sexta-feira, 31 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLXII

    O pior tipo de gente. A estação 262 mostra que para um insofismável canalha conseguir ser tolerado, basta ser útil a um regime. Todos a bordo, o trem vai partir.


Sanaa aponta a arma sem medo, com cara de quem não vai hesitar em atirar, isso basta para o sujeito se afastar e ir embora, mas não sem ser registrado por câmeras, inclusive a oculta no camafeu da marroquina. Ela pega Natasha nos braços e leva de volta à Máquina de Costura, onde narra em detalhes o que aconteceu. Imagina o ódio que ele deve estar sentindo, tendo sido impedido de levar a menina por uma muçulmana...

- Juro por Allah, eu iria atirar para matar!

- Se tivesse tocado nela, você poderia tê-lo feito sem pestanejar – diz Patrícia com a neta nos braços. Eu deixei tudo bem claro, mas sempre aparece um estafermo para testar Sunshadow.

Prudence entra furiosa, só se acalma quando vê a filha intacta. Nancy vem logo em seguida, pedindo nomes. Os pastores (...) Mesmo vendo navios e aeronaves descendo e sumindo no horizonte, pregam que a Terra é plana e que uma mulher nasce para expiar os pecados de Eva, o que inclui pedofilia e incesto (...) Natasha, apesar da vida dura e saudável que leva, tem a compleição muito delicada, precisa usar mangas longas a maior parte do tempo, quando sai ao sol.

Amina desabafa com os que ficaram em Marrakesh, fala do radicalismo de dogmas que, infelizmente, não ficou nas fronteiras do oriente médio. Ela reitera encarecidamente que eles se mantenham longe dos radicais, ou acabarão se rendendo aos apelos de soluções fáceis e ficarão como os inimigos de sua mãe...

- Eles não querem merecer o céu, só querem a esbórnia eterna e farão tudo o que puderem para conseguir! Leiam a história de minha mãe e aprendam o que acontece quando as pessoas radicalizam, e usam o mal contra o que acham que é um mal. Males não se anulam, se somam, se livram de um para ficar com outro, mas cedo ou tarde eles se voltam contra seu portador e o enlouquecem, é isso que acontece com extremistas.

- Ele chegou a machucar a menina?

- Não, Sanaa “tiro certo” o dissuadiu e salvou nossa sobrinha! Mas ela está assustada, não é a primeira vez.

Interrompe a correspondência quando ouve um choro de criança, é Colleen correndo para a prima, com medo que a levem embora (...) Patrícia faz aquela cara novamente (...) medita por alguns minutos, pesando prós e contras, então se vê sem alternativa...

- Nath e Leen, amanhã cedo quero vocês duas aqui, vão começar a treinar conosco. Vocês duas durmam mais cedo para trazê-las. A única forma de acabar com essa palhaçada é iniciar essas meninas na vida dupla, vamos mesmo precisar de astrofísicos dentro de alguns anos.

Vai falar com Star (...) Ela compreende, voa no mesmo dia para Sunshadow com Zigfrida. Acertam tudo com os pais das meninas, ainda avisam que elas vão ser fortes o suficiente para inspirar medo em seus perseguidores, o que servirá de incentivo para os treinos.

De manhã bem cedo lá estão as quatro, com caras de sono, mas logo despertadas pelo estresse do treinamento, para voltarem para casa e despencarem em suas camas novamente (...) É o assunto do início dos trabalhos, Rebeca explica os motivos precisos para a decisão tomada...

- Lembrem-se de que Robby também está sendo preparado.

- Quer dizer, como jedi, que começa a treinar desde bebê – indaga Jerry?

- É por aí... Nunca tinha atinado nisso, mas é por aí – responde Patrícia.

- Phee, as suas...

- Sim, pequeno padawan, minhas meninas treinando estão, de modo natural o fazem como se brincando estivessem.

À tarde, apenas como nota para constar, Patrícia informa à organização a observação do afilhado, fazendo os colaboradores pelo mundo se entreolharem e pensarem no caso (...) Josephine se convida para uma noite na Máquina de Costura, aproveitando para acolher as afilhadas. Lembra-se de quando Ricky precisou ser incorporado à organização (...) depois veio a era dos bebês agentes, como aquelas que tem agora agarradas a si. A vida ficou muito complicada, mesmo para os padrões de uma agente veterana. Pergunta-lhes o que fizeram ontem de interessante, e as duas disparam a falar das observações em seus telescópios, as pesquisas em livros e sites. Fica feliz de os pais as estimularem, avisará aos cientistas da organização para falarem com elas (...) Olha para os avós das petizes, sorri e leva as duas para um passeio até a casa da bisavó, quer que todos vejam as duas como suas protegidas.

&

Richard chama os doze para a Culture Train, o planejamento para o mega show em Dallas está pronto. Yuri fez uma maquete para compreenderem melhor, porque o que os texanos pretendem é que seja uma cidade provisória (...) serão quase 100km² de infraestrutura, que só aguardam pelo sinal verde da banda para construírem. A idéia é tão maluca, que já atraiu mais de cem pretensos patrocinadores grandes, além dos tradicionais. Patrícia liga para Melinda, pede sua presença...

- Eu sabia que ele estava trabalhando numa coisa grande, não imaginei que fosse isso! Vão aceitar, não vão?

- Depois de dois shows na Rússia, não temos escolha. O que me preocupa é a segurança, é gente demais para colocar num só lugar! É uma metrópole!

- Irmã, tá na hora da gente colocar dos nossos pra fazer esses serviços.

- Incluindo Aisha... Sim, está na hora. Todo mundo de acordo com essa loucura? Ok, Mel, pode divulgar.

O texano, que já é famoso por falar cantando, começa a dançar sozinho ao som da própria voz. O último show do ano será na “Dead Train Polis” (...) A oportunidade de renda com turismo atiça a sanha de Abbott, fora a perspectiva de um recorde dessa monta, que poderá ser facilmente utilizado na próxima campanha eleitoral. Enquanto isso, Yuri recebe a notícia dos parentes russos (...) só esperam pelo sinal verde. Liga para Elias e dá o link para ele ver por si o que arranjaram. É algo muito grande, muito bem organizado, bom demais para ter saído tão rápido. É como se estivesse todo o básico pronto, só esperando pela sua aprovação...

- Yuri, traga sua família para ser treinada... E me deixe falar com a madrinha, por gentileza...

Ele pergunta o que é aquilo e ela responde que já esperava por isso, o Estado russo está sim facilitando muito as coisas, mas o tranqüiliza e pede que prossiga com o trabalho sem medo (...) Em Moscou os sete embarcarão com um arquiteto e um engenheiro (...) Albert se aproxima do brasileiro, estava à espreita, discreto, pergunta o que realmente o preocupa...

- Meus pais e os biológicos de Sandra virão para o festival da saudade com os garotos... Eles tomam muito tempo e eu preciso monitorar o treinamento desses russos.

- Sandra não pode fazer isso?

- Até certo ponto. Ela tem seus próprios negócios e a carreira na música...

Uma carinha juvenil à porta chama a atenção, ela acena e o renegado lhe apresenta a solução: Aisha. Patrícia faz a festa quando Albert liga (...) ela pede para o afilhado ir vê-la assim que concluir as instruções. Sandra, com Inga orbitando e Abigail mamando, se sente aliviada. A caçula termina, arrota e não demora a pegar no sono, então a menina se aproxima para apreciar a irmã e receber mais afagos. Giovanni entra com uma sacola de artigos de armarinho que a esposa pediu (...) aproveitam para estreitar laços e ensinar a menina a fazer seus próprios brinquedos, como a mãe fazia quando era pobre. Bonecas de barbante e bolinha de borracha ela já aprendeu, agora vão sofisticar a brincadeira.

Chegam a avó e o pequeno tio das duas, ele com um pequeno carrossel de lata que Richard o ajudou a fazer para a irmã. Os dias seguintes se dão desta toada mansa, até os russos chegarem. O arquiteto sabe de tudo (...) é gente do governo, sabe inclusive que Elias já desconfiou e tratou de se informar a respeito, ou seja, nem adianta disfarçar. Patrícia o recheou de informações sobre Boris Yushchenko, partidário e colaborador de Putin. O pró é que se trata de um excelente profissional, saberá compreender de pronto tudo o que lhe for mostrado. O rosto severo do brasileiro lhe inspira respeito, mas o olhar frio da marroquina inspira medo, foi bem treinado o suficiente para saber que tamanho e idade não significam absolutamente nada, no quesito periculosidade. Yuri abraça festivamente sua família, apresenta esposa, filha e o pretendente, este com ressalvas. Vão todos se acomodar no amplo sobrado (...) Três adultos e quatro crianças, além dos profissionais. Os agentes residentes estão atentos (...) O arquiteto foi bem treinado, mas não é profissional e nunca tinha ido a campo.

Logo cedo (...) Patrícia vai ver a irmã antes que ela desembeste para a casa da mãe e de lá despache com a filha. É uma histeria, os russos berram a todo pulmão como se não fosse haver ar amanhã. Estiveram no show em Moscou, se acabaram nele, mas estar à presença de sua alteza a princesa da Rússia e da Slovocrácia, é experimentar um momento do céu (...) Ela acompanha irmã e sobrinha à casa da mãe, enquanto Yuri leva os compatriotas à loja, onde o olhar frio e científico de Aisha os espera. Ela notou que os dois ficaram com medo, não vai abrir mão dessa vantagem. Mary Ann está com ela (...) também vai usar sua experiência para ajudar a sobrinha a descobrir que tipo de gente são aqueles dois.

Enquanto isso, Robert novamente é autor de uma polêmica apenas por dizer o que pensa. Aos que não pretendem votar, mas fazem campanha contra um dos candidatos, ele escreveu “Se você não for votar e o seu candidato perder, não vou nem ouvir suas reclamações”. Centenas de indivíduos problematizam a declaração com textos imensos, que evocam história, sociologia, economia, direitos individuais, mas sequer mencionam um motivo para questionar. Novamente emerge a teoria conspiratória de que Sunshadow é um reduto ultra conservador, que quer levar a humanidade de volta à idade média. Citam a proliferação de príncipes e seu reconhecimento internacional, para embasar a tese de um golpe de Estado em andamento. A imprensa é claro que se aproveita disso, sabe que é tudo bobagem, mas é uma bobagem lucrativa e chama gente besta com pompa e popularidade para debater o assunto.

O autor está com os seus, ensaiando para o próximo show em Minneapolis, enquanto todos aguardam os progressos da estrutura para o de Dallas. Mary Ann aproveita um intervalo para falar sobre o arquiteto...

- Que tipo de pessoa se envolveria com um homem daquele?

- Um governo – responde Patrícia.

Ronald e Robert se olham e soltam risinhos de descrença, sabem o que é isso. Os vinte e quatro cercam-na e pedem detalhes do modo como Aisha foi tratada, o mesmo que Elias pergunta aos funcionários (...) Vai ter com sua, praticamente, vice-presidente e saber o que se passou, “O engenheiro é legal, mas aquele arquiteto, é difícil encontrar gente pior. Tenhamos cuidado com ele” é o que ela diz assim que o vê. Passam para os negócios em si, a família de Yuri abrirá mesmo duas lojas, em Moscou e São Petersburgo. Pensar que isso será ter negócios também com Melinda (...) é o que o acalenta.

Os dias passam, os russos conhecem a excursão anual dos veteranos de guerra, recebidos por Krumb e Richard devidamente uniformizados. Isso também é passado para o Kremlin (...) As figuras dos Richards amedrontam, lhe parecem capazes que quebrar uma coluna vertebral com um murro. São todos tratados como família, com intimidade pela população fixa e a flutuante, alguns paparazzi aproveitam para fazer uma jornalismo de verdade, que mereça ser assim chamado.

Os russos ainda ficam para o Festival da Saudade (...) com isso sabendo o que Elias realmente espera deles, no uso de sua marca. Os ataques histéricos ao verem Jose De Lane já eram esperados. Quando eles voltam à Russia, fazendo o grandalhção Yuri chorar no aeroporto, a diva vai ter com o rapaz...

- Ele tentou enrolar Aisha mais de uma vez, tentou saber coisas de minha intimidade de modo muito sutil, perguntou várias vezes aos funcionários se eram felizes trabalhando para um chefe tão duro... Precisei sim coloca-lo no seu devido lugar.

- Você precisa saber que aquele indivíduo é um escalador social. Ninguém gosta realmente dele, o governo russo não o matou ainda porque tem sido mais útil do que perigoso... ainda. Pedirei à CIA que fique mais atenta, porque você sem querer demonstrou ser interessante para eles, por isso vão voltar.

- Eles pensam que sou um de vocês, é isso?

- Muita gente acredita piamente que sim, mas não podemos desmentir e nem confirmar. Nós vamos ficar mais próximos de você, pelo menos acreditarão que é de alta hierarquia e pensarão duas vezes antes de tentarem qualquer besteira.

Chama Sandra e os outros agentes com ligação directa com o goiano, inclusive Albert e Aisha. Dá instruções sobre como protegê-lo e tranqüiliza a cataclísmica Sandra (...) Abrem as portas da biblioteca, Patrícia afagando os afilhados e falando trivialidades, para que pensem em coisas amenas. Mas ela sabe o quanto Elias tornou-se involuntariamente valioso e perigoso.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLXI

    Oh, os intelectuais! A estação 261 mostra os perigos de quem pensa que usar um crachá com a photo de Andrew Carnegie, te torna um magnata. Todos a bordo, o trem vai partir.

Karen sai da academia na companhia de amigos. Vão a pé até o centro, aproveitando que a musculatura está aquecida. Ao longe vêem uma das locomotivas de Patrícia voltando de um ensaio photográphico (...) As Lices têm gente de olho na mãe, pelo menos até ela chegar em casa, as ameaças de igrejas radicais nunca cessaram. Eis que o grupo encontra Aisha pelo caminho, em uma rara tarde de folga. A garota manda uma mensagem sigilosa para Alice e ela fica mais tranqüila, avisa que podem voltar aos negócios. A jovem avó queria mesmo conversar sobre a série “Mil e Um Fins de Tarde” (...) Quer utilizar algumas passagens para compor sua próxima personagem, que começará a rodar dentro de dois meses.

Na realidade Aisha também quer conversar consigo, sua decisão de não tomar partido de candidatos tem eriçado pelos em Hollywood, não bastasse ela ter jogado na cara de alguns colegas que eles estão fazendo apologia a ditaduras, ainda explicando didaticamente o que é uma ditadura, na tentativa de que entendam...

- Lembra que o tio Ron se recusou a se fingir de amigo daquele assassino de policiais? É a posição que eu tomei. Os artistas estão ficando mais intelectualizados, mas igualmente burros! Da lista de cento e trinta vídeos de época com declarações desses canalhas, que indiquei para eles saberem quem realmente são os tais “revolucionários” sabe quantos a maioria viu? Isso mesmo, ZERO... Agora estou tratando essa parcela na base do profissionalismo puro, pra evitar me desgastar à toa... Tão nova, mas você já entende tanto dessas coisas! A tia Patty não se incomoda?

- Se incomoda sim. A primeira coisa que eu faço, chegando em casa, é pegar uma boneca. Ela quer que eu curta essa fase antes de assumir as coisas de adulto... Dizer que eu sou uma executiva não adianta, fora da loja eu tenho que me comportar assim.

- Pois eu assino embaixo! Você ainda é menina, não pode apressar as coisas só porque tá cheia de responsabilidades! Eu tive que segurar a Alice, senão ela já teria se casado avó!

A habilidade de Chocolate em conduzir assuntos surte efeito (...) Outra que tem problemas com celebridades politizadas e polarizadas é Stephanie, “For to be American” fez muitas pularem nas tamancas, a acusarem de impor ao país o modo ocidental de vida, se esquecendo que (...) a América fica no ocidente! WOW! Algumas ameaças graves são encaminhadas à polícia, e Chuck repassa directamente a quem interessa...

- Os boçais dizem que odeiam a América, mas não querem sair daqui, agora ameaçam minha sobrinha porque ela está ensinando americanidade a quem quer ser ou voltar a ser americano!

- Irmã, você sabe que estou à suas ordens. Não dá pra esquartejar todo mundo, mas passar uns sustos em alguns deles eu posso.

- Sei muito bem o que você quer dizer com “passar sustos” em alguém. Sei de três espadas suas com esse nome: Papai susto, mamãe susto e baby susto.

- Re, re, re, re, re, re... Sim, também os primos sustos, uma coleção de punhais, mas não era isso... Falo da gente chamar o pessoal da nossa geração e começar a acordar o povo, mostrar que nem tudo o que nós fizemos era ruim ou evitável...

A baixinha explica aos comparsas o que tem em mente (...) Começam a ligar imediatamente para seus comparsas, começando pelos garotos do Beach Boys, arregimentando progressivamente uma massa crítica de colaboradores para seus intentos. Sabaya fica por perto (...) A garota conta com alegria que hoje conversou descompromissadamente com a irmã, depois de muito tempo, nos mesmos tons com que conversavam até ela ter aquele trauma. Depois diz que também quer ajudar, seja lá no que for que estejam pensando. Patrícia pensa, chama Aisha e encomenda às duas uma aventura que caiba no que vão ouvir agora dos doze. A jovem agente fala da conversa que teve com Karen e escancara o sorriso da avó (...) Enzo e Silvia a enchem de beijos, por ter desviado a filha de um assunto que a irrita faz tempo.

Ela por sua vez, dá uma resposta a um actor que adora meter-se em política interna de países alheios, mas não sabe o que fazem seu deputado e seu senador...

- E esse “especialista” chegou como a esta conclusão? Ele ouviu a população? Fez alguma pesquisa prolongada no seio do povo? Pelo menos perguntou o que as pessoas pensam disso ou daquilo? Ou simplesmente fez masturbação intelectual, se enfiando em estatísticas e teorias jamais postas à prova? Porque os métodos fazem toda a diferença no desenvolvimento de um raciocínio e das conclusões, assim como o modo de fazer muda totalmente uma receita com os mesmos ingredientes! E então, você tem uma mínima idéia de que caminhos ele percorreu para chegar às conclusões para ter soltado tanta merda? Não, né! Pois, é, eu sei quais foram e repito: Ele só fala merda!

Desliga, suspira e pensa em se entupir de chocolate, inclusive para tirar o gosto de caca da boca, mas se lembra de que precisa estar em plena forma para um papel dificílimo, então olha para Claudett (...) precisa conversar com um philósopho de verdade. Encontram Kurt ajudando na lida com os negócios da família, em um momento de meditação produtiva, na maison. Luis bate no portal...

- O doutor está? Tenho duas pacientes impacientes, que querem saber se dão porrada ou chamam a máfia para fazer um serviço sujo.

- Você tem andado demais com Patrick... Quem são? Ah, que surpresa... casal de tratantes!

Faz muito tempo que elas devem uma visita à família do rapaz (...) Karen vai directo ao assunto, ele medita um pouco e chama Lidia (...) Trouxe John para ajudar e aprender na prática...

- Não vou te enganar, eu não dou a mínima para esses problemas, eles são insignificantes diante de coisas que realmente fazem a diferença... Mas seus colegas parecem usar uma lente macro e uma grande ocular de acordo com seus devaneios de serem baluartes da vanguarda mundial, não é? É essa gente que pensa que sabe, que realmente atrapalha. Em primeiro lugar, você não tem que comer farelo e restos de comida só porque cuida dos porcos; eles têm sua dieta, você tem a sua...

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra...

Espera as duas terminarem de rir e continua. Ao fim de quarenta e poucos minutos, os irmãos as acompanham até sua casa (...) Amhrám na Farraige observa tudo, com sua protegida ao lado, mostrando-lhe o que ela deve aprender e aproveitar de cada episódio. Naomi ainda tem alguma dificuldade em compreender algumas aflições, mas aos poucos aprende que se a pessoa não se contamina por elas, quem se contaminou pode considera-la uma ameaça. O dragão se volta para a menina, pede que tenha cautela na lida com gente desesperada, e ensina um exercício para quando ela for a algum lugar onde sabe que encontrará gente difícil...

- Divida esta expressão em quatro passos: Do not affect me...

- Não me afetar...

Ela caminha pelo quintal treinando primeiro em vocal, depois só em pensamento.

Matthew se desvia um pouco de seu trabalho e observa aquilo (...) Logo depois ela vai para dentro, se senta à sua mesinha e começa a trabalhar super inspirada.

&

É com muita tristeza que os seis amigos vêem a violência se tornar parte da campanha presidencial (...) é organizado, praticamente orquestrado, com claras pistas de haver um ou mais comandos por detrás (...) Olham para Patrícia, que já esperava por isso e ela confirma, os incitadores à violência nos dois países são os mesmos, e todos os participantes são instruídos a tentar vencer discussões no grito e se fazerem de vítimas, se pegos em flagrante...

- Às vezes penso em me recusar a ser chamada de “artista”, pela conotação alienada que o termo ganhou... Mas não tem outro nome para o que fazemos... Há gente famosa achando isso lindo! Bem-vindos ao fundo do poço. Aproveitem a paisagem, pois ficaremos por aqui até o fim dos anos vinte. Não é tão ruim, podemos fazer utensílios de cerâmica com toda essa argila em que afundamos... Desculpem pelo sarcasmo...

É carregada imediatamente para o coreto, onde o terninho é desabotoado e ela enchida com afagos, até Nancy chegar e assumir (...) cheia de vigor e disposição demais para se entregar à idade. Luppy leva os sucos e Consuelo os salgados, para facilitar o desenrugamento de testa. Rebeca sabe do que ela falou, mas não está tão preocupada, está preparada para distribuir socos e pontapés na primeira oportunidade. Sanaa, Suha, Amina e Darifa chegam com seus rebentos, alertadas por Aisha. Elas não sabem o quanto a mãe adoptiva é importante e preocupada, mas uma leitura em jornais (...) lhes deu uma idéia precisa, tudo o que puderem fazer para aliviar seus ombros, será feito.

Josephine é informada, compreende os motivos, mas não quer que a pupila se desgaste por causa disso (...) Vão buscar alegrias cotidianas para preencher seu tempo, uma delas liga para Patrícia, os carros russos chegaram a Sunshadow, incluindo o Zil com vinte toneladas de chocolate e as outras tantas da Geórgia. Claro que chamam atenção, a maioria absoluta é completamente estranha aos americanos, mesmo na imprensa especializada. Inclusive um já raro VW Rometsch four door 1952 (...) Os outros vão para o museu, o VW vai para...

- It’s your, mommy.

E Nancy se desmancha no abraço da primogênita, enquanto a imprensa e seus arremedos registram a nova aquisição de um acervo que já era dos maiores e mais valiosos do mundo. Ah, sim, os chocolates... Phoebe escaneia o ar dentro do baú, aspira e filtra várias vezes em vários pontos, até assegurar-se de que está tudo em boas condições, então Patrícia organiza uma fila de populares e distribui (...) Paparazzi vendem seu material, enquanto mastigam, a imprensa profissional varia em torno de “Vamos falar de uma outra Rússia”, a imprensa oficial da banda faz algo mais completo, incluindo a aquisição daqueles veículos antigos como uma pedra na construção para a futura retomada do diálogo entre Washigton e Moscou. Mas também há parágrafos para falar do aparelhinho que Phoebe utilizou para atestar a qualidade dos chocolates (...) Ela disponibiliza o esquema e o software (...) para uso próprio, se alguém quiser fabricar terá que pagar.

O dia seguinte é de despedida. Fabrícia volta ao Brasil com seus herdeiros, embora pelas leis americanas não precise (...) Elias fica apreensivo, enquanto Sandra tenta dar-lhe garantias de que desta vez nada vai atingir a amiga e nem os meninos (...) Também tem sua rede de informantes, sabe em que pé estão as coisas nos rincões mais remotos do Brasil. Assim que o Boeing 777 some de vista, eles voltam para casa, Elias ainda com a expressão severa, sacando seu smartrain e mandando recomendações pormenorizadas à BYOP do Brasil. Sandra sabe que em se tratando de um país onde os parlamentares estão mais preocupados em não serem presos, do que em votar mesmo as leis em benefício próprio, o pai tem razão em suas preocupações.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLX

    Agora querem Elias. A estação 260 mostra que o fim de uma conversa nem sempre é o fim da conversa. Embarquem, o trem vai partir.


Melinda mostra o abaixo-assinado com mais de um milhão de assinaturas, acompanhado do pedido de um show (...) Há um depósito de adiantamento equivalente a um milhão de ingressos, só esperando pela confirmação de uma data, para o restante ser depositado. Os doze se entreolham, olham para Rebeca e Ronald, que se eximem de qualquer responsabilidade, também só estão sabendo disso agora. Patrícia liga para Darifa, mas é Derik que atende, ela entrou em trabalho de parto a mais de três mil pés de altitude, o piloto acelera o quanto pode, mas talvez não dê tempo (...) Suha é avisada e arrasta o marido, já ligando para a madrinha, que despenca de Los Angeles no ERJ 190-200, com o Phenom dos Barry-Kelly fungando na quilha. As crianças começam a sair mal tendo aterrissado, a poucos metros do S-600 Maybach. Sandra auxilia como pode (...) O primeiro choro causa euforia, o segundo causa choro, os jatos chegam assim que Darifa se rende ao cansaço ainda no hangar. Hamira anuncia ao Marrocos em tempo real, que mais duas mulheres perpetuam o mito de Hassam (...) por agora a irmã está soltando os bofes para fora, com Adelaide e Nelly satisfeitas, após esgotarem a mãe.

As pequenas adormecem rápido, com a mãe já exaurida e no segundo sono, enquanto o pai, trisavós, avó e madrinha se desmancham por elas. Deixam o casal se desmanchar e voltam à Máquina de Costura, onde outra mãe amamenta seus rebentos, já planejando o retorno. Raimundo e Francisco parecem confortáveis no clima de quatro estações por dia de Michigan, vão estranhar o Brasil. Fabrícia mostra os meninos já querendo andar, mal tendo equilíbrio para se manterem sentados (...) Sandra manifesta à madrinha a estranheza pelo interesse dos dois presidentes pelo seu pai...

- Não, amor da madrinha, duvido que eles suspeitem da colaboração com a CIA, mas sabem do que seu pai é capaz e não vão desperdiçar uma chance de ter a ajuda dele; só isso. Não se preocupe.

- Sai dessa, mulher! Seu pai tá mais vigiado do que o espaço aéreo americano!

- Hey, não é só o Elias – interfere Phoebe. Eles conhecem a sua história, você pra eles é uma lenda! Eu recebi tudo de nascença e só precisei trabalhar, já você se construiu apesar de tudo, você representa tudo o que eles admiram em uma pessoa. Até nesse meio pode haver alguma sinceridade.

- Ok, vou desencanar... Mas com um pé atrás... Vamos mudar de assunto... Vamos falar da Eddie, só falta ela pra aumentar a família.

Mudam de assunto. À noite a encrenqueira medita enquanto dá a devida atenção à família. Concorda com o que Phoebe disse, o que não lhe dá o direito de baixar a guarda (...) Abigail se cansa e dorme pesadamente, Inga não demora muito mais e logo estão ambas encerrando o dia. Elias também estranhou o interesse por si, mas aprendeu com a CIA a não dar alarmes desnecessários. Acorda no horário de sempre, previsível até certo ponto, a rotina é dele e não o contrário. Hoje terá a rara e valiosa companhia da esposa na loja, para onde vão assim que passarem na Máquina de Costura, ver como estão Fabrícia e os meninos (...) Ainda se lembrando das palavras afáveis que ouviu de Putin a respeito do afilhado, ela o olha com mais carinho do que o comum (...) se lembra do rapaz destruído que resgatou e compara com o empresário poderoso e respeitado que é hoje. Richard chega com uma cesta de nozes a avelãs para a mãe e ela puxa conversa, sempre imagina se os dois tivessem crescido juntos...

- Bem, nesta vida dupla eu aprendi a não tirar conclusões antes que elas se apresentem. Se você tenta puxar, só puxa a que mais se enquadra com suas suspeitas, se deixar vir ela se apresenta como realmente é. Dê uma chance, desta vez eles foram sinceros.

- Tal pai, tal filha. Mas eu sei o que é, você ainda se incomoda com a CIA freqüentando sua casa e teme que outros serviços secretos tenham a mesma idéia. Não vai acontecer. Aliás, hoje eles aparecem...

- A terceira visita do ano, Robby já os chama de “tios”, de tão acostumado com eles.

- É um ano difícil, meu querido, uma parte do mundo decidiu desmoronar de uma só vez e eles estão se virando para segurar as paredes. Foi um dos motivos dos shows na Rússia.

Robert tem uma conversa com turistas, antes de ir à Máquina de Costura. Explica que o que foram fazer, tem mais cunho diplomático do que qualquer outra coisa...

- A diplomacia não tem nada a ver com gostar ou se dar bem com o outro, tem a ver com respeito mútuo e preservar convergências. Nós fomos atar os pontos em comum para haver no que nos apegar, quando vier a próxima tensão, porque virá.

Os paparazzi, sempre por perto, anotam e oferecem a citação como bônus aos seus clientes. Ele caminha a passos largos, quando vê a irmã indo com o marido para a loja, gosta daquela cena de dedicação explícita. Deixa-os ir assim que afaga Enya. Eles chegam à loja, liberam os acessos e entram (...) Ele aciona o som ambiente e um jazz suave embala o início do dia. O casal sobe ao último pavimento, onde Elias encontra o que já esperava, a caixa de mensagens da franquia com uma tonelada de mensagens, algumas desesperadas, outras ameaçadoras, a todas já está acostumado. Para esquentar, classifica e separa os tipos, sabendo que vai jogar mais da metade na lixeira.

Quando os clientes começam a entrar, ele está aquecido e trabalhando a todo vapor (...) O alarme de e-mail toca e ela assume, para ele não precisar se desviar de um memorando. É de São Petersburgo, autoridades pedem estudo de viabilidade para uma filial da loja...

- Amor, sobre aquela sua neura com os russos...

Ele olha de lado, larga o memorando e vai ver. Lê com cuidado, medita e manda uma cópia para Patrícia. Não se surpreende, mas não esperava, chama os outros onze para verem também. Chamam Elias, desta vez não vão deixar ele decidir tudo sozinho. Também chamam Yuri (...) o russo assina um contracto formal e tem exclusividade da Vintage Way of Life na Rússia, então ele liga para tios e avós, passando instruções minuciosas, só depois é que as autoridades russas são informadas das pessoas que entrarão em contacto. Enquanto isso, Patrícia conversa com colaboradores russos e os informa sobre as novas bases da organização.

Quando os agentes da CIA aparecem para a visita, são informados a respeito. Eles se olham, quase riem, aquilo não deveria surpreender, mas a rapidez com que aconteceu os surpreendeu (...) Perguntam o que pretendem fazer, então Sandra precisa intervir, porque o pai não tem como falar tudo, mas mesmo falando menos ele diz mais. Passam rapidamente para o que os agentes queriam ter ali, mas sem querer o assunto já foi tratado...

- Então podemos aprofundar um pouco, já que temos tempo?

- Podemos. Vou exemplificar com as cidades subaquáticas com que Sakura sonha...

Sonha tanto que o aquário da casa tem um diorama alusivo. Já perdeu as esperanças de viver para ver o sonho realizado, então está passando o bastão para Nanako e Iroshi (...) Robert aparece, logo cercado pelos netos e com eles nos braços vai à filha. É justamente sobre moradias subaquáticas que quer falar consigo. Pergunta se ela realmente quer pelo menos uma cabana flutuante com cômodos submersos (...) porque Patrícia avisou que isso em breve será necessário e precisa de alguém para iniciar a popularização. A idéia é uma balsa com um módulo habitável que submergiria parcialmente junto com a âncora, a partir dela se poderia construir uma cidade flutuante inteira, mas isso seria para mais tarde...

- Wow! É sério?

- Sua tia Patty recebeu uma idéia bastante viável, com capacidade para seis ocupantes. Se você der o sinal verde, a gente manda construir agora.

Ela nem consegue falar, pula no pescoço do pai e o enche de beijos. Ele liga para os outros e manda começarem a construir. O criador é um colaborador de base, que venceu a timidez e foi falar com Bart sobre como conseguiria financiamento, ele se lembrou de Sakura imediatamente.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLVIX

    Missão cumprida. A estação 259 ilustra de forma suave o que quase sempre é tenso e os jornais não noticiam, se nem podem saber. Embarquem, o trem vai partir.


O ensaio produz alguns ajustes acústicos (...) Os operários fazem breves intervalos para ouvir os americanos cantarem. Na plateia, jornalistas aproveitam os intervalos entre cada teste para a entrevista. Os mais ousados perguntam sobre a recusa em se apresentarem em Moscou, quando da Grande Turnê...

- Alterar letras e ocultar membros da banda, estava, está e sempre estará fora de questão – diz Patrícia.

- E quanto às suas íntimas relações com o governo americano, o que tem a dizer?

- Está me provocando? Eu sei do que vocês sabem a respeito, é tudo o que tenho a dizer... Minhas declarações eu assumo, pode confirmar todas elas, inclusive que a CIA não manda em mim.

- Como a senhora se envolveu neste mundo de conspirações?

- Em que conspirações eu estaria envolvida? Eu tenho relações com gente poderosa por conta do meu trabalho, como líder da banda eu assumo a frente em quase tudo, inclusive contrariando chefes de Estado. O resto foram relações de confiança que derivaram de nossas atitudes; nós seis.

- Como conheceu Hassam? Ele era louco?

Não importa quantas vezes perguntem isso, os outros caem na risada (...) À tarde vão comer e ter sua sesta sagrada, para o primeiro show em solo russo. Em Sunshadow há expectativa, por parte dos agentes residentes, em especial Cacilda. Ela mantém contacto constante com Richard, que tenta tranqüilizá-la, mas sabe bem o trauma que traz de sua última missão.

Com todas as dúvidas, o show é um assombro! Começam com “Forgotten” para cerca de um milhão de russos que lotam a arena (...) se portando como perfeitos ghost drivers. Voam para São Petersburgo na mesma noite, tão cansados quanto aliviados pela noite de cantoria. Terem dado conta do serviço em Moscou animou o público, os notívagos lotam o aeroporto e suas imediações, há uma verdadeira romaria a seguir os ônibus ao hotel, onde vêem uma horda midiática bem maior à sua espera. As quatro agentes entre eles sabem do que se trata, mas será um encontro reservado. Não hoje, mas amanhã cedo, logo após o treinamento diário.

O treinamento, como em Moscou, é motivo de estarrecimento, filmado em segredo e transmitido às autoridades. O nível geral supera o de profissionais comuns, o de Phoebe é algo que sequer sabem descrever (...) Se perguntam quantos mais têm acesso a tudo isso, sabem de pelo menos uma centena só em Sunshadow. Profissionais de medicina, artes marciais, militares e investigadores resumem em “Ela não pode ser humana” as suas conclusões (...) O encerramento dos exercícios também é motivo de estudos, mas este eles descofiam que seja só para quebrar a sisudez das artes marciais e retomar suas vidas civis. Agora vão aos outros, têm um encontro secreto logo após a refeição. São abordadas pelo gerente...

- Como???

- Um caminhão lotado de chocolates, senhora Petty. Disseram que há umas vinte tolenadas.

Vão as quatro ver isso. Aquele Zil-133VYa vermelho, com sua característica frente branca estampada em chapa única, reluz debochado diante delas...

- Phee, veja se os carros já partiram.

- Estão todos ainda aguardando o embarque agendado.

- Óptimo! O senhor está disposto a trocar seu belo caminhão por um zero quilômetro? Então ele vai inteiro com a carga para Sunshadow, antes que os outros sintam o cheiro desse chocolate.

- Mas não vai ficar nem um bombom pra gente?

Tarde demais. Lá estão eles, hipnotizados pelo odor daquela carga, com Carly na linha de frente (...) Os funcionários do hotel vêem à sua frente o desenrolar de uma lenda que se confirma, são três barras pequenas para cada e uma cesta para uso coletivo. Espalham rapidamente o que testemunharam e suas famílias cuidam de disseminar, a disciplina alimentar da banda não é um mito.

Deixando os integrantes civis no hotel (...) elas vão às suas obrigações de vida dupla na discrição de um Lada Largus do hotel. Só os serviços secretos sabem aonde elas estão indo. Em um cruzamento, dois caminhões aguardam por elas, ocultando outro Largus igual. Elas chegam, o primeiro caminhão se coloca atrás, o outro se põe à frente e os três mudam de direção, enquanto a outra van segue reto. Três quilômetros adiante os caminhões se despedem e elas estão às portas de uma casa de verão (...) São recebidas por militares, o presidente as espera em uma sala de lareira, com alguns acepipes em uma mesa próxima. Se vêem. É o primeiro encontro físico que ele tem com Princess. Sua figura é impressionante, mesmo em trajes tão sóbrios e contidos.

Ele é cortês, tenta fazê-las se sentirem em casa (...) Presta suas queixas resumidas contra a diplomacia da Casa Branca, se atendo aos pontos em que ambas as partes convergem, para não perder tempo com discussões estéreis. Sandra o encara um pouco, vira os olhos para a lareira e volta a se concentrar nele. Rebeca fica atenta à segurança (...) mas não perde o fio da conversa. Phoebe permanece impassível, ciente de tudo o que acontece à sua volta, enquanto a avó presta a devida atenção ao interlocutor, sem interrompê-lo uma vez sequer...

- Com tudo isso, eu acredito que vocês podem compreender a minha posição intransigente em defender a Rússia e suas tradições.

- Compreendemos, é o  que fazemos em Sunshadow. Existe uma linha muito tênue entre preocupar-se com alguém e querer ditar os rumos de sua vida, tanto com indivíduos quanto com coletividades, mas nem sempre essa linha é visível. Temos desde a fundação de nossa cidade, um pacto de proteção mútua, que eu acredito que você pode fomentar por aqui. Facilitaria bastante tanto o combate ao terrorismo quanto a própria administração pública...

Ela não faz discursos, apresenta soluções práticas e puxa com sutileza as devidas orelhas (...) Faz questão de ouvir a todas, para começar a descontrair antes de precisarem voltar. Confessa sua admiração por Sandra, ciente de tudo o que ela enfrentou e superou, bem como o amparo que dá aos pais biológicos...

- Seu pai Elias reagiu bem, eu espero.

- De boa. Ele teve um baque no começo, mas superou rápido.

Demonstra o quando valoriza a união familiar, ainda consegue que se sirvam antes de voltarem ao hotel. Usam outro caminho, onde outro despiste as espera. Chegam recebidas pelos comparsas (...) costuraram algo que pode vir a ser uma paz perene, dentro de alguns anos. Agora vão reportar tudo à organização e voltam para o ensaio.

&

Um milhão e duzentos mil fãs na arena. Centenas de câmeras em pontos estratégicos garantem o registro de mais do que um espetáculo grandioso, uma demonstração de força, capacidade e união que os russos querem deixar inequívoca ao ocidente. E quem está lá, em uma tribuna reservada? Patrícia o cumprimenta e toca o show. Em Sunshadow as notícias são actualizadas, Richard mostra todos eles cantando com a mesma desenvoltura e confirma, houve o encontro secreto (...) Só avisa que um tratado de paz e cooperação está viabilizado a longo prazo, e que os russos tiveram uma boa impressão de algo relativo à América. Não que não se deva ter cuidado com aquela região, mas uma luz já foi acesa...

- Ritchie, se o que falam de Putin for verdade, a Patty se arriscou demais!

- Nem tudo, minha amada. O nível de periculosidade dele é altíssimo, mas o nível de idiotice é zero. Honrar a palavra tem sido parte de sua política, se conseguir que ele se pronuncie expressamente. Além do mais, temos pontos em comum aos quais podemos recorrer, quando necessário.

Enquanto conversam, a banda voa para Tbilisi. A estadia da Dead Train foi garantia de suspensão de hostilidades (...) Aterrissam em meio à histeria dos fãs, que nunca imaginaram um show em seu território. Dão sua tradicional cota de carinho aos corajosos que enfrentam a alta noite para prestigiá-los, seguem para o hotel seguidos por um comboio que perdem de vista. No hotel o que encontram? Algo que vai voar para Sunshadow agora mesmo! Depois é claro das porções a que cada um tem direito serem distribuídas. Mesmo de noite, podem ver as fortificações medievais na paisagem, o passeio oficial de amanhã promete! (...) Ela aproveita para elogiar a postura das jovens agentes, especialmente Sandra, que falou a um dos homens mais poderosos do mundo como se ele fosse uma pessoa comum. Dá um breve histórico da Georgia, para que ninguém seja pego de calças curtas (...) Por agora podem ir todos dormir.

Após o treinamento diário, as quatro sobem diante de uma criadagem absorta. Os vídeos que fizeram vão imediatamente para a internet, se juntar aos dos russos, estarrecendo os praticantes de artes marciais. Elas voltam serenas e serelepes para os outros, que o dia será cheio. Começando pela coletiva, que repete algumas ladainhas, mas perguntam o motivo de terem aceitado fazer um show em Tbilisi...

- Vocês nos chamaram – responde Patrícia. Não havia motivos para não virmos. Além do mais, seria indelicado aceitar o convite dos russos e recusar o de vocês.

- E sobre os vídeos de seus treinamentos de artes marciais antes da alvorada, o que me dizem?

- A gente ama – exclama Patrícia!

- Melhor coisa do mundo – comenta Rebeca.

- Não começo o dia sem uma sessão de porrada – complementa Sandra.

- Vocês deveriam experimentar, é só alegria – arremata Phoebe.

Olham para os outros, que também praticam, mas não com o mesmo empenho (...) Sobre o encontro com o jovem presidente Margvelashvili, não têm o que dizer até que aconteça (...) Vão conhecer a arena, com vista para uma fortificação medieval que será um belo fundo para a visão do palco. Infeizmente não poderão visita-la, não desta vez. Capricharam na decoração, toda inspirada no folclore georgiano, e folclore pede um clássico que aquela gente entende bem, começam o ensaio com “Forgotten” (...) O mundo olha tanto para Europa e oriente médio, que se esquece que existe gente vivendo no meio dos dois.

Findado o ensaio livre, voltam ao hotel com um passeio promocional, convidando a população para a festa. Klauss faz o favor de registrar todo mundo individualmente, com aquela paisagem ao fundo. Publica o álbum assim que chegam ao hotel, manda informações para as quatro mídias (...) Enquanto isso, a banda vai conhecer o jovem presidente da Geórgia, cuja inexperiência a Rússia soube explorar bem. Ele se entusiasma em um breve momento de descontração, com photos e trocas de presentes, mas logo entra com as agentes para uma sala reservada, previamente limpa de escutas, onde expõe suas razões e ouve instruções pormenorizadas. Infelizmente as tensões já instaladas não vão cessar pelos próximos anos, então terá que administrar essa encrenca, evitar bater de frente com Putin e planejar o que se fazer em meados da próxima década.

De resto, apontam para sua pouca idade como um trunfo, pedem que controle seus medos e evite se cobrar demais (...) Novamente um chefe de Estado confessa sua admiração por Sandra, pelos mesmos motivos, novamente perguntando por Elias. De novo um pequeno festim encerra a reunião secreta (...) À noite, em sua suíte com Renata, ela percebe o olhar de curiosidade da companheira de senda...

- Algumas coisas parecem já bem encaminhadas... O que vocês ainda tanto fazem?

- Estamos seguindo as últimas ordens de Grandpa, não deixaremos os sacanas dormirem em paz. Os sabotadores da paz mundial não podem confiar totalmente nem nas próprias sombras, é para isso que agimos nos bastidores. É por isso que Phee e Sandra passaram a nos acompanhar em reuniões importantes, Alice e Aisha estão na mesma toada, elas vão herdar essa função; enfim, estamos agindo como exus encarnados.

- Pra mim você se parece mais com um membro da sociedade interplanetária, da turma de degredadores. Você age como os espíritos que avaliam quem ainda tem condições de ficar na Terra e quem não é mais compatível com o grau de evolução do resto da humanidade.

- Ah, como eu adoraria ter esse poder! Mas eu só posso impor respeito, medo ou ambos, dependendo da necessidade. Vocês todos precisam muito da música, para manter a sanidade em dia, eu preciso dela para não surtar de vez.

- Você não precisa de nada. O que você faz com a gente é um bônus, tira isso da cabeça e dorme.

Dormem. Na manhã seguinte há uma plateia para ver o treinamento...

- Ora, ora, ora... O que temos aqui? Quinze... vinte... vinte e sete! Vocês vieram ver o treinamento, presumo.

Eles confirmam, querem ver ao vivo o que viram pelos vídeos, inclusive duas senhoras de idades avançadas em suas maravilhosas condições físicas e estéticas. Não os decepcionam (...) Hoje acrescentam as espadas e o show ganha um brilho aterrorizante. Não querem estar no caminho delas (...) Sandra providenciando uma bem-vinda massagem para ajudar. Voltam aos seus aposentos ovacionadas, e mais um vídeo vai para a internet, arrebanhar admiradores e aterrorizar inimigos.

Em Michigan, Nancy se derrete por poder ver a filha. Dane-se que aquilo seja um ensaio para um massacre, ama vê-la em tão boas condições (...) Arthur suspira com as filhas sob os braços, elas também babando pela mãe (...) Enquanto suspiram, ela está com seus comparsas fazendo o que gosta, ensaiando para tudo ficar a contento no show de hoje. Amanhã cedo voltam para Sunshadow. Os veículos e os chocolates já estão a caminho.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLVIII

    Moscou treme. A estação 258 mostra que a importância de um remédio amargo para evitar o agravamento de uma doença. Embarquem, o trem vai partir.


Chega o dia de verem os protótipos. Um seleto grupo de cerca de quinhentas pessoas está presente, são os potenciais compradores dos carros. Estão ambos sob véus de seda azul marinho(...) Uma leve curvatura na linha de cintura eleva o porta-malas e faz lembrar os clássicos de outrora, dando um discreto aspecto sinuoso e atraente aos modelos. 223” de comprimento no Cadillac, 221” no Lincoln, interiores que não devem em nada aos Rolls Royce de Patrícia, uma precisão de ajustes digna da indústria aeroespacial e tudo o que há de mais avançado em tecnologia embarcada (...) O dia inteiro de test drive, explicações e até uma palestra dos representantes, todos assinam os contractos e mais de dez mil carros serão produzidos, assim que construírem as linhas de montagem. As duas equipes voltam felizes da vida para Detroit, mas não os protótipos, são de Patrícia.

Aisha espera pelas novidades. Poderia ver pelo tabletrain, mas está ocupada dando instruções aos anigos que aderiram à linha dos doze anos (...) Ela é taxativa e reiterante em pedir sigilo absoluto, mesmo que permaneçam muçulmanos, seriam vistos como apóstatas por muitos grupos. Pede ainda que as crianças aprendam a manter segredo do que acontece em casa. Desliga e se põe a meditar, então se lembra dos shows que a banda fará na Geórgia e na Rússia. Sabe o que a avó fará, entre as apresentações, ela vai aproveitar o inevitável para costurar um pouco mais esta fase dos planos gerais. Eles também sabem disso, e vão aproveitar para seus países serem colocados em posições mais aprazíveis na escala da organização (...) estão providenciando um pequeno evento de carros da era soviética, para agradá-la e facilitar as conversas.

Ela chega com os comparsas, todos rindo e comentando sobre os carros. Aisha desce para ter notícias (...) Patrícia e Sanaa percebem, a conhecem o suficiente para saberem que está fingindo que não estava mergulhada em seus abismos (...) estava falando com gente que ficou no oriente médio e deu instruções pormenorizadas de comportamento, aos que decidiram raciocinar...

- Ela respondeu “Não desconfio de Allah, desconfio dos homens que se intitulam detentores de Sua verdade. Homens não são confiáveis”. Ela conseguiu sair pela tangente, desta vez, mas está tremendo até agora, espero ter ajudado.

Os adultos se olham, compreendem a preocupação da menina. Ela conta de uma conversa que teve com um cliente (...) Precisou explicar-lhe didaticamente, que os capítulos escritos em Meca eram muito tolerantes, mas o livro perdeu o coração quando os capítulos de Medina sucederam (...) fora que foi escrito em árabe clássico, que pouca gente compreende, mesmo nativos do oriente médio...

- É como falar latim a um homem ocidental comum, de pouca cultura. Por isso eu defendo o retorno às origens, de antes de os chefes tribais trocarem o amor pelo poder. Os cristãos ainda têm uma facilidade negligenciada para acessar os idiomas originais da bíblia, mas essas tribos simplesmente aceitam a tradução que têm e querem impô-la aos outros... Allah, minha testa tá pesada de novo! Estou fazendo aquela cara de novo... Vou brincar com bonecas...

Vai ao porão, manipular as figuras, enquanto os trenzinhos e autos de linha perambulam pelo cenário (...) Avó e mãe da garota descem, Patrícia comentando o quanto Aisha tornou-se uma companheira valiosa, muito além dos assuntos confidenciais. Só por ajudar e monitorar Elias, ela tranqüiliza a avó, Sandra, Enya e a CIA. Esta, aliás, está observando o enviado da Culture Train à Rússia, juntamente com a FSB. O rapaz conversa e negocia (...) e depois voar à Geórgia. Do hotel ele manda pormenores do que já conseguiu, enquanto os serviços secretos tentam em vão interceptar a comunicação entre os smartrains...

- Certo, para os shows está tudo bem... Você notou um ponto vermelho piscando na janela de mapas? Pois abra-a. Não se esqueça da guerra fria, tome cuidado com o que for dizer.

Richard avisa que estão tentando interceptar a comunicação (...) Desligam e a equipe começa a trabalhar na publicidade dos shows, serão realmente dois na Rússia, onde uma equipe do governo consegue uma prova concreta da ligação da casa de Alander com os Romanov. Patrícia recebe na mesma noite, da diplomacia russa, a documentação (...) Com marido e filhos presentes, ela lê, olha de soslaio para o funcionário da embaixada (...) Não duvida da autenticidade documental, aquilo para si é facto consumado, ela, Arthur e Richard sabem, porém, que esse empenho todo em comprovar essa ligação intenciona uma aproximação, bem como facilitar uma futura aliança com a organização...

- Ele não dá ponto sem nó, é muito esperto! Meu bom amigo, agradeça Putin de todo coração em meu nome, diga que conversaremos com tranqüilidade antes do primeiro show. Vai ser difícil separar paparazzo de espião do governo... Vai ser uma turnê muito louca.

- Quer que eu vá com vocês?

- Não, meu querido, não será necessário, mamãe ficará bem. Ele só quer conversar e garantir que não nos viraremos contra a Rússia; o que está completamente fora de nossos propósitos. Vamos comer... Venha também, é nosso convidado.

Ela também tem suas artimanhas, convidar o visitante para a mesa é um gesto diplomático que cai no gosto do Kremlin. Na manhã seguinte, começando os trabalhos, a cidade inteira toma conhecimento da novidade. A Casa Branca também (...) Alguns patrocinadores ficam receosos, por conta dos embargos, mas eles não foram chamados, a banda pretendia arcar com tudo. Ficou acertado que as sucursais europeias e japonesas arcarão com o patrocínio (...) a Dead Train Corporation vai se mostrar inteira.

&

A campanha publicitária já começa na Croácia, Georgia e Rússia, repleta de mensagens cifradas (...) Na América isso gera mais e lucrativas polêmicas, como se Patrícia estivesse desafiando a Casa Branca, quando na verdade está atendendo a um pedido precidencial. Yuri ajuda mais desta vez, ensinando um russo bem básico aos que ainda não o conhecem, incluindo leitura, mesmo assim aconselha aos músicos de apoio e os três novatos da nova formação, que não saiam de perto dos outros. Robert e Ronald já receberam dezenas de pedidos para conversas informais, por parte de diplomatas da Europa oriental (...) Não nos esqueçamos de que estarão viajando a trabalho, portanto o regime alimentar começa uma semana antes do embarque.

No dia e na hora marcados, o Airtrain é seguido pelo Airwagon para Moscou. As agências de inteligência do mundo inteiro os acompanham, inclusive por rastreamento e imagens de satélites, que graças a alguns hackers vazam e fazem a alegria dos fãs e da imprensa especializada. Já fora do espaço aéreo americano, Patrícia abre comunicação entre os dois Boeings e repassa suas instruções...

- São povos muito, mas realmente muito hospitaleiros. São mais cordiais do que parecem, por isso mesmo é fácil ofender um deles. Se virem gente quase se engalfinhando na rua, não se preocupem, é uma conversa mais exaltada, mas amistosa. Tenham muito tato, mente aberta, não saiam de perto de quem fala bem os idiomas locais e vão se divertir muito.

Questões legais e polêmicas reiteradas, estão prontos para enfrentar três públicos novos (...) Entram em espaço aéreo russo e os procedimentos são iniciados, a torre já os tem no radar e anuncia à multidão a chegada da banda. O Airtrain aterrissa e os mais velhos têm uma amostra do que temiam, durante a primeira guerra fria, dizer que o aeroporto treme é literal. Mais de meio milhão de fãs (...) Os texanos vêem isso pela televisão e juram vingança, tratam de ligar para a Culture Train e negociar uma série de shows no Estado.

O 747-400 aterrissa, taxia, seguido de perto pelo vice, a porta se abre e Klaus provoca a histeria coletiva (...) É a primeira aparição do Dead Train no leste europeu. Patrícia surge majestosa, linda, altiva e resplancecente, então todos os alarmes activados em um raio de um quilômetro disparam. A imprensa registra gulosa a descida da banda e da orquestra, enquanto a televisão prepara retrospectivas. Alguns funcionários do governo soltam “Finalmente eles puderam vir” (...) O que eles vêem é algo impressionante, é gente até onde a vista alcança, os acenos retribuídos geram mais abalos císmicos e algumas janelas trincam. O Texas não vai deixar isso barato, não mesmo, são eles os exagerados neste planeta!

A acolhida carinhosa aos fãs gera uma onda de choros compulsivos, como se eles não estivessem preparados para receber aquela graça de sua princesa; o governo deixou vazar isso. Estar diante das lendas vivas da música redime todos os seus pecados e os faz se arrependerem de todas as suas faltas. E Phoebe? A nova menininha mandona causa palpitações a medida em que avança e cumprimenta seu público (...) Os ônibus os levam ao hotel totalmente dedicado e preparado para eles. Patrícia observa aquele exagero, pensando no que o presidente estaria tramando. A resposta do público é espontânea, mas ali tem dedo dele. Passam pela Praça Vermelha, Patrícia avisa que vai querer um diorama daquilo.

Chegam ao hotel e dão de cara com uma exposição de carros soviéticos. Patrícia, Sandra e Phoebe suspiram. Volgas, muitos Volgas em excelente estado, alguns em condições excepcionais. Gaz, Zaz, Tatra, caminhões e motocicletas Ural; várias delas em várias versões, incluindo M-17 com sidecars. Ladas a rodo, Moskvitch e até uma limusine Chaika importada de volta (...) As autoridades assistem aliviadas e sorridentes, pela televisão, as reações da mulher mais perigosa do mundo. Deixam sete milhões de dólares na Rússia, boa parte daqueles veículos segue agora mesmo para Sunshadow (...) Quando voltar vai ver, conhecer e experimentar direito sua aquisição, por agora o prazo é curto para esse entretenimento.

Os texanos anotam tudo, farão algo maior e melhor, eles vão ver só! Os músicos (...) vão para o teatro do hotel (...) Puderam ver de perto o comportamento do nativo, mas aquilo foi um momento festivo, as coisas ficam feias quando um russo se irrita; cohecem Yuri o suficiente para saberem disso. É ele quem aparece no telão, para alguns recados rápidos e dicas de comportamento...

- Mas vocês vão ter mesmo é que aprender na prática. Minha dica é que ninguém fique sozinho, e sigam as ordens da Patty como se suas vidas dependessem disso, porque podem depender. Quanto ao resto... Se joguem! Já sabem o que não devem fazer, do resto podem se lambuzar!

- Só um adendo – adverte Patrícia – Ninguém vai se jogar à gula coisa nenhuma! O hotel já sabe o que pode e o que não pode nos servir, estamos viajando a trabalho. Agora vão passear e conhecer o ambiente, o almoço ainda vai demorar um pouco... Mascote, vamos...

Vão no horário combinado ter com um agente do governo. Ele cumprimenta, dá as boas vindas e confirma os compromissos (...) Qualquer coisa de que precisarem, será só chamar. Voltam e chamam Renata para uma conversa reservada. O camafeu tem uma câmera oculta, pelo vídeo pedem que a amiga fale o que puder daquele mensageiro, para o caso de terem deixado passar alguma coisa (...) a brasileira entrega o jogo todo. Agora chega de salvar o mundo (...) precisam de suas vidas civis em dia para o que virá.

domingo, 26 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLVII

    O Senhor Conspiração. A estação 257 traz uma série de tensões e intenções dúbias que Patrícia precisa enfrentar. Embarquem, o trem vai partir.


Matthew há muito tempo tem deixado Naomi à vontade em seu trabalho, mas hoje um editor o chamou para ele ver o último texto da caçula. Ela fala do brexit de uma forma tão leve, que não parece ter o peso de conseqüências que terá...

- “Se você decide deixar sua casa, a rotina da sua família toda muda; se um lojista decide fechar as portas, as rotinas de muitas famílias mudam; se um pequeno país decide sair de um bloco, a rotina de vários países muda; mas quando a antiga (e ainda poderosa) maior potência do mundo decide sair, muda o mundo inteiro. Ninguém sai ileso, cada um precisará suportar as conseqüências que lhe cabem, mas faz muita diferença se você consegue simplesmente sair do grupo, em vez de abandoná-lo. Infelizmente há mágoa nessa separação, e gente magoada não raciocina muito bem. O que nós podemos fazer a respeito? Nos unir. Unidos, sentiremos menos os efeitos econômicos em cadeia que isso vai gerar, porque uma dissidência sempre é seguida de outras. Mas nos uniremos, ainda que motivados pelo medo do pior. Afinal, não somos os Estados Unidos?”... Caraca!

Liga para Renata, ela lê a coluna e repete a exclamação. Fabrícia (...) reage de modo mais enfático. Faz questão de traduzir, compartilhar e dizer que aquilo é obra de uma criança. Só quando os outros lêem, é que se dão conta de quem são os contactos íntimos da moça, o assédio fica perigoso a ponto de Sandra e Giovanni irem pessoalmente buscá-la, uma semana antes dos exames de rotina (...) sem nem dar tempo de ela fazer as malas, na frente de todo mundo na BYOP. Ela só passa em casa para pegar o passaporte e ruma ao aeroporto, quando se dá conta está em Sunshadow. Temiam que simpatizantes dos assassinos se aproveitassem do assédio (...) E já que está aqui, vamos antecipar os exames.

Compras rápidas para ela ter ao menos o que vestir, calçar e alguns cosméticos. As marroquinas a recepcionam com carinho, enquanto a ama e senhora da casa está com os comparsas em um trabalho complicado (...) O boicote que alguns artistas querem impor à banda, por não terem aceitado ir a Cuba com Obama, mesmo o próprio tendo compreendido os motivos, nem lhes toma a atenção. Agora precisam decidir se usam desde já o resort cultural em Marrakesh para salvar vidas, mas de modo discreto (...) Patrícia liga para Abu, lhe dá instruções pormenorizadas e avisa para manter malas sempre prontas. Isto foi parte do problema. O próximo é o Brasil, de novo!

Antes que as empreiteiras brasileiras comecem a ser espremidas e derramem lama pelo mundo inteiro, deixam pronto material para se resguardarem, porque muita gente próxima está envolvida (...) O último assunto é doméstico, mas faz parte de conseqüências globais por permissividades de chefes de Estado ao longo de vinte anos. Aquelas crianças que outrora tanto lhes suscitaram ternura, ao verem suas imagens pela televisão, se tornaram seres autoritários e inimigos de quem enxergue suas contradições, à moda das igrejas radicais, para defenderem os tiranos que consideram salvadores da humanidade. Os trabalhos terminam no fim da tarde, com os seis cansados. Precisaram falar com muita gente ao redor do planeta, avisar colaboradores e presidentes de suas empresas (...) Não se iludem, sabem que estão contrariando nações inteiras.

Tudo isso após terem despertado, lendo a coluna de Naomi (...) Quanto aos artistas que querem boicote, estão muito ocupados agindo no mundo real, para se importarem com quem romanceia regimes cruéis e acredita em utopias de jantares grátis. Renata deixa seus guias limparem o ambiente e vai com os outros para a Máquina de Costura, recepcionar Fabrícia. Lá está ela, com aquele barrigão enorme, prestes a dar de mamar e perder noites preciosas de sono. Chamam Eddie para a festa logo na manhã seguinte. Enquanto Fabrícia conhece Abigail, é observada por sua psiquiatra, que recebe mimos paralelos por sua gestação (...) Eis que, em uma conversa mais informal com sua terapeuta, ela vê acidentalmente uma matéria sobre um negro que, alegando saldar uma “dívida histórica”, violentou mais de cem mulheres brancas. Ela se descontrola e precisa ser amparada, afinal não estava bem como queria parecer. O estresse também antecipa o parto, ali mesmo, no jardim da Máquina de Costura. Raimundo e Francisco (...) são sunshadowers, com todas as regalias que um cidadão americano pode ter.

Sandra e Eddie descansam da emergência (...) Vão à maternidade para exames preventivos, mas pelo que a madrinha dos petizes aferiu, estão muito bem de saúde. A notícia corre, há protestos contra, todos inócuos ante a legalidade do nascimento. A mãe, ainda assustada, amamenta os rebentos sem ter olhos para mais nada. Os avós são trazidos para conhecerem os pequenos, saindo pela primeira vez do Brasil (...) Ela agora tem três meses de licença maternidade e dois filhos americanos, para justificar sua permanência prolongada sem precisar de complicações burocráticas. Os nomes dos meninos soam engraçados ao tabelião.

Para Patrícia é um céu. Há bebês na casa e os verá por bastante tempo, apesar dos seis shows marcados para o período. Um deles hoje, em Pittsburgh, onde fazem o ensaio oficial antes da sesta (...) Há um público ávido por um espetáculo musical e o terá. Eles voltam felizes para o hotel, onde a rotina do ritual de meio século ajudará a manterem o padrão de qualidade. Não houve entrevistas (...) por não quererem tocar em alguns assuntos no momento, como Raimundo e Francisco. À noite vão os vinte e quatro à arena, atiçando o público pelo caminho. Chegam e vêem um cartaz pedindo declarações sobre, justamente, Fabrícia e o conveniente nascimento de seus rebentos em território americano. Fazem sinal de que noutra oportunidade poderão falar a respeito, agora só querem cantar.

Mais do que cantar, interagem com o público como têm feito desde 1962, dando aos fãs a sensação de que são importantes para eles (...) Voltam a Sunshadow de manhã bem cedo, depois do treinamento diário e após um pequeno incidente. Dois cartazes deixados por encapusados durante a madrugada, em frente ao hotel, ambos contra Ronald e Rebeca; um acusando de corruptores da “raça negra”, outro de violentadores da “raça ariana”, este em particular citando Zsa-Zsa. Ronald não hesita em dizer que os dois responsáveis são iguais, membros de faces opostas de um mesmo grupo. Todos por perto ouvem, e os responsáveis não gostam de ser um comparado ao outro.

O Airtrain os leva para longe da polêmica que se instala e chega às redes sociais (...) têm outras preocupações para tomar seu tempo. Mas só amanhã, por hoje querem espairecer e aproveitar suas famílias. Robert de longe vê Mikomi e Sakura entretendo Adele, ao lago de carpas. Ela (...) está progredindo. Ela vai recepcionar o tio adoptivo...

- Tia Mikomi me ajudou a falar com gente no Japão. Lá agora é noite!

Terá um dia diferente do que imaginou, mas gostou da introdução (...) O motivo da visita é que a garota quis saber sobre cultura japonesa, Enya a trouxe e levou Hope consigo, para ela se dedicar com tranqüilidade às descobertas. Mikomi esperou ele chegar, para contar de como se conheceram, com a ajuda desinibida de Rebeca (...) De quebra aprende também a fazer os bolinhos de arroz. Volta para casa pensando na aparente facilidade com que os dois se escolheram e se entenderam, volta a ter esperanças de também encontrar seu par.

&

Strip e Spark brincam (...) enquanto Phoebe trata com Sandra e Giovanni dos detalhes das próximas viagens a shows...

- O senhor, consorte de nossa valorosa agente, terá que dar suporte mesmo sem saber o que está acontecendo. Se ela disser “acene para lá”, acene, entendeu?

- E se “lá” tiver uma parede?

- Todo mundo sabe que você é sem noção o suficiente para isso. Vamos pedir que Patrick te acompanhe, para não te levarem em uma camisa de força.

Conversam enquanto Rose, Serena, Aretha e Inga cercam Abigail (...) A chance de se passar por louco vem. Na saída de uma coletiva, Sandra cutuca o marido e ele acena para Patrick, que já instruído acena de volta, os dois se aproximam para improvisar uma conversa e ela pode sair com mais discrição, enquanto a mídia especializada espera pelas palhaçadas que eles sempre soltam.

Ela sai com a comparsa pelas ruas de Boston, em uma Silverado com os vidros escurecidos. Encontram seus contactos em uma oficina de customização (...) uma fachada do Pentágono para este fim. Tenente Sonya Berger se apresenta e as leva ao escritório (...) São o mais rápidas que podem, entregam o cristal de memória, a oficial confere as informações e vão as três buscar o protótipo...

- O que estão fazendo na picape do Benton – questiona Sandra?

- Ficaria estranho ela sair do jeito que chegou. Só vão trocar as rodas e passar um verniz flocado... e acrescentar alguns cvalos.

Fazem algumas coisas mais, para não perderem a prática, mas é coisa leve. Phebe entrega o protótipo funcional e já testado da ogiva anti-balística. Ela é colocada em um blindado travestido de Lincoln MKX e levado à base. As duas voltam ao hotel com quase a mesma discrição (...) a missão foi cumprida e elas podem agora se dedicar à parte mais saudável de suas vidas. Patícia e Rebeca as recebem com carinho, mesmo tendo sido uma missão simples, estava cercada pelos riscos de sempre. Estão acelerando as cooperações com o governo (...) o próximo presidente (...) vai desconhecer a organização enquanto não se mostrar digno, ou enquanto não for necessário.

Vão todos ao estádio, vistoriar e testar a acústica, para relaxar. Quando terminam com os testes e voltam ao hotel, lá está o velho Gardner, acompanhado de Josephine e um alto assessor da Casa Branca. Patrícia convida todos a subirem (...) Chegam ao andar, o rapaz diz o que os outros podem ouvir...

- A Rússia quer um show. O Senhor Presidente não vai se pronunciar, mas ele acha que isso pode ajudar a reaproximação em um futuro próximo... É isso.

Eles olham todos ao mesmo tempo, com caras de “Explique isso, mocinho”, deixando o homem tímido (...) Patrícia suspira, olha para os parceiros e passa a focar o pai e a madrinha. Richard se antecipa...

- Obama e Putin não querem que a população pague ainda mais caro pelos impasses diplomáticos, a apresentação de vocês em Moscou e, talvez, em São Petesburgo, facilitaria o entendimento, quando essa rixa terminar. Não que eu acredite neles, mas nós acreditamos em atenuar o sofrimento de uma população que há séculos sofre nas mãos de seus líderes.

Um suspiro longo, um “Meu Deus, por que eu” e ela decreta “Vocês três e vocês dois venham comigo, vamos falar directamente com Kremlin” (...) deixando até o representante do presidente de fora, diante daquelas caras bravas a exigir uma explicação mais convincente. Lá dentro (...) ela ouve do próprio presidente que seu voto em 1964, teria sido pela entrada da banda na União Soviética (...) Ele coloca toda a sua legendária habilidade e seu vasto cabedal geopolítico para convencê-la de que a estadia será tão agradável, que se esquecerá do incidente com os agentes em 1964...

- Eu sei que aquele atentado aéreo não partiu de você, Vladmir. Burrice é um defeito que passa longe de você, o ponto é outro; Eu sei que vai usar a passagem da banda pela Rússia em seu favor, perante a opinião pública, que vai soltar que as decisões da Casa Branca não encontram eco no seio do povo americano. Pode falar o que pretende, sou toda ouvidos... Pra cima de mim, Vladmir? Conta outra! Sim... Sim, ambos concordamos que o ocidente está cuspindo no prato em que comeu, abandonando seu alicerce, contraiu um medo imbecil de se assumir ocidental... Também sei desse partido pró pedofilia, estou com a mão no gatilho e a mira na cabeça de cada um deles... Certo, você encontrou nossos pontos de convergência, agora desembucha. Você ainda era um garoto, quando eu entrei nesta vida dupla... Ok, me convenceu. Vou falar com os outros e ver o que posso fazer, mas haverá um show em Tbilisi, mais tarde outro em Kiev, entendeu? E você conhece as regras, não conhece? Óptimo. Conversaremos novamente ainda hoje, no fuso horário de Boston. É mole?

- Você falando russo e ele inglês, foi hilário!

- Não brinca, Mascote... O cara conseguiu me chantagear legal! Vamos falar com os outros.

Nem quer tocar no ponto em que disse que estão investigando prováveis raízes russas da casa de Alander. Coloca a Culture Train na linha e explica a situação. Terão que fazer em escala menor, mas com muito mais intensidade, o serviço diplomático da Grande Turnê. Ainda liga pra Margvelashvili, combina um encontro ultra secreto com Putin, então liga de volta para o Kremlin e acerta tudo. Mandará os agentes russos estudarem as condições e começarão a planejar os shows...

- Meus queridos, eu só tenho uma coisa a dizer agora... Vamos comer e dormir, amanhã teremos um dia cheio. Sem mais. Você dorme aqui, hoje. Amanhã vocês três podem ir embora, depois de terem se alimentado, é claro. Vamos comer.

Enquanto dois chefes de Estado comemoram, sua alteza tenta retomar o resto de normalidade que sobrou deste dia. Apesar de tudo, o show da noite seguinte é o padrão Dead Train de qualidade (...) A imprensa ainda não sabe e não saberá até o último momento dos shows combinados ontem à noite, pelo menos até lá terão um mínimo de sossego, na sagrada dureza cotidiana.