sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Conto de uma tarde de inverno

Ele olha para a tela brilhante, sem muito interesse. Suas mãos parecem esperar pelo que vai acontecer.

Ele pensa em mil coisas, no que poderia fazer, no que poderia ser, no que poderia ser sua vida.

Traga mais uma vez o cigarro, de filtro amarelado. Displicentemente, bate as cinzas, e põe o cigarro no aparo.

Olha novamente pra tela brilhante.

Ele não sabe exatamente o que escrever. Não sabe sobre o que falar. Não sabe o que dizer.

Ele tem muito a dizer. Mas porque não consegue?

Nova tragada no cigarro, e ele o apaga no cinzeiro de plástico preto. Olha as pontas já apagadas, pensando que deveria fumar menos. Afinal, isso não lhe traz nada de bom. Fumar é um vício péssimo, ele sabe disso, e pretende abandoná-lo. Mas por outro lado, o que fazer, sem poder fumar? Atualmente, é o único prazer que ele tem.

Sem muito interesse, ele começa a digitar algumas linhas... E desiste. "Não é sobre isso que eu quero escrever..." Sobre o que, então?

Talvez sobre a História da Civilização Egípcia. Ou sobre as verdades existentes no Torá Judaico, bem como as semelhanças entre as religiões egípcia e judaica. Não, demandaria uma pesquisa grande. Ele sabe falar, mas precisa de fontes, para reforçar o que diz.
Poderia escrever sobre algum filme, sobre alguma música, sobre algum livro. Mas os filmes que viu já não são novidade, as músicas que ouve são de um estilo que poucos gostam, e os livros que leu não interessam à grande maioria.
Sobre o que falar então?

Talvez sobre um homem, sentado em frente ao seu computador, pensando no que escrever no seu blog, sem saber o que exatamente escrever. "Taí, seria uma boa..."

Não, meu caro. As pessoas não vão gostar disso. Vai ficar parecendo uma tentativa de ser profundo, de parecer alguem que realmente sabe o que está fazendo. Você sabe como são as pessoas, elas vão te dizer que o texto é bom, mas no fundo, vão estar pensando que você é um esnobe. É possível que alguém apareça dizendo que algum outro autor já fez isso, e que o seu trabalho é plágio.

"Hmmm.... Então, o que sugere, caro narrador?"

Ah, sei lá. Porque não escreve um texto pequeno, falando sobre as coisas que você tem sofrido, como tem sido difícil a vida, etc?

"Ah, eu já fiz muito isso. Até acabam saindo textos bons, mas já reclamaram que eu não devo ser tão depressivo..."

Hmmm.... Bem, isso realmente não faz muito bem. Deixe-me pensar...

Porque não escreve algum texto de ficção? Você estava escrevendo um livro, e estava ficando muito bom!

"Ah... O livro emperrou. Eu precisaria de mais tempo pra poder ficar na frente do computador, mas dividir o pc com mais três em casa, é complicado achar tempo... Mas eu tenho a estória completa na cabeça, só preciso ter tempo pra escrever... E preciso estudar algumas coisas também, pra não ficar perdido..."

Hmmm... É, realmente, isso complica bastante. Espere até ter o seu próprio computador, então.

"Sim, é isso que pretendo."

Tá bom. Porque não escreve sobre o dia de hoje?

"É um dia frio, chuvoso, eu estou com dor de dente, não durmo bem fazem 3 dias. Sinceramente, não é um dia alegre, pra mim."

É, e você também não deve escrever textos depressivos. A coisa tá feia...

"Ah, quer saber? Vou deixar pra lá, e assistir um DVD... Topa?"

Beleza, topo sim. Mas primeiro clica ali em "Salvar agora", e depois em "Publicar postagem".

"Beleza... Qual você quer ver?"

Ah... Pode ser qualquer um. Vou fazer a pipoca.

"Ok".

1 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Boa! Pipoca é melhor do que cigarro. O problema dos dias de hoje, é que quase todas as grandes idéias já foram postas no papel, precisamos conceber novas.