sábado, 16 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXVIII

    Preparação. A estação 168 para e semeia para a colheita dos próximos acontecimentos, tudo o que temos aqui é só o prelúdio. Todos à bordo, o trem vai partir.


Stephanie chama outra professora, está se sentindo mal. Chamam Nancy, que pega uma van Passenger da fundação e leva a neta para o hospital (...) não é hora, mas está na hora. A equipe médica, enquanto marido, pais e toda a família enchem os saguões, decide por uma cesariana. Prematura, mas não muito. Pequena, mas não muito. Frágil, mas não demais. Caroline e sua incubadora dividem o apartamento com a mãe, até poderem voltar para casa. A primeira mamada acontece antes de o dia terminar, regada pelos pais chorões. A avó materna se desmancha em prantos no ombro da irmã, que também chora em solidariedade. A imprensa cobra notícias da professorinha milagrosa. Rebeca pensa em manda-los tomar naquele lugar (...) mas encarrega Sandra de dar as notícias, já que se mostrou tão habilidosa em lidar com eles.

A internet é ágil, lembra-se rapidamente que a professorinha com nome de princesa é uma princesa de um reino perdido (...) Alguém comenta “Hollywood, veja que dica quente” com hashtag, e histórias de professores dedicados, que se tornaram lendas em suas comunidades, vêm à tona. Em uma semana a menina se estabiliza e pode conhecer seu quartinho. Josephine chega para visitar as três afilhadas; mãe, filha e neta. A bisavó faceira aparece em seguida, para prestar a assistência costumeira e acalmar os ímpetos professorais da neta, que quer voltar à sala de aula.

Deixam o casal dar o primeiro passeio com sua herdeira e vão mostrar à diva a novíssima cidade. Ela fica encantada, mas ao mesmo tempo triste...

- Isto não deveria constituir tanta novidade, chéries. Este país já deveria ter algo parecido em todas as suas grandes cidades.

- Estamos tão atrasados?

- Estamos, Nancy. Tudo isso já deveria ser obsoleto e ter se disseminado pelo mundo, a América tem condições para isso, mesmo com tudo o que enfrenta.

A imprensa grava isso, logo o lamento da diva está em todos os canais de notícias (...) Ela estende a mão e sente a brisa, imagina que não ficará muito quente no inverno, nem é a intenção. Querem que as pessoas tenham segurança e conforto para viverem sua cidade (...) Apesar de tudo, fica encantada, as paredes craqueladas, quase imitando o leito marinho em um dia claro, dão a impressão de tudo aquilo ser um gigantesco vaso antigo e raro. Consegue ver alguns padrões, aponta para eles e logo o público começa a ver também, então os teóricos da conspiração ganham um brinquedo novo.

Na Máquina de Costura, cercada pelos pupilos, ela conta da conversa que teve com Nancy, e repercutiu tanto na internet. Olham todos para a engenheira da turma...

- É tudo verdade. A cidade submarina com que Sakura sonha, já deveria estar aliviando a pressão populacional em várias metrópoles costeiras pelo mundo. Até mesmo o Brasil deveria ter pelo menos uma. A questão é que as pessoas e os governos, infelizmente em especial as democracias, se amedrontaram muito, se culparam muito e hoje se reprimem muito.

- Nós já notamos isso; Frida, Marcia, Eddie e eu – diz Renata. Há quem diga, por exemplo, que a dívida pública americana é uma ilusão causada justo pelo medo de ousar e quebrar a cara, ou de ser responsável por danos a terceiros.

- Não sei quem disse isso, mas o pacote de trilhões que devemos é bem real... Se bem que dinheiro é um conceito, talvez o autor tenha dito isso como uma metáfora...

- Toda fortuna precisa de uma sustentação, Patty. Uma dívida é uma espécie de fortuna negativa, que é basicamente sustentada pela incapacidade, ou sensação de incapacidade de se trabalhar e produzir para saldá-la. Se uma pessoa tem acesso a meios de produzir o que outros querem ou necessitam, ela consegue saldar praticamente qualquer dívida, mesmo uma trilhonária.

- E se há algo que jamais se esgota, são o desejo e a necessidade. Seria o caso de um gestor central coordenar a troca de serviços para fazer a riqueza circular com mais eficiência e velocidade... Estou começando a me interessar por essas conclusões. Quem é mesmo o autor?

- Você sabe, oh, madrinha orgulhosa.

A sala vira uma farra. Luppy, sem entender muita coisa, de tão acostumada a evitar assuntos de Estado, como todo americano médio (...) Patrícia chama o afilhado, pede pormenores enquanto o afaga e ele vem com mais uma parábola, para conseguir raciocinar como precisa...

- Imaginem um motor pequeno, com uns quinze quilos de torque. Girando 3000rpm ele não produziria mais do que 60hp, se muito bem regulado. Teria um desempenho medíocre em um carro. Capacitado a alcançar 6000rpm, passaria fácil dos 120hp. Cabe à engenharia preparar esse motor e sua transmissão para o trabalho que os espera...

A velha convicção da organização de tirar burocratas de cargos técnicos, vem à tona. Josephine até se emociona, lembra-se de Grant enfiando o dedo na cara de um burocrata arrogante (...) Sem querer ele lançou uma luz em um problema que estava completamente em trevas. A cabeça matemática da engenheira mecânica gira a cem mil por minuto, já há um foco de esperança que vai orientar os técnicos da organização a iluminar e estudar bem.

À tarde, no fim de seu expediente, já indo buscar as crianças, Luppy se vira para a patroa...

- A gente ainda vai ter uma conversa sobre esses assuntos que vocês tratam.

- Fala da convesa que tivemos hoje? Por que não se juntou a nós?

- Porque eu não estava entendendo nada! Vocês falaram de dívida publica, depois ele veio falando de motor, passaram a falar de burocracia estatal, então trocaram de assunto de novo... Tô perdida!

- Ah, é isso. O que você conta para seus filhos dormirem? Só manda dormir... Espere um instante.

Sempre tem alguns livros para dar de presente, lhe dá as parábolas do afilhado e pede que leia uma por noite para as crianças, antes de manda-las para a cama.

&

Patrícia manda mensagens para Barney, pergunta, como se não soubesse, do que os dois gostam e o que preferem evitar (...) Ainda avisa que designou a mãe de Phoebe para acompanhar sua amiga, quando estiver ocupado. Ursula começa a desconfiar (...) Começa a estudar o que encontra sobre Marcia, como Patrícia esperava. Vai falar com a nora...

- A esta hora ele deve ter revisto três vezes a cena em que você protegeu a Phee.

- E se ela decidir me testar? Que dizer, eu não tenho treinamento praticamente nenhum, ela é quase militar!

- Ela vai te testar, mas não no que sabe que você não tem grandes habilidades. Aliás, você precisa se aprimorar, não pode ser a única na casa incapaz de quebrar um atrevido ao meio.

Encarrega Phoebe de treinar a mãe, que é muito básica em defesa pessoal. Basicamente (...) dar um murro e fugir enquanto o outro tenta se situar, nada além disso. A moçoila é bastante didática, leva-a e as meninas ao jadim dos fundos, senta as pequenas em cadeiras logo atrás da mulher atônita, um pouco afastadas entre si...

- É um jogo bem simples. Eu mando estes balões cheios de água e você não deixa eles acertarem as gêmeas. Pronta ou não, lá vai!

- Menina!!!

Não dá tempo para uma segunda palavra (...) para a mãe se descabelar para interceptar os balões. São dezenas de balões com água de rosas, que deixam Marcia encharcada e perfumada da cabeça aos pés...

- Hey, que idéia foi essa?! Você quase acertou suas filhas!

- Você não se mexeria se estivesse só, eu te conheço, ficaria encolhida, esperando o perigo passar. Com as meninas na linha de tiro, deu tudo de si e conseguiu. Vem ver a gravação.

Só de lingerie, com a roupa na mão, ela não se reconhece naquela cena de ação, enquanto puxa a orelha do rebento. Richard chega de um salvamento mundial e se admira com o vídeo, se impressiona (...) Phoebe conta às avós, ainda com a orelha doendo. O teste foi um sucesso, mas precisa que elas estejam presentes para ela aceitar um novo treinamento. As duas estão lá no dia seguinte (...) Desta vez é só água, mas ela joga com mais velocidade. Desta vez houve aquecimento e alongamento (...) o resultado é melhor do que o de ontem. Mais dois treinos e ela passa a devolver os balões...

- Agora que estamos ambas encharcadas, é hora de aprender a atacar também. Vamos, pense que eu vou pegar um doce minutos antes do jantar.

- Mas não vai mesmo!

Phoebe, se quisesse, subjugaria a mãe com uma só mão (...) mas quer que ela se aprimore. Aumenta a velocidade aos poucos, afiando os reflexos daquela garota de 5’4½“. As feições pouco mudaram desde os quinze anos (...) Parece ser irmã da filha, que justo por isso a treina. O festival da saudade começa no dia seguinte, se estendendo à cidade subterrânea, com Marcia afiada. A carinha de adolescente e a voz pueril são as mesmas, mas a agilidade com que segura as pequenas sem precisar se esticar, quanta diferença!

Desta vez tem velharia nova! Apresentadores de programas de caça, comércio e reciclagem de antiguidades decidiram aparecer, já que no limite da boa convivência e de dez metros quadrados, está tudo liberado (...) o carrinho de bebê de Naomi não está à venda, podem tirar o cavalinho da chuva; hoje ele está avaliado em doze mil dólares, o quádruplo do que custou. São todos levados no ônibus da banda, pelos seis, a um passeio pelo museu da Culture Train (...) receberam literais milhares de dicas de bons negócios nos arredores, especialmente em Summerfields, onde ainda há casas cápsulas do tempo abandonadas com mobília e outros itens dos anos 1940 até os 1980.

As dicas são quentes, eles conseguem excelentes compras...

- Quanto você quer por esta placa? Você dá o preço!

- Não sei... Quarenta.

- Setenta pelas duas!

- Frank, venha ver isto!

Fechado. Uma placa da Coca-Cola e uma da Pepsi, que estrearam em um mercadinho inaugurado em 1954 (...) Ele corre para ver, é um bom estoque de carrinhos de metal a corda, todos ainda nas caixas (...) Era a mercadoria desaparecida misteriosamente em 1959, detrás das geladeiras. Tudo intacto com as embalagens originais brilhando como novas em cores vivazes. Voltam com a van cheia e têm pouco o que recolher, quando o festival termina. Aliás, metade dos carrinhos fica em Sunshadow, um de cada modelo na Máquina de Costura. Tem como recusar um pedido de Patrícia Petty, com aqueles olhos verdes luminescendo sobre aquele sorriso maravilhoso e com o cartão de crédito ilimitado em mãos? Não, é virtualmente impossível.

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