Ou o que esperava da sala de aula.
Ruína: tudo que um dia esteve, não está mais, porém, permanece. Uma lembrança, certo? Coisa que todos temos. Pergunte-se então, quais são suas ruínas pessoais, e qual a função delas no fundo da gaveta ou no alto da estante, além de acumular poeira.
Ana Teixeira, artista plástica que reside e trabalha em São Paulo, partiu desses resíduos para conceber [in]cômodo. Algumas dezenas de objetos foram doados por amigos à artista, e possuem, para seus ex-donos, um valor simbólico e pessoal: mecha de cabelo, maço de cigarros, um pente de bolso. Todos foram sepultados por Ana, um a um, em blocos de resina transparente, e dispostos numa mesa branca, antiga.
Ali, expostos à manipulação, os pequenos blocos-esquifes são testemunhas materiais da imaterialidade da memória: você consegue tocar o bloco de resina, mas não os objetos em si. Nos é permitida uma experiência tátil, concreta, com um objeto que, pela sua condição encapsulada, não está mais presente ou disponível para nós. Objeto morto, lembrança viva. É paradoxal? Bem, se não fosse, não estaria escrevendo sobre este trabalho...
Quando afirmo que ruínas são as lembranças de algo que morreu, arrisco colocar tudo que tenho hoje à prova da utilidade. Não guardo entradas de cinema, anotações ou fotos, mas lembranças. Restos de algo que não existe mais. Por que vivemos, se não para guardar tais ruínas? Na vontade de ter de volta, repetir - às vezes justamente não repetir - algo que o tempo levou embora.
Sua vez: faça um pouco de arqueologia pessoal. O seu primeiro dente de leite, ou o par de abotoaduras do seu querido e falecido avô. Ressignifique-o, modifique-o, ou mesmo jogue-o fora. A lembrança (como a arte contemporânea) faz parte de você, e o caracteriza como indivíduo. E você pensava que com arte era diferente?
(Esse pequeno texto-proposta fez parte do meu TCC, nos idos de 2003 e reencontrado pela Mai. Relendo-o, percebo que os motivos que me levaram ao Magistério em 2004 e os que me tiraram dele, em 2008, são exatamente os mesmos)