quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXXIII

    Transformações invernais. A estação 173 mostra o poder da reflexão sob reclusão, usando dois jovens exemplos. Se preparem e embarquem, o trem vai partir.


A neve força o cidadão para a cidade subterrânea, mas não impede que algum maluco dê passeios pela superfície, até porque as residências não estão interligadas (...) há centenas de entradas pela cidade para isso. Não, não é Phoebe, é Carly, que precisa de esclarecimentos para uma pequena grande decisão em sua vida privada. Vai falar com Elizabeth e Prudence sobre...

- Esse lance de ser retrô, sabe... Eu não agüento mais usar essa moda de hoje.

- Você quer ser uma das nossas?

- Vem com a gente, conversar na suíte em particular. Gregory, cuide das meninas pra gente.

Uma pausa na redação da página 157 do primeiro livro da série. Assessoram a garota em sua descoberta e, impressionante, ela se encaixa como uma luva na moda dos anos quarenta, mais ou menos de 1939 a 1953. Hora de descer. Ela passa horas na loja que abastece as escritoras, compra um guarda-roupas novo. Pega o metrô, já em um conjunto de blusa azul pálido e saia preta plissada, sob o abrigo (...) Sigourney bate à porta, vê aquela roupa toda sendo enfiada em sacolas, enquanto o armário aberto mais se parece com o de sua avó...

- Não é meio radical?

- Não, mom. Isso é como parar de fumar, você tem que mudar de uma vez, encarar uma síndrome de abstinência e se assumir. Sério, eu pensava que fosse lésbica, acontece que eu não me sentia mulher com estas roupas.

- Se sentia o quê, então?

- Uma garotinha. Uma eterna e intemporal garotinha. Pronto, não quero mais, mas estão todas praticamente novas, algumas nem usei ainda. Nem vou usar.

Doa todas em segredo, para que a imprensa não desvie peças como relíquias. Volta para casa à bordo do Taurus verde e preto com poucos meses de uso... Também não se sente mais tão confortável naquele carro tão moderno...

- Não me diga que...

- Vou falar com a madrinha. Podem me levar pra lá, por gentileza?

Patrícia já tinha recebido um relatório das filhas e notícias de paparazzi amigos, agora vê aquela jovem daminha em um casaco marrom, entrando, como sempre, sem precisar se anunciar...

- Um carro que combine comigo do jeito que eu estou.

- Você está feliz assim?

- Muito! Eu parei de gaguejar, quando me livrei das roupas antigas!

- Então a coisa é séria! O que vocês dois acham disso?

- Estranho, mas se ela quer... Vai ficar parecendo com a minha avó, mas ela quer.

- Você é que parece não ter gostado.

- Não é que não tenha gostado... Eu estava acostumada à minha filha com o jeito de menina, tímida, sem se preocupar com o que veste no cotidiano...

- Não me importava porque tanto fazia o que usava. Agora eu vou prestar atenção ao que visto.

- Aí! Tá falando feito uma mulher madura...

- Eu vou te arranjar um carro apropriado, mas com uma condição: Vocês três vão começar uma terapia, porque eu vejo problemas varridos para debaixo do tapete emergindo, depois dessa sacudida.

Os pais sonhavam ver a filha independente, livre, leve e solta (...) mas agora a vêem “amarrada” naquelas roupas (...) Assim que eles se vão, liga para uma amiga, a diva do retrô...

- Dita, preciso te contar, tem gente se rendendo apaixonadamente à moda quarentista...

Enquanto conversa, Richard começa a editar os vídeos com trechos das falas dos pastores apocalípticos, imagens engraçadas e vídeos de humor escrachado (...) Inclui trechos de desenhos dos anos 1940 e 1950, o Príncipe Adam de Etérnia dando risadas, trechos de Tobby fazendo suas caretas...

- Eu estou me sentindo muito travesso!

- Você é travesso! Essa cara de mau nunca me enganou. Não vai terminar isso?

- Calma, ainda há tempo até o mundo não acabar. Vou postar no natal. Eles vão cair de pau no vídeo, vou printar todos os desaforos e postar em um álbum no meu perfil, então no ano novo meu seguidores vão cair de pau em cima deles, e eu vou rir muito!

- E a gente pensando que o pastor Robinson era muito duro!

- Ele era duro! Esses aqui são uma mistura de imbecilidade com completa falta de caráter. Parte três de cinco terminada. Ainda vai ter muita idiotice para eu acrescentar.

Hoje mesmo aparece uma, fazem um filme tosco, cheio de efeitos baratos em um campo de demolição (...) “Este era o mundo de pecados que o Senhor destruiu, ninguém sobreviveu! Quase todos foram para o inferno, mas nossos congregados estão gozando os prazeres eternos do céu”. Richard grava, faz as edições mais zoeiras que consegue e acrescenta uma etapa (...) Fazia tempo que não se divertia tanto.

Não longe dali, Giovanni acaricia uma caixinha em forma de ostra, do tamanho de sua palma, preta com curvas douradas (...) Silvia vai ver o que o rebento está fazendo, está quieto demais, não é o normal dele, a regra é dar-lhe uma bronca pelo barulho, como é com Enzo...

- Que foi, Tota?

- Hein? Me chamou?

- Hey, você nunca foi comportadinho assim... O que é isto? Woohooooo!

Chama Enzo a todo pulmão, em minutos os dois carregam o rapaz pela casa (...) o jogam na banheira da suíte de casal. Assim que ele se enxuga e se veste, o jogam no Chrysler 300M preto, com um kit que o faz parecer o Imperial Crown 1961, com direito a barbatanas traseiras, e vão para a casa da moça.

Sandra está ajudando a avó na cozinha, quando os três malucos tocam a campainha (...) Elias e Enya desconfiam, Giovanni não deveria estar tão calado, deveria estar é disputando com o pai quem toma mais chocolate num gole só. Na verdade, não é muito comum Enzo e Silvia aparecerem por lá, não os dois ao mesmo tempo, normalmente os encontram na Máquina de Costura (...) Sandra nota o comportamento do namorado...

- O que foi? Você não é comportado assim!

Elias se adianta e nota a ostra shell, no bolso do casaco pendurado na cadeira. Ele a pega e vai à mesa...

- Seu comportamento súbito tem algo a ver com isto, rapazinho?

- Si, singnore... Eh... Sandra, eu acho que já está na hora, se você não tiver alguma missão internacional para breve...

Abre a ostra de baquelite e mostra as alianças de noivado. A encrenqueira responde com um sorriso largo e malicioso, um abraço firme pelo pescoço e um beijo de tirar o fôlego. Estão noivos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXXII

    O passado pode ser lindo, mas também traiçoeiro. A estação 172 desenha o perigo de ter seu passado como inimigo, mesmo que só uma parte dele. Fiquem atentos e embarquem, o trem vai partir.


A CIA volta a falar com Elias. Alguns agentes já são conhecidos (...) enganam bem os populares. Não enganam aquele brasileiro desconfiado, muito menos sua filha belicosa. Desta vez eles notam um traço de amargura nele, a aproximação do Brasil com ditaduras o entristeceu muito, não bastasse os idiotas diplomados ainda tentarem covencê-lo que nunca foi agredido, que foi apenas “um incidente comum na cultura local, em uma comemoração típica de samba pela vitória de seu time de futebol preferido, comum no folclore dos povos ribeirinhos da floresta brasileira”...

- Quem falou essa merda de elefante?

- Os mesmos idiotas diplomados e prolixos, que pensam que vocês são o serviço secreto mais cruel e desumano do mundo e que os maçons controlam telepaticamente o presidente.

- Cara, a gente tá pior do que eu pensava!

- Nota – interfere Sandra – a gente não tinha televisão. Só víamos quando visitávamos a tia Bete. E lá ninguém gostava de futebol.

- Eles querem convencer vocês que suas lembranças são falsas e que o que eles dizem é que é a verdadeira versão da história, é isso? Aquelas cirurgias todas que vocês sofreram, teriam servido para quê então?

- Nem me pergunte, minha amiga. Um roteirista precisaria ser muito ruim, para escrever o que eles tentam me enfiar goela abaixo.

Richard toca a campainha e entra com Robert Richard nos braços. Saúda os velhos conhecidos (...) perguntam se o menino também está sendo treinado para ser um colaborador...

- Vocês não perdem por esperar. Adiem um pouco a aposentadoria para o verem em ação.

- Sério?

- Como é que é?

- Será inevitável. Você, Sandra e Kurt estão moldando um gênio. Ele aprende com uma rapidez estúpida, compreende de imediato o que acontece à sua volta, tem um senso de responsabilidade raro de se ver antes dos dezesseis anos. Ele tem um senso de realidade fora do comum! Já sabe que contos de fada não são relatos históricos. Sandra, no tempo certo, cuide do treinamento dele.

- Ok, vô Ritchie.

- E então, meu amigo, como se sente sendo um fabricante de agentes secretos?

Ele apenas pega o filho nos braços e o faz se sentir criança (...) sim, ele tem talentos e condições de se tornar um agente colaborador de primeira linha. Ele olha para a filha (...) não estaria em menor risco se fosse policial de uma metrópole, só que os inimigos neste caso, são nações inteiras e idiotas simpatizantes em territórios amigos.

À noite, à sua pequena escrivaninha vitoriana, uma mesa circular de onde retira uma cadeira com estofamento verde escuro que, guardada, integra seu desenho, ele desdobra a mesinha embutida e estuda alguns rascunhos (...) Enya se aproxima, só de lingerie escarlate (...) o abraça por trás, lasca-lhe um beijo de desentupir pia, acaricia seu caçula e dá uma olhada naqueles esboços que há quase um ano o marido retoca com cuidado, mas nunca mostrou a ninguém...

- “Vintage Way of Life”. Impossível um nome mais americano e cinqüentista do que este, mas o que é? Você está desde dezembro entretido com este esboço.

- Uma coisa que pensei, observando a madrinha e Elizabeth.

- Well... O que elas têm em comum, além da aparência, é o gosto pela moda retrô... Tá pensando em uma marca retrô, meu amor, é isso?

- Mais ou menos... As idéias ainda estão caóticas...

- Conta pra sua esposinha linda e interessada, conta!

Na manhã seguinte, sem ele saber, photographa os esboços e mostra aos irmãos...

- Todo esse planejamento detalhado e ele disse que as idéias estão “caóticas”? Popcorn, vou bater no seu marido! Isto aqui é uma loja de departamento retrô e ele detalhou cada milímetro dela!

- Até o logotipo foi esboçado em detalhes e rico em descrições! Já mostrou isso pra Patty? Então vamos mostrar!

Ela sorri largamente (...) ao ver aqueles esboços de planta baixa e memorial descritivo resumido. Avisa Luppy que vai sair (...) Acompanha os irmãos até a Sandra Cocada do Shopping, hoje com dois pavimentos; Elias considerou desnecessário e exagero ter mais do que isso. Pois lá está ele, comprando côco e mandando peças de reposição. A parte da burocracia estatal é um pé nos fundilhos (...) faz uma reserva financeira para as empresas não serem pegas de surpresa, porque o chapéu alheio já está pequeno para tanta bondade governamental na América do Sul.

Conclui e se põe contra o encosto, por alguns minutos, meditativo. Aqui as lições de faculdades de administração têm pouca utilidade, está lidando com quase máfias (...) Clica em uma aba, vê uma noticia de aviação civil, pensa um pouco e vê uma saída para a recessão que se anuncia em alguns países. Se querem reconquistar o glamour e os passageiros exigentes, terão que oferecer refeições à altura, com sobremesas dignas. Providencia para que se lembrem da Sandra Cocada (...) Agora é esperar, certo? Errado! Agora é olhar para a porta e ver sua amada esposa acompanhada dos irmãos e de sua adorada madrinha...

- Que bom saber que você ainda nutre sonhos, meu querido! Mas você precisa compartilhar com a gente também!

- Tem gente querendo sociedade, meu amado.

Ele faz uma cara de “Explique isso, mocinha” e Patrícia se adianta. Em uma hora estão com Ronald e Melody, explicando as idéias de prêt-à-porter de alto nível (...) com lançamento de coleções que serviriam de excelentes vitrines da qualidade de suas roupas. Sugerem o uso de impressão 3D para fazer acessórios retrô personalizados (...) Patrícia o tira da carapaça, para que exponha (...) seus sonhos antigos. Móveis com elementos inspirados em épocas, que podem ser montados no acto da encomenda, para que não haja duas mobílias iguais (...) Josephine avisa que os estúdios se interessaram, isso reduziria sensivelmente os custos de muitas produções...

- Não me pergunte, meu querido, ela sempre sabe. E então, vamos planejar seu sonho?

Será uma parte do trabalho que dará muito mais prazer do que cansaço (...) se decide a meter a cara e aceitar a sociedade da Dead Train Corporation, pois é algo que tem tudo a ver com a banda e sua philosophia de trabalho.

À noite, na casa de solteira, conversando com os pais e as irmãs, sob os mimos da mãe...

- Eu nunca vi meu menino tão feliz! Ele sorri pouco, mas desta vez abriu um sorriso de orelha a orelha. Ele tinha esse sonho desde criança e não contava a ninguém!

- Certamente pela repressão que sofria. Se até falando com esse sotaque só dele, era ridicularizado – diz Nancy!

Explica a vasta abrangência do empreendimento, que se especializará no meio de século, mas terá peças inspiradas da era vitoriana até os anos oitenta (...) até cartazes com as figuras dos clientes estão nos planos. O que ele planeja é grandioso, é quase uma Disneyland para vintagistas, tanto que vão envolver a Culture Train  (...) Eddie, Amilton e Glenda já planejam a cooperação, inclusive com uma lojinha como posto avançado da marca (...) Elvira é só farra com a movimentação. Para comemorar, suja uma fralda, afinal os adultos gostam, tanto que correm para abrir e ir ver o que tem lá.

O esboço sem compromisso torna-se um pré projecto sério antes da abertura do Sunshadow Racer Motor Show. Fabricantes de réplicas, kit cars e vendedores de carrocerias de clássicos com selo de originalidade das montadoras, são as novidades para o imenso espaço extra (...) nunca foi tão fácil, rápido e barato construir um carro com padrão de qualidade de fabricante. A Gardner Company traz uma proposta para um futuro não muito distante, levou uma complexa e volumosa prototipadora multimaterial laser-plasma, que vai construir um V8 611” pronto para usar. Para isso dezenas de braços multidirecionais, e alguns giratórios (...) trabalharão juntos nos cinco dias do evento.

Enquanto os Richards e Phoebe dão partida no desafio de prototipação, Kenji acompanha Sakura e Mikomi, com Nanako e Hiroshi pelas mãos, até o centro de convenções (...) Mikomi ficou para trás, uma alça da bolsa arrebentou (...) Ele deixa a família na praça do centro de convenções e vai socorrer a sogra (...) Será coisa rápida.

Mas não o suficiente para a trama que se desenrola. Um Toyota Corolla preto 1997 acelera, o ruído denuncia a preparação esportiva do carro. Ele sobe deliberadamente na calçada diante da população atônita. Robert confia no genro, confia muito (...) Ele corresponde. Só tem tempo para correr ou para empurrar a sogra. A empurra de baixo para cima, em direção ao gramado da praça e é acertado em cheio, enquanto ela aterrissa com dores, mas intacta na grama espessa e fofa.

Em outras cidades a população assistiria ao carro ir embora, mas não em Sunshadow (...) O atropelador é cercado, esmagado e preso por gigantes da era de ouro da indústria automotiva americana (...) Enquanto o rapaz é socorrido, diante da esposa e dos filhos em prantos, Chuck chega com a força policial. O elemento se recusa a sair do carro, prefere dar um tiro na cabeça, que o vidro muito escurecido não permite saber que foi um suicídio e causa uma saraivada de tiros dos Street Warriors. Quando abrem a porta, vêem um homem de traços orientais (...) Mikomi o reconhece, é o irmão que não aceitou o arrependimento do pai e prometeu vingar a honra da família.

Os danos ao herói foram graves, mas ele vai voltar a andar em dois ou três meses (...) Infelizmente ele não pôde ver ao vivo o sucesso do desafio, precisou ver do hospital o enorme motor se formando diante dos olhos incrédulos do público (...) para no final ser acoplado ao segundo dinamômetro e acusar, líquidos, absurdos 353kgfm de 600 a 4500rpm e indecentes 2500cv de 4500 a 6000rpm; o primeiro dinamômetro foi destruído pela aceleração dos dez litros de deslocamento do monstro. E é motor manso, para uso nas ruas.

Enquanto a temperatura cai e as feridas são tratadas, uma igreja radical convoca seus fieis para o último natal do mundo, que será destruído na virada do ano pelos anjos amorosos do Senhor, que dilacerarão sem piedade até os bebês dos ímpios, com suas espadas vingadoras cheias de ira santa e rancor divino. Richard pede que gravem tudo o que puderem, quer fazer um vídeo montado com as cenas mais ridículas e esculhambar todos eles na virada do ano, quando mais gente vai processar pastores por o mundo ainda estar de pé.

A população estréia o primeiro inverno na cidade subterrânea (...) Enquanto lá fora o termômetro cai de -20°C, lá dentro está em confortáveis 7°C. Bastante razoáveis para os nativos de Michigan, alguns chegam a dispensar agasalhos, especialmente Phoebe, Rose e Serena, que ficam muito à vontade com roupas de verão (...) Patrícia e Renata sempre estão à saída do subterrâneo para garantir que as três estejam devidamente agasalhadas...

- A trisavó tá contando tudo pra vocês, não tá?

- Pode ter certeza, amantíssima neta, ela me conta tudo.

- Inclusive que você está praticamente nua debaixo desse casaco, que sozinho – suspira... Deixa pra lá. Pelo menos evitou espetáculos pra paparazzi.

- Errado! A gente adorou clicar elas aqui em baixo!

- Foi uma visão do paraíso! Valeu, Phee!

- Man, que pernas!

Eles  (...) já enviaram e venderam suas photographias e vídeos curtos. Está já tudo publicado em sites e prestes a sair em programas de televisão e revistas impressas, os internautas já estão indo à loucura, agentes secretos conhecedores babam quase dizendo “Venha me espionar, querida”. A liga se reúne para saber das conclusões dos especialistas a respeito, que começam com “Ela não é exactamente humana” (...) Matthew se põe a apagar o incêndio invernal, ameaçando cortar os côcos do primeiro que soltar uma piadinha tosca sobre sua neta. Certo, lá em baixo a temperatura está incomparavelmente mais confortável (...) mas andar de minissaia e regata foi muito exótico. Enfim, ela cumpriu com a promessa.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXXI

    Meio século! A estação 171 fecha mais um ciclo de forma sucinta e glamorosa. Aproveitem a folga e embarquem, o trem vai partir.


O grande dia chegou. O show comemorativo dos cinqüenta anos da Dead Train é hoje. Trata-se de um refúgio seguro para agentes veteranos e mortos (...) nem sempre eles se dão conta do que fizeram, até a polícia chegar e levar todo mundo por qualquer coisa que tenha ofendido o ditador. O FBI está lá, para ajudar a controlar a multidão e proteger gente que garantiu que eles tivessem um planeta para crescer e entrar para o FBI. A banda completa dará um show para não menos do que trezentas mil pessoas in loco, mais transmissão para quem quiser o show na programação. Que aproveitem, outra gracinha como esta, só no show de cem anos da banda.

Toda a organização está de prontidão, com pelo menos cem colaboradores na cidade (...) Ursula e Barney estão com os uniformes debaixo das roupas, não se sabe o que pode acontecer com tanta gente de fora em um só lugar. No momento e até o fim do show, estão de serviço.

Os seis astros maiores estão reunidos nos bastidores, meditando de mãos dadas, repassando toda a sua história na música (...) e todos os planos que têm para o futuro. Queriam apenas ganhar a vida com a música, o que conseguiram os faria rir de quem lhes contasse que aconteceria.

Rita interrompe o ensaio e vai ao microphone, deixando centenas de milhares com o coração na mão, fora os ansiosos que vêem pela televisão...

- Bom dia, ghost drivers! Peguem seus bilhetes para o mundo das lendas e embarquem, porque já vai partir o DEAD TRAIN!

De mãos dadas, os seis amigos sobem ao palco e o mundo simplesmente não existe mais. Por três horas a banda mostra ao mundo e aos desafetos, por que conseguiu sobreviver a tudo (...) Mas o mais importante é que os fãs mais velhos conseguem olhar para aquelas senhoras e aqueles senhores, e ainda enxergar os garotos que viram estourar as paradas de sucesso em 1962. O que eles fazem cansados e com sono, a maioria não faz em sua melhor forma, nem com a ajuda de softwares.

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A despedida, após uma refeição substancial, precedida de um treinamento rigoroso. E presentes, é claro, inclusive canções compostas pelos integrantes originais e os da nova formação, para Barney (...) A Ursula que embarca mantém a altivez e a aura de majestade, mas está muito mais leve e muito melhor preparada para liderar a liga. Assim que o avião decola, Rebeca pede a palavra...

- Quando a gente vai contar pra eles?

- Não sei, Mascote. Jose quer estuda-los por pelo menos mais seis meses, depois decidiremos como nos revelar.

- “Nós” quem decidiremos, cara pálida?

- Nós, Ron. Vocês não precisam saber muita coisa, além de que Barney e Ursula também são gente secreta... Vamos ter que fazer eles desconfiarem que sabemos... E vai ter que ser a Julia.

Voltam para a Máquina de Costura, para uma rara folga a seis. Eles se sentam, olham uns para os outros, se lembram do ano com os nervos à flor da pele e desatam a rir como seis debilóides, às vezes se esquecendo do motivo do riso e rindo de ter começado a rir. Assim que se cansam de rir, o que demora, correm ao redor do piano, vão ao deck e pulam na piscina.

À tarde voltam a ser adultos e acompanham a repercussão da apresentação de ontem. Começam pelos seus blogs, atipicamente cheios de comentários. A surpresa de liberarem a transmissão ao vivo foi o que rendeu mais elogios. Eles respondem (...) que não precisam da música para viver, que podem abrir mão de algumas rendas, mas que sempre avisarão de quais abrirão. Nem todos os artistas, na verdade bem poucos podem se dar esse luxo, por isso novamente condenam a pirataria, que especificam como reproduções não autorizadas e à margem das necessidades de quem vive exclusivamente de sua arte.

Vão para as redes sociais, onde a coisa tomou proporções bem maiores (...) Memes pipocam como acne em rosto de adolescente. Os vídeos de cada parte do show viralizam, muita gente tem seus próprios trechos exclusivos, gravados da multidão. Os seis, juntos na sala da casa de solteira de Patrícia, começam a responder e comentar as postagens afins, pegando novamente todo mundo de surpresa.

Enquanto isso, Phoebe conversa com o pai e o avô, para poder utilizar o maquinário da fábrica sem fins lucrativos, em troca...

- A gente coloca o logo e faz propaganda da Gardner Company nos aeromodelos. Então, eu posso?

Como resistir àquele sorriso em forma de coração, àquelas mãos juntinhas ao queixo, aqueles olhos brilhando e àquela empolgação pueril? Autorizam que fabrique as micro turbinas (...) Uma das maiores qualidades da Gardner é a precisão absurda de sua usinagem, junto com seu balanceamento e seu acabamento dignos de naves espaciais, que obviamente têm seu preço. Fabricar turbinas, no futuro, não está descartado (...) querem ver de perto e passo a passo o que ela vai fazer em parceria com Yuri. Ele já rascunha os modelos e estuda o que pode sobre aviação.

O dia tranqüilo e festivo precede o feriado informal da cidade (...) Patrícia faz sessenta e cinco anos e os quatro pavimentos da cidade se enchem novamente. Agentes de vários serviços secretos são apresentados à madrinha da espionagem internacional...

- Eu sou o quê?

A quantidade de agentes secretos altamente ameaçados que levou para a segurança da vida nova (...) originou a alcunha...

- Se um dia você tiver que morrer pra se livrar de agentes inimigos, reze para Santa Princesa Patrícia e acenda uma vela de código secreto, que ela irá te buscar. É ou não é verdade?

- Sim, é verdade...

Desiste. Eles sabem que se ela souber onde está um dos garotos e ele estiver em perigo, vai mover o mundo e o Sol para trazê-lo de volta em segurança. Com ela, o vício cego em protocolos da CIA não atrapalha o trabalho de um agente (...) Voltam ao aniversário íntimo, depois vão às comemorações públicas para a mais amada e respeitada cidadã de Sunshadow.

Drones, muitos drones, alguns deles feitos por Phoebe, que hoje protegem sua avó, líder de banda e de serviço secreto. Milhares de comprovantes de depósito chegam em malotes (...) Como uma princesa regente em seu principado, ela prestigia a festa em sua homenagem, distribui seus abraços viciantes a todos os que a procuram, dá conselhos a quem os pede, assiste aos espetáculos que colegas de profissão providenciaram. Por hoje a casa de Alander volta a reinar em seu território, um pouco maior do que o original.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXX

    Os heróis em Sunshadow. A estação 170 faz um desvio nas vidas de quem pensava já não ter mais como mudar. Fiquem atentos e embarquem, o trem vai partir.


Dead Hope e Mars Storm se levantam rapidamente e vão às suas sacadas, prontos para o combate, então se lembram do aviso. Assistem ao treinamento com atenção, em especial à assustadora actuação dos Richards (...) A surpresa, mais uma surpresa, vem de Phoebe conseguir o mesmo, mas com velocidades muito maiores. Ainda há muito que descobrir daquela gente. Sandra pede uma pausa na porrada...

- Cara, veja só esses braços! Hey, Barney, pula aqui e vem treinar com a gente!

Ursula abre um sorriso e consente, ele pula da janela e recomeçam (...) Aquela é a Dead Hope fria, calculista e metódica que a liga conhece. Aquele nível de artes marciais só viu em vídeos de grandes mestres, nunca ao vivo (...) percebe que todos ali sabem exactamente o que estão fazendo. A fúria de Rebeca e Sandra a impressiona muito, tanto quanto o réquiem para o cataclismo que é a luta entre avô e neto, mas Phoebe é um deleite. Tentará tocar no assunto com Marcia, ela parece prever o que vai acontecer logo em seguida. Ao fim da luta, Barney é jogado na piscina, onde todos pulam em seguida, como rito de boas vindas.

Ela manda uma mensagem estenotipada para a central (...) terão coisas novas no treinamento de rotina. Se arruma e desce animada, quer saber tudo o que puder daquela rotina, então é uma moça curiosa e nitidamente interessada. Não demoram, têm a abertura da convenção de fãs para fazer. Saem seguidos pela massa crítica de repórteres, paparazzi e simples internautas (...) Os seis se encontram pelo caminho e uma população errante se arrasta trás deles. Chegam ao centro de convenções e se deparam com uma bruxa com um bebê em seus braços...

- Nasceu à meia-noite, sem tempo pra levar a Glee à maternidade.

É uma farra (...) Vão felizes descerrar as portas do centro de convenções (...) Tudo é grandioso, desde a decoração até as dezenas de palestras e cursos livres. Ainda lançam o aplicativo gratuito cibertrain para computador, tablet, GPS, celular, MP3 e até tomagoshi (...) Um túnel imitando os ferroviários tem cartazes informativos e mídias de cada fase da banda, recuando no tempo à medida em que se adentra, chegando às infâncias dos integrantes originais. Tudo disponível de graça para baixarem (...) A história recente do país está toda contida naquele material.

Em vez de apenas estandes, hoje há salas bem estruturadas, uma delas do Ballet Canard Noir, que Marcia visita com Ursula. É fácil perceber que aquela figura já teve o balé como prática regular. Alguns passos denunciam que ainda está em condições para dançar...

- E você dizendo que não tem talentos artísticos...

- Talvez eu tenha exagerado... Minhas prioridades hoje são outras.

- Se suas prioridades dependem de um bom condicionamento físico, então o balé deveria voltar a fazer parte delas.

A nobre é terminativa. A faz pensar no caso (...) mas isso verá em Los Angeles, por hoje precisa estudar a população e a rede hoteleira local, foi o que prometeu aos seus patrões.

Barney estréia na mídia mundial com “Little Blue Trailer”, levando o público às lágrimas (...) Os outros doze membros da liga acompanham as festividades pela internet, vêem sua conselheira ser carregada pelos seis amigos até o espaço oficial da banda. Normalmente ela nunca admitiria isso, querem saber dessa transformação assim que eles voltarem.

Josephine completa a festa com sua majestosa presença estrelar (...) Com a imprensa cercando tudo em vários pavimentos, Star ouve e estuda aqueles dois, fica feliz com os acontecimentos do intenso dia de ontem. Reitera as recomendações de Patrícia...

- Você não faz idéia de o quanto ela ajuda este país, do quanto a América lhe deve, tanto o país quanto o continente, mas ela não conseguiria isso se estivesse com a saúde comprometida. Vá à minha casa, na semana que vem, quero lhe mostrar com calma algumas providências que tomei, para ela não se afogar no trabalho e se auto destruir.

Ela fica atônita. Não acredita que a diva de bilhões, a musa de gerações queira sua visita (...) Ainda há o bônus de a administração do hotel tomar conhecimento do facto, o que será muito bom para ela e, conseqüentemente, para a liga.

À noite, na suíte, satisfeita ainda que assustada, Ursula tira seu uniforme do fundo falso da mala. A coruja negra, bordada à direita da parte marrom escuro indica suas funções (...) Olha pela janela, lá está ela, a gata espiã patrulhando ela mesma seu território. Notaria imediatamente se saltasse pela janela, mesmo com os tons escuros do uniforme. Na sala, Patrícia contabiliza com os comparsas o sucesso do primeiro dia, e o prêmio pelo nascimento de Elvira. A menina dormiu cedo (...) Mamou e pegou no sono. Por toda Sunshadow o sucesso do primeiro dia é assunto, não haver duas convenções iguais ajuda.

É chamada para uma reunião íntima na sala...

- Você não agüenta ficar sem esse uniforme.

- Não. A música evitou que eles enlouquecessem, este uniforme faz o mesmo por mim. Só vou vestir algo por cima e descerei.

Ajeita o castanho escuro curto e volumoso sobre a nuca. Cuida para que o uniforme fique oculto sob a camisa preta de malha fechada. Vê as duas divas com Ana Clara e Elisa, comentando sobre o foco que a imprensa deu à misteriosa amiga da banda, por acaso...

- Ursula, você fez sucesso!

Para quem descobriu ser famosa no meio artístico de Hollywood, fazer sucesso na mídia mundial é outro choque. O porte, a elegância, a cinturinha fina e o olhar gélido ganharam os noticiários (...) Barney a incentiva a tirar proveito disso, pode ter informações privilegiadas do meio, vitais para seu trabalho. Ela o encara, medita e admite que pode ter razão.

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Elias entrega o caçula nos braços da madrinha e vai fazer os exames de rotina. Anda pela alameda a passos largos, sentindo a brisa outonal anunciar que aqui não terá essa conversa de aquecimento global (...) Desde que foi resgatado, não se preocupa mais em chegar ao fim do mês com alguns pedaços de carne e algumas verduras na geladeira (...) Os relatórios não dão margem para dúvidas. A sala de espera dá para um jardim de pedras, ele já se acostumou a esperar lá, enquanto medita. O médico faz questão de ir buscá-lo...

- Se é o que tem em mente, não, nenhuma delas é dura como sua cabeça.

- Na verdade minha linha de pensamento é outra. Eu gosto desses cactos...

Um jardim grande e elaborado por paisagistas lá fora, e ele prefere meditar naquele pequeno espaço aberto com pedras e alguns cactos. Conclui os exames e vai buscar Robert Richard no centro de convenções, mas (...) consente em deixar que brinque mais. O levam ao espaço oficial da banda, onde acabaram de fazer um pequeno jardim de pedras com alguns cactos, ele se sente à vontade. Ursula o observa, olha para Patrícia...

- Eu não tenho a menor sombra de dúvida.

- Nem eu. Ele ainda se identifica escancaradamente com a aridez, apesar de tudo o que conseguiu.

- Mais do que isso, ele descansa nela. Ele encontra conforto entre espinhos, literalmente. Você realmente foi nomeada madrinha dele?

- Muitas lendas a nosso respeito são verdadeiras, essa é uma delas.

Marcia volta com as netas e Robby, que salta no pai e o tira da catatonia meditativa (...) Patrícia dá por encerrada a análise, Ursula já teve todas as dúvidas a respeito dele dissipadas. Marcia só observa e é a ela que a visitante se dirige, enquanto os seis vão a uma entrevista marcada de última hora...

- Tem algumas lendas sobre a Phee que não fazem o menor sentido, mas esta faz. Ela tem uma capacidade física muito maior do que uma pessoa normal, isso inclui a velocidade do cérebro dela... Cerca de três vezes mais rápido.

Ainda se lembra do vídeo que viralizou na internet, quando ela saltou da sacada (...) Agora se lembra também de photos dela correndo de biquíni até a casa da avó, ela estava claramente à mesma velocidade de um carro em via secundária, bem como dos flagrantes dela ignorando sumariamente o inverno rigoroso do norte de Michigan (...) Chega com Albert para ver as meninas, aproveitando a parte mais divertida de seu trabalho.

Na entrevista, perguntas sobre o futuro da banda são as mais freqüentes. Os seis são categóricos (...) ninguém sequer pensou, em tempo nenhum, numa carreira solo. Nenhum caso extraconjugal, enfim, a amizade dos seis resistiu bravamente ao teste do tempo e da perversidade humana. Sobre essa mania de lançar fãs ao estrelato, recentemente Barney da Silva...

- É um dos nossos baratos – diz Renata.

- Vocês têm prazer nisso?

- Muito! Encontrar um talento e encaminhá-lo é demais! Principalmente se esse talento tem a gente como referência.

Mais alguns minutos e Matthew assume, começando por puxar orelhas dos afobados. Ele adverte que a agenda é apertada, nem sempre os seis poderão atender pedidos assim...

- Mas se a gente não tentar, como saber?

- Ali, espertinho, veja a agenda da convenção. Está tudo bem esmiuçado e mastigadinho.

- Mas tem mesmo que ler? Que dizer...

- Eu não acredito que você tá com preguiça de ler um texto tão bem organizado e com fontes tão grandes! Até eu tô velho consigo ler aquilo com facilidade!

A bronca vem e se torna mais uma entrevista. Matthew reclama da preguiça que tomou conta dos profissionais da imprensa, que simplesmente copiam e colam notícias (...) Uma ferramenta que deveria agilizar e facilitar a vida do profissional (...) está somente estimulando a preguiça. Ok, é uma bronca, orelhas saem de lá ardendo, mas valerá uma coluna e um patrocínio.

À noite, a convite de Renata, Ursula e Barney vão ao Nação da Caridade. É uma surpresa encontrar lá o velho Gardner (...) a surpresa maior é ver Renata conduzir a sessão com Marcia e Phoebe. Eles olham para Patrícia e ela confirma com a cabeça, são todas médiuns e todas elas já experientes. Desta vez há uma incorporação, e a escolhida foi justamente Marcia, que tinha pavor só de pensar que algum dia teria que ceder o corpo...

- Amantíssimos irmãos, eu os saúdo em Jesus Cristo. Venho renovar os apelos do alto pela educação de vossos filhos. Não confundam, irmãos, liberdade com permissividade, mostrem às crianças até onde devem ir, e elas saberão gozar com alegria do espaço que sabem que têm. Nossas crianças não pedem mais do que saber até onde vai sua segurança, pelo que devemos mostrar-lhes claramente, antes que estranhos sem compromisso com elas lhes digam que podem o que quiserem. Essa liberdade ilusória não existe em nenhum orbe, de nenhuma hierarquia de tempo nenhum. Urge que nossas crianças estejam prontas para serem adultos do novo mundo, que os esforços de nossos abnegados irmãos estão tornando viável, ao evitar um terceiro e nefasto conflito mundial. Ainda não estamos totalmente fora de perigo e outras ameaças rondam aqueles que desejam a prosperidade pacífica, mas já foi conseguido mais do que muitos de nós esperávamos. Este mundo renovado não terá lugar para a iniqüidade e o egocentrismo, que ideais equivocados impõe aos nossos pequeninos. Sabemos o quanto esta cidade tem se esforçado em lograr êxito nesta missão, mas devemos pedir mais uma quota de trabalhos, para que disseminem o quanto lhes for possível, a boa formação moral e humana a que seus filhos e vocês mesmos têm sido submetidos desde muito tempo. A seara é árdua, amados, mas vocês têm se mostrado dignos dela. Firmem seus pensamentos em Nosso Senhor e Ele os guiará nas brumas enegrecidas que ainda encobrem a Terra, mas que hão de se dissipar cedo ou tarde. As frustrações cotidianas, a que muitos pais insistem em subtrair das vidas de seus filhos, são um dos expedientes que a vida tem para educá-los. Não os privem de uma lágrima por um susto ou uma vontade não feita, essa lágrima é o escape que evitará experiências mais dolorosas e difíceis de reparar. Façam, amados, com que os exemplos e os sucessos que têm conseguido, à margem das críticas inconsistentes e ferozes, avancem para fora dos limites de sua cidade.

Totalmente fora do que os visitantes esperavam, completamente fora do que Marcia desejava, mas eles concordam (...) Voltam para sua hospedaria pensativos. Dead Hope manda o relatório do dia para a liga, incluindo esta última experiência. Recebe o relatório do dia, Dark Avenger precisou socar um pedófilo que tentou abusar da própria filha de cinco anos. Ele se expôs, mas ficou de costas para as câmeras o tempo todo e garantiu que a íntegra do vídeo parasse nas mãos das autoridades...

- Você fez bem, não havia escolha. Agora vá descansar e fique atento a qualquer novidade sobre o episódio. Mais algum incidente?

- Não, sem mais alterações.

- Boa noite, herói. Durma bem.

Trata seus comandados como filhos. Às vezes é dura com eles, mas eles sabem que é necessário.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXIX

    A princesa na fortaleza. A estação 169 desenha a sabedoria popular; quanto mais reforçada a embalagem, mais delicado é o conteúdo. Embarquem, o trem vai partir.


Na manhã do dia anterior, os seis estão no aeroporto, com Marcia, esperando pela revelação e sua companhia (...) A cada cidadão foi recomendado fazer com que se sintam em casa, e que reporte qualquer coisa. O avião taxia naquela monotonia segura que não dá audiência. Barney aparece primeiro, com o vício de Mars Storm de verificar tudo antes de passar por uma porta, mesmo rapidamente. Elegante, sóbria e aparentemente impassível, vem Ursula logo em seguida (...) Patricia acena e eles localizam seus anfitriões. Por ordens dela, a imprensa mantém desta vez uma distância elegante, para não constranger a visitante.

Barney é recebido com farra, Ursula com carinho. Ela gosta, mas mantém a discrição. Nota a reverência de todas as pessoas para com os seis, e dos cinco para com Patrícia. Marcia não a impressiona, mas relevar as aparências é algo que um super herói aprende rapidamente, se quiser viver. O lendário CMG Coach híbrido com seu motor marítimo original (...) agora será sua condução (...) Enquanto os seis conversam com Barney sobre as apresentações que tem feito, e adiantam alguma coisa sobre o lançamento do primeiro álbum, Ursula os estuda e nota que Marcia também o faz...

- Eles são sempre assim?

- De bom humor, sim. De mau humor eles se fecham e evitam qualquer conversa.

- Impressionante saber que eles têm mau humor, de vez em quando.

- Dura pouco. Não resiste à primeira visão de um neto.

É uma informação valiosa para Dead Hope. Chegam à Máquina de Costura. A casa impressiona muito (...) Luppy preparou o festim de boas vindas assim que o avião entrou no radar. Lá fora a imprensa ganha seu pão de cada dia, enquanto Patrícia se dirige aos hóspedes...

- Vejam lá fora. Não pensem que com o tempo eles se cansam de nós, só piora. Vamos, vou mostrar suas suítes e depois ao lanche...

Eles gostam da culinária mista de Sunshadow. As receitas são entregues sem hesitação, nutrindo o clima amistoso. O ambiente encantador ajuda, deixa nos dois uma sensação de segurança que é rara na liga. Vão à biblioteca (...) o tipo de ambiente que a visitante aprecia, ainda mais com aquele acervo que nunca foi divulgado (...) A decoração da madeira que forra o recinto diz muito sobre a dona da casa, que foi quem decidiu tudo em cada milímetro de seu lar. Os dois percebem que (...) devem evitar qualquer sinal ou gesto que remeta à liga, diante dos seis.

Renata demonstra mais intimidade, pela origem do cantor. Faz uma série de perguntas sobre sua família (...) Rebeca chama atenção por falar menos, embora interaja e ria em profusão. Informalmente concluem os rumos que Barney dará à sua carreira, oferecem inclusive seu estúdio para a gravação do disco (...) Lady Spy surge de seu esconderijo, após concluir que é seguro encarar os visitantes. Ursula se recolhe um pouco, é involuntário. Tem receio com gatos, tanto mais quanto maior e mais bonito, e aquele é um exemplar imenso e de beleza rara...

- Deveria ter nos avisado. Fique calma, a manterei ao meu lado e ficarei a uma distância elegante.

- Thank you and I’m sorry.

- Não se desculpe, todos temos algum trauma emerso ou oculto.

Marcia vê um trabalhinho delicado à sua frente. Se ela vir Spark sem aviso prévio, pode enfartar. Faz o alerta, pois pretende apresentar suas três crianças...

- Um gato desse tamanho??? E ele cabe na sua casa???

- Já coube na minha mão, mas cresceu.

Cresceu e hoje patrulha os limites da casa. Um turista sem noção, que tenta arrancar uma rosa branca do jardim da frente, é afugentado pelo imenso Maine Coon indignado. Foi Phoebe que plantou aquela roseira (...) quem ele pensa que é para colocar suas mãos que saíram sabe-se lá de onde, em uma delas sem permissão? O musculoso e avantajado animal fica lá por alguns minutos (...) até ter certeza de que o invasor não vai voltar, então busca o conforto de seu lar.

Os garotos estão concluindo as fusões para então os negócios começarem a crescer. Phoebe dá uma olhada pela câmera da coleira de Lady Spy (...) Vê sua mãe conversando com Ursula, que mantém uma distância e uma vigília sutil à presença da gata. Pensa no seu gato gigantesco e ranzinza (...) Quer ver de perto esses dois. Ajuda a acelerar e concluir o trabalho, então sugere irem à Máquina de Costura. Sandra a olha de lado, faz um sinal de “dois” e aponta para frente rapidamente, como se coçasse a orelha (...) Sim, vão dar uma olhada nesses heróis, especialmente na heroína que tem medo de gatos.

A conversa pelo caminho é animada e animadora, conseguiram finalmente um padrão industrial fino na produção (...) Os custos, é claro, caíram na mesma proporção em que a qualidade cresceu. Falam de lançar novos productos, quando chegam e avistam os hóspedes. Saúdam Barney com a farra de sempre, mas têm mais cerimônia com Ursula. Sandra pega Lady Spy e se afasta um pouco com ela, há uma sutil baixa de guarda da visitante (...) Ela faz um sinal discreto, chama a atenção da madrinha, aponta para a câmera da coleira e depois para Ursula, Patrícia considera a idéia...

- Uma coisa que me esqueci de dizer... Lady Spy não tem esse nome à toa... Veja isto.

- Parece uma jóia... Mas é uma lente! Sim, é uma câmera!

Ela perde o medo repentinamente e analisa bem o pingente (...) o pingente é só o receptor, há circuitos e baterias dentro da espessa coleira, que também servem para monitorar a saúde da portadora...

- Que incrível!

- Não há nada que aconteça nesta casa sem que eu tome conhecimento, onde quer que eu esteja, em qualquer parte do mundo.

Os dois (...) estudam o que podem no momento e se encantam. Aquilo é algo que bem poderia servir a liga, talvez em coleiras de cães de guarda.

Levam Barney para ver o palco onde vai cantar para as câmeras, diante de milhares de ghost drivers, para o mundo inteiro ver. Marcia vai ver as netas na fundação, aproveita para mostrar a cidade a Úrsula (...) Alguns artistas já estão em Sunshadow, vários deles vieram de Los Angeles e reconhecem a atenciosa balconista do hotel. Se descobrir famosa no meio artístico é um choque. A enorme estrutura física da fundação se avoluma diante de seus olhos.

Ela se segura, lembra-se dos filhos ao ver tantas crianças pequenas, todas bem cuidadas. A vontade é chorar, mas já (...) desistiu de esperar pelas lágrimas, elas simplesmente não saem. Lá estão as gêmeas, agarradas à trisavó após uma actividade com a turma. Vão correndo para a avó assim que a vêem. Ainda caberem em seus braços é um alívio, mas sabe que essa alegria não vai durar muito...

- Até ontem a mãe delas tinha o mesmo tamanho...

- Filhos crescem, honey... Você deve ser a Ursula...

O cumprimento mostra que há uma rainha mãe na cidade. Nancy parece querer entrar na alma dela, de tão fundo que a olha nos olhos. As leva para um tour pela fundação (...) Os órfãos seriam um capítulo triste, se eles não fossem tratados como família pelos voluntários, inclusive Albert (...) A análise não é prejudicada pela comoção reprimida, ela aprendeu a lidar com isso, vê naquela fundação um sopro de esperança para a luta da liga. Mas reprimir emoções tem seu custo, a tradicional dor de cabeça chega, Nancy a leva para a enfermaria, onde em vez de analgésico ela recebe uma massagem minuciosa (...) Nenhum medicamento fará efeito com essa musculatura tão retesada. Ela presta atenção nos movimentos, pelo tato, para reproduzi-los quando for necessário. Presta tanta atenção que não nota as lágrimas finalmente saindo e (...) está chorando. Contarão o episódio a Patrícia e ninguém mais.

&

À noite, fechada na biblioteca com os dois, Patrícia toca no assunto...

- Em situações normais eu te fecilitaria, mas no seu caso, precisando lidar continuamente com gente de todo tipo naquele hotel, eu sei o quanto precisa manter o controle.

- É essencial.

- Mas não dá para se manter o controle o tempo todo, Ursula, muito menos por muitos anos consecutivos e nunca sem um preço bem alto pelo represamento de emoções. Vocês sabiam que nós não precisamos mais da música desde os anos noventa? Muitas vezes bancamos shows, mas o público não precisa saber disso. Se dependêssemos de resultados financeiros nesta carreira, a banda talvez já tivesse se dissolvido, mas a música é a parte mais saudável do nosso trabalho, sem ela já teríamos enlouquecido. Lidamos todos os dias com a pior estirpe do empresariado, não só da América, tem gente muito pior lá fora. É por isso que nossos productos licenciados não são baratinhos, o expediente de usar mão de obra escrava de presos políticos e crianças traficadas, não faz parte dos nossos métodos. Claro que em nenhum registro de uma ditadura está escrito “Preso por crime de opinião” ou “Preso por não descer as calças e ficar de quatro para o ditador”, as leis desses países são propositalmente muito vagas e dão larga margem até para eliminação de desafetos pessoais. É como comprar uma maçã brilhante com capa envernizada e repleta de direitos autorais e fãs fanáticos pela marca, a empresa em si não passa de um escritório, ela não existe de verdade e não faz questão nenhuma de saber como suas maçãs e suas embalagens são produzidas, eles não dão a mínima... Compreendem? Eu não teria esta aparência bem cuidada se tivesse parado de cantar profissionalmente, talvez já estivesse irreconhecível de tantas plásticas. Compreende o que quero dizer, Ursula? Eu poderia ser sua mãe e é assim que vou falar agora; Eu conheço a sua história, sei pelo que passou, nós cuidamos de muitas mulheres que passaram por isso, procure um canal para suas emoções fluírem antes que elas a matem.

- Eu não tenho talentos artísticos.

- Tem. Todos têm algum. Venham comigo, tem uma parte da casa que ainda não viram.

Leva-os ao porão. A lenda do trenzinho é verdadeira e a diva confirma ser aquele mesmo que ganhou quando criança. Mostra as miniaturas customizadas que ganhou de fãs e amigos, as peças feitas nas prototipadoras e as próprias máquinas (...) utilizam a de resina photossensível. Não é para leigos, Patrícia orienta a hóspede em todos os passos, em alguns assume o controle (...) Em um minuto sai da prototipadora um gato siamês em posição de ataque, com 4” de comprimento em resina pérola...

- Foi isto... A tatuagem que vi naquele dia...

Barney acolhe sua conselheira. Patrícia chama Marcia (...) Junta tudo o que já tinha recolhido com os novos dados, traça um plano de trabalho, enquanto Patrícia tranqüiliza Barney...

- Ela nunca pediu ajuda?

- Não, é sempre ela quem ampara e socorre os amigos. Ela não gosta de gente se metendo na vida dela, estou surpreso de ter se permitido ajudar agora.

- Eu sou um pouco assim, mas precisei aprender a aceitar ajuda. Morta, eu não poderia ajudar ninguém. Ela terá que aprender isso também.

É o que ela ouve da psicóloga (...) Sugere que lide com argila ou pedra-sabão para colocar para fora o que sente...

- É o mesmo processo usado para fazer protótipos à moda antiga, sem a tecnologia da impressão 3d. No seu caso vai te ajudar a reproduzir o quem aí dentro, pra poder identificar e decidir o que fazer.

- Você sabe bastante de metalurgia, para quem se especializou em humanas.

- Mãe, esposa e nora de engenheiros mecânicos, convivo com esse mundo desde criança, nem que quisesse eu conseguiria não saber. Vamos começar com algo rápido, para esta noite?

Lhe dá uma massinha de epóxi de secagem lenta. Ela faz um medalhão côncavo com uma coruja sobre um galho, no centro. Adiciona uma meia lua rapidamente. Descobrir que tem um talento artístico foi outra surpresa, nunca se preocupou em conhecer nenhum.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXVIII

    Preparação. A estação 168 para e semeia para a colheita dos próximos acontecimentos, tudo o que temos aqui é só o prelúdio. Todos à bordo, o trem vai partir.


Stephanie chama outra professora, está se sentindo mal. Chamam Nancy, que pega uma van Passenger da fundação e leva a neta para o hospital (...) não é hora, mas está na hora. A equipe médica, enquanto marido, pais e toda a família enchem os saguões, decide por uma cesariana. Prematura, mas não muito. Pequena, mas não muito. Frágil, mas não demais. Caroline e sua incubadora dividem o apartamento com a mãe, até poderem voltar para casa. A primeira mamada acontece antes de o dia terminar, regada pelos pais chorões. A avó materna se desmancha em prantos no ombro da irmã, que também chora em solidariedade. A imprensa cobra notícias da professorinha milagrosa. Rebeca pensa em manda-los tomar naquele lugar (...) mas encarrega Sandra de dar as notícias, já que se mostrou tão habilidosa em lidar com eles.

A internet é ágil, lembra-se rapidamente que a professorinha com nome de princesa é uma princesa de um reino perdido (...) Alguém comenta “Hollywood, veja que dica quente” com hashtag, e histórias de professores dedicados, que se tornaram lendas em suas comunidades, vêm à tona. Em uma semana a menina se estabiliza e pode conhecer seu quartinho. Josephine chega para visitar as três afilhadas; mãe, filha e neta. A bisavó faceira aparece em seguida, para prestar a assistência costumeira e acalmar os ímpetos professorais da neta, que quer voltar à sala de aula.

Deixam o casal dar o primeiro passeio com sua herdeira e vão mostrar à diva a novíssima cidade. Ela fica encantada, mas ao mesmo tempo triste...

- Isto não deveria constituir tanta novidade, chéries. Este país já deveria ter algo parecido em todas as suas grandes cidades.

- Estamos tão atrasados?

- Estamos, Nancy. Tudo isso já deveria ser obsoleto e ter se disseminado pelo mundo, a América tem condições para isso, mesmo com tudo o que enfrenta.

A imprensa grava isso, logo o lamento da diva está em todos os canais de notícias (...) Ela estende a mão e sente a brisa, imagina que não ficará muito quente no inverno, nem é a intenção. Querem que as pessoas tenham segurança e conforto para viverem sua cidade (...) Apesar de tudo, fica encantada, as paredes craqueladas, quase imitando o leito marinho em um dia claro, dão a impressão de tudo aquilo ser um gigantesco vaso antigo e raro. Consegue ver alguns padrões, aponta para eles e logo o público começa a ver também, então os teóricos da conspiração ganham um brinquedo novo.

Na Máquina de Costura, cercada pelos pupilos, ela conta da conversa que teve com Nancy, e repercutiu tanto na internet. Olham todos para a engenheira da turma...

- É tudo verdade. A cidade submarina com que Sakura sonha, já deveria estar aliviando a pressão populacional em várias metrópoles costeiras pelo mundo. Até mesmo o Brasil deveria ter pelo menos uma. A questão é que as pessoas e os governos, infelizmente em especial as democracias, se amedrontaram muito, se culparam muito e hoje se reprimem muito.

- Nós já notamos isso; Frida, Marcia, Eddie e eu – diz Renata. Há quem diga, por exemplo, que a dívida pública americana é uma ilusão causada justo pelo medo de ousar e quebrar a cara, ou de ser responsável por danos a terceiros.

- Não sei quem disse isso, mas o pacote de trilhões que devemos é bem real... Se bem que dinheiro é um conceito, talvez o autor tenha dito isso como uma metáfora...

- Toda fortuna precisa de uma sustentação, Patty. Uma dívida é uma espécie de fortuna negativa, que é basicamente sustentada pela incapacidade, ou sensação de incapacidade de se trabalhar e produzir para saldá-la. Se uma pessoa tem acesso a meios de produzir o que outros querem ou necessitam, ela consegue saldar praticamente qualquer dívida, mesmo uma trilhonária.

- E se há algo que jamais se esgota, são o desejo e a necessidade. Seria o caso de um gestor central coordenar a troca de serviços para fazer a riqueza circular com mais eficiência e velocidade... Estou começando a me interessar por essas conclusões. Quem é mesmo o autor?

- Você sabe, oh, madrinha orgulhosa.

A sala vira uma farra. Luppy, sem entender muita coisa, de tão acostumada a evitar assuntos de Estado, como todo americano médio (...) Patrícia chama o afilhado, pede pormenores enquanto o afaga e ele vem com mais uma parábola, para conseguir raciocinar como precisa...

- Imaginem um motor pequeno, com uns quinze quilos de torque. Girando 3000rpm ele não produziria mais do que 60hp, se muito bem regulado. Teria um desempenho medíocre em um carro. Capacitado a alcançar 6000rpm, passaria fácil dos 120hp. Cabe à engenharia preparar esse motor e sua transmissão para o trabalho que os espera...

A velha convicção da organização de tirar burocratas de cargos técnicos, vem à tona. Josephine até se emociona, lembra-se de Grant enfiando o dedo na cara de um burocrata arrogante (...) Sem querer ele lançou uma luz em um problema que estava completamente em trevas. A cabeça matemática da engenheira mecânica gira a cem mil por minuto, já há um foco de esperança que vai orientar os técnicos da organização a iluminar e estudar bem.

À tarde, no fim de seu expediente, já indo buscar as crianças, Luppy se vira para a patroa...

- A gente ainda vai ter uma conversa sobre esses assuntos que vocês tratam.

- Fala da convesa que tivemos hoje? Por que não se juntou a nós?

- Porque eu não estava entendendo nada! Vocês falaram de dívida publica, depois ele veio falando de motor, passaram a falar de burocracia estatal, então trocaram de assunto de novo... Tô perdida!

- Ah, é isso. O que você conta para seus filhos dormirem? Só manda dormir... Espere um instante.

Sempre tem alguns livros para dar de presente, lhe dá as parábolas do afilhado e pede que leia uma por noite para as crianças, antes de manda-las para a cama.

&

Patrícia manda mensagens para Barney, pergunta, como se não soubesse, do que os dois gostam e o que preferem evitar (...) Ainda avisa que designou a mãe de Phoebe para acompanhar sua amiga, quando estiver ocupado. Ursula começa a desconfiar (...) Começa a estudar o que encontra sobre Marcia, como Patrícia esperava. Vai falar com a nora...

- A esta hora ele deve ter revisto três vezes a cena em que você protegeu a Phee.

- E se ela decidir me testar? Que dizer, eu não tenho treinamento praticamente nenhum, ela é quase militar!

- Ela vai te testar, mas não no que sabe que você não tem grandes habilidades. Aliás, você precisa se aprimorar, não pode ser a única na casa incapaz de quebrar um atrevido ao meio.

Encarrega Phoebe de treinar a mãe, que é muito básica em defesa pessoal. Basicamente (...) dar um murro e fugir enquanto o outro tenta se situar, nada além disso. A moçoila é bastante didática, leva-a e as meninas ao jadim dos fundos, senta as pequenas em cadeiras logo atrás da mulher atônita, um pouco afastadas entre si...

- É um jogo bem simples. Eu mando estes balões cheios de água e você não deixa eles acertarem as gêmeas. Pronta ou não, lá vai!

- Menina!!!

Não dá tempo para uma segunda palavra (...) para a mãe se descabelar para interceptar os balões. São dezenas de balões com água de rosas, que deixam Marcia encharcada e perfumada da cabeça aos pés...

- Hey, que idéia foi essa?! Você quase acertou suas filhas!

- Você não se mexeria se estivesse só, eu te conheço, ficaria encolhida, esperando o perigo passar. Com as meninas na linha de tiro, deu tudo de si e conseguiu. Vem ver a gravação.

Só de lingerie, com a roupa na mão, ela não se reconhece naquela cena de ação, enquanto puxa a orelha do rebento. Richard chega de um salvamento mundial e se admira com o vídeo, se impressiona (...) Phoebe conta às avós, ainda com a orelha doendo. O teste foi um sucesso, mas precisa que elas estejam presentes para ela aceitar um novo treinamento. As duas estão lá no dia seguinte (...) Desta vez é só água, mas ela joga com mais velocidade. Desta vez houve aquecimento e alongamento (...) o resultado é melhor do que o de ontem. Mais dois treinos e ela passa a devolver os balões...

- Agora que estamos ambas encharcadas, é hora de aprender a atacar também. Vamos, pense que eu vou pegar um doce minutos antes do jantar.

- Mas não vai mesmo!

Phoebe, se quisesse, subjugaria a mãe com uma só mão (...) mas quer que ela se aprimore. Aumenta a velocidade aos poucos, afiando os reflexos daquela garota de 5’4½“. As feições pouco mudaram desde os quinze anos (...) Parece ser irmã da filha, que justo por isso a treina. O festival da saudade começa no dia seguinte, se estendendo à cidade subterrânea, com Marcia afiada. A carinha de adolescente e a voz pueril são as mesmas, mas a agilidade com que segura as pequenas sem precisar se esticar, quanta diferença!

Desta vez tem velharia nova! Apresentadores de programas de caça, comércio e reciclagem de antiguidades decidiram aparecer, já que no limite da boa convivência e de dez metros quadrados, está tudo liberado (...) o carrinho de bebê de Naomi não está à venda, podem tirar o cavalinho da chuva; hoje ele está avaliado em doze mil dólares, o quádruplo do que custou. São todos levados no ônibus da banda, pelos seis, a um passeio pelo museu da Culture Train (...) receberam literais milhares de dicas de bons negócios nos arredores, especialmente em Summerfields, onde ainda há casas cápsulas do tempo abandonadas com mobília e outros itens dos anos 1940 até os 1980.

As dicas são quentes, eles conseguem excelentes compras...

- Quanto você quer por esta placa? Você dá o preço!

- Não sei... Quarenta.

- Setenta pelas duas!

- Frank, venha ver isto!

Fechado. Uma placa da Coca-Cola e uma da Pepsi, que estrearam em um mercadinho inaugurado em 1954 (...) Ele corre para ver, é um bom estoque de carrinhos de metal a corda, todos ainda nas caixas (...) Era a mercadoria desaparecida misteriosamente em 1959, detrás das geladeiras. Tudo intacto com as embalagens originais brilhando como novas em cores vivazes. Voltam com a van cheia e têm pouco o que recolher, quando o festival termina. Aliás, metade dos carrinhos fica em Sunshadow, um de cada modelo na Máquina de Costura. Tem como recusar um pedido de Patrícia Petty, com aqueles olhos verdes luminescendo sobre aquele sorriso maravilhoso e com o cartão de crédito ilimitado em mãos? Não, é virtualmente impossível.