segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mundo neurótico e hipocondríaco!

Todo mundo que tem e-mail já recebeu as mal-fadadas matérias bombásticas falando dos perigos de determinados comportamentos e/ou alimentos.

Um moooooonte de boatos ("hoaxes") ligando coisas impossíveis de ser relacionadas, a não ser por um amontoado de falácia das mais rasteiras - como a de associar coisas inassociáveis por similaridade semântica, sempre amparadas por algum cientista "mundialmetne conhecido" do qual nunca ninguém ouviu falar. Tem até uma piada deliciosa com o perigosíssimo monóxido de dihidrogênio.

A gente até tem passado incólume por tais disparates, depois de alguns sustos iniciais. Mas e quando os cientistas vêm a público nos encher com neuroses tão ou mais absurdas quanto a desses boatos via e-mail?

Doutor Bactéria acha que nunca lavaremos as esponjas o suficiente. É a favor de jogar fora as ditas assim que soltarem os primeiros fragmentos - ou seja, né..., praticamente assim que usadas. E o recicle, reaproveite, reutilize fica como??? Ele também acha que somos culpados pelo botulismo de 5% das crianças menores de um ano, pelo imenso crime de oferecermos MEL a elas.

Na série Mundo Invisível, somos apresentados a uma série de inimigos não detectáveis a olho nu - a maioria absolutamente inofensiva, mas igualmente repugnante. Aprendemos a ter nojo de nossas torneiras, de nosso queijo, de nosso vinagre, de nossa salada, de nossos tapetes, dos nossos beijos...

Aí eu vos pergunto, ó neuróticos hipocondríacos do mundo e pessoas que nos cercam de informações sobre os imensos perigos de coisas não perigosas: sabe o que aconteceria se eliminássemos os microoganismos do mundo? Eliminaríamos a vida no planeta [imagine uma música dramática aqui].

Essa mania de ficar caçando microorganismos está é nos transformando num bando de alérgicos com sistema imunológico extremamente frágil.

Ou, no mínimo, num bando de neuróticos. De qualquer forma, é uma alegria para a indústria farmacêutica e para profissionais da área.


Eu prefiro continuar comendo queijo e beijando...


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Eu recomendo Diana Ross

http://madmikesamerica.com/

Ela já é avó e continua linda, com sua voz cristalina, aveludada e possante como um Corvette.
Vinda ao mundo em 26 de Março de 1944, pela cidade de Detroit, Diane Ernestine Ross (aqui, aqui, aqui e facebook aqui) ficou famosa no grupo The Supremes, de onde saiu por causa de ciúmes e egos inflados, pois ela já tinha então uma carreira solo de sucesso e a animosidade era insuportável.

O facto é que Ross desempenhava múltiplas tarefas com competência, não só a de vocalista, mas também cabeleireira, costureira, figurinista e váias outras, dando ao The Supremes um visual próprio, diferenciando-do dos demais grupos de garotas que já na época proliferavam nos palcos americanos. Ela ainda está na activa, o grupo é só saudades. 14 de Janeiro de 1970 marcou a separação definitiva, com uma apresentação de "Diana Ross & The Supremes".

Com tantos talentos, ser actriz não foi dificuldade, como em "Lady Sing the Blues". Os críticos a ridicularizaram, pois a protagonista por ela representada era ninguém menos do que Billie Holliday, de quem Ross não é uma grande fã. Mas ela deu conta do recado, focando a entonação de Billie em vez de tentar imitar sua voz.
Uma amostra de seu poder foi o apoio ao grupo The Jacksons Five, especialmente de Michael, de quem era praticamente uma madrinha.

Diana não escapou das drogas, como quase ninguém do mundo artístico escapou nos anos setenta, mas conseguiu livrar-se delas e retomar suas duas carreiras principais, a de diva da canção e de mãe; cinco filhos e um neto. Sua vida é tão salpicada de lutos trágicos quanto do amor de seus fãs. Seu público é muito eclético, mas é também seletivo, porque não é qualquer um que gosta de ver uma negra no posto de diva, bem como tão poucos são os que aceitam que uma cantora inspire seus sentimentos mais secretos.

Um dos grandes diferenciais musicais de Diana Ross é ser sempre moderna, tomando o cuidado de não seguir modismos. Ela não quer viver de bailes da saudade, cantando sucessos dos anos sessenta, embora os execute quando quer. Ela se mantém jovem com o passar dos anos renovando a si mesma e ao seu repertório, sem preconceitos com novas sonoridades e estilos, até porque seu nome é sinônimo de festa dançante. Sua aparência e sua voz amadureceram, mas estão longe de poderem ser chamadas de velhas.

Segue novas tendências, mas não se submete a elas. Sua classe e bom gosto estão claros em seu website oficial (aqui). Dá-se o direito de ser saudosista de vez em quando, sem se deixar dominar pela melancolia, afinal é uma diva, uma sobrevivente da espécie em franca extinção. Mesmo as saudades canta com brilho, como "Missing You", em que chora cantando a perda do amigo e também cntor Marvin Gaye, e recentemente o filho postiço Michael Jackson.


Mas a minha preferida de Lady Ross é "Do You Were Know You're Going To?", por motivos absolutamente particulares.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Eu recomendo Madredeus


Ptz! Quem sou eu para recomendar ou nâo Madredeus? Jesus, perdoe este pecador presunçoso! Mas já me propus a fazer o serviço e não poderia deixar nossos amigos patrícios de fora. Vamos lá.

O miaor expoente da música portuguesa na actualidade, Madredeus (wikipédia aqui e website aqui) está na estrada desde 1985, mas estourou no Brasil quando teve uma música na abertura da novela "As Pupilas do Senhor Reitor", do SBT e "Os Maias" da Globo. A formação actual é Pedro Ayres Magalhães na guitarra clássica, Rodrigo Leão no teclado, Gabriel Gomes no acordeon e Tereza Salgueiro no vocal, e que vocal! In memoriam, Francisco Ribeiro no violoncelo. Magalhães e Leão são os fundadores do grupo, em 1986 entraram Ribeiro e Gomes, Teresa foi deecoberta em uma casa nocturna onde cantava fados.

Viram como não precisa baptizar ninguém de "Uóximtom", "Wandreclayde" ou "Wittineriusto" para o filho ser chique? Nomes em português, bem escolhidos, são o fino, ó, pá.

Seu último trabalho é a trilogia Madredeus & A Banda Cósmica, que tem um tempero condizente com o nome, com viés bem experimentalista, especialmente no vocal, tudo com classe e bom gosto. A actuação de Teresa é, como sempre, perfeita. Habituada a gamas amplas de notas e tons, ela consegue mostrar porque o Madredeus faz as músicas em sua função, e é sua a palavra final sobre o que será ou não cantado. Aqui o myspace do trabalho, vão lá e se desintoxiquem.

Apesar de serem um grupo coeso e bem sucedido, os integrantes do Madredeus têm seus projectos particulares e também encontram sucesso neles, tanto profissional quanto íntimo, o que ajuda a evitar as guerrar de egos que acometem e assassinaram tantos grupos.

A canção mais popular no Brasil é "Haja o que houver" de 1998, com clara inspiração no fado tradicional e na cultura marítima dos portugueses. Teresa faz de sua voz de sereia um instrumento musical virtual, além da função de interpretação normal; se bem que "normal" é um termo a se dar para cantorinhas normais, ela está muito acima da média.

Páginas não oficiais, feitas com carinho e capricho por fãs do munto inteiro (como esta e esta), sempre se pautando pelo respeito à obra e aos músicos, bem como a admiração platônica por Tereza; site dela aqui, onde ela apresenta com simpatia a si mesma e o local de trabalho da banda, além de seu trabalho pessoal, retomando as origens de cantora da noite, que ainda sabe interpertar com maestria.


Sua beleza fina e singela, retrato feito das donzelas portuguesas por quem suspiravam os navegadores, representa com perfeição tudo aquilo que os fundadores do grupo queriam passar, quando era apenas uma oficina musical. Beleza, aliás, de extremo refinamento à moda dos anos quarenta, com a melancolia alegre e linda que povoa Lisboa, que foi homenageada em 2004 com uma canção maravilhosa;


Todas elas, mesmo as da trilogia, têm um gosto lacrimal de saudades daqueles que têm raízes distantes e precisam se nutrir pelo tronco. Nas quatro vezes em que estiveram no Brasil, sem o alarde que nossa mídia dá o que não presta, todas as apresentações tiveram lotação esgotada, não deu para quem quis.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vamos dar uma chance: Chaves da Luz

Rock espírita, quem diria!!!
Permito-me dar uma chance a um grupo de "rock erudito" espírita que acabei de conhecer. Posso assegurar a isenção, pois não sou espírita.

Trata-se do conjunto Chaves da Luz (aqui e aqui), criado em 2009 como projecto da jovem Kethelin Cocchi (piano e vocal), Alex Lino (baixo), Felipe Rico na bateria.  Suely Cocchi  (mãe de Kethelin) compõe as músicas com a vocalista.

Apesar da necessidade de, como dizem os espíritas, algum burilamento, o Chaves da Luz demonstra bastante talento e nenhum compromisso com o mercado. As letras são bastante profundas e carregam a responsabilidade de quem leva sua doutrina devidamente à sério. Infelizmente isto pode irritar uma parcela muito grande do público, que anda muito materialista, até meio misoteísta quando o assunto é diversão. Fora isso, após alguma adaptação, os acordes que variam do pesdo ao mais sutil começam a agradar. Mas a adaptação é necessária, pois a letra costuma contrastar com o que estamos acostumados a esperar dos acordes, por vezes até da melodia. Aliás, eu diria que é um "rock cristão" nas suas mais remotas origens, antes da dogmatização romana.

Asseguro que a boa vontade é recompensada. O estilo, embora eclético, remete bastante a uma versão "do bem" de Evanescence, com quem não destoa de modo algum, influência confessa da vocalista, como em "Alma Gêmea", uma canção de amor bonita e profunda, que em momento nenhum escancara a reencarnação e o kardecismo, por isso mesmo pode ser ouvida por jovens de qualquer religião que tenham ouvidos mais refinados, mas que não abrem mão de um som que os mantenha ligados ao plano físico, em que precisam trabalhar e viver. Despindo-se dos preconceitos, qualquer igreja pode ter o cedê deles em um baile.

A vocalista, aliás, tem formação erudita e aprecia bastante o rock progressivo dos anos setenta, mas também de Enya e Queen... Ecletismo que está muito claro na obra da banda. Aliás, no começo, em 2001, o nome era "Keys of the Light"; eles cantavam em inglês, tocando covers do desenho "Pókemon"... Sem grilo, eles tinham que começar de algum modo. Elvis não começou cantando em uma cabine de gravação, ouvindo "Sai logo, caipira"? Então.

A maior qualidade da banda está justo em Kethelin, professora de música de voz doce e elástica, que modula de acordo com a música, valendo-se de sua formação sólida; que falta à maioria das cantoras de hoje, sejamos francos, Divaldo. Os garotos acompanham bem, fazem sua lição, mas como no Madredeus, a cantora é o pilar e dá os rumos do grupo. Considero o estilo deles bem mais próprio para relaxamento e meditação do que para dançar, mas claro que ainda não ouvi tudo e com certeza deixei escapar algo, que prometo incluir aqui quando encontrar.

Por enquanto eles se apresentam quase que só em entidades e eventos espíritas, a agenda está bem preenchida sem estar lotada. Pelos que conheço dos espíritas, e já os conheço com intimidade, seus critérios musicais estão bem acima da média. Então, para quem se interessar: erika_silveira@uol.com.br

Enfim, são jovens bonitos, talentosos, que demonstram disposição para evoluir (sem trocadilho) e crescer na música, mas sem abrir mão de seus princípios. O e-mail acima é também para aquisição do cedê.

Abaixo dois clipes carregados de romantismo...


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Mil e uma noites de amorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

Daí que eu estava ouvindo / vendo Novos Baianos no Youtube. Músicas do Acabou Chorare, tudo muito lindo, tudo muito clássico.
Obviamente depois de algum tempo eu passei a explorar vídeos da fase, digamos, um tanto trash, do Pepeu e da Baby (Consuelo, do Brasil, whatever). Obviamente eram vídeos dos anos 80 ou então apresentações de slide com músicas dos anos 80.
O importante é que essas músicas me dão uma ideia de praia, lual, classic axé...E Talicoisa!
É. Eu fiquei ouvindo e imaginando como seria digno um lual com todo o pessoal daqui do Blog, quer dizer, o pessoal que já escreveu aqui - todos.
Tem haver com o mar, um luar solar, é o amor que me incendeia. A noite vai ter lua cheiaaaaaaa. Olha a lama (?)
Que saudade de todos vocês :)

Series, TV e Cinema: Capitão América, quem diria, é um cara batuta!

Excelente e favorável crítica de Ricky Nobre sobre "Capitão América, O Primeiro Vingador. Vão lá.
Series, TV e Cinema: Capitão América, quem diria, é um cara batuta!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Os Três Mosqueteiros, à moda Júlio Verne


Saiu o trailer da nova versão do clássico "Os Três Mosqueteiros". (Omelete!)
O cenário é o mesmo, a França da Idade Moderna tiranizada por um cardeal ganancioso e inescrupuloso, que de "homem santo" não tem nem o branco dos olhos. O dito-cujo vê uma chance de tomar de vez o poder, atravéz de intrigas, usando a rainha como trampolim, mas tem no seu sapato quatro pedras: Logan Lerman (D'Artagnan), Ray Stevenson (Porthos), Luke Evans (Aramis) e Matthew Macfadyen (Athos). Os melhores espadachins do mundo, ao lado do Zorro, é claro. O jovem D'artagnan deseja se juntar aos três mosqueteiros do rei, demonstra talento, mas encontra alguma resistência. A necessidade, porém, faz o trio aceitá-lo e treiná-lo para que entre na equipe.

Até aí nada demais. Uma estória densa, cheia de nuances inteligentes, derivada da excelente literatura de Alexandre Dumas, que leva o espectador a um outro mundo. Só que o filme dirigido por Paul W. S. Anderson acrescenta uma pitada de alucinógeno. Fazem parte das cenas navios canhoneiros voadores, suspensos por imensos balões, bestas dobráveis, armas estranhas e dobráveis dotadas de molas (!), bombas que fazem lembrar aquelas bombinhas ambulantes do Super Mário Bros, lança-chamas mais potentes do que os de hoje, enfim, não sei o que eles beberam, mas o trailer ficou do balacobaco! O cenário com todo esse maquinário remete às obras de Júlio Verne, onde o roteiro bebeu fartamente.

 Nesta versão (em 3D) as mocinhas em seus imensos e pesadíssimos vestidos fazem malabares para escapar de armadilhas, cruzar espadas com mais de um oponente e fazer coreografias dignas de Matrix. Imaginem os mosqueteiros! Sim, Milady já era uma espoleta nos filmes antigos, neste está a própria Stephanie de Mônaco em versão espadachim.

As cenas em câmera lenta, que devem ser o maior manancial de sustos na telona em 3D, são de tirar o fôlego. Em 2D deve perder metade da graça, mas a trama fica intacta... Até certo ponto, porque se é difícil ser fiél a um livro no cinema, repaginando-o exige mais acrobacias da direção do que as cenas de luta e fuga da película.

Claro que com tamanha fartura de ação, o roteiro deve ter ficado mais para o lado, ou o filme precisaria ser uma trilogia. Lembremos de Guerra das Estrelas, que engloba uma "exalogia" para conciliar a ação e o conteúdo, e O Senhor dos Anéis, a trilogia recente de maior sucesso e já um clássico. Por isso aviso aos puristas que se dêem o direito de se divertirem um pouco, sem tanto compromisso com a trama quase jornalística do livro, ou procurem outro filme. A carinha de bebê de Logan, aliás, confronta ferozmente com a imagem do belo rapagão que os filmes mais clássicos exibiram de D'artagnan. E o visual meio dark dos mosqueteiros em nada lembra os uniformes vistosos a que estamos acostumados, mas reforça as cenas de ação com algo mais rústico e disposto a se ferir, tirando do espectador a peninha de ver um uniforme tão bonito sendo rasgado por espadas. Por isso vejam o trailer e decidam se realmente querem ver o filme, que estréia dia quatorze de Outubro.



E então, vale à pena ver uma repaginação do clássico ou não vale? Ah, vale, vá!

P.S: Minha amiga, freira anglicana e astróloga de confiança Patrícia Balan (aqui e aqui) disse que tem medo da combinação desse elenco.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Eu recomendo Merdedes Sosa

http://revistacontemporartes.blogspot.com/2010_03_07_archive.html

Em países onde ser popular significa ter linguagem simples e de fácil compreensão, o termo "Cantora do povo" ou "cantora del pueblo" não tem qualquer conotação prejorativa de baixo ventre.

Mercedes Sosa (sua página oficial aqui) veio ao mundo em Nove de Julho de 1935, descendo em San Miguel de Tucumán, onde a declaração da independência argentina foi assinada, no dia de sua comemoração, e deixou-nos em Quatro de Outubro de 2009, ascendendo opor Buenos Aires. Suas feições e longos cabelos negros faziam muita gente pensar que era indígena, mas tinha ascendência ameríndia e era conhecida pelos fãs por La Negra; A Voz dos sem voz.
Sempre foi defensora da união entre os países latino-americanos, não poupando críticas sócio-políticas elegantes, mas ao mesmo tempo ferinas em suas canções.

Sua voz materna e altiva, de grande potência e suave aos ouvidos, encantou América e Europa, em uma das carreiras mais bem sucedidas para uma artista latina em toda a história. Por suas posições pró democracia, foi banida da Argentina pela ditadura, á qual só voltou em 1982. Foi um tiro no pé, porque em Paris ela pôde compor e cantar sem nenhuma censura. Matá-la, como faziam sem dó com outros artistas, deflagraria uma guerra civil na Argentina.

Seu repertório é amplo, diversificado e suas parcerias com brasileiros sempre rendeu bons frutos, como com Milton Nascimento em "Volver a los diecisiete" e "Corazón Americano".


Em "Solo le Pido a Dios" ela mostra toda a sua indignação com o mar de sangue em que a América Latina mergulhou nos anos sessenta e setenta, não poupando aqueles que se venderam às custas do luto de milhares de mães, que ainda hoje não sabem se um dia enterrarão seus filhos. Algumas têm certeza de que nunca.



Mas também cantou o amor simples e o carinho em "Gracias á la Vida", onde fala das alegrias mais simples da vida, que custam pouco ou nenhum dinheiro.


Tanto como ser humano quanto como artista, foi uma pessoa respeitada por crítica e público, aquela que se enchia de dedos para fazer qualquer observação que não fosse positiva, se não quisesse apanhar. Seu público, apesar de ser aclamada como popular, é facilmente encontrado em grupos abastados, intelectuais e toda gente de gosto apurado. Apesar de as modas terem migrado em massa para a púbis, o público que a prestigiou ainda existe e se renova. Se renova e repete sem o menor pudor que Mercedes Sosa canta cada vez melhor.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Eu recomendo Oswaldo Montenegro.


Fluminense do Grajaú desde 15 de Março de 1956, Oswaldo Viveiros Montenegro (website) mudou-se para São João Del Rey aos sete anos. A tradição de serestas fez bem ao menino, que alçou uma carreira sólida, embasada em seu talento, seu gosto apurado e no respeito para com o público que conquistou.

Voltou ao Rio com treze anos e já conquistou um prêmio de música, com "Canção de Ninar par Irmã Pequena". Daí em diante, ninguém mais segurou o garoto, mas o salto veio em 1972 com "Automóvel", no último Festival Internacional da Canção, da Globo.

O profissionalismo disciplinado é uma de suas marcas registradas, a ponto de já ter contrariado fãs relapsos, que chegam atrasados ao show acreditando que cinco minutos não são um atraso. Para ele, cinco segundos já atrasam o serviço. O público pagou pelo show descrito no bilhete, não faz sentido prejudicar o grupo pela falta de indivíduos.
Antes de continuar, ele tem uma promoção para clipes de fãs, vejam aqui e participe quem tiver inclinações e conteúdo.

Sua voz aveludada combina a maturidade com o frescor da índole juvenil, oferecendo a maciez do couro bem curtido aos ouvidos. Não é e nunca foi para todos os públicos, pretensão que ele não tem, seu estilo livre de rótulos é marcado pela execução feita dentro do que for necessário, mas sempre refinada, ainda que músicas como "Bandolins" tenham o toque de rusticidade da madeira de uma mesa de fazenda.

Oswaldo não se furta o direito de pedir licença e cantar obras de colegas, às vezes até os superando, como em "Como é Grande o Meu Amor Por Você", onde empresta um toque mais intimista de véu de tule, à canção de Roberto Carlos. O toque de seda se adiciona a cada dedilhar no violão, às vezes seda úmida de lágrimas.

O romantismo se acentua em "Lua e Flor", que se utiliza de metáforas com tato de cerâmica antiga, para contar  com sabor de lágrimas e aroma de baunilha da perda de um amor platônico.

Talvez essa facilidade tão grande em se declarar no palco seja o que incomoda seus detratores, pois a naturalidade com que diz "Eu te amo" em qualquer contexto dá aos fãs a pecha de masoquistas, porque muitas vezes sofre-se e não desliga-se o rádio.

Mas apesar de todo esse talento e desenvoltura, não é prejorativamente vaidoso, se valendo facilmente de parcerias, algumas inusitadas, como em "Drop's de Hortelã", onde canta com Glória Pires uma letra despretensiosa e alegre, mas ao mesmo tempo com uma melancolia disfarçada, como que "rindo para não chorar". Apesar do título, a mim a canção tem mais odores de confeitaria e textura de pão-de-ló, mas é uma confeitaria vazia, com a temperatura já morna pelo fim de tarde.

Com o grandioso Zé Ramalho ele também fez parcerias memoráveis, como em "Do Muito de Do Pouco", com seu tom severo e toque de pele rude, ou alça de uma mala pesada.

O refinamento da sobriedade em couro espesso vem com "A Lista", onde ele conclama o ouvinte a cordar para a vida antes que ela passe e não se prenda ao que não vale à pena. O odor é de incenso de Néroli, com toque duro de madeira de lei envernizada.

O que o diferencia, em sua vida pessoal, da maioria dos outros artistas, é que ele não expõe sua vida pessoal. Até conta algo, se houver uma entrevista, mas não revela. Sua elegância em pessoa combina com a profissional.
Barbudo e cabeludo desde o início, parece ser um integrante do Bee Gees. Já o imaginei fazendo um especial como integrante honorário.

Apreciar Oswaldo Montenegro é se assumir humano, com todos os defeitos e virtudes inerentes.