A descendência. A estação 238 rascunha a luz e as sombras de quem constrói um mundo melhor. Embarquem, o trem vai partir.
Os outros não vêem nada (...) mas a instrumentação acusa o deslocamento do
aparelho na ordem de milésimos de milímetros, à velocidade teoricamente
impossível de Lux 2,3. Nem o estrondo supersônico se produziu porque o aparelho
não se deslocou, o espaço à sua frente é que veio. Foi só um pulso fraco de um
protótipo ainda rudimentar feito apenas para ver se a teoria funciona...
- Eu não acredito que vivi para ver isto
acontecer – exclama o cientista!
- Este deslocamento tão pequeno então
confirma as teorias dela?
- Parece pequeno, Jose, mas em escala atômica
é uma distância gigantesca, principalmente porque foi dado um único pulso. Se
no momento em que começou a se mover, ele tivesse mandado um sinal de rádio
para o ponto de chegada, ele teria chegado antes do sinal.
- E assim seria algo como uma máquina do
tempo – completa o velho Gardner. E eu tão entusiasmado com minhas turbinas!
Phee, Ricky, vamos reescalonar tudo. Vamos fabricar foguetes espaciais, este
motor de dobra terá nos nossos testes a camuflagem perfeita.
Posto que só ela sabe como fazer aquele
propulsor, Phoebe dá o motor de presente para o cientista (...) Voltam para a cidade e Richard avisa às pessoas que não se assustem com
acontecimentos estranhos, porque vai investir na indústria aeroespacial,
principalmente propulsores, que são sua especialidade. O sucesso das turbinas é
alardeado pela imprensa especializada como estopim para algo que parece ser um
sonho antigo e “A julgar pelo que os productos do velho Gardner fazem com os
carros, teremos naves ultrapassando a velocidade da luz”. Mas (...) a ação nos bastidores da
geopolítica é o que mais motiva a organização a apoiar as pesquisas de Phoebe.
A moça tem um lampejo, a Gardner poderia fomentar o mercado de conversões e de
pequenos constructores, oferecendo cursos para tanto...
- Por que não? Ricky, veja isso na Culture
train. Ela sempre tem essas idéias repentinas.
- Falo com eles agora mesmo... Que cursos
pretende?
- Completo! Motores a combustão, eléctricos,
a vapor, a corda, a moinho de vento... Tudo.
Para ela, e para a surpresa do físico, tudo
não passa de um dia normal na vida (...) E lá está à porta da Máquina
de Costura, a genitora orgulhosa por seu rebento, que inventou mais uma coisa
que não faz a mínima idéia do que possa ser (...) O físico percebe que a lida com assuntos complexos da ciência e
da philosophia, ao que lhe parece, é absolutamente normal para aquela cidade,
especialmente para aquela jovem que poderia ser sua neta.
A dureza cotidiana corre placidamente entre
polêmicas, ataques verbais de inimigos impotentes, salvamentos do mundo e
crianças crescendo aceleradamente. Marcia trata de ajudar a ensinar
responsabilidade às netas, mas também as faz se lembrarem o tempo todo de que
ainda são crianças. Vai ter com Kurt sobre o comportamento delas em suas aulas
e encontra mãe e sogra à sua espera...
- Você definitivamente está igualzinha à
minha mãe!
- Você está se impondo um sofrimento inútil,
minha filha.
- Eu não quero que elas cresçam cedo demais,
já chega a Phee!
- Elas não vão crescer cedo demais, só estão
adicionando uma carga muito mais rica às suas infâncias – responde Kurt. Elas conseguem
brincar com as outras crianças naturalmente.
- “Naturalmente” como? Elas bancam as
professoras?
- Sim... Em casa também?
- Em casa também... Não é brincadeira no
sentido de brincar brincando, elas brincam a sério! Igual à mãe! Já notou o
tamanho delas? Daqui a pouco não consigo carregar mais...
- Isso é verdade, mas não é necessariamente
ruim – diz Renata.
- Você pode resolver seu problema em lidar
com isso – diz Kurt. Encha lugares onde elas gostam de ficar com coisas
bonitas, lúdicas e coloridas. É o que eu faço. Elas têm bonecas de papel?
- Elas fazem suas próprias bonecas de papel!
O que elas fazem com lápis de cor, muita gente não faz com óleo sobre tela! São
dezenas de vários tamanhos e estilos, com milhares de roupinhas organizadas em
um baú! Você não tá entendendo, Kurt!
Ele quer ver isso. Ele e as bisavós das
pequenas. E o que vêem é impressionante. A mãe das meninas não faz idéia do que
se passa em sua casa (...) que Gina levou todo o corpo de estilistas para ver aquilo, e que não consegue
não babar. A primeira conclusão é que é uma boa idéia fazer bonecas de papel
das roupas mais famosas e do prèt-a-porter da Maison, a segunda é que aqueles
dois talentos não podem ser desperdiçados, a terceira é que a avó das gêmeas
terá que brincar mais com elas para não surtar.
Chegando feliz com o marido, Phoebe recebe a
notícia de que algumas daquelas roupinhas (...) vão virar roupa de verdade (...) Olha para as duas e elas estão se entretendo com
alguns cálculos topológicos, a partir dos quais desenharão as próximas
roupinhas. O que ela faz? Vai brincar com as filhas. Busca Aretha, traz para
junto e ajuda a rascunhar aqueles cálculos, depois a desenhar, pintar e
recortar as peças (...) Enquanto ela brinca, cientistas da organização conseguem modelar um grande
facho de luz, fazendo parecer que um espírito humano está passeando solto pelo
laboratório, sobre a base geradora. Ligam para Star e dão a notícia do que será
em breve a comunicação restrita da cúpula.
&
Patrícia termina de passar instruções a um
première que acaba de descobrir que é um garotinho no mundo das conspirações
internacionais. Ele terá que pedir muitas desculpas e se livrar de alguns
aliados (...) Desta
vez pôde ajudar sem criptografar e sem usar o canal reservado, o que lhe
permitiu ao mesmo tempo dar à prole uma amostra do que é ser chefe de Estado.
Nem mesmo os tiranos podem fazer o que querem (...) Precisa-se de muita gente alinhada para
manter-se no poder, mas muita mesmo! Não foi uma conversa longa, mas foi tensa.
O chanceler está encurralado dentro de seu próprio reduto, precisa de toda
ajuda que conseguir. Elizabeth levanta o dedo...
- Mom... O que vai acontecer com ele, seja
quem for?
- Ele vai sair vivo disso. O problema é que
as pessoas com quem se coligou eram só fantoches de canalhas que querem voltar
ao poder a qualquer preço, por isso precisa livrar-se de tantos quantos for
possível o quanto antes... Talvez tenha sim que matar alguns... Motivos para isso
não faltam, à luz da legislação daquele país, resta ele conseguir enquadrar todos
antes que possam reagir. Não me olhem assim, é como as coisas funcionam, às
vezes as vítimas foram as primeiras a defender a lei que as vitima.
Percebem que ela está acostumada a lidar com
mortes trágicas, não só as que motivaram seus lutos. Ela volta ao piano e
retoma a melodia que estava criando (...) Sandra chega com Inga e Giovanni, toma conhecimento e também lamenta,
mas é só assim que o mundo funciona. E é por isso que está desabando...
- Acostumem-se, porque vai ficar mais
escancarado com o tempo – completa a brasileira.
A proeminência abdominal já é indisfarçável,
passou a usar as camisas soltas, maiores e mais opacas. Espera a madrinha
concluir seu trabalho musical para ir ter consigo. Quer mostrar a photo do pai,
quando viu a imagem tridimensional do feto...
- Oh, ele se desmanchou todo... Eu não sou
capaz de mensurar a felicidade dele, esse choro não é tudo. Mas ele vai se soltar...
Você soube que Darifa está grávida?
Ela sabe que ninguém mais soube, juntam-se
todas ao seu redor (...) Nem parece que há
não mais do que uma hora, ela aconselhou um chefe de Estado a usar táticas de
máfia para combater uma máfia (...) Foi o mal menor.
À noite ela liga para Ronald, más notícias de
Charlotte derrubaram seu ânimo. Ele precisa de um pouco e ela o providencia,
não só lembrando de o quanto eles trabalharam para evitar tudo isso, mas como
esse trabalho evitou que toda essa pólvora explodisse antes e com mais força.
Seu empenho surte efeito, mas desgasta sua figura já cansada. Pensa em ir para
ao coreto, quando vê a mãe chegar e apontar para o sofá. A mulher mais poderosa
e perigosa do mundo precisa do colo da mãe e o terá pelo tempo que for
necessário. Aos poucos Patrícia deixa de pensar nos desastres iminentes (...) Divide com a mãe seus pensamentos e planos para a nova geração da família, os
cuidados que está tomando para garantir seu crescimento saudável e a estrutura
que está construindo para terem por onde começar.
Aisha e Lady Spy observam juntas a cena, do
alto da escadaria (...) A garota gostaria de ter conhecido Nancy há quarenta anos, ver
in loco seus métodos para controlar a prole em crescimento. Ainda é uma mulher
bonita, com toda a classe que o tempo esculpiu em sua postura. Permanece
incógnita até a avó demonstrar que está melhor (...) ajudou como pôde, com seus
contactos pelo país, mas a extensão da responsabilidade que aquela mulher
carrega, às vezes chega a ser desumana. Assim que está no raio de alcance
daqueles braços longos e tonificados, é puxada para o meio e a gata aproveita
para se enfiar lá também. Contam-lhe do episódio em que Nancy vestiu aquela
minissaia estampada curtíssima, arrancando risos sonoros...
- Não se deixe iludir pelos maldosos, amor da
vovó. O planeta em si está melhor do que antes, o mundo perverso é que se
esforça em fazer parecer que está pior, para tentar consumir suas esperanças.
- Eu sei, mas não posso fingir que às vezes
não tenho vontade de torcer o pescoço de alguém.
- Todos nós temos – diz Nancy. É o controle
sobre a vontade que te faz adulta, não a idade.
A poucas quadras dali, Rebeca realiza com Zsa-Zsa
o plano que teve para Soishiro. Dá à menina uma mini moto eléctrica idêntica à
sua Fat Boy, com sampler do ronco do V2. Filma a pequena se esbaldando no
brinquedo e manda para a internet de Sunshadow. A mundial ainda vai esperar até
a pequena estar grandinha.
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