O mundo desmorona, o Brasil despenca. A estação 244 mostra mais alguns tijolos em queda, então saiam de baixo e embarquem, o trem vai partir.
E o deputado é pego na malha fina. Suas
propriedades em nome de laranjas foram facilmente rastreadas, com a cooperação
da receita federal americana. Imediatamente ele propõe um projecto de lei para
“expatriar traidores da pátria”, o que incluiria “ataques injustificados” a
autoridades nacionais em qualquer tipo de divulgação, midiática ou conversas
informais (...) A imprensa logo vai bater à porta de quem desconfia ser o alvo dessa
vingança parlamentar...
- Ah, ele quer me manter fora do Brasil?
Pergunte se quer também que meus investimentos saiam de lá. Sem mais. Boa
tarde.
Agora a situação se inverte e a imprensa
brasileira, que até então via aquilo como só mais uma estupidez política,
relata a real extensão de uma decisão como essa (...) Elias, com o rebento brincando
por perto, se sente cada vez menos brasileiro, sente-se traído pelo país. A
todo momento lhe diziam que só não estava bem de vida porque não aceitou ser
minimamente corrupto, dentro dos “padrões aceitáveis” da sociedade brasileira.
Quase morreu com a filha com causa desses padrões.
Observa o menino pintar um quadro de madeira
com tinta dourada, dividida em três potinhos com quantidades diferentes de
cinza na mistura. Claro que ele se pinta todo, mas consegue reproduzir em arte
pueril a praça do trem morto, só com tons de dourado. No Brasil ele seria
pressionado e até agredido para jogar futebol. Ele se lavanta, comenta sobre a
obra e a deixa secar à sombra, depois leva o pequeno para um banho necessário.
Enya observou da escrivaninha da suíte (...) Ama aquele homem pequeno e
taciturno, não imagina outro com quem dividir diariamente a cama, tampouco para
servir de modelo para sua prole. Na Máquina de Costura a placidez não é tão
presente (...) Ninguém pode
dizer que a organização não avisou, preferiram discursos ideológicos à
apresentação de factos consumados. Se pensavam que a América estaria ruim, o
que espera pelo Brasil no futuro próximo está à beira de uma guerra civil.
Renata chega para saber se Patrícia tem
alguma notícia concreta a respeito do que os espíritos lhe disseram...
- Sim, há riscos de uma guerra civil, minha
amiga. As massas de manobra estão se tornando milícias que, graças a Deus,
ainda não estão armadas; não totalmente. O ódio que você vê nas redes sociais
não se compara ao tratamento que eles dão a quem os contraria.
- O que a gente pode fazer? Só rezar não sei
se vai dar muito resultado...
- Não vai. Há um grupo cego querendo uma
intervenção para qual os militares até fazem sinal da cruz, outro igual
idolatrando e romantizando ditaduras ideológicas que... já falei delas para
vocês... A gente vai fazer o que puder, mas interferir directamente na política
de um país, significaria tomar indirectamente o poder... Hey, o Brasil é um
país enorme e muito eterogêneo! Não existe chance de um conflito interno se
espalhar...
Mesmo assim precisa acolher a amiga. Lady Spy (...) só consegue
perceber algo parecido com um sentimento de perda muito cara. A leva para o
coreto, onde as flores vão ajudar a acalmá-la. Mas é em casa que tem o consolo,
de sua caçula, já bem alta para a idade, que oferece o colo para ela descansar
sua cabeça preocupada. A menina fica em silêncio, apenas acolhe e acaricia a
mãe como se fosse sua filha. Ela fica bem (...) cumpre
normalmente com suas atribuições de pop star (...) mas a preocupação com o Brasil
persiste.
Elias chega para falar a respeito com a
prima. Ele também tem conhecimento dos riscos, mas foi apelidado de “General
Monteiro” não à toa...
- Tem muita gente consciente disso. As
próprias forças armadas estão prontas para quando isso acontecer, para evacuar
áreas rapidamente, retirar civis da linha de combate... Não vai haver o
derramamento de sangue que aqueles doentes ideopatas querem para dramatizar uma
“revolução”. Enquanto eles se digladiam, nós nos preparamos para minimizar os
efeitos de um conflito interno. Não se preocupe tanto, eu estou agindo com
muita gente. Os custos de implementação da BYOP não são altos só por causa da
tecnologia. Vai, desfranze essa testa.
Ela sorri. Abraça o primo e sai dançando com
ele pela casa, já repleta de esperanças, embora triste pela situação de seu
país.
&
Sai em uma revista especializada e a casa de
solteira de Patrícia tem a frente coalhada de repórteres (...) O
transatlântico híbrido é uma sensação no mundo náutico, tanto quando os
estimados cem milhões de dólares que o proprietário investiu na transformação.
O valor preciso ele se recusou a divulgar, e Richard é que não vai fazê-lo...
- Que algazarra é essa à minha porta?
- Senhor Gardner, sobre o transatlântico... O
que o senhor fez, exactamente?
- Por que não foi divulgado antes?
- Quanto custou...
- SILÊNCIO! Um de cada vez.
Deu medo. Eles recomeçam a perguntar e
Richard mal acredita na infantilidade das perguntas. Procura ser o mais
didático possível, para corresponder ao baixíssimo nível de conhecimento
predominante...
- Mas não vai dar choque?
- E você pensa que submarinos convencionais
usam o quê, quando submersos? Baterias!
Por mais que tente, não consegue não fazê-los
parecerem completos idiotas. Assim que consegue dispensá-los, volta para
dentro, tem alguns petizes para inciação à ciência e tecnologia (...) Mesmo tratada como retardada, essa
imprensa alardeia o feito como uma grande conquista tecnológica, chama artistas
da moda (...) e conseguem patrocínios de marcas que nada têm a ver com o feito de engenharia.
O proprietário e sua família estão muito felizes (...) Autonomia em alto mar é essencial, em casos de emergência pode ser
a diferença para a sobrevida.
Fester aparece mais tarde, quer uma matéria
decente sobre o assunto, não agüentou ler asneiras hollywoodianas nos
tabloides. Assim que entra, a casa reconhece seu smartphone e toca o tema da
Família Adams. Ele distribui a matéria para os outros e detalhes técnicos em
linguagem popular são lidos à tarde (...) Até a revista que fez a
matéria do transatlântico pede para reproduzir o artigo. Patrícia ri
generosamente, gostaria que o pai estivesse com eles em algumas coletivas,
seria muito engraçado ele colocar ordem no pardieiro. Os seis choram de rir e
voltam bastante relaxados ao trabalho corporativo.
Lá fora, Sanaa com Lana, Suha com Emmanuelle,
Amina com Roberta e Ava entretém Darifa, Fabrícia e as solteiras. Consuelo
aproveita a deixa para testar sua vocação professoral (...) Assim que terminam com o tédio
executivo, os seis saem da biblioteca (...) Phoebe, Elizabeth e Prudence decidem aumentar a creche e levam
seus rebentos também. Com as cortinas da frente devidamente fechadas, a festa
se instala na Máquina de Costura, mais crianças chegam e ao fim do dia, mesmo
exaustos, os seis se sentem realizados. Aquelas maternidade e paternidade quase
mitológicas, que tanta gente até combate, faz parte da personalidade deles.
Os preparativos para o festival da saudade têm
novidades; estúdios, emissoras, revistas e jornais vão participar com seus
acervos e artistas vestidos à caráter. É a primeira vez que o evento é
noticiado (...) A única condição que Laura impôs foi que isso não
atrapalhasse o restante das festividades, que são, sempre foram e querem que
continuem a ser espontâneas (...) o município não tem obrigação nenhuma de acatar
caprichos de exclusividade e outros do gênero. Tudo acertado, Matthew, Fester,
Mary Ann, Mikomi, Billy e Klauss mostram aos novatos a cidade e o que costuma
acontecer onde, bem como a estrutura do centro de convenções.
É quase um festival de cosplay, só que em vez
de personagens, as pessoas se vestem como elas mesmas em suas épocas
preferidas. Patrícia, Elizabeth, Prudence, Aisha e Carly não se preocupam, são
cotidianamente retrôs (...) Mesmo assim compraram roupas novas para o evento. Até lá
há muitos compromissos para honrar. Algumas patentes interessantes estão à
venda, seus excutivos selecionaram as mais interessantes e algumas
absolutamente malucas, para sua análise. Sandra, Phoebe e os Richards estão lá
para ajudar. As de reaproveitamento de resíduos são as preferidas, algumas têm
potencial para aumentar bem a produção de energia e insumos (...) Feitas as compras,
mandam efetivarem os registros e colocarem em prática o quanto antes. Querem
depender o mínimo possível de commodities.
&
Sandra e Darifa se amparam mutuamente com o
avanço das gestações (...) Algumas photos para registro fazem
Sandra lembrar-se do álbum que abandonaram depois do atentado (...) Decide tirar do fundo da gaveta
e guardar com os outros, na ordem cronológica. Pega sua gatinha e vai bater
pernas com seus capangas, será bom encontrar alguém sem ter planejado. Claro,
não qualquer um, há paparazzi descarados que prefere ignorar mesmo. Vai para o
pet shop, comprar uma caixa para gatos. Nada de extraordinário, apenas uma
caixa de papelão decorado e bem reforçado, com várias configurações e buracos
por onde o felino pode passar sem ficar preso ou se ferir (...) sabe que aquela pequena sem-vergonha vai crescer bastante.
Mal coloca a caixa no chão e Strip pula para
dentro, lá fica vasculhando os dois compartimentos, um com vista para fora e
outro mais privativo, mas ainda assim permitindo vigiar a entrada (...) Enquanto a peluda se esbalda em seu bunker, Sandra retoma um
trabalho que terá participação da organização. Financiamentos secretos de
tratamentos de saúde em fronteiras é só uma parte dele. Precisa estudar o que
há disponível nas regiões em foco, para que a população tenha mais confiança
nos procedimentos ao verem elementos familiares. Estuda alguns métodos
tradicionais, como fazer remédio contra artrite com óleo de ovo. Por estranho
que pareçam, coisas assim precisam estar presentes nos acampamentos (...) vai relatar à madrinha o que
já conseguiu...
- É tudo uma questão de ganhar a confiança. A
gente não pode simplesmente chutar algumas garrafas para longe só porque nossa
legislação de saúde não as permitiria, isso só faz ofender a afastar as pessoas
de uma região inteira.
- E infelizmente é o que muitos “cientistas”
fazem, taxam de superstição na cara do cidadão e impõe o tratamento que alegam
ser comprovado. Já mandou para os outros estudarem? Óptimo. Tá tudo muito ruim,
mas está indo tudo muito bem... Que época louca é esta! Consuelo?
- Desculpe... Vocês estão falando de ajuda
humanitária, como o Médicos Sem Fronteiras?
- Também isso. Se interessa?
- Eu já fui escoteira, trabalhei por mais de
um ano com albergues como voluntária.
Elas se interessam. Patrícia (...) Pede que façam uma
investigação mais profunda sobre a vida de sua colaboradora doméstica. Não é
uma tarefa difícil, no mesmo dia tem a ficha completa de alguém que sempre
hesitou em ter o comando de um trabalho. Vai dar uma olhada naquele Civic antes
que ela vá embora. Foram míseros oitocentos dólares, somando o carro, a
burocracia e os reparos necessários. O motor nem é o original, veio de um Geo
Metro, mas empurra o veículo (...) Vai ao porão, pega um pequeno kit de intercooler, seu tabletrain, uma
interface sem fio e faz um trabalho rápido, flagrado pela dona do carro no
final...
- Não se assuste, só estou acrescentando
algumas libras-pé de torque em rotações baixas, para você poder utilizar as
marchas mais altas por mais tempo... Pronto. Ligue para eu monitorar o
funcionamento.
Ela obedece, Patrícia corrige alguns
parâmetros e diz para usar só as marchas ímpares (...) Não ganhou muitos cavalos, tanto que não precisa nem trocar os freios, só o
suficiente para aproveitar mais as marchas altas e beber menos. Ela sente a
diferença já na arrancada, é como se tivesse seis ou sete polegadas cúbicas a
mais. A diva volta para dentro, dando de cara com Aisha...
- Você salvou o mundo dela?
- Não, meu amor, só dei uma ajuda para ela se
ajudar. Roupa nova?
Vão para dentro, têm um dia de trabalho duro
para compensar com uma boa refeição e uma noite amena. Na faculdade, a (...) sensação de que poderia
mais naquele velho e surrado Civic migrou fácil para seu comportamento. Essas
boas ações ajudam Fabrícia a se recuperar menos lentamente, ela já trabalha à
distância com a desenvoltura normal, mas ainda não está pronta para voltar para
casa.
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