As conspirações batem à porta. A estação 254 rascunha a delicada relação entre a ponta do iceberg e a montanha que os civis não enxergam. Todos à bordo, o trem vai partir.
Ronald e Rebeca são directos, se o parque
verde gigantesco que Dallas pretende construir sair do papel, eles farão o show
de inauguração de graça. Eles adoram ver sua terceira casa na América quebrar
os estereótipos preconceituosos que o senso comum alimenta; a segunda é o
Jose’s Hotel. Patrícia ainda fala da estrada de recarga por indução que o Texas
está planejando (...) Vêem Consuelo
entrar em um dia que não é o de seu trabalho. Ela está esfuziante, quase não
cabendo em seu corpo delgado. Seu trabalho de conclusão de curso foi amplamente
aceito, apesar dos protestos de radicais ideológicos. Citou dados,
exclusivamente dados, inclusive dos livros que há na biblioteca da faculdade,
não tiveram como refutar, só puderam roer os cotovelos.
Bem, ela conhece as regras (...) É carregada pelo jardim e jogada na piscina, onde os
seis pulam em seguida (...) Quando a sede de peraltices termina, voltam ao trabalho, desta vez
a parte maluca e saudável, a musical. Vêem com gosto a resposta que Aubrey deu
a um crítico musical, quando ele reclamou que os shows da banda são simples
demais para os padrões de hoje; sem espetáculos de luzes, sem telões com
efeitos especiais, sem explosões e sem dançarinos para animar o palco...
- Meu execrável DJ e crítico musical, você
deve estar confundindo as coisas. Estamos falando de uma banda da velha guarda,
não de uma rave em uma boate fechada. O espetáculo quem deve dar é o músico, não
um computador com algoritmos que escolhem refrões bobos; os efeitos especiais
devem acontecer é nos tímpanos e nos corações do público, porque é um show
musical, não um filme psicodélico; a única explosão de que eles necessitam é a
alegria que os fãs sempre dão de retorno; também é ele, o público, que dá o
show de dança na arena do concerto. Não vou me dignar a dar respostas à altura
de seus palavrões chulos, você é sozinho capaz de se dar conta de que está
falando de uma instituição musical que há décadas prescinde da mídia, a Dead
Train, não de cantores teleguiados que precisam do playback até para
cumprimentar a plateia. Sem mais por agora, foi um desprazer tê-lo conhecido,
DJ de smartphone.
Claro que ele responde, mas não directamente
a ela, sim em seu canal de vídeo, após desabilitar os comentários. Quem se
importa? O escritório central está cheio de trabalho, ela e a mãe precisam dar
conta de tudo. Em meio ao empobrecimento da pop music, uma banda que mantém o
nível desde 1962 atrai marcas refinadas e pedidos de cooperação (...) As duas terminam os assuntos de hoje e vão para o Jose’s
Hotel, de lá voam para Sunshadow. Trabalharão o resto da semana em casa, Nancy
já as espera no aeroporto, com Colleen e Natasha sob os braços. A brancura
extrema da menina ainda polariza as câmeras e inspira cuidados extras por parte
dos adultos.
As duas executivas finalmente chegam e as
acompanham até a chocolateria, onde a cena se repete como se fosse a primeira
vez...
- Dee!
- Mel!
As duas destrambelhadas correm atropelando
todo mundo, até se abraçarem cismologicamente, enquanto Nancy põe neta e
bisnetas à mesa e espera (...) Tudo anda na toada mansa da dureza cotidiana, da qual nenhum
sunshadower se priva. Em Boston os fãs esperam pelo show de sábado, nunca há
dois iguais, uma canção tocada agora pode levar anos para se repetir em outra
apresentação, o repertório permite esse luxo.
&
Um jovem caucasiano de corte moicano, é preso
pouco antes da coletiva. A resposta que Aubrey deu ao crítico ainda repercute,
mas o assunto é interrompido por um repórter mais bem informado, que avisa
sobre a prisão de um jovem armado, que afirma ouvir vozes que mandam eliminar
Sandra. A organização investiga o elemento, descobre que ele abandonou o
tratamento psiquiátrico há dois anos e tem uma obsessão pelos vídeos do
atentado à brasileira (...) iria ao show justo oferecer um imprevisto que
lhe custaria a vida. Mas tem show sim, e se reclamar tem saideira! E tem mesmo.
Chegam a Sunshadow evitando comentar sobre a tentativa de atentado, mas logo se
lembram quando vêem o pai da moça. Ela vai do aeroporto para a casa de
solteira, com toda a comitiva. É ali a menos preocupada com o episódio, mas não
adianta dizer isso aos outros, não agora.
O que a preocupa no momento é o aumento da
popularidade de regimes autoritários, que se valem da censura interna para
evitar qualquer desmentido e aproveitam os sabotadores internos das democracias
para parecerem os bonzinhos da história. Além é claro dos idiotas que são
agredidos por radicais e pedem desculpas por isso. Os outros a olham e ela
reafirma tudo. Nada em sua vida a preocupa, os problemas de alcance mundial é
que sim. Sua vida é perfeita! Sua casa é um paraíso na Terra, seus negócios
valem seu rabalho e sua carreira musical é um sonho muito além dos de sua
infância...
- Oito não deram conta de mim, atacando de
surpresa, por que vou temer um só?
Não se esqueceram (...) da fúria com que eliminou todos os agressores. Deixam
os dias diluírem a tensão, ajudando com visitas quase diárias à casa dos pais.
Na volta passam pela Máquina de Costura e deixam Inga brincando com Belize, há
alguns assuntos da organização que a moça precisa tratar com a madrinha. Foi
rápido, mas assim que saem encontram a sala repleta de crianças, para o deleite
da diva. As mães vieram ver com mais intimidade como está Sandra (...) acabam todas ficando por horas em meio às suas crias.
Prudence aparece com o retrato de um dos
inimigos declarados da banda, mostra para Sandra, memoriza sua expressão de
fúria e corre de volta para casa. Agora já sabe como descreverão uma personagem
que vai flagrar o marido com outra. Na Máquina de Costura ficam caras de
paisagem (...) As duas preenchem uma
página inteira só para descrever a cara de loba furiosa, e outra para descrever
as caras de pavor ante a morte iminente. À noite concluem a cota de produção de
hoje, vão ver alguma bobagem inofensiva para descansar seus cérebros. A manhã
seguinte, após o treinamento, Patrícia as interpela (...) quer
evitar desastres...
- Vamos fazer um paralelo entre um caipira
que encontra um carro pela primeira vez e não sabe o que fazer com ele, e um
político deslumbrado com o poder, os dois vão ser manipulados pelos outros, mas
vão pensar que são os donos da situação – diz Elizabeth.
- interessante! A alegoria é muito boa...
Mas, pretendem fazer algum laboratório para isso?
- Então... A gente precisa saber como animais
que não estão acostumados, reagiriam a um automóvel invadindo seu território,
então...
- Parada aí, Prudence! Eu vou conseguir
alguns vídeos para vocês estudarem, vocês não vão fazer laboratório nenhum!
Hoje mesmo vocês recebem os links.
Dito e feito. Ainda de manhã as duas têm
algumas dezenas de vídeos dos anos 1920 até hoje (...) Durante o trabalho, enquanto os
amigos rolam de rir, Patrícia explica o que exactamente quis evitar (...) Sabaya aparece com uma documentação
que lhe pediram, vira-se para se retirar, mas é detida pela avó...
- Eu ainda sou só escritora! A Aisha é
escritora, executiva e agente secreta, a gente quase não conversa mais! Faz uma
data que temos um romance esperando pra começar, porque ela não tem mais tempo
pra trabalhar comigo!
Responsabilidades de quem precisa controlar
um clã inteiro. Promete falar com as duas assim que ela voltar da loja, mas até
lá quer que desfaça essa cara de enterro. Espera a garota sair, se vira para os
outros e pergunta o que fazer (...) As três ralmente conversam, mas tudo ainda fica na promessa e na
estratégia de Aisha, que pede à irmã para fazer esboços da trama, enquanto ela
rascunha algo entre um negócio e outro (...) Agora precisa ir, tem alguns elementos perigosos na mira,
precisa ficar de olho neles até que mostrem suas garras.
&
Tentam pressionar Patrícia, querem que
confesse que está tramando contra eles. Não só não funciona, como o tiro sai
pela culatra. O motivo da polêmica secreta é a novela de Elizabeth e Prudence, que
fez chefes de Estado e de serviços secretos se enxergarem em muitas passagens (...) A primeira conseqüência
é que todas as obras das irmãs são banidas de alguns países, a segunda é que
elas foram banidas de alguns países, a terceira é que o mercado negro de
artigos proibidos ganha mais um ítem para lucrar. Alguns espiões e ex agentes
se identificaram, alguns daqueles suicídios ainda ecoam em seus ouvidos. A
imprensa não perdoa, na coletiva do show seguinte, que nem estava prevista, mas
eles atazanaram a equipe de apoio, tocam no assunto...
- Eu já imaginava que fossem perguntar por
isso. Certo, quantas democracias fizeram isso? Quantas? Nenhuma. Minhas filhas
podem parecer meio malucas para vocês, que não as conhecem, porque quem as
conhece tem certeza, mas estão fazendo um trabalho sério. Elas fazem
laboratórios para descreverem com consistência as cenas, até estudaram
metalurgia!
- Mas há rumores de que elas revelaram altos
segredos de Estado!
- A novela delas é uma obra de ficção,
qualquer semelhança com pessoas e eventos reais é mera coincidência. Apesar de
darem uma aula de história da América, como pano de fundo, o que elas fazem é
ficção. Se eles tinham segredos a guardar, fizeram o desfavor a si mesmos de
alarderar que há semelhanças entre algumas cenas e operações secretas. Não se
pode fazer nada por um idiota que pratica teimosamente sua idiotice.
A CIA fica calada (...) mas
agradece pela histeria instalada, agora sabe onde procurar. As irmãs também
estão cercadas pouco tempo depois por jornalistas, paparazzi e arremedos de
imprensa, querem saber como se sentem, proibidas de entrar em vários países,
que nunca visitaram e onde nunca pensaram em colocar seus pés (...) Fester e Mikomi
estão por perto, com seus smartrains ligados, para Nancy ouvir e poder agir em
tempo hábil. Está ocupada na fundação, mas vai ver as netas assim que terminar.
Não demora a entrarem em polêmicas e sugerir que elas estariam prejudicando as
boas relações exteriores do país, Elizabeth responde “Mostre como” e eles se
enrolam, começam com “respeito pelas culturas locais” e salpicam “você não acha
que” no discurso. Ela se encarrega de findar o assunto...
- O máximo que podem nos acusar é crime de
opinião, que em nosso país não existe. Vamos voltar pro trabalho, Proo.
- Vou com vocês.
Viram-se e vêem Nancy abrindo caminho no meio
daqueles bisbilhoteiros. Lá dentro as duas desabafam, estão irritadas (...) Compreendem agora a postura autoritária da mãe diante da imprensa,
se deixassem as fariam queimar os próprios livros (...) Durante o
curso de conspirações internacionais, elas aprenderam como a manipulação da
imprensa e pela imprensa, pode fazer um ditador parecer um herói. Vão utilizar
mais esta tecla, ela está praticamente intocada. Lá fora Henry faz a média com
a banda e converge para os provocadores a entrevista forçada, começando com
“Quem encomendou a pauta?”.
Fester liga para a sobrinha, que dá o recado
a Sandra...
- Nossa, ele quer mesmo ficar bem na fita com
a gente! Vou falar com ele na volta.
Voltam ao ensaio, têm um show para
desestressar, nesta noite. Carly teve um gostinho especial, um clube de pin-ups
vai comparecer em peso em sua homenagem, com todos vestidos a caráter. Cerca de
cem membros vestidos como nos anos 1940 estão lá (...) apreciando o repertório do último álbum
para se anestesiarem um pouco do pandemônio em que o mundo mergulhou. Todos ali
precisam disso, mas vintagistas mais ainda.
0 comentários:
Postar um comentário