segunda-feira, 6 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCXXXVIII

    A descendência. A estação 238 rascunha a luz e as sombras de quem constrói um mundo melhor. Embarquem, o trem vai partir.


Os outros não vêem nada (...) mas a instrumentação acusa o deslocamento do aparelho na ordem de milésimos de milímetros, à velocidade teoricamente impossível de Lux 2,3. Nem o estrondo supersônico se produziu porque o aparelho não se deslocou, o espaço à sua frente é que veio. Foi só um pulso fraco de um protótipo ainda rudimentar feito apenas para ver se a teoria funciona...

- Eu não acredito que vivi para ver isto acontecer – exclama o cientista!

- Este deslocamento tão pequeno então confirma as teorias dela?

- Parece pequeno, Jose, mas em escala atômica é uma distância gigantesca, principalmente porque foi dado um único pulso. Se no momento em que começou a se mover, ele tivesse mandado um sinal de rádio para o ponto de chegada, ele teria chegado antes do sinal.

- E assim seria algo como uma máquina do tempo – completa o velho Gardner. E eu tão entusiasmado com minhas turbinas! Phee, Ricky, vamos reescalonar tudo. Vamos fabricar foguetes espaciais, este motor de dobra terá nos nossos testes a camuflagem perfeita.

Posto que só ela sabe como fazer aquele propulsor, Phoebe dá o motor de presente para o cientista (...) Voltam para a cidade e Richard avisa às pessoas que não se assustem com acontecimentos estranhos, porque vai investir na indústria aeroespacial, principalmente propulsores, que são sua especialidade. O sucesso das turbinas é alardeado pela imprensa especializada como estopim para algo que parece ser um sonho antigo e “A julgar pelo que os productos do velho Gardner fazem com os carros, teremos naves ultrapassando a velocidade da luz”. Mas (...) a ação nos bastidores da geopolítica é o que mais motiva a organização a apoiar as pesquisas de Phoebe. A moça tem um lampejo, a Gardner poderia fomentar o mercado de conversões e de pequenos constructores, oferecendo cursos para tanto...

- Por que não? Ricky, veja isso na Culture train. Ela sempre tem essas idéias repentinas.

- Falo com eles agora mesmo... Que cursos pretende?

- Completo! Motores a combustão, eléctricos, a vapor, a corda, a moinho de vento... Tudo.

Para ela, e para a surpresa do físico, tudo não passa de um dia normal na vida (...) E lá está à porta da Máquina de Costura, a genitora orgulhosa por seu rebento, que inventou mais uma coisa que não faz a mínima idéia do que possa ser (...) O físico percebe que a lida com assuntos complexos da ciência e da philosophia, ao que lhe parece, é absolutamente normal para aquela cidade, especialmente para aquela jovem que poderia ser sua neta.

A dureza cotidiana corre placidamente entre polêmicas, ataques verbais de inimigos impotentes, salvamentos do mundo e crianças crescendo aceleradamente. Marcia trata de ajudar a ensinar responsabilidade às netas, mas também as faz se lembrarem o tempo todo de que ainda são crianças. Vai ter com Kurt sobre o comportamento delas em suas aulas e encontra mãe e sogra à sua espera...

- Você definitivamente está igualzinha à minha mãe!

- Você está se impondo um sofrimento inútil, minha filha.

- Eu não quero que elas cresçam cedo demais, já chega a Phee!

- Elas não vão crescer cedo demais, só estão adicionando uma carga muito mais rica às suas infâncias – responde Kurt. Elas conseguem brincar com as outras crianças naturalmente.

- “Naturalmente” como? Elas bancam as professoras?

- Sim... Em casa também?

- Em casa também... Não é brincadeira no sentido de brincar brincando, elas brincam a sério! Igual à mãe! Já notou o tamanho delas? Daqui a pouco não consigo carregar mais...

- Isso é verdade, mas não é necessariamente ruim – diz Renata.

- Você pode resolver seu problema em lidar com isso – diz Kurt. Encha lugares onde elas gostam de ficar com coisas bonitas, lúdicas e coloridas. É o que eu faço. Elas têm bonecas de papel?

- Elas fazem suas próprias bonecas de papel! O que elas fazem com lápis de cor, muita gente não faz com óleo sobre tela! São dezenas de vários tamanhos e estilos, com milhares de roupinhas organizadas em um baú! Você não tá entendendo, Kurt!

Ele quer ver isso. Ele e as bisavós das pequenas. E o que vêem é impressionante. A mãe das meninas não faz idéia do que se passa em sua casa (...) que Gina levou todo o corpo de estilistas para ver aquilo, e que não consegue não babar. A primeira conclusão é que é uma boa idéia fazer bonecas de papel das roupas mais famosas e do prèt-a-porter da Maison, a segunda é que aqueles dois talentos não podem ser desperdiçados, a terceira é que a avó das gêmeas terá que brincar mais com elas para não surtar.

Chegando feliz com o marido, Phoebe recebe a notícia de que algumas daquelas roupinhas (...) vão virar roupa de verdade (...) Olha para as duas e elas estão se entretendo com alguns cálculos topológicos, a partir dos quais desenharão as próximas roupinhas. O que ela faz? Vai brincar com as filhas. Busca Aretha, traz para junto e ajuda a rascunhar aqueles cálculos, depois a desenhar, pintar e recortar as peças (...) Enquanto ela brinca, cientistas da organização conseguem modelar um grande facho de luz, fazendo parecer que um espírito humano está passeando solto pelo laboratório, sobre a base geradora. Ligam para Star e dão a notícia do que será em breve a comunicação restrita da cúpula.

&

Patrícia termina de passar instruções a um première que acaba de descobrir que é um garotinho no mundo das conspirações internacionais. Ele terá que pedir muitas desculpas e se livrar de alguns aliados (...) Desta vez pôde ajudar sem criptografar e sem usar o canal reservado, o que lhe permitiu ao mesmo tempo dar à prole uma amostra do que é ser chefe de Estado. Nem mesmo os tiranos podem fazer o que querem (...) Precisa-se de muita gente alinhada para manter-se no poder, mas muita mesmo! Não foi uma conversa longa, mas foi tensa. O chanceler está encurralado dentro de seu próprio reduto, precisa de toda ajuda que conseguir. Elizabeth levanta o dedo...

- Mom... O que vai acontecer com ele, seja quem for?

- Ele vai sair vivo disso. O problema é que as pessoas com quem se coligou eram só fantoches de canalhas que querem voltar ao poder a qualquer preço, por isso precisa livrar-se de tantos quantos for possível o quanto antes... Talvez tenha sim que matar alguns... Motivos para isso não faltam, à luz da legislação daquele país, resta ele conseguir enquadrar todos antes que possam reagir. Não me olhem assim, é como as coisas funcionam, às vezes as vítimas foram as primeiras a defender a lei que as vitima.

Percebem que ela está acostumada a lidar com mortes trágicas, não só as que motivaram seus lutos. Ela volta ao piano e retoma a melodia que estava criando (...) Sandra chega com Inga e Giovanni, toma conhecimento e também lamenta, mas é só assim que o mundo funciona. E é por isso que está desabando...

- Acostumem-se, porque vai ficar mais escancarado com o tempo – completa a brasileira.

A proeminência abdominal já é indisfarçável, passou a usar as camisas soltas, maiores e mais opacas. Espera a madrinha concluir seu trabalho musical para ir ter consigo. Quer mostrar a photo do pai, quando viu a imagem tridimensional do feto...

- Oh, ele se desmanchou todo... Eu não sou capaz de mensurar a felicidade dele, esse choro não é tudo. Mas ele vai se soltar... Você soube que Darifa está grávida?

Ela sabe que ninguém mais soube, juntam-se todas ao seu redor (...) Nem parece que há não mais do que uma hora, ela aconselhou um chefe de Estado a usar táticas de máfia para combater uma máfia (...) Foi o mal menor.

À noite ela liga para Ronald, más notícias de Charlotte derrubaram seu ânimo. Ele precisa de um pouco e ela o providencia, não só lembrando de o quanto eles trabalharam para evitar tudo isso, mas como esse trabalho evitou que toda essa pólvora explodisse antes e com mais força. Seu empenho surte efeito, mas desgasta sua figura já cansada. Pensa em ir para ao coreto, quando vê a mãe chegar e apontar para o sofá. A mulher mais poderosa e perigosa do mundo precisa do colo da mãe e o terá pelo tempo que for necessário. Aos poucos Patrícia deixa de pensar nos desastres iminentes (...) Divide com a mãe seus pensamentos e planos para a nova geração da família, os cuidados que está tomando para garantir seu crescimento saudável e a estrutura que está construindo para terem por onde começar.

Aisha e Lady Spy observam juntas a cena, do alto da escadaria (...) A garota gostaria de ter conhecido Nancy há quarenta anos, ver in loco seus métodos para controlar a prole em crescimento. Ainda é uma mulher bonita, com toda a classe que o tempo esculpiu em sua postura. Permanece incógnita até a avó demonstrar que está melhor (...) ajudou como pôde, com seus contactos pelo país, mas a extensão da responsabilidade que aquela mulher carrega, às vezes chega a ser desumana. Assim que está no raio de alcance daqueles braços longos e tonificados, é puxada para o meio e a gata aproveita para se enfiar lá também. Contam-lhe do episódio em que Nancy vestiu aquela minissaia estampada curtíssima, arrancando risos sonoros...

- Não se deixe iludir pelos maldosos, amor da vovó. O planeta em si está melhor do que antes, o mundo perverso é que se esforça em fazer parecer que está pior, para tentar consumir suas esperanças.

- Eu sei, mas não posso fingir que às vezes não tenho vontade de torcer o pescoço de alguém.

- Todos nós temos – diz Nancy. É o controle sobre a vontade que te faz adulta, não a idade.

A poucas quadras dali, Rebeca realiza com Zsa-Zsa o plano que teve para Soishiro. Dá à menina uma mini moto eléctrica idêntica à sua Fat Boy, com sampler do ronco do V2. Filma a pequena se esbaldando no brinquedo e manda para a internet de Sunshadow. A mundial ainda vai esperar até a pequena estar grandinha.

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