domingo, 17 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXIX

    A princesa na fortaleza. A estação 169 desenha a sabedoria popular; quanto mais reforçada a embalagem, mais delicado é o conteúdo. Embarquem, o trem vai partir.


Na manhã do dia anterior, os seis estão no aeroporto, com Marcia, esperando pela revelação e sua companhia (...) A cada cidadão foi recomendado fazer com que se sintam em casa, e que reporte qualquer coisa. O avião taxia naquela monotonia segura que não dá audiência. Barney aparece primeiro, com o vício de Mars Storm de verificar tudo antes de passar por uma porta, mesmo rapidamente. Elegante, sóbria e aparentemente impassível, vem Ursula logo em seguida (...) Patricia acena e eles localizam seus anfitriões. Por ordens dela, a imprensa mantém desta vez uma distância elegante, para não constranger a visitante.

Barney é recebido com farra, Ursula com carinho. Ela gosta, mas mantém a discrição. Nota a reverência de todas as pessoas para com os seis, e dos cinco para com Patrícia. Marcia não a impressiona, mas relevar as aparências é algo que um super herói aprende rapidamente, se quiser viver. O lendário CMG Coach híbrido com seu motor marítimo original (...) agora será sua condução (...) Enquanto os seis conversam com Barney sobre as apresentações que tem feito, e adiantam alguma coisa sobre o lançamento do primeiro álbum, Ursula os estuda e nota que Marcia também o faz...

- Eles são sempre assim?

- De bom humor, sim. De mau humor eles se fecham e evitam qualquer conversa.

- Impressionante saber que eles têm mau humor, de vez em quando.

- Dura pouco. Não resiste à primeira visão de um neto.

É uma informação valiosa para Dead Hope. Chegam à Máquina de Costura. A casa impressiona muito (...) Luppy preparou o festim de boas vindas assim que o avião entrou no radar. Lá fora a imprensa ganha seu pão de cada dia, enquanto Patrícia se dirige aos hóspedes...

- Vejam lá fora. Não pensem que com o tempo eles se cansam de nós, só piora. Vamos, vou mostrar suas suítes e depois ao lanche...

Eles gostam da culinária mista de Sunshadow. As receitas são entregues sem hesitação, nutrindo o clima amistoso. O ambiente encantador ajuda, deixa nos dois uma sensação de segurança que é rara na liga. Vão à biblioteca (...) o tipo de ambiente que a visitante aprecia, ainda mais com aquele acervo que nunca foi divulgado (...) A decoração da madeira que forra o recinto diz muito sobre a dona da casa, que foi quem decidiu tudo em cada milímetro de seu lar. Os dois percebem que (...) devem evitar qualquer sinal ou gesto que remeta à liga, diante dos seis.

Renata demonstra mais intimidade, pela origem do cantor. Faz uma série de perguntas sobre sua família (...) Rebeca chama atenção por falar menos, embora interaja e ria em profusão. Informalmente concluem os rumos que Barney dará à sua carreira, oferecem inclusive seu estúdio para a gravação do disco (...) Lady Spy surge de seu esconderijo, após concluir que é seguro encarar os visitantes. Ursula se recolhe um pouco, é involuntário. Tem receio com gatos, tanto mais quanto maior e mais bonito, e aquele é um exemplar imenso e de beleza rara...

- Deveria ter nos avisado. Fique calma, a manterei ao meu lado e ficarei a uma distância elegante.

- Thank you and I’m sorry.

- Não se desculpe, todos temos algum trauma emerso ou oculto.

Marcia vê um trabalhinho delicado à sua frente. Se ela vir Spark sem aviso prévio, pode enfartar. Faz o alerta, pois pretende apresentar suas três crianças...

- Um gato desse tamanho??? E ele cabe na sua casa???

- Já coube na minha mão, mas cresceu.

Cresceu e hoje patrulha os limites da casa. Um turista sem noção, que tenta arrancar uma rosa branca do jardim da frente, é afugentado pelo imenso Maine Coon indignado. Foi Phoebe que plantou aquela roseira (...) quem ele pensa que é para colocar suas mãos que saíram sabe-se lá de onde, em uma delas sem permissão? O musculoso e avantajado animal fica lá por alguns minutos (...) até ter certeza de que o invasor não vai voltar, então busca o conforto de seu lar.

Os garotos estão concluindo as fusões para então os negócios começarem a crescer. Phoebe dá uma olhada pela câmera da coleira de Lady Spy (...) Vê sua mãe conversando com Ursula, que mantém uma distância e uma vigília sutil à presença da gata. Pensa no seu gato gigantesco e ranzinza (...) Quer ver de perto esses dois. Ajuda a acelerar e concluir o trabalho, então sugere irem à Máquina de Costura. Sandra a olha de lado, faz um sinal de “dois” e aponta para frente rapidamente, como se coçasse a orelha (...) Sim, vão dar uma olhada nesses heróis, especialmente na heroína que tem medo de gatos.

A conversa pelo caminho é animada e animadora, conseguiram finalmente um padrão industrial fino na produção (...) Os custos, é claro, caíram na mesma proporção em que a qualidade cresceu. Falam de lançar novos productos, quando chegam e avistam os hóspedes. Saúdam Barney com a farra de sempre, mas têm mais cerimônia com Ursula. Sandra pega Lady Spy e se afasta um pouco com ela, há uma sutil baixa de guarda da visitante (...) Ela faz um sinal discreto, chama a atenção da madrinha, aponta para a câmera da coleira e depois para Ursula, Patrícia considera a idéia...

- Uma coisa que me esqueci de dizer... Lady Spy não tem esse nome à toa... Veja isto.

- Parece uma jóia... Mas é uma lente! Sim, é uma câmera!

Ela perde o medo repentinamente e analisa bem o pingente (...) o pingente é só o receptor, há circuitos e baterias dentro da espessa coleira, que também servem para monitorar a saúde da portadora...

- Que incrível!

- Não há nada que aconteça nesta casa sem que eu tome conhecimento, onde quer que eu esteja, em qualquer parte do mundo.

Os dois (...) estudam o que podem no momento e se encantam. Aquilo é algo que bem poderia servir a liga, talvez em coleiras de cães de guarda.

Levam Barney para ver o palco onde vai cantar para as câmeras, diante de milhares de ghost drivers, para o mundo inteiro ver. Marcia vai ver as netas na fundação, aproveita para mostrar a cidade a Úrsula (...) Alguns artistas já estão em Sunshadow, vários deles vieram de Los Angeles e reconhecem a atenciosa balconista do hotel. Se descobrir famosa no meio artístico é um choque. A enorme estrutura física da fundação se avoluma diante de seus olhos.

Ela se segura, lembra-se dos filhos ao ver tantas crianças pequenas, todas bem cuidadas. A vontade é chorar, mas já (...) desistiu de esperar pelas lágrimas, elas simplesmente não saem. Lá estão as gêmeas, agarradas à trisavó após uma actividade com a turma. Vão correndo para a avó assim que a vêem. Ainda caberem em seus braços é um alívio, mas sabe que essa alegria não vai durar muito...

- Até ontem a mãe delas tinha o mesmo tamanho...

- Filhos crescem, honey... Você deve ser a Ursula...

O cumprimento mostra que há uma rainha mãe na cidade. Nancy parece querer entrar na alma dela, de tão fundo que a olha nos olhos. As leva para um tour pela fundação (...) Os órfãos seriam um capítulo triste, se eles não fossem tratados como família pelos voluntários, inclusive Albert (...) A análise não é prejudicada pela comoção reprimida, ela aprendeu a lidar com isso, vê naquela fundação um sopro de esperança para a luta da liga. Mas reprimir emoções tem seu custo, a tradicional dor de cabeça chega, Nancy a leva para a enfermaria, onde em vez de analgésico ela recebe uma massagem minuciosa (...) Nenhum medicamento fará efeito com essa musculatura tão retesada. Ela presta atenção nos movimentos, pelo tato, para reproduzi-los quando for necessário. Presta tanta atenção que não nota as lágrimas finalmente saindo e (...) está chorando. Contarão o episódio a Patrícia e ninguém mais.

&

À noite, fechada na biblioteca com os dois, Patrícia toca no assunto...

- Em situações normais eu te fecilitaria, mas no seu caso, precisando lidar continuamente com gente de todo tipo naquele hotel, eu sei o quanto precisa manter o controle.

- É essencial.

- Mas não dá para se manter o controle o tempo todo, Ursula, muito menos por muitos anos consecutivos e nunca sem um preço bem alto pelo represamento de emoções. Vocês sabiam que nós não precisamos mais da música desde os anos noventa? Muitas vezes bancamos shows, mas o público não precisa saber disso. Se dependêssemos de resultados financeiros nesta carreira, a banda talvez já tivesse se dissolvido, mas a música é a parte mais saudável do nosso trabalho, sem ela já teríamos enlouquecido. Lidamos todos os dias com a pior estirpe do empresariado, não só da América, tem gente muito pior lá fora. É por isso que nossos productos licenciados não são baratinhos, o expediente de usar mão de obra escrava de presos políticos e crianças traficadas, não faz parte dos nossos métodos. Claro que em nenhum registro de uma ditadura está escrito “Preso por crime de opinião” ou “Preso por não descer as calças e ficar de quatro para o ditador”, as leis desses países são propositalmente muito vagas e dão larga margem até para eliminação de desafetos pessoais. É como comprar uma maçã brilhante com capa envernizada e repleta de direitos autorais e fãs fanáticos pela marca, a empresa em si não passa de um escritório, ela não existe de verdade e não faz questão nenhuma de saber como suas maçãs e suas embalagens são produzidas, eles não dão a mínima... Compreendem? Eu não teria esta aparência bem cuidada se tivesse parado de cantar profissionalmente, talvez já estivesse irreconhecível de tantas plásticas. Compreende o que quero dizer, Ursula? Eu poderia ser sua mãe e é assim que vou falar agora; Eu conheço a sua história, sei pelo que passou, nós cuidamos de muitas mulheres que passaram por isso, procure um canal para suas emoções fluírem antes que elas a matem.

- Eu não tenho talentos artísticos.

- Tem. Todos têm algum. Venham comigo, tem uma parte da casa que ainda não viram.

Leva-os ao porão. A lenda do trenzinho é verdadeira e a diva confirma ser aquele mesmo que ganhou quando criança. Mostra as miniaturas customizadas que ganhou de fãs e amigos, as peças feitas nas prototipadoras e as próprias máquinas (...) utilizam a de resina photossensível. Não é para leigos, Patrícia orienta a hóspede em todos os passos, em alguns assume o controle (...) Em um minuto sai da prototipadora um gato siamês em posição de ataque, com 4” de comprimento em resina pérola...

- Foi isto... A tatuagem que vi naquele dia...

Barney acolhe sua conselheira. Patrícia chama Marcia (...) Junta tudo o que já tinha recolhido com os novos dados, traça um plano de trabalho, enquanto Patrícia tranqüiliza Barney...

- Ela nunca pediu ajuda?

- Não, é sempre ela quem ampara e socorre os amigos. Ela não gosta de gente se metendo na vida dela, estou surpreso de ter se permitido ajudar agora.

- Eu sou um pouco assim, mas precisei aprender a aceitar ajuda. Morta, eu não poderia ajudar ninguém. Ela terá que aprender isso também.

É o que ela ouve da psicóloga (...) Sugere que lide com argila ou pedra-sabão para colocar para fora o que sente...

- É o mesmo processo usado para fazer protótipos à moda antiga, sem a tecnologia da impressão 3d. No seu caso vai te ajudar a reproduzir o quem aí dentro, pra poder identificar e decidir o que fazer.

- Você sabe bastante de metalurgia, para quem se especializou em humanas.

- Mãe, esposa e nora de engenheiros mecânicos, convivo com esse mundo desde criança, nem que quisesse eu conseguiria não saber. Vamos começar com algo rápido, para esta noite?

Lhe dá uma massinha de epóxi de secagem lenta. Ela faz um medalhão côncavo com uma coruja sobre um galho, no centro. Adiciona uma meia lua rapidamente. Descobrir que tem um talento artístico foi outra surpresa, nunca se preocupou em conhecer nenhum.

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