amor? Tudo o que você tenta não dá certo?

Calma, não perca as esperanças! Trate de se conformar, porque a vida das celebridades também não é assim tão fácil. E o mais importante: como você não é famoso, seus fracassos são apenas fracassos, não são micos de proporções gigantescas.

Da próxima vez em que você der com os burros n’água, lembre-se desta pequena lista, elaborada pela Teóloga e pela Sacerdotisa da Verdade Suprema e perceba que não é só você que sofre.

Antes isso do que...

... ser filmada fumando crack;
... usar nome de fruta;
... sair de quatro em todas as fotos;
... passar fotshop fudido e parecer algo que nem de longe você é;
... dar selinho prafentex;
... ressurgir num vídeo pornô, porque nem famosa você é mais;
... engolir pilha;
... dizer que você está se aposentando no auge da carreira que terminou há 20 anos;
... namorar o Belo;
... anunciar o fim de uma banda da qual poucos se lembram;
... ficar laranja, de tanto bronzeamento artificial;
... pegar teu marido batendo em garotas de programa num motel, pagar a conta e aparecer risonha numa missa de sétimo dia;
... ser figurante do Zorra Total;
... botar acento no cu;
... ficar deformada por botox;
... ser conhecida por zilhões de cirurgias e uma restauração de hímen;
... sair na capa da Nova envolta em papel celofane;
... só fazer novela porque está namorando o diretor;
... ser sub-celebridade e dizer que está "estudando projetos", em algum programa vespertino vagabundo;
... falar feito uma retardada e fazer um programa ao qual ninguém assiste, só porque está no contrato que tem que ter um programa;
... parar de apresentar um programa e ninguém nem perceber que você saiu;
... você cair no palco durante um show ao vivo, o show continuar e ninguém se dar conta de sua ausência;
... ser conhecido como irmão da Sandy;
... iniciar e terminar e reiniciar namoro só para ficar na mídia;
... só ter 15 minutos de fama, no carnaval;
... ser vesga, péssima atriz e fazer papel de sofredora em todas as novelas;
... o Google te chamar de atriz gorda;
... ficar de pescoço pendente e começar a achar que se chama Donelena;
... roubar vaso em cemitério;
... ser flagrada sem dente por um fã;
... ser uma cantora de axé que tenta desesperadamente ser a Sangalo;
... dançar com vestidão numa propaganda de sabão em pó, depois de ter sido anunciada como a nova grande celebridade brasileira nos EUA;
... ser um reprodutor de luxo;
... fazer xouzim no Brasilian Day e dizer que tem carreira internacional;
... fazer carreira imitando a mãe famosa e ver que o hype já passou;
... ser conhecida como ex-BBB;
... ser a última namorada do Marcos Paulo;
... roubar gravata e botar a culpa nos antidepressivos;
... ser conhecida como A Filha da Xuxa;
... ter herdado o nariz pré-plástica da sua mãe;
... sair da MTV e quebrar a cara em outra emissora;
... parar na mão do SS e ter um programa ao qual ninguém assiste;
... ter um papagaio de esponja mais famoso que você em seu próprio programa;
... cantar "Festa de Arromba" pela milésima vez em programas de auditório;
... chorar, porque ninguém te conhece mais, em programas vespertinos;
... ter gravado gemidos nos anos 80 e jurar que é cantora;
... se envolver com presidiário, pagar advogado, tirá-lo da cadeia, ter 300 filhos e ser abandonada;
... tatuar "Fulano-amor eterno" e terminar o caso semanas depois;
... deixar de trabalhar para as crianças e não fazer sucesso com os adultos;
... ser conhecido como Picolé de Chuchu e nem seus companheiros de partido te apoiarem;
... ter sido correspondente internacional e hoje ter que chamar um punhado de nulidades e futuras sub-celebridades de "meus heróis";
... lançar dez coletâneas por ano e nenhuma música inédita;
... suas coletâneas venderem mais do que seu trabalho mais recente;
... ter dado prum senador, aparecido na Playboy cheia de fotoshop, escrever um livro que ninguém leu e reclamar proque ninguém te leva a sério;
... lançar um livro chamado "Como formar equipes vencedoras" e vê-lo encalhar nas livrarias porque sua seleção fez fiasco na Copa;
... não fazer mais sucesso como estilista, tentar ser apresentador de tv, entrar para a política e virar uma caricatura de si mesmo;
... ser artista que só aparece em revival dos anos 80, Jovem Guarda ou whatever;
... escrever novelas sempre iguais, sobre imigrantes italianos;
... ganhar o Fama ou o Brazilian Next Top Model e depois cair no ostracismo.

sábado, 9 de agosto de 2008

Desconstruindo Hollywood

A indústria tabagista construiu, ao longo dos anos, um forte conceito do que é ser fumante. Com grande ajuda dos estúdios de Hollywood, fumar tornou-se símbolo de poder, maturidade e sensualidade.
Esses conceitos foram absorvidos pela população e parte deles ecoam até hoje - principalmente pelo fato de, até certo tempo atrás, haver pouca oposição a eles-, levando muitos jovens contemporâneos a se tornarem dependentes.
Hoje, com a maior conscientização em relação a saúde, estamos indo na contra-mão do que pregava Hollywood nos anos de 1950, além da diminuição das aparições do cigarro na mídia - altualmente, ao invés de grande estrela, ele só faz pequenas pontas-, são muitas as campanhas antitabagistas, vistas até mesmo nas embalagens de cigarro.
Porém há os que criticam essas campanhas colocando em dúvida sua eficiência, com o argumento de que uma simples imagem não fará ninguém parar de fumar. Enganam-se! Essas campanhas podem até não surtirem efeito para alguns, contudo elas conscientizam a população quando tentam desconstruir os mitos em torno do ato de fumar e apontar os malefícios desta droga. Assim, acabam por incentivar quem deseja pára com o cigarro e evitar o surgimento de alguns novos fumantes.
Ora, se a indústria do cigarro angariou novos clientes atráves de mentiras, por que não fazê-la perder alguns, atuais e futuros, contando a verdade?

Gil Gomes

***
Como não tive tempo para compor o post de hoje, postei uma de minhas redações deste ano... Essa foi premiada com um 9,4 e foi feita no semestre passado...
Não liguem, as assinaturas são sempre toscas...

Em nome de quem?

Vou fazer besteira e colocar a culpa nos outros. Saciarei minha índole medíocre furando os olhos de um gatinho indefeso, depois direi que é um ritual wiccano. Tudo em nome D'Ela.
Usarei a retórica que herdamos dos romanos e deturparei o quanto quiser os textos sacros de todas as religiões, afinal há sacerdotes corruptos que já o fizeram antes, com isso matarei e pilharei dizendo que é a vontade de D'us. Tudo em nome D'Ele.
Me infiltrarei no Palácio do Planalto com a ajuda de influências, conseguirei um cargo por indicação política e ganharei um cartão corporativo. Aí lavarei a égua! Farei barbaridades e colocarei a culpa na democracia, pois estarei agindo com a aquiescência do poder público. Tudo em nome dela. E se derem um golpe e intaurarem uma ditadura, que me importa? Mudo de lado e continuo usando o nome alheio.
Aproveitarei a impessoalidade das grandes corporações, que não conhecem as caras de seus colaboradores, começarei a ler relatórios, perguntar se a encomenda foi confirmada, enfim, quando se derem conta, serei gerente de qualquer cousa, então humilharei e desapropriarei para fins corporativos, alegando que gerarei empregos e outras balelas mais, em nome do progresso.
Abrirei uma escola de pré-vestibular, humilharei docentes e alunos com o pretexto de discipliná-los, visando em verdade unicamente o meu orgulho e as honras ao meu nome, controlarei suas vidas pessoais e expulsarei, sem pudores, quem tirar menos de dez nos simulados, pois quero tudo pronto e não me interessa que tipo de profissionais estarei despejando no mundo. Farei tudo em nome da educação.
Fundarei uma instituição atéia, depredarei igrejas e queimarei bíblias, como desculpa para justificar meu ódio pela humanidade, alegarei que a religião é a maior causa de desgraças da civilização, mesmo não me aprofundando na análise para não me contradizer, e os ateus do mundo levarão a culpa. O que quero é dar vazão à minha estupidez, com um grupo simpatizante e iludido me dando apoio, tudo em nome do bem-estar individual.
Viram como é fácil? Basta botar a culpa em alguém. Aja em nome do teu inimigo. Vais se lascar, mas ele também.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Conto de uma tarde de inverno

Ele olha para a tela brilhante, sem muito interesse. Suas mãos parecem esperar pelo que vai acontecer.

Ele pensa em mil coisas, no que poderia fazer, no que poderia ser, no que poderia ser sua vida.

Traga mais uma vez o cigarro, de filtro amarelado. Displicentemente, bate as cinzas, e põe o cigarro no aparo.

Olha novamente pra tela brilhante.

Ele não sabe exatamente o que escrever. Não sabe sobre o que falar. Não sabe o que dizer.

Ele tem muito a dizer. Mas porque não consegue?

Nova tragada no cigarro, e ele o apaga no cinzeiro de plástico preto. Olha as pontas já apagadas, pensando que deveria fumar menos. Afinal, isso não lhe traz nada de bom. Fumar é um vício péssimo, ele sabe disso, e pretende abandoná-lo. Mas por outro lado, o que fazer, sem poder fumar? Atualmente, é o único prazer que ele tem.

Sem muito interesse, ele começa a digitar algumas linhas... E desiste. "Não é sobre isso que eu quero escrever..." Sobre o que, então?

Talvez sobre a História da Civilização Egípcia. Ou sobre as verdades existentes no Torá Judaico, bem como as semelhanças entre as religiões egípcia e judaica. Não, demandaria uma pesquisa grande. Ele sabe falar, mas precisa de fontes, para reforçar o que diz.
Poderia escrever sobre algum filme, sobre alguma música, sobre algum livro. Mas os filmes que viu já não são novidade, as músicas que ouve são de um estilo que poucos gostam, e os livros que leu não interessam à grande maioria.
Sobre o que falar então?

Talvez sobre um homem, sentado em frente ao seu computador, pensando no que escrever no seu blog, sem saber o que exatamente escrever. "Taí, seria uma boa..."

Não, meu caro. As pessoas não vão gostar disso. Vai ficar parecendo uma tentativa de ser profundo, de parecer alguem que realmente sabe o que está fazendo. Você sabe como são as pessoas, elas vão te dizer que o texto é bom, mas no fundo, vão estar pensando que você é um esnobe. É possível que alguém apareça dizendo que algum outro autor já fez isso, e que o seu trabalho é plágio.

"Hmmm.... Então, o que sugere, caro narrador?"

Ah, sei lá. Porque não escreve um texto pequeno, falando sobre as coisas que você tem sofrido, como tem sido difícil a vida, etc?

"Ah, eu já fiz muito isso. Até acabam saindo textos bons, mas já reclamaram que eu não devo ser tão depressivo..."

Hmmm.... Bem, isso realmente não faz muito bem. Deixe-me pensar...

Porque não escreve algum texto de ficção? Você estava escrevendo um livro, e estava ficando muito bom!

"Ah... O livro emperrou. Eu precisaria de mais tempo pra poder ficar na frente do computador, mas dividir o pc com mais três em casa, é complicado achar tempo... Mas eu tenho a estória completa na cabeça, só preciso ter tempo pra escrever... E preciso estudar algumas coisas também, pra não ficar perdido..."

Hmmm... É, realmente, isso complica bastante. Espere até ter o seu próprio computador, então.

"Sim, é isso que pretendo."

Tá bom. Porque não escreve sobre o dia de hoje?

"É um dia frio, chuvoso, eu estou com dor de dente, não durmo bem fazem 3 dias. Sinceramente, não é um dia alegre, pra mim."

É, e você também não deve escrever textos depressivos. A coisa tá feia...

"Ah, quer saber? Vou deixar pra lá, e assistir um DVD... Topa?"

Beleza, topo sim. Mas primeiro clica ali em "Salvar agora", e depois em "Publicar postagem".

"Beleza... Qual você quer ver?"

Ah... Pode ser qualquer um. Vou fazer a pipoca.

"Ok".

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O Talk Show do diabo e Outras Histórias (Parte II)

***Entra o diabo, rodando e pulando ao som de um rock underground. Na Banda Oficial, Jimmi Cliff arrancava notas da guitarra com os dentes, Chucky Berry arrepiava e Little Richard dava gritinhos insanos. Aplausos. Faíscas. E um leve aroma de enxofre. O senhor das trevas com olhar inquisidor, anuncia o entrevistado da noite: VOCÊ!

É basicamente essa a sensação de quem vai ter o espírito escalpelado numa dessas famigeradas Entrevistas de Emprego. E são perguntas da espécie mais sacana, que pegam você desprevenido enquanto seu coração se ocupa em tentar pular fora do peito a qualquer custo.

Aos nossos caríssimos leitores, aqui vão algumas dicas do que você claramente DEVE fazer se quiser passar o resto da vida freqüentando o Talk Show do Tinhoso, sem êxito algum.


Use Roupas Extravagantes

Ir vestido de palhaço é a melhor de todas as opções imagináveis.

Fale Mal de Deus e do Mundo

Por que você saiu de seu antigo emprego?

Ora, por que o meu antigo chefe era uma mala batizada, seu Capeta. Pentelhava todo mundo, não deixava nem fazer ligações particulares em horário de serviço e os computadores tinham a maioria dos sites bloqueados... Não podia nem ver o orkut! Pode isso? Daí eu pedi pra sair...

Diga Sempre a Mais Pura Verdade

Você sabe trabalhar sob pressão?

Ai Deus me livre! Não gosto de chefe que fica enchendo a paciência pra entregar meio milhão de coisas em 6 minutos e 7 centésimos, não. Eu sei das minhas obrigações e se começar a torrar, eu mando ir tomar onde as patas tomam!

Fale Desesperadamente

Se o “coisa ruim” te perguntar sobre sua disponibilidade de tempo aproveite pra contar a história da sua vida desde o dia em que seus pais se conheceram.

Tremule as Pernas como se estivesse com Mal de Parkinson

Essa é a melhor maneira de demonstrar segurança, equilíbrio e tranqüilidade.

Deixe o Volume do Celular no Pitoco!

Vai ser muito útil ouvir seu toque personalizado “Put your hands Up For Detroit” no meio da entrevista!

E se você achou que essas dicas não valeram de absolutamente nada, aqui vai um vídeo originalíssimo da campanha do Office 2007 que traduz fielmente essa sensação de desespero causada pelo sofá do Talk Show infernal.


Esse texto foi reeditado. O Dave Coelho anda em pandarecos por conta do novo estágio e ainda não conseguiu coordenar o tempo. Ele promete se reeditar também e voltar na próxima quarta.


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Todo mundo interpretando o tchan!

Estava eu voltando para casa, de ônibus, após um dia cansativo de trabalho. Sentei na janela e deixei o pensamento vagar. Inexplicavelmente, me veio à cabeça a frase: “Pau que nasce torto, nunca se endireita”. Não sei se foi porque eu vi uma árvore meio torta, ou se é porque não tenho nada melhor para pensar. Só sei que, quando dei por mim, estava relembrando – e tentando interpretar – a letra do primeiro sucesso do É o Tchan. Não é tarefa fácil, a letra é muito profunda. Coisa de filósofo.

Pau que nasce torto, nunca se endireita
Uma adaptação do ditado “pau que nasce torto, morre torto”, usado para explicar que uma criança precisa ser educada desde bem pequena. Se os pais forem relapsos, a criança fica mal educada para sempre, já que, depois de certa idade, não adianta mais tentar ensinar. O que isso tem a ver com a música? Não falei que era coisa de filósofo?

Menina que requebra, mãe, pega na cabeça
Ih, onde já se viu falar uma coisa pornográfica dessas e meter a mãe no meio? Que pouca vergonha! Esse “mãe”, entre vírgulas, dá a entender que a pessoa está explicando à digníssima senhora que toda menina que requebra costuma pegar na cabeça. Primeiro, que é de extremo mau gosto compartilhar experiências sexuais com a própria mãe. Segundo, se a mulher já é mãe, ela sabe como funciona. Mistério: por que alguém estaria tão interessada num pau que nasceu torto e que nunca vai se endireitar? Falta de coisa melhor?

Domingo ela não vai (vai, vai!) Domingo ela não vai não (vai, vai, vai!)
O verso(?) mais enigmático da música. Domingo ela não vai aonde? E o que significa o povo dos parênteses dizendo que sim, ela vai? Decidam-se! Acho que o verso quer dizer que domingo é dia santo, não é dia de fuleiragem, por isso ela não vai. Mas o povo insiste que a moça vai. Deve ser porque eles sabem que ela não é flor que se cheire, e que com ela não tem esse troço de dia santo. É fuleiragem sempre! E quem será essa misteriosa “ela”?

Segure o tchan, amarre o tchan, segure o tchan, tchan, tchan, tchan, tchan
Passo!

Tudo o que é perfeito, a gente pega pelo braço/ Joga lá no meio/ Mete em cima, mete embaixo
Complicou! Quem escreveu isso deve pensar que ainda vivemos no tempo das cavernas. É mais ou menos assim: viu uma mulher bonita, é só pegar pelo braço, jogar no meio (Da cama? De um monte de feno?), e sair transando em várias posições. Facinho, facinho! Se alguém viesse me pegando pelo braço, no mínimo levava uma bolsada na cabeça. Ainda mais se fosse gente do naipe do Cumpádi Uóxinton! Cruzes! Se bem que, com certas mulheres, deve ser assim mesmo. Ô beleza!

Depois de nove meses, você vê o resultado
A conclusão da esbórnia: a moça que não perdoa nem os domingos, que aceita ser jogada no meio e puxada pelo braço, fica grávida. Lindo! Só faltou dizer que o resultado aparece bem antes dos nove meses... Teste de farmácia, sabe? Eu também poderia dizer que essa parte da música é uma apologia ao sexo sem proteção, mas ficaria óbvio demais. Prefiro ver pelo lado bom: agora, a moça “cresceu e virou mulher”, vai ter um filho, muitas responsabilidades e um lar (mesmo que seja com o Cumpádi Uóxinton). Não vai ter mais tempo para correr atrás de qualquer pau que nasceu torto. Adoro finais felizes (mesmo que envolvam o Cumpádi Uóxinton)!

Este texto foi escrito como complemento deste aqui. E eu sei que o trocadilho do título é infame.

domingo, 3 de agosto de 2008

Flores del campo santo

Depois dessa "licença-trabalho" imprevista da vida online, cá retomo minhas atividades textuais. E os poupo de explicações de como tem sido minha nova rotina. Imagino que não seja interessante saber sobre planilhas do Excel, presídio feminino e decoração de Natal (ou como tudo isso pode caber num único emprego - e cabe, acredite).

O fato é que o trabalho anda me tomando um tempo precioso. Não o das oito horas efetivas, mas todo o resto: Me assombra o modo como as preocupações furtam da nossa vida todo aquele preciosismo das pequenas coisas. Sutilezas que eu gosto tanto. Reparar na minha sombra comprida de manhã, descendo a rua. Sentir o vento geladinho. Conversar com os cachorros dos vizinhos. Procurar desenhos nas rachaduras do asfalto. Esperar o ônibus daquele cobrador simpático, que sempre dá bom-dia. Andar por aquelas marcas para cegos no chão do metrô, porque faz cócegas no pé. Mandar mensagens idiotas pra acordar os amigos. Contar quantas pessoas estão de boné no metrô. Ou dormindo. Ou lendo. Ou ouvindo música. Esperar todo mundo subir a escada. Sentir o cheiro de óleo do trem e imaginar que estou indo passear em Paranapiacaba. Ler as pichações nos muros da linha e procurar as mais antigas (ainda acho uma de 94!). Comprar chiclete no trem. E adesivo do menino surdo. Escrever post-its bestas para mim mesmo. Fazer origami enquanto falo com fornecedor ao telefone. Voltar pra casa observando a lua. E mandas mensagens pros amigos observarem também. Parar no portão da vizinha pra conversar com a gata dela. Subir a rua pela guia. Pisar na tampa de bueiro solta que faz um barulho engraçado. Pisar nas folhas secas. Sentir o calorzinho de dentro de casa. Desenhar deitado na cama. Pensar que o tempo é mesmo relativo e não se importar com isso. Pelo menos, não tanto.

sábado, 2 de agosto de 2008

Não Sei


Manezinho foi levado pelo pai, Manezão, para um passeio no parque. Manezinho atirou uma pipoca no lago, para alimentar uma carpa, ficando fascinado com a formação de ondas . No que Manezão, todo assoberbado, ostentando a empáfia de sua coleção de doutorados, se valeu daquilo para explicar ao Manezinho a origem do universo. Tudo ia bem, até Manezinho perguntar de onde surgiu aquela concentração de massa, que explodiu tão violentamente. Não se conformou em ouvir "do nada". Menos ainda em ouvir "O universo é só o que foi detectado, nada existe além desse limite". Mas como sabem que nada mais há se não puderam enxergar?

Manezão, que não gosta se ser contrariado, mas adora dar lição, explicou sobre todos os cálculos "inventados" por seus ilustres colegas. Nisto, Manezinho se colocou a pensar... Mas se nada existia antes e nada existe além, como tudo se mantém? Fez e Manezão não compreendeu a pergunta. Manezinho explicou que tudo sai de algum lugar. Que não duvida em nada da evolução que o pai descreveu, mas ficou perturbado com o determinismo com o qual decretou início e fim de tudo. Começando pelos limites, disse que se algo impede que a massa de galáxias já catalogadas de expandir mais, esse algo tem que ser infinito, pois se não for, estará dentro de outro algo e assim por diante, e sendo a palavra "Universo" dedicada a tudo o que existe, então essas embalagens não têm fim, em sua sucessão, portanto o Universo é infinito. Apesar da zanga do pai, continuou, pois faltaria com o respeito para consigo mesmo se parasse. Tratou então do início. Dizer que tudo surgiu do nada é dizer que uma fada madrinha humanóide realmente transformou uma abóbora em carruagem, e ratos em cavalos e cocheiros. De algum lugar a energia necessária á formação daquela matéria veio, não sabe de onde e não encontra resposta melhor do que "Não sei". Ainda afirmou que a fonte de onde aquela massa saiu, posto que o universo ainda cresce, não pode ter desaparecido, pois a fonte é sempre maior do que a demanda, seu desaparecimento teria criado um vácuo que teria sugado tudo. Um sistema só pode ser sustentado por uma fonte maior do que ele. E sendo, pelas suas conclusões, o universo infinito, então essa fonte é maior do que infinito e, necessáriamente, eterna, pois também criou tudo o que precedeu aquela massa que explodiu. Tá me falando que Deus existe, é isso? O garoto negou. Disse que apenas expôs a conclusão à qual chegou com as próprias explanações paternas. Que o nome que se dá a esta entidade não lhe interessa, mas a lógica livre de preconceitos que tem apenas lhe diz que o universo só pode ter saído de algo que nunca teve início e não tem dimensões, por mais maluco que pareça é mais racional do o que Manezão lhe disse. Este, irritado, lhe esfregou na cara tudo o que fez na vida, sua carga e suas decepções, além da parede forrada de diplomas e a estante cheia de troféus por serviços preciosos que prestou à humanidade, ao contrário do que alega que as religiões fizeram contra ela. O garoto ficou constrangido por ter contrariado o pai, mas este mesmo lhe ensinou a ser crítico e não se preocupar senão com a verdade. Pergunta ao filho se ele realmente acha que o universo é eterno, infinito e tem um criador, se ele realmente acha que existe um Deus. Manezinho responde da maneira mais respeitosa possível: Se é ou não a verdade absoluta, só posso ser honesto e dizer que não sei. Manezão, um homem bom e solidário até para com desconhecidos, a despeito dos rompantes, meditou por uns instantes. A única resposta para tudo, sem ser desonesto consigo e para com o mundo, e que passará a utilizar com freqüência, é "Não sei".

Segue com o filho para uma lanchonete, falar de desenho animado e do que ele quer no natal.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"Metal: A Headbanger's Journey"


Sam Dunn, esse é o cara.

Eu sou o que se chama, no Brasil, de "metaleiro". Sou, e sempre vou ser.

Não importa quanto tempo passe, mas o Heavy Metal (e todas as suas vertentes) sempre foi, é, e sempre será um estilo de música (e de vida) considerado "marginal".

Nunca liguei pra isso. Gosto da música, gosto do que ela me faz sentir, gosto da sensação de pertencer à essa tribo. Gosto do modo de vestir. Gosto de ser assim.

Sam Dunn, esse cara aí da foto, também. Assim como eu, ele conheceu o Metal aos 12 anos, e nunca mais deixou de gostar. Ele tem a mesma idade que eu. Digamos que "entramos juntos" pra esse mundo.

Mas, diferente de mim, que sou apenas um blogueiro (ou seja, sem muita chance de futuro), Sam Dunn (que é canadense) fez faculdade de Antropologia. Chegou a ir pra Guatemala estudar uma tribo de lá, pra escrever sua Tese de Conclusão da Faculdade.

Mas depois disso, pra fazer seu Mestrado, Sam Dunn teve uma idéia. Na verdade, baseada em seu mundo. Algo que jamais foi devidamente estudado: O Mundo do Metal.

Ele viajou pelos Estados Unidos e Europa, para identificar o que era realmente o Metal. E explicar, de uma forma acadêmica, o que existe por trás dos cabelos compridos, roupas pretas e música barulhenta.

O resultado se transformou num documentário, chamado "Metal: A Headbanger's Journey", o qual eu tive o imenso prazer de assistir.

O filme é fantástico, não apenas pra quem gosta do estilo, mas pra quem não conhece e não entende muitas particularidades desse mundo. Eu, como "metaleiro", adorei. Desde que consegui esse filme (créditos à Lisa, do FGQDN), assisto-o praticamente uma vez por dia.

É quase como se a minha realidade fosse exposta. O meu modo de ver o mundo. A minha tribo.

O sucesso do filme foi tamanho, que já existe uma sequencia, chamada "Global Metal", que pergunta "o que acontece quando o Metal atinge o mundo inteiro". Fiquei na vontade, vai ser dificil conseguir esse filme. Mas no trailer, pra uma pequena noção, mostra desde "metalheads" japoneses até bandas de heavy metal iranianas, que tocam com os trajes típicos da região, pretos.

Sam Dunn é o cara porque, entre outras coisas, mostra que as pessoas pensam muita bobagem, que podem ser extremamente idiotas, e também por desmistificar muita coisa. Falar mais seria spoiler.

Virei fã. E espero que ele não pare por aí.


Esse é pra ter o original.


E eu preciso desse!

Mais informações aqui.