sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLIII

    Juventude estendida. A estação 153 ilustra bem o que planos, mentes activas e corpos bem cuidados fazem pela longevidade. Peguem seus bilhetes e embarquem, o trem vai partir.


Liberam o calendário de shows para 2012 (...) A melhor notícia é que a nova formação estreará bem antes do previsto, o que facilitará também a agenda de serviço reservado da organização. Em 1964 eles eram patrocinados, em 2012 eles vão patrocinar a turnê, isso logo se espalha entre os fãs, pelas redes sociais. A última reunião oficial da banda inclui os novatos (...) O clima é ameno, ouvem-se risadas, apesar do mundo em desmoronamento as perspectivas são boas, enfim. Falam com leveza sobre o futuro musical que lhes aguarda.

A prioridade agora, sem urgências para atrapalhar, é repassar experiência aos garotos. Detalham sobre os ritos para subir ao palco, os exercícios de respiração, as sestas entre o último ensaio e a apresentação, o cuidado com a acústica, a lida com os fãs, os paparazzi e os desafetos que vão simplesmente achar que aquele trecho daquela canção é uma indirecta...

- Não se iludam com o calendário – alerta Patricia – os egos nunca estiveram tão inflados. Qualquer um com mil seguidores em um canal de vídeo pode se achar uma celebridade, e querer cobrar até para cumprimentar alguém em público.

- Não é exagero, nós já vimos isso acontecer – completa Robert. O sujeito ainda jurou processar uma vendedora que não o reconheceu, a acusou de sabotar sua carreira.

Os seis se entreolham perplexos, se voltam para os veteranos e disparam a rir, contagiando-os...

- Hey, eu sou o famoso Ninguém!

- Quem você pensa que é pra não me reconhecer?

Os gêmeos começam e todo mundo acrescenta trechos, Rebeca ritima com a bateria e logo têm uma canção nova em gestação (...) Depois vão para os acepipes altamente calóricos, para poderem enfrentar o inverno que já bate à porta. A canção é registrada e fará parte de algum show, de surpresa.

A neve começa a cair (...) À exceção de Phoebe e as meninas, todos estão empacotados. Ela entra em uma loja de relógios, de um colaborador da organização, pede para ver alguns modelos exclusivos e é levada para dentro, onde o piso se abre e descem ambos às instalações secretas. Estavam pensando em desactivar e encher de terra, pois o modelo já tornou-se obsoleto (...) mas Sandra aventou a possibilidade de serem utilizadas como apoio para a construção de uma cidade subterrânea. O assunto é tratado com engenheiros, que visam especialmente o inverno rigoroso e as tempestades, que costumam preceder furacões.

A cidade nova inteira é interligada por instalações (...) o trabalho seria consideravelmente pequeno. Ela sobe de volta com um relógio altamente complexo em mãos, para Albert, vai à casa da bisavó paterna e pega as meninas, então conta alegremente das conclusões a que chegaram. O governo gostou do preço e da possibilidade de agentes secretos ainda poderem circular disfarçados (...) o metrô teria suporte para futuras ampliações e o turismo um argumento a mais. Vão falar com Daniel e Laura, que concordam com o quanto seria bom terem instalações assim, para a população poder viver melhor durante o inverno...

- Como assim “Já existem essas instalações”?

- Não há mais motivos para segredos, não para vocês. A construção da cidade nova foi em cima de instalações para a cooperação com a CIA e as agências de países amigos, mas o conceito dessas bases já não faz mais sentido. Vejam aqui...

Patricia mostra-lhes no tablet o mapa das instalações (...) São três pavimentos com iluminação e ventilação, que agora poderão ser naturais. Ninguém precisa saber que elas já existiam (...) Reúnem os cidadãos mais respeitados da cidade, tratam a respeito e todos concordam, já no fim do inverno começarão com as obras e a ocupação do subterrâneo. Josephine tem a positiva e avisa aos colaboradores, é motivo para festa. A imprensa residente se apressa em ir ter com aqueles cidadãos (...) Eles apenas avisam que haverá novidades e que em breve o inverno não separará mais os sunshadowers, que podem contar com os mesmos feitos tecnológicos e de engenharia que criaram a Máquina de Costura.

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Em tempo recorde, embasada não só nas novas tecnologias, mas também em seu aprimoramento profissional, Glenda entrega para Stephanie uma caixa com cópias do “The Eliasian Pedagogy” (...) Há um extra, uma última página que resume a História de Elias, Sandra aparece no terceiro de seis parágrafos. Julia a sugeriu. Elias agradece com um sorriso de meia boca, ainda não se acostumou com a notoriedade e não consegue vestí-la, mas Patricia amou terem tirado a tartaruga do casco! Vai ajudá-lo a lidar com isso, mas quer que ele lide.

A noite de autógraphos é bem mais animada do que se esperava, com o termômetro adormecido e as pessoas reticentes em sair de suas camas quentes. Claro que haver um bufett de sopas e caldos quentes ajudou a (...) não esperarem o frio passar. Aubrey manda imagens em tempo real para o escritório central, Audrey paparica o rebento até no sanitário, Enya assegura que Elias também também assine o livro para seus fãs (...) A numerosa família e os aspirantes a parentes estão lá (...) Glenda dá boas notícias vindas de todo o país e várias partes de outros. O lastro do parentesco se fez valer novamente, e o tema da obra dá coceira em muita gente, inclusive quem não gosta do modo de ensino de Sunshadow.

No dia seguinte o sucesso, a glória, o prestígio e o fanatismo. Milhares de exemplares foram queimados por divulgarem a pedagogia do “trem do diabo”(...) Bem, os livros queimados não foram doações, todos foram comprados, a divulgação da queima atraiu a atenção (...) e o rótulo de “proibido” atiçou a sanha de muitos leitores. Torna-se um best seller instantâneo. Ela nem pensa em agradecer aos fanáticos, que finalmente a descobriram, mas gosta dos resultados.

O pouco que resta de ano transcorre na toada mais mansa, com todo mundo só saindo para o estritamente necessário. Phoebe não é todo mundo, ela sai com as filhas no Cadillac com capota baixa (...) Ninguém quis arriscar, foram Richard, Marcia e Albert com elas, mas empacotados, enquanto as três usam apenas agasalhos leves (...) até duas figuras similares a ursos de pelúcia aparecerem no horizonte branco, uma delas apontando para a direita. Patrícia e Renata os param, não tem conversa, as três são devidamente empacotadas e todos levados à Máquina de Costura, onde chocolate quente e pão de queijo recém saídos do forno completam a aventura das pequenas, para quem tudo foi festa...

- Mas eu não senti frio, juro!

- Não me provoque, Phoebe. Deixe para demonstrar sua imensa resistência quando ela for necessária. Tome seu chocolate.

Patricia encarna Princess, para falar no tom certo de autoridade. As pequenas terminam de comer e correm para os instrumentos, então as bisavós vão atrás e as ajudam a tocar Bohemian Rapsody. Do alto da escadaria, Lady Spy observa a tudo despreocupada, de barriga cheia (...) Ela olha para o cenário alvejado lá fora, estima a temperatura e comenta consigo...

- Rrrrr, rrrrrrr, mhmown...

E se esparrama em sua almofada. Havia um paparazzo maluco na rua, ele se resfriou, mas (...) as imagens lhe renderam muito, mas muito dinheiro, além de mais uma polêmica sobre a moça.

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Glenda anuncia a gravidez (...) Na rede social da cidade ela escreve simplesmente “A ninhada terá início! Woohoo”. Isso faz Tobby e Anita enfrentarem o inverno glacial de Michigan para ir ter com o casal (...) Ela alega saber quem é a criança, já escolheu o nome e começou a esboçar a decoração do quartinho. Elvira terá pelo menos um ano e meio todinho para si, quando o próximo da lista será gestado. Até planos para um halloween especial o casal tem...

- Ela não vai ser bruxa, ela é uma bruxa. Você não tá entendendo, Juan? Eu não vou parir novatos, só tem gente bem antiga na fila, da primeira leva de degredados.

- Wow... Teremos uma casa assombrada por nossos próprios filhos?

- Esses barulhinhos e luzes que vocês costumam relatar, serão coisas do passado.

- Vão acabar?

- Não, meu! Se liga! Até agora a gente tava tocando valsinha para ninar crianças, a partir de Setembro será rock pauleira!

- Baby, seus sogros chegaram!

O velho McGuinness corre para ter com a nora e apóia a idéia de assombração voluntária, será um atrativo extra para o museu.

A neve derrete, a barriga aparece e as obras para a cidade subterrânea têm início. Não utilizam mão de obra desconhecida desta vez, só os operários costumeiros e de confiança (...) começa também o calendário de shows da Dead Train. O velho Coach viaja até Lansing, para a primeira apresentação do ano fora de Sunshadow. Desta vez os novatos ficam em casa, ensaiando e aprimorando. Há cinco décadas a tradição do mar de fãs e paparazzi se repete, em essência o fenômeno está intacto, só algumas neuras e tecnologias novas foram acrescentadas.

Encontram os músicos de apoio no hotel, com quem descontraem um pouco até irem conhecer e ensaiar no palco do show. Fazem alguns ajustes no som, mas podem ensaiar rapidamente (...) Outra coisa que continua essencialmente a mesma, é o carinho para com os fãs. Selfies aos borbotões vão parar nas redes sociais (...) À noite a pauleira rola solta, o sexteto de sexagenários esbanja energia e talento. As manchetes do dia seguinte seguem a do Coast to Coast News com “A terceira idade acaba de ser reescalonada”, aqueles seis garotos pulando e correndo pelo palco não podem ser chamados de velhos.

Vão para Detroit, onde farão uma visita ao salão do automóvel (...) Vão do hotel para o pavilhão, pegando todos de surpresa, especialmente a segurança. Os ceos das montadoras fazem questão de irem ter com a doutora em dissipação e conversão de energia em máquinas térmicas. Tudo o que ela disser, de bom ou mau de seus carros, é precioso, ela conhece o assunto. Eles não ignoram ninguém, nem os menores e mais obscuros fabricantes de réplicas (...) ainda assim a imprensa automotiva dedica um espaço enorme à surpresa e aos comentários extremamente técnicos de Patrícia.

“Vocês estão muito tímidos” reverbera em todos os canais de notícias automotivas. O contraste com a ousadia de outrora e os passos sobre ovos de hoje, a indústria americana parece ter medo de se recuperar (...) Daí nascem mais matérias, mais reportagens, mais acessos, mais patrocínios e uma imensa cesta de chocolates finos em agradecimento à diva, que em meio a risos decreta...

- Cada um pega três bombons. O resto vai para Sunshadow. Não tem conversa, eu conheço vocês, especialmente vocês cinco, não vou arriscar uma diarreia no meio do show...

Os chocolates são vistos indo para as mãos de um membro da equipe e ele para Sunshadow, logo todos deduzem que aquela banda da grande turnê ainda está viva, para a felicidade dos fãs.

No camarim, o que encontram? Mais chocolates, que Patrícia manda embrulhar em dezoito pacotes iguais e lacrados (...) O restante sai como planejado, eles aquecem os músculos, as vozes, meditam um pouco, se dão as mãos e vão à entrada do palco, até Rita os anunciar...

- Atenção senhores passageiros, o expresso para o mundo da felicidade vai partir. Peguem suas reservas de energia e embarquem no DEAT TRAIN!

O estádio quase desmorona, os seis entram ovacionados e logo começam com Bla-bla-band. Nos bastidores, Deborah dança com Eddie até o intervalo (...) Voltam na manhã seguinte para o aconchego do lar, onde mais chocolate os espera...

- “Em agradecimento pela consultoria informal e pelo brilho que emprestou ao nosso salão”... “Consultoria informal”? Será que eu não posso abrir a boca sem alguém se aproveitar disso?

- Não quando o assunto é automóvel, meu amor. Sua opinião vale ouro, mesmo a mais informal.

- Por isso aquele cara da Chevrolet estava todo animado, com bloquinho e caneta em mãos! Ainda a garota com uniforme da Acura, ela estava gravando a conversa... Parece que eu dei um milhão a cada um deles, de tão felizes que ficaram!

- Olha, se eles conseguirem tirar proveito de metade do que você disse, é por ai mesmo. Até eu, que sou leigo, entendi o que você disse sobre turbilhonamento de alta velocidade.

Não um milhão, mas cada um ganhou um carro médio pela iniciativa. Athur até consegue explicar mas não refresca. Os engenheiros, de posse dos pareceres, estão trabalhando a todo vapor, como os operários da cidade subterrânea. Arcos de concreto vulcânico armado microligado são adicionados a cada metro escavado (...) Esperam entregar tudo até o natal.

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