segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CXXI

    O reino perdido! A estação 121 vira novamente pelo avesso a vida de nossa protagonista, e dá um alívio ao azarão. Todos à bordo, o trem vai partir.


Enquanto a neve derrete e escoa para os reservatórios subterrâneos, os engenheiros instalam o equipamento que permitirá abrir e explorar a construção sob a sede da fazenda. Primeiro tiram uma pedra, cobrem rapidamente com algo parecido com um desentupidor de pia (...) Enquanto o computador analisa o ar lá dentro, eles olham para o monitor...

- Realmente – diz o engenheiro – há uma escada lá no canto esquerdo, há pelo menos mais um andar, provavelmente dois, pela altura deste... Tem muita coisa, mas está tudo coberto por tecido...

As primeiras análises mostram uma atmosphera dentro do que esperavam, bastante contaminada (...) Teores interessantes de vapores etílicos sugerem a presença de bebidas ou perfumes, ou ambos. Josephine consegue imaginar o que haveria debaixo de muitos daqueles lençóis, identifica silhuetas de móveis bastante antigos. Gerald providencia (...) um poste improvisado com lâmpadas fortes (...) as coisas ficam muito mais identificáveis, conseguem distinguir tapetes de aglomerados de sujeira entrelaçada, imaginam a quantidade de ácaros que deve ter resistido e evoluído. Se entreolham, decidem mandar o robô colher amostras (...) porque toda aquela sujeira nociva será sugada e queimada pelo maquinário.

Levam o dia inteiro, após quebrar o restante do selo e colocar o tampão de acesso, mas finalmente o ar começa a ser renovado, enquanto o robô colhe amostras de vários lugares. Em dois dias podem entrar e retirar com cuidado aqueles tecidos, enquanto o trabalho recomeça no andar de baixo (...) Descobrem móveis finos, prataria, cristais, garrafas lacradas, vidros de perfume, um candelabro, roupas caras perfeitamente conservadas, livros, jóias, esculturas, relógios, quadros, muitas photographias e alguns cadernos de anotações, tudo datado do meio do século passado até a grande depressão. Richard observa interessantes padrões retangulares em alguns pontos, cutuca o neto e dão leves batidas, confirmado, descem a porrada naquelas pedras e janelas são reveladas. Escavam mais do lado de fora, para arejar e iluminar melhor o ambiente. Quase uma semana de trabalho e eles ficam sem saber como avaliar tudo aquilo. Todas as janelas abertas e uma grande porta revelada no térreo, que é uma garagem dos sonhos, quarenta e três carros do século XIX, seis motocicletas de priscas eras e duas carruagens de alto luxo, seis deles Detroit Electric.

Na sede, enquanto os técnicos vistoriam e catalogam tudo, eles estudam a documentação...

- Ritchie, nossos antepassados eram muito ricos! Olha esta anotação, ela fala da mamãe!

- Aqui também. Sua mãe era admirada desde bem jovem, aparentemente ela sabia muito do que estamos descobrindo agora. Sunshadow teve um período de prosperidade, antes da quarta-feira cinza, talvez as sucessivas crises tenham feito os antigos guardarem como puderam o que tinham, mas morreram antes de poderem transmitir aos descendentes.

- Pois eu lhes digo mais, daqueles inúmeros reinos do século XIX saiu a família de sua mãe, Nancy. Leia isto.

Josephine lhe entrega uma certidão de nascimento de sua bisavó e o documento forjado. Sua família fugiu após seu pai, o rei, ser morto em uma campanha militar desastrosa, pensava ir combater um vizinho, mas eram imensas tropas inglesas que o esperavam. A troca do nome Alander para Petty seria para fugirem de perseguição. Sunshadow era o lugar perfeito (...) O pequeno reino não existe há muito tempo, mas Nancy o viu em um livro de história do colégio...

- Acho que eles acreditavam em dias melhores... Infelizmente vieram as guerras, a perseguição das outras cidades e eles precisaram manter segredo até das crianças, para elas não soltarem algo sem querer... Jose, é da minha família? Então eu gostaria de levar para casa e ler com calma.

O tempo de os técnicos terminarem seu serviço é o tempo de Nancy concluir os estudos e obter respostas por e-mail, de instituições de preservação da memória monárquica. Richard também descobre finalmente a origem de sua família, vem da Escócia e do sul da Irlanda, foi para o Brasil (...) juntou bagagem para os ainda jovens Estados Unidos da América, antes que algum barão se encantasse com sua fazenda e decidisse requisitá-la também... sem absolutamente nenhuma chance de indenização aos prejudicados.

Um representante da instituição chega uma semana depois, confere a documentação e reconhece Nancy Petty Gardner e Fester Petty Green como herdeiros da casa de Alander, da Slovocrácia, com direito a usar o brasão e todos os símbolos da família (...) Patrícia, Audrey e Melinda gostam da idéia de serem princesas de um reino perdido. Para a história e as entidades envolvidas, porém, é uma festa, todos pensavam que os Alander estivessem extintos, mas não só vivem como prosperam e desfrutam de prestígio mundial. Decidem não comentar, até porque os curadores heráldicos já se encarregaram de divulgar (...) Nas escolas da cidade há um alvoroço, a história de Sunshadow terá que ser reescrita (...) agora tem comprovação de histórico nobre e da perseguição sofrida. É o prefeito de Summerfields que não gosta da história, já não lhe desce Daniel ser um prefeito independente há quarenta anos no cargo, sem precisar pintar uma faixa sequer para a reeleição.

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Princess não escapa a brincadeiras, mesmo em reuniões sérias da organização. Directores de agências oficiais se reportam a ela como “Sua Alteza” (...) A CIA aconselha e a organização pensa seriamente em não se mostrar para a próxima gestão, como já fez três outras vezes...

- Vai ser uma pena, mas eu concordo. Você vai continuar lá?

- Sim, alteza, eu e alguns agentes, alguém precisa avisar vocês das besteiras que vamos fazer.

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra...

- Achando graça, príncipe Genius? Meu amigo, a organização e nós pessoalmente lhes desejamos sorte. Se as coisas acontecerem como você disse, não pense duas vezes antes de nos pedir ajuda.

Star encerra a transmissão e desata a rir. A situação é crítica, mas não há mais o que possam fazer, vão (...) tocar suas vidas. Parte delas, a mais preciosa diga-se de passagem, está de pé diante da porta, esperando para descobrir alguma coisa.

- Phee!

- Dad!

Parece que leva horas para se abaixar e outras tantas para se levantar com a pequena. O acompanhamento de Stephanie surtiu efeito, Phoebe mantém-se pueril, apesar de seu intelecto (...) o intelecto das crianças da cidade é naturalmente hipertrofiado, especialmente de suas parentes serelepes...

- Não, meus amores, não salvamos o mundo hoje. Só discutimos que erros não vamos cometer de novo, coisas que as pessoas deveriam fazer sempre no cotidiano.

- A gente ouviu risos.

- Fique feliz quando ouvir risos, em vez de reprimendas, Elizabeth. Deixe eu ver sua mão...

Retomam a rotina, enquanto a última polêmica atravessa fronteiras, inclusive a do bom senso. Enquanto um Duryea 1893 é desmontado para restauro, a imprensa mostra a descoberta que é grande demais para manterem em sigilo (...) Encontraram ligações de muitos antepassados dos sunshadowers com eventos importantes, inclusive os imigrantes, como Renata...

- Resumindo, a família do seu pai desistiu do Brasil colônia e veio pra cá.

- É isso aí. Eles Saíram do Rio de Janeiro acompanhando mascates, foram para Minas Gerais, lá encontraram parentes seus, com quem trocaram figurinhas e de lá para Salvador, de onde embarcaram para cá. Na época era fácil se esconder, não havia essa profusão de meios de comunicação em massa!

Renata medita (...) e aventa a possibilidade de alguém ter ficado, o que justificaria os louros dos Queixada e faria deles parentes dos Gardner. Falam dos shows depois de jogarem a brasileira na piscina e pularem atrás, por agora querem comemorar a possibilidade de parentesco.

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- Elias, me ajuda aqui?

Ele vai (...) esfola as mãos nas paredes ásperas e deixa a pequena carga na cozinha, depois a colega se apressa em tratar os ferimentos, e o velho Bonezio põe as mãos na cabeça de novo (...) prometendo que vai trocar aquele revestimento idiota, feito pelo antigo dono do prédio. A moça de Chanel curto termina o curativo e o rapaz é dispensado pelo resto do dia (...) A própria funcionária lhe entrega o telephone para ele chamar o ceramista e finalmente colocar azulejo naquela parede. Aproveita as horas de folga para resolver pendências na faculdade (...) Uma colega de curso o puxa antes que saia...

- Tem uns caras muito putos contigo, meu! Eles acham que tu é racista por causa da Sandra.

- Aqueles papagaios retoristas? Sei quem são.

- Não, cara, tu não tá me entendendo, meu! Tem uns barra pesada, radicais do movimento, que me arrependo de já ter integrado... Pra eles, tu tá querendo branquear tua família, puseram isso na cabeça e tão noiados nisso!

- Putz! De onde brota tanto idiota? Não posso me esconder, tenho uma filha e compromissos!

- Passa a andar com a gente, te vendo de turma eles ficam menos valentes.

Aceita o conselho da colega, que é negra e já foi socorrida por ele, durante uma abordagem de guardas da faculdade. A turma gosta dele, só o acha meio distante, mas respeita, principalmente a paulista (...) Só hoje eles vêem a Lambretta e não tem jeito, todo mundo quer uma volta nela. Não é só Sandra que cai na risada com o ruído do velho 150cc de dois tempos. Aliás, já que finalmente conseguiram uma brecha, o acompanham até sua casinha, finalmente com dois quartos, para ver como ele vive. A família toma conhecimento, então Eduarda e Renato também, por conseqüência um monte de gente...

- Quem está ameaçando ele? Nomes! Quero nomes!

Isso poderia ter saído de Patrícia, mas ela está tentando conter sua mãe, a autora, o gatilho mais rápida da América, a Senhora Tiro Certo, entre outras alcunhas a que faz jus e por isso mesmo justificam todas as precauções possíveis…

- Um monte de gente – diz Renata, titubeante. Acho que só esses amigos e a minha família estão do lado dele... Dona Nancy, respira! Respira três, nove, vinte e sete vezes!

- Pode deixar comigo, Bisa Broto. Eu assumo a proteção do seu neto postiço.

Olham para a porta e não sabem se isso foi uma boa ou má idéia, é Rebeca com uma katana nas costas. O bom é que Patrícia pode evocar a autoridade de Princess e controlá-la, o ruim é que Elias não faz parte da agenda da organização (...) Nancy adorou, delega a responsabilidade. Mais tarde, com os ânimos frescos, ela explica...

- Eu investiguei, irmã, sei quem quer pegar seu afilhado. É muito mais gente do que vocês pensam. Ele conseguiu a Sandra, que uma dúzia de famílias babacas que pensam que são ricas, queriam adoptar, pra exibir em colunas de pasquins provincianos. A neutralidade dele por si já arranjou muitos desafetos de causas sociais, políticas, ideológicas de extremo pra todos os lados, a Sandra só piorou tudo. É gente perigosa, que acha que tem o direito de fazer o que quer fazer, discursos pra justificar isso não lhes faltam. Já avisei nossa gente em Brasília pra passear em Goiânia e dar uma olhada, porque o Elias está no caminho da roda maldita e não faz a menor idéia disso... Mas também tem notícia boa, ele tá afim de uma colega na sorveteria, e ela parece corresponder...

Patrícia vai da ira insana para a meiguice do coração morno (...) Rebeca fala o tempo todo como Barbarian, com a frieza necessária para manter o equilíbrio e evitar que sua comparsa ferva. No começo, Rebeca o achou meio mole, sem atitude, mas viu que é só timidez (...) Avisa Josephine, que fica feliz e preocupada ao mesmo tempo. Já ele, com a pequena casinha de fundos cheia de gente pela primeira vez, fica feliz vendo a filha ser carregada e balançada pelos colegas, se desmanchando de rir. A pequena, ele já percebeu, é roqueira.

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Não dá para ser de graça. Tudo tem custo (...) com a internet não seria diferente, ela tem estrutura e funcionários, que não vivem de amor ao próximo. Por mais que pregadores de utopias sapateiem, a rede se profissionaliza. Por custos módicos, as pessoas podem ter cabos exclusivos para a função, com mais estabilidade e velocidade, assim vai ao ar a versão 3.0 do cibertrain, a quinta geração. É um espetáculo, são dezenas de páginas sobre tudo o que diz respeito à banda, inclusive photos inéditas (...) e os sites com os blogs dos integrantes, incluindo os músicos de apoio. Eles descobrem que são mais populares do que imaginavam, mais do que muitos cantores com carreiras próprias.

Um efeito colateral dessa tecnologia, é permitir a correção fácil e eficaz de distorções vocais, fazendo qualquer canastrão parecer um bom cantor. The Cool Boys e The Special Boys se beneficiaram (...) nunca cantando ao vivo, é claro. Um rapaz pergunta a Robert, pelo canal do fã, que software eles usam, ele responde no blog “Nancy Petty Gadner. É o software perfeito, quem usa uma vez, torna-se bom cantor pelo resto da vida”. Nancy se desmancha pelo ex-aluno, aquilo deixa seus olhos brilhando como duas esmeraldas. Ela vai à casa dele com acepipes (...) e os convida a comer. Tudo isso por causa de uma resposta lisonjeira.

O carteiro chega com uma encomenda, Suzuki fez uma surpresa para Mikomi, transformou seu documentário em livro e lhe mandou uma caixa com exemplares (...) O trabalho da japonesa era praticamente inédito fora do extremo oriente (...) O livro é bilíngue e tem todas as photographias que ela mandou, não apenas as selecionadas para o documentário. Kenji faz mais um agrado à futura sogra, distribuindo livros para chefes e colegas mais próximos, na fábrica...

- É a minha futura sogra, Mikomi Spring, a jornalista mais talentosa do Japão e da América, agora também uma escritora de prestígio internacional.

Sakura se desmancha por isso, começa a relevar alguns TOCs dele, como a mania irritante de circular o carro antes de entrar, e balançar as chaves na frente dos instrumentos, antes de dar a partida. Bater o hashi três vezes na palma da mão já deixou de ser incômodo faz muito tempo. Ele chega a Sunshadow e é recebido como filho por Robert, pelo bem que fez à sua amada Mikomi. A festa só é interrompida por mais um luto caríssimo (...) o mafioso mais amado dos Estados Unidos deixa o mundo, ninguém acredita que Frank Sinatra esteja morto (...) nenhum fã imagina quantas mortes violentas ele evitou, por seus contactos. The voice is silente forever.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Dead Train in th rain CXX

    Meio século de menininha mandona. A estação 120 dá um momento de alívio e boas descobertas. Aproveitem e embarquem, o trem vai partir.


Uma alegria imensa para a maioria, uma tristeza rancorosa para grupos específicos. Uma das moças resgatadas se casa com um nigeriano há dez anos radicado em Sunshadow, ela diz um sim cadenciado e bem ritmado e eles saem para a lua de mel (...) o casal pretende encher a casa com rebentos. É notícia nacional, Matthew coloca um “The love in black & white” no título e faz praticamente um álbum na página de notícias cotidianas. Alguns juram que vingarão o projecto santo do senhor, mas não conseguem fazer mais do que barulho nas igrejas que sustentam, e a vizinhança reclama à polícia, porque desta vez eles estão abusando.

Em Sunshadow, as duas agentes que conduziram a operação estão em estado de graça, acabaram servindo de cupidos (...) Brindam os seis em um cocktail com a presença das meninas, elas estão grandinhas o bastante para não atrapalhar um programa de adultos, mas álcool, por enquanto, nem pensar (...) Tanto que passam isso para o papel no intervalo das aulas, para o livro que estão preparando, desta vez de contos e prosas.

Em Goiânia, Elias consegue comprar uma Lambretta 1966 banca e verde, toda descascada, mas funcionando a contento. Põe uma grade sobre o estepe, um suporte para Sandra poder viajar sentada em um banquinho com encosto e uma capa plástica transparente presa no peito de aço, para o caso de chover. Ele põe um capacete com uma luva de isopor na menina e vai com ela pelo bairro (...) a pequena solta gargalhadas cada vez que ele acelera e o motor solta seu “pó-pó-pó” mais forte. As photos mandadas pela família para Sunshadow, com cópias para muita gente que acompanha a vida do rapaz, são recebidas como um presente de aniversário antecipado...

- Olha a carinha dela, Arthur! Está se desmanchando de rir! Betty, Proo, vejam, é sua prima.

As garotas não conseguem não sorrir, vendo aquela cara de felicidade escancarada. Felicidade constantemente ameaçada por ativistas que atacam seu pai, acusando-o de racismo, e por ricos que querem anular a adoção para ficarem com ela. Patrícia está de olho neles, apesar da festa que se forma já no festival da saudade, que há alguns anos conta com patrocínios e uma agenda oficial, mas só para os eventos programados, que não chegam à metade deles (...) Os vendedores de antiguidades estão cheios de relíquias do Dead Train e productos licenciados de época, inclusive algumas câmeras emborrachadas com alças em forma de trilhos, tudo para aproveitar o cinqüentenário da líder.

A convenção da banda é focada na pessoa de Patrícia (...) paparicada enquanto os programas com os desafetos terminam de ser gravados, e enquanto Julia conclui e revisa os programas especiais. O último programa dos desafetos termina e o Boa Noite Mundo especial vai ao ar. A vinheta de abertura é substituída por imagens da diva, recortadas das photos e avançando para o espectador, desde a mais tenra idade até as mais recentes, ao som instrumental de “Resignation”. Ao fim da seqüência, o letreiro manuscrito, ladeado por discos de ouro e platina que nem cabem todos na tela “Todos os seus inimigos caíram”. E o programa começa com Julia entrando de carro no auditório, hoje a apresentação será conjunta com Tobby...

- Boa noite, mundo! Este é um programa especial em homenagem à nossa menininha mandona!

- Boa noite, mundo! Vocês devem estar se perguntando “por que ela entrou com essa banheira no programa”? Bem, é meu carro, e Patrícia colocou suas hábeis mãos de engenheira mecânica nele.

Uma plataforma que agora é parte do programa, levanta e inclina o Grand Marquis, para que o público veja os dois motores eléctricos na frente e o banco de baterias moldado aos espaços disponíveis (...) Patrícia se desmancha, a dupla insiste em mostrar a densidade e a vastidão do conteúdo que poucos conhecem, simplesmente porque conteúdo não vende revistinha de fofoca. A Mercury nem pensa em oferecer uma versão que teria custos proibitivos, mas fica imensamente grata pela escolha do modelo. São três programas mostrando a vida e o legado da agente que consegiu focar em si todos os escândalos de que foi vítima, preservando a organização, identidades e operações cruciais de várias agências pelo mundo (...) Enquanto isso, seus desafetos buscavam holofotes apenas para sair do limbo, atacando a banda e suas relações com o mundo das conspirações.

Todos sabem o que dar-lhe de presente, seu guarda-roupas retrô, seu armário de ferramentas e sua coleção de veículos antigos ganham um respeitável incremento. O Fusca Brasmotor 1952, única fase no único país em que ele recebeu pintura em dois tons, marfim em baixo e marrom em cima, presente que Julia sabe que destino terá, é repassado para Nancy (...) Uma coleção de dioramas e miniaturas dos mais diversos tipos e modelos, inclusive trens, alguns itens customizados por fãs, é colocada em estantes e mesinhas no porão, com o bom e funcional trem feito por Richard. Julia sabe que se Patrícia acha bom o suficiente para Mamãe Broto, então ela amou o presente, é o que importa a qualquer fã, ainda mais uma súdita... Que exagero.

O último programa da série vem justo na noite do aniversário de cinqüenta anos, que ditadores pelo mundo queriam a todo custo impedir. Mostra Patrícia hoje, sua glória, seu poder, sua liderança natural e as homenagens que foram enviadas de todas as partes do planeta, inclusive dos que acham que ela vem de outro. Ela poderia ter parado há muito tempo e vivido desde então do que já tinha feito, mas não seria Patrícia Petty Gardner. A festa de aniversário recomeça quando Julia encerra o programa (...) Agora não há economias, ela é tratada como estrela, a Máquina de Costura está cercada por teleobjetivas e microphones de alta sensibilidade, há até alguns com aparelhos de visão noturna. A noite é daquela mulher maravilhosa de vestido preto rodado com ampla gola verde escuro, será mimada até o último convidado ir embora, ou dormir no sofá, as conspirações internacionais que esperem.

A manhã seguinte tem tudo o que os paparazzi puderam conseguir. Mas no caso de Matthew, Mikomi, Fester e Mary Ann, tem coisas que só eles puderam conseguir (...) Exemplares de todos os jornais possíveis são mandados para Goiânia, fazendo a família de Renata entrar em êxtase. Fazem questão de ligar para Elias, querem que se inteire da vida dos primos de Sunshadow (...) ninguém fora da família sabe do parentesco, menos ainda dos contactos já feitos. A televisão não demora a mostrar trechos de vídeos, photos e testemunhos, os jornais brasileiros repetem basicamente o que os americanos publicaram. A família tem que chamar e fazê-lo se acostumar com a idéia do parentesco, porque o interesse da banda inteira ele não pode negar.

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O ano esfria rapidamente depois do Sunshadow Racer Motor Show, que invadiu algumas ruas adjacentes ao centro de convenções e criou pequenos eventos paralelos (...) Mas só esfria a temperatura ambiente, o engenheiro contractado pelos Richards tem uma revelação sobre a sede da fazenda, o alicerce tem no mínimo oito metros de profundidade (...) Há uma parte que parece ser mais recente, talvez um lacre, todo ele vedado por betume, é virtualmente à prova d’água...

- Então a sede tem um prédio subterrâneo!

- Precisamente, Brain.

- Vou avisar Star, isso pode ser do nosso interesse.

Genius faz a ligação e Star fica espantada. São praticamente três andares sob a sede...

- Quem mais sabe, além de nós?

- Só Mr. Fischer e tia Debby.

- Óptimo. Quero estar presente quando abrirem o lacre, me esperem.

Richard avisa à mãe, ela avisa a Beyond e Barbarian, depois ele vai com Fly para a fazenda, explicar ao velho Fischer sobre as suspeitas do engenheiro. Assim que chegar o equipamento para explorar o interior da construção (...) abrirão o lacre...

- Que loucura! Meu pai nunca me falou a respeito disso! Oito metros de pedra abaixo desta casa?

Levam-no para a escavação de sondagem que o engenheiro fez. Ela foi alargada e conta com três metros quadrados...

- O que será que tem aqui? Deve ser muito valioso pra tanto trabalho!

- É o que veremos, Mr. Fischer. Por agora eu peço discrição, falarei com a amada e os outros...

São interrompidos pelo grito de Elisa a chamar pelo pai. Ela e Deborah encontraram um baú grande a poucos metros de distância e profundidade do museu. Richard o levanta, tem não menos do que trezentos e cinqüenta libras. Ligam para os outros (...) Abrem quando todos estão presentes, após cento e seis tentativas, com a última chave do mole que ainda não foi usado. Mesmo longe, o detector de metais apita loucamente...

- PELAS SAIAS DA MINHA BISAVÓ!!!

A exclamação do grandalhão ecoa pela casa. Todos se amontoam e vêem uma verdadeira fortuna, doze camadas de seda pura pintada manualmente, embrulhada em tecido grosseiro, separando jóias, bibelôs de quartzo e madeiras nobres, algumas já extintas, relógios e moedas, muitas de ouro (...) Richard chama toda a família, mas principalmente o avô, para ajudá-lo a avaliar tudo aquilo. Brilhantes, rubis, esmeraldas, alexandritas, pérolas, turmalinas, ônix entre outras e a documentação de propriedade. Nunca imaginaram que gente tão rica tivesse chegado a Sunshadow, em seus primórdios. Descobrem que os Gardner já foram muito ricos (...)...

- Nancy! Nós tínhamos uma fortuna e quase passamos fome na época!

Teriam passado, não fossem os gordos rendimentos de Gerald e sua coleção de carros e máquinas (...) são mais de doze milhões de dólares. Lembram-se do medo que tinham de se casar e verem seus filhos passarem fome, quando justo a euforia pelo fim da guerra providenciou um volume de trabalhos especializados que só Richard estava apto a executar. Talvez sua mãe ainda estivesse viva, talvez Deborah não tivesse se desesperado e perdido o juízo, talvez... talvez... talvez...

- Ritchie?

- Estou bem, minha amada. Só lembranças... Estou pensando na origem da minha família, desde menino eu me pergunto de onde viemos. No que me diz respeito, tudo pode ser doado ao museu.

Ele pensa no que pode haver naquele porão gigante (...) não imagina o que possa justificar uma construção tão robusta e bem camuflada...

- Fischer, já notou que a casa está bem mais alta do que a entrada? Parou para pensar que este morro pode ser artificial?

- Agora que você falou... Santo Deus, então a casa é o disfarce para o que tem lá em baixo!

O equipamento chega quando a neve começa a cair. Deixarão para a primavera o início da operação. Com a neve é lançada a campanha da joalheria (...) Arthur se apaixona novamente pela esposa, ele e alguns milhões mais. Vai à floricultura, à doceria, à chocolateria, à joalheria e volta para casa com cara de garoto que visita seu primeiro amor. Os paparazzi não deixam isso em branco (...) Patrícia está sentada no coreto, lendo uma das revistas que têm tanto capas da campanha, quanto matérias a respeito dela e de sua pessoa...

- Arthur!

- Eu devia estar cego ou anestesiado pela sua beleza extraordinária. Posso confessar uma coisa? I’m fall in love again, about you.

Patrícia, após mais de trinta anos, se surpreende novamente (...) com entusiasmo juvenil e em meia hora o casal tem novas núpcias. Elizabeth puxa Prudence, apenas dizendo “Eles estão fazendo do jeito certo” e a leva para a cozinha, sabe que terão muita fome, quando descerem. Descem rindo, com muita fome!

O efeito colateral beneficia a banda inteira, a joalheria e as revistas têm filiais pelo mundo, gente que nunca ligou a música à banda, gente que sempre criticou sem nunca ter ouvido e gente de outro planeta que pensava que eles tivessem morrido, passam a se interessar pela Dead Train (...) o mundo redescobre Patty, Renata, Hot Rebeca, Enzo, Bobby e Ron. É uma grata e imensa surpresa, um presente antecipado de natal para os seis. Muita gente da velha guarda está conseguindo um revival, mas eles simplesmente voltam a ser mania, desta vez com o incremento da internet.

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Kurt derrama uma mistura de tinta acrílica com pó de mármore e verniz brilhante em uma tela, previamente tingida de azul e alvejada em algumas partes, como um céu com poucas nuvens (...) Quando começa a tomar consistência, ele manipula até tomar algumas formas que os outros não conseguem definir...

- WOW! YEAR! Oh!

Ele sempre arranca risos com suas interjeições. Quando termina, leva para secar sua obra sobre a poesia. Não é pose, esse é o natural de Crazy Kurt. Fez uma mulher soltando passarinhos pela boca e escreveu “Poesia concreta” como título, logo acima de sua assinatura. Só fica pronto, ao contrário das obras dos colegas, no dia seguinte, e fica com aspecto de porcelana. Alguns dos colegas são de Summerfields e Cadillac (...) Enquanto a neve deixar eles usufruem da estrutura da fundação, mas não demora muito para ser perigoso até sair de casa, quanto mais encarar a estrada. O menino leva a pequena tela para casa, onde já tem uma pequena exposição permanente e mais uma vez é lambrecado de beijos por mãe e avó, mais tarde também pela universitária que mora na casa. Ela photographa a obra e manda o quanto antes por e-mail, para a faculdade, para seu professor de iniciação ao surrealismo (...) o menino já é famoso na faculdade de belas artes.

Os três voam para Oklahoma, para passarem o natal em família, aproveitando o recesso preventivo da nevasca. Enya e Norma são agora o único público de Kurt, que sente falta dos garotos, mas só até os tios chegarem com cônjuges e a serelepe Evelyn. Mas o maluquinho gosta mesmo é de receber a sóbria Happy Moon, ela o intriga. Culinária é um dos talentos do petiz (...) ele sempre surpreende. Recebe tios e primos com peixe picado em pasta de azeitona que ele mesmo moeu, com azeite, tomate e especiarias, acompanhado de legumes cozidos no vapor, tudo servido dentro de pães de centeio. A sobremesa tem sorvete de menta com goiabada cascão em copos de chocolate meio amargo, com um fio de mel em cada...

- Uma refeição decente é uma arte efêmera, que se desfaz e apodrece em permanente contemplação. A arte em si tem sempre um fim, e o fim é o que a eterniza! A arte que mantivermos viva, para nossa própria alegria, morre. Comamos.

Tudo para ele precisa ter glamour, essência, pompa e circunstância (...) porque “A estupidez humana embaça as cores e esconde a beleza da vida, por isso precisamos da tinta e do verniz para que possamos vê-las novamente”. O menino também não é discreto com sua genialidade, mas a descontração a disfarça bem (...) Zigfrida já o declarou gênio e guarda com cuidado o quadro que ganhou dele.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CXIX

    Festa, mudança e luto. A estação 119 costura risos e prantos no tecido da vida, e todos terão que usar a roupa. Todos à bordo, o trem vai partir.


- PAI!

Ele olha para trás, vê aquela garotinha atrevida e voluntariosa em prantos, com as mãos juntas ao peito (...) Loura, olhos azuis, rosto perfeito, tudo o que os casais procuram em uma criança, ela é que recusou todos eles. Não queria se separar do tio que sempre ia ajudar a amiga na creche-orfanato que ajuda a manter. Ele volta em passos cadenciados, se ajoelha diante daquele pedaço petulante de gente e a abraça. São míseros quatro aninhos de idade que só reconhecem autoridade naquele homem. Após cinco devoluções, a direção não hesita em emitir uma autorização para um conhecido confiável (...) Ele passa antes na casa dos parentes, no Setor Coimbra, porque sabe que cedo ou tarde precisará de ajuda (...) Os parentes ligam imediatamente para Eduarda e Renato, e Renata fica sabendo, e ela sabendo a turma é reunida na Máquina de Costura...

- Galera, notícias fresquinhas do Elias! Ele é pai!

Olham para ela como tivesse dito um completo absurdo (...) explica como uma versão loura da Rebeca o adoptou como pai. Também como as pessoas a devolveram, quando perceberam que não era apenas uma bonequinha teleguiada (...) A menina tem muita, mas muita personalidade, não é qualquer um que sabe lidar com ela. Elias sempre foi firme com Sandra, mas também sempre foi o colo onde ela tirou as sonecas da tarde. Todos se viram para Patrícia...

- Cara! Ele é muito mais parecido com você do que com a Rê! E agora é pai do meu clone louro!

- Rê, quero detalhes e dane-se o relógio. Como ele começou a se envolver com essas crianças?

A história de amizade é longa (...) O respeito da menina por ele cresceu quando percebeu coerência no que ele fazia, não era só a ela, ele repreendia qualquer um, mesmo adulto, que fizesse algo errado (...) Os seis se desmancham...

- Ow... Eu acho que estou me sentindo avó de novo! Quero detalhes! Consiga para mim tudo o que puder saber sobre essa Rebequinha rejeitada.

Não é difícil, à noite os seis se reúnem novamente com a ficha completa da petiz. É psicologicamente uma cópia de Rebeca. A menina recebeu bem as normas da casa, onde agora Elias dormirá no sofá (...) Luxo e moleza são tudo o que Sandra não terá. Amanhã ele vai comprar um sofá maior.

Em Sunshadow, após o treino matinal, Patrícia e Rebeca repassam os detalhes da novidade. Nancy fica ansiosa para ter uma photo da menina, na realidade quer ter uma do Elias hoje, morando por sua própria conta (...) Vão todos para suas obrigações assim que se abastecem. Richard tem um contacto secreto disfarçado para esta manhã, nada de extraordinário, só discutirão o melhor modo de fazer um déspota cair em desgraça. Matá-lo agora seria fabricar um mártir para seus seguidores, isso é tudo o que eles não querem.

Na fábrica, Richard e Marcia têm a ajuda de Amilton e Eddie (...) onde um casal trabalhar, o outro trabalhará também. Conseguem acertar preços, quantidades e composições das ligas de que precisam para os novos compressores, agora precisam pesquisar e encomendar o melhor maquinário para usiná-las. A banda está trabalhando nos shows já agendados, estão os seis em Los Angeles, no escritório central, na pracinha privativa, falando com Melinda e alguns executivos, com frutas em fartura, das mais diversas origens e de todos os tipos inimagináveis para todo mundo.

Elizabeth e Prudence aproveitam a ausência dos pais, reúnem a turma inteira e improvisam uma festa em casa (...) Mas elas precisam acordar mais cedo...

- Então os amores da mamãe estão fazendo uma festa improvisada sem terem nos consultado... Não, deixe eles. Continue filmando e photographando, eu quero ver tudo assim que chegar... Arrastaram Happy Moon pra muvuca? William, eu não quero perder um lance sequer, salve tudo assim que terminar.

- Giovanni está lá? Ah, cazzo! Vai dormir de pijama de ursinho por uma semana!

- Todo pimpão! Dá pra acreditar nisso?

- Vamos convidar eles para ver um filme, quando voltarmos. Vou ligar pra Miko.

No fim da tarde lá estão eles. A casa está um brinco (...) Patrícia coloca o DVD no aparelho e vê a bela edição, com a tradicional entrada da Metro Goldwin Mayer, então as crianças se vêem durante a festa. As pequenas farreiam, mas as mentoras do delito...

- Os amores da mamãe estão muito safadinhas!

- Vocês duas estão de parabéns, pela limpeza. Sinal de que realmente não precisamos de empregados, mas que isso lhes sirva de lição, mocinhas, nós estamos de olho em vocês, mesmo que estejamos do outro lado do mundo.

- Proo, fomos espionadas! Ninguém mais está seguro neste mundo, ninguém mais pode fazer uma besteira, todos têm câmeras hoje em dia!

- Só porque te pegamos com a boca na botija, malandrinha? Você pode fazer sua festinhas, seus festivais e suas reuniões altamente secretas em casa, mas ainda não tem idade para fazer isso sem permissão.

Agora sabem que precisam ficar de olho nessa turma (...) Felizmente as travessuras das crianças só causam risos, já não é incomum garotos cometerem atrocidades como se fossem adultos, fora de Sunshadow. Tudo já esperado pela organização, mas não por isso menos triste.

&

Eduarda recebe uma photographia de Elias com Sandra. Praticamente Sunshadow inteira quer ver (...) A pequenina está de rosto colado com o pai, nem de longe ele lembra a figura amargurada que conheceram. Elizabeth e Prudence passam por debaixo de pernas para ver aquela imagem, arregalam os olhos e vêem em cores a lenda, o mito, o azarão profissional com a filha em sua diminuta sala. Zigfrida está na cidade e quer ver aquilo, abre caminho...

- Cara! Vocês falam tanto nele, que parecia ser lenda urbana! Ele existe!

Pede uma cópia, gostou do que viu e quer analisar a cena. Os seis voltam no início da tarde de Detroit, e mais cópias são necessárias. Patrícia abre um sorriso pensando “Ele não mudou muito”, o reconheceria de imediato. Vê na menina, agarrada ao rosto dele, a esperança de ele voltar a gostar da vida (...) Enquanto isso, Elias é acusado de racismo por gente que não conhece a história da adoção, mas se revoltou por ele ter levado para casa um “objecto de desejo da estética racista européia”.

Marina e Victoria chegam com Nina e Lola, decidiram antecipar a entrega de um histórico encadernado, antes de saírem juntas com seus rebentos. Enzo retarda um pouco o passeio...

- Não importa o quê, vocês podem contar pra mim.

- A gente tá bem, Enzo. A gente se afastou um pouco, bem... Falha nossa.

- É, nos envolvemos demais com a vida doméstica, mas eu prometo levar a Lola pra brincar com o Tota assim que der uma folga.

Não se vão antes de um abraço no irmão (...) Volta para casa pensativo, enquanto paparazzi clicam um dos homens mais desejados do mundo em estado de meditação. Encontra Silvia voltando do mercado, puxando um carrinho de compras, enquanto o rebento carrega um saquinho de frutas cristalizadas. A cena de família feliz condiz com a realidade, mas o semblante do cantor está um pouco tristonho. Nada que a visão de um De Soto 1947 não reverta. É Karen voltando com a família, directo do aeroporto (...) Aquelas frutas e aqueles doces durarão menos do que Silvia imaginou, mas ela fica muito feliz por isso. Fica ainda mais interessante quando Elon desce de bermuda, com a prótese à mostra, então todos eles vibram e saem de seus esconderijos, vão agradecer à família, ainda clicando, e rumam para vender seu trabalho. Vai render muito dinheiro por muito tempo.

Rebeca e Ronald estão com Robert e Mikomi. Jean Pierre e Marie vão se casar no ano que vem. Por força da tradição que abraçaram, ela se casa primeiro e fica para a cerimônia do irmão. O caso agora é Sakura, que conheceu em uma turnê no Japão o filho de uma amiga da mãe. Kenji Toyoda é um mecânico honesto, eficiente e ciente de suas obrigações. Também um otaku de carteirinha, que ganha algum extra fabricando cosplay (...) foi visitar a mãe em Nagoya e encontrou Sakura hospedada lá. O resto são favas contadas, o rapaz está disposto a seguir os passos de Mikomi e ser um honrado representante do imperador em território americano. Para isso passará seis meses intercalados, viajando como representante da fábrica onde trabalha, para se acostumar ao jeito dos americanos...

- Sim, minha irmã é uma excelente carateca.

- Além de um ídolo, uma grande lutadora! Também pratico, embora eu não tenha muito tempo, ultimamente.

- Não precisa de muito tempo, isso se contorna com técnica e concentração. Vem, eu te mostro.

Ela não humilha, não mostra tudo o que sabe, mas ele sai completamente desapontado consigo...

- Você não é carateca, é uma ninja!

- Ow, transmitirei a lisonja à Patty e ao Mr. Gardner. Ter técnicas como base é bom, Kenji, mas qualquer árvore que se prenda ao canteiro, morre como arbusto.

É convidado e na manhã seguinte está no treino diário. É aterrorizante ver os Richards treinando juntos (...) Ele não tarda a falar com Mikomi a respeito...

- Também acho que seria uma boa matéria, Kenji. O problema é que isso violaria a privacidade deles. Ser esposa, amiga e mãe de celebridades me impõe algumas regras éticas rígidas. Tudo o que se diz deles, gera polêmica, e em última instância, o que eu disser de algum deles, acabará me afetando, porque eu sou uma deles, compreende?

- Compreendo, mas pense bem no caso, talvez haja um modo de contornar o problema.

- Ficarei eternamente grata, se conseguir encontrar e me indicar.

- Já falou com eles? Quem sabe uma matéria sobre tradições japonesas na América funcione!

- Ok, agora você tem minha gratidão eterna. Vou falar com Bobby.

Ele sugere (...) um documentário e comece pelo seu próprio jardim, do qual já tem material vasto em imagem e texto. Ela vasculha seu acervo bem organizado, começa a rascunhar um diagrama, liga para a revista, tem sinal verde (...) Liga para Matthew e ele se compromete com a ajuda. Lá fora, namorando, um pretenso genro fica feliz por ter agradado de cara sua futura sogra.

&

No momento em que Patrícia mostra aos amigos o tailleur quarentista que o amigo Gianni Versace fez (...) Elizabeth aparece chorando, com Prudence atrás, tentando consolar, gritando “Mataram o tio Gianni”. O Airtrain faz mais uma viagem lúgubre, com Patrícia no tailleur verde e preto, vendo um convidado de honra do seu cinqüentenário adiar eternamente o comparecimento. Ele sabia que aquela mulher de largo chapéu preto (...) exigia tato. Começou dizendo-lhe que tinha uma beleza clássica, que independe de moda, de então em diante ela mostrou onde e como tocar, e onde jamais deveria sequer olhar pela fechadura. Ele compreendeu (...) a menininha mandona, que ela assume ser sem constrangimentos.

Voltam para casa, enquanto os noticiários se dividem entre a perda estúpida do gênio da moda e a presença realesca da líder do Dead Train (...) em uma das últimas obras do estilista, visto como uma última homenagem, encoraja a joalheria a finalmente entrar em contacto com Melinda...

- Entendo e agradeço pela postura. Vocês deveriam ter vindo bem antes, provavelmente já teriam o aceite dela. Com Rebeca e Renata vocês não precisam se preocupar, não rola esse tipo de ciúmes entre os seis. Deixem a proposta, vou escrever “Abrir quando o luto terminar” e entregar em mãos.

Entrega assim que volta a Sunshadow. Patrícia coloca o envelope na sua escrivaninha e volta aos seus afazeres, que são muitos. Um deles é assegurar que a neta cresça em segurança, e se prepare com naturalidade para o ingresso na organização. A pequena está aprendendo a guardar segredos e transmitir aos adultos (...) Sai da biblioteca e vê as filhas lendo o diário que ela deixou. Vai assesorá-las, há muitas passagens que suas cabecinhas puerís não conseguirão digerir sozinhas.

Julia foi encarregada e aceitou com felicidade a tarefa de marcar a semana do aniversário de cinqüenta anos da diva (...) O título ela já escolheu, “Todos os seus inimigos caíram” (...) The Cool Boys e The Special Boys finalmente sairão do ostracismo, dando depoimentos que os programas sabem não serem confiáveis, mas darão audiência. Em troca eles acompanham o play back durante as entrevistas e tentam vender os álbuns encalhados... mas fica muito estranho um cinqüentão “cantar” com voz de adolescente!

O luto começa a esfriar e ela abre o envelope. Achou muito fofa a maneira como redigiram a proposta (...) Os recebe dois dias depois, para apresentarem seu projecto publicitário, sempre cercada pelos companheiros de estrada, com marido e filhas pequenas ao seu lado. Entre analisar photographias e ver aquela mulher maravilhosa ao vivo, há uma distância sensorial imensa. Ela aceita emprestar sua beleza rara para a nova coleção de jóias. Sessões de photos e filmagens serão em Sunshadow (...) A cidade cultiva hábitos sofisticados e tem lugares à altura, inclusive o jardim de Mikomi. Usam o acervo automobilístico dela para aumentar a aura de sofisticação da campanha. Tudo termina nas vésperas de outro luto.

Diana Spencer não é exactamente uma amiga íntima dos seis, mas eles já mediaram diálogos e ajudaram a rainha a conviver com ela sem que isso causasse uma guerra civil na Inglaterra. A morte trágica motivada pela perseguição de paparazzi eriça pêlos na cidade (...) Eles pensam nos pequenos príncipes, que nunca tiveram moleza, ponto em que mãe e avó convergiam. Estão em uma fase da vida muito difícil para qualquer pessoa em condições normais, que estas não são. A demora na manifestação de Buckinghan começa a preocupar, mas a rainha faz tudo certo e tem resposta inesperadamente boa dos súditos. Eles vão, não ter intimidades não é não ter relações, eles têm e são antigas. Alguns amigos em comum eram íntimos da princesa (...) Patrícia em especial tem contactos próprios com o governo inglês, quer saber dele se aquilo foi mesmo só uma fatalidade que poderia ter sido evitada.

Voltam rápido, a tempo de Rebeca assoprar suas velinhas. Os fãs que ajudam a cuidar de Norma estão lá, batendo mais photos para matar os outros de inveja (...) percebem com nitidez o respeito dos cinco pela líder da turma. E o que os loucos dão de presente à encrenqueira? Arcos com flechas, espadas, punhais, binóculos de visão noturna, livros sobre lutas e acessórios do gênero. A única exceção fica por conta de Patrícia, que lhe dá um sidecar (...) ele tem um motor eléctrico auxiliar para as arrancadas, frenagens, trocas de marchas e eventuais manobras de ré.

Julia volta a Los Angeles com idéias novas para o documentário (...) Seu Grand Marquis foi modificado por ela, o incluirá no filme. Pega marido e filhos na escola e volta para casa, quer descansar a cabeça para colocar tudo em prática com o padrão de qualidade que sua rainha merece. A aproximação da data só faz eriçar mais o show business. Também marca a graduação informal de Stephanie, que mostrou ter realmente uma vocação sólida para o magistério (...) A menina é aceita na sala dos professores da fundação, toma o café deles, olha os diários, as notas, inclusive as próprias, comenta sobre alguns alunos e fica sabendo dos planejamentos de aulas. Sente-se realizada naquela sala.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Dead train in the rain CXVIII

    Lutos e novidades! A estação 118 traz tristezas e sustos, mas também sorrisos dos que não se detêm por isso. Dói, mas levante-se e embarque. O trem vai partir.


Poucos dias depois, o segundo luto. Robert desce do Peterbilt, sente-se um pouco tonto, vai ter com a esposa, mas cai morto a poucos passos dela. Enya tenta acolher a mãe e ligar para os irmãos ao mesmo tempo (...) Não é por já esperarem que isso acontecesse a qualquer momento (...) que eles não ficam arrasados. Cabe a Renata e Marcia controlar a situação, como sempre tem sido. Ele não se foi como esperava, quando os filhos eram crianças. Esperava ter um cantinho onde desfrutaria com Norma da magra aposentadoria que estava preparando (...) Queria ver Bobby em uma profissão de futuro e Rebeca com um homem que soubesse lidar com sua índole agressiva. Nunca em sua vida corrosiva, imaginou que viveria suas últimas três décadas na maré mansa. Estava voltando justo de uma roda de amigos caminhoneiros, com quem conversava sobre a vida de nababo que seus filhos lhe davam (...) Uma caravana de cinqüenta caminhões acompanha o cortejo. Na frente o Fletwood 1931 com Patrícia ao volante, levando Norma e filhos para a despedida. O caixão desce ao som de choro, dos presentes e das buzinas dos caminhões.

Ele resistiu bem mais do que todos esperavam (...) Foi um marido dedicado e carinhoso, conseguiu preencher a falta diária de Rebeca até adoptarem Enya. Na volta para casa, os irmãos conversam sobre a mãe. Enya não pretende mesmo sair daquela casa, mas viaja muito a trabalho. Os próximos ensaios foram adiados por uma semana por causa do luto, mas terá que viajar. É hora de arranjar uma acompanhante para a mãe (...) O problema é ela não ter parentes vivos. Encontram a solução temporária entre seus fãs, três estudantes universitários se mudam para lá já no terceiro dia, cientes da responsabilidade que têm diante de todo o universo dos ghost drivers, e da economia que terão com alimentação e hospedagem.

Enya tem tempo para ensiná-los a lidar com a mãe, com Crazy Kurt e os cuidados que devem ter com a imprensa. Apesar do coração apertado, por deixar a mãe ainda enlutada, trabalha mais tranqüila. Na volta encontra Norma enturmada com aqueles garotos. O sangue novo ajudou muito na sua recuperação (...) Rebeca e Robert fazem questão de assistir aqueles fãs tão prestativos (...) Os pais dos universitários ficam felizes de poderem cortar pela metade as remessas que pretendiam fazer.

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Prudence ainda estranha o mundo. Se acostumou a Sunshadow (...) Los Angeles é uma coisa assustadora! A menina se sente perdida, tem medo de se afastar dos pais, mas eles sabem que as filhas precisam se acostumar a enfrentar o mundo (...) Patrícia usa um vestidinho preto simples de botões laterais, inspirado no feito em 1965 por Pierre Cardin. A família vai ao escritório central, onde Melinda espera com Aubrey e um lanche reforçado. Atrás deles uma horda de paparazzi registrando um momento relativamente raro (...) Irmã e prima levam a estreante para a pracinha do jardim privativo (...)...

- Bee, Betty, que lugar doido é esse?

- É a cidade grande, irmã.

- É o palco maior das ilusões, a sombra mórbida de seu auge, o zumbí errante do sucesso perdido, a esfinge insaciável por sonhos de inocentes, esta é Los Angeles! Eu adoro essa zorra... Tá assustada?

- Ela está, Bee. Infelizmente terá que enfrentar este mundo, meu amor. Sunshadow é um pequeno paraíso, este aqui é o mundo real. É por isso que trouxemos vocês enquanto ainda são crianças, conosco vocês estão seguras e poderão aprender as coisas da vida sem medo. Vem comigo, vamos dar uma volta por Hollywood.

Imediatamente um dos funcionários avisa tanto à organização quanto, não riam, à “Guarda Imperial de Sua Majestade Patrícia de Sunshadow”. Embora não saiba, Prudence está usando uma réplica multicolorida dos vestidinhos minimalistas do último terço dos anos sessenta, de tecido leve e fresco. A mãe lhe mostra algo similar a Sunshadow, a grande quantidade de carros antigos (...) isso ajuda a aliviar o nervosismo da menina. Voltam para Sunshadow à noite, após uma passada no Jose’s Hotel. Na manhã seguinte, após os exercícios matinais, os cinco casais se reúnem para tratar das reações de seus pimpolhos, exceto Robert e Mikomi, eles apenas ouvem. A rejeição unicamente de Prudence à cidade é destaque.

Em Washington, Richard assiste à cena mais esperada pela organização nos últimos anos. Lionel Krumb viu descer ao túmulo o último desafeto que travava suas promoções, por causa de sua simpatia pela organização (...) Hoje o presidente prende com prazer a estrelinha e Nelson tem um companheiro para sua senda. O General Krumb presta continência, é dispensado e vai para a festa, diante de vários desafetos ainda vivos no Pentágono, que de agora em diante lhe devem obediência e respeito (...)...

- Ritchie, pode arranjar uma casa pra mim em Sunshadow? Acho que agora eu mereço!

- Mandarei meu neto ver isso agora mesmo.

Uma casa ampla e charmosa, na estrada para a Culture Train, edificada em 1910, deve servir. Ele se muda uma semana depois (...) Não demora para alguém se lembrar que ele teve contacto directo com os garotos em seu primeiro dia de fama...

- Declarações, General Krumb!

- Mas eu já declarei, pergunte à receita federal!

- Sobre o primeiro dia de fama do Dead Train! Como foi que aconteceu?

- Well... Foi um gesto de cavalheirismo de Richard para com a hoje minha esposa... Como vou contar isso? Certo...

A fama trinta anos depois. Nelson desata a rir, quando o vê pela televisão, todo desengonçado a dar as declarações (...) quase enfartou quando perguntaram se Patrícia já era agente secreta, na época.

&

Quando todos os desastres do ano pareciam já ter acontecido, a organização fica em polvorosa, Patrícia se tranca sozinha e rapidamente na biblioteca, com ordens para não ser importunada sob hipótese alguma (...) Yitzhak Rabin foi assassinado justo por um judeu, durante um pronunciamento público. Ela avisou reiteradas vezes, mas eles disseram que estava tudo sob controle (...) então baixaram a guarda para seus próprios radicais. Conseguem que Arafat mude pontos sutís, mas cruciais da rotina da segurança, que assim detém um radical que estava acima de qualquer suspeita.

O trabalho em conjunto com a CIA é extenuante, são dezenas de ligações, e-mails, um olho na televisão e outro nos jornais que já têm páginas virtuais, sete idiomas praticamente simultâneos e um estresse absurdo. Seu trabalho vara a noite e só termina quando os outros concluíram os exercícios diários. Richard vai à filha, que acaba de abrir a porta, está visivelmente desgastada e exausta...

- Minha filha!

- Estou bem, daddy. Evitamos o pior...

- Vem cá.

Ela se despe da armadura de Princess e se deixa acolher por seu velho e ainda monstruoso pai. Ele, Arthur, Rebeca e Richard sabem exatacmente o que ela fez, por isso mesmo ficam pasmos em ter conseguido fazê-lo e ainda sair andando daquela biblioteca. Era uma guerra que eles queriam, pois foi uma guerra que ela lhes negou. Star não poderia simplesmente interromper um trabalho de extrema gravidade, seria como interromper uma cirurgia cardíaca com o coração aberto, mas agora toma as rédeas de suas mãos e ordena que descanse da organização (...) Nelson pede a Krumb que espere ela ter algumas horas de sono, para transmitir a gratidão da Casa Branca. Dorme com Arthur sentado ao lado, segurando sua mão.

O inverno se anuncia com a tensão dando o tom, porque a ruptura que esperavam para o fim do século aconteceu agora (...) O alívio vem com o lançamento do Open Sunshadow (...) um resumo ricamente ilustrado e repleto de referências dos anos de pesquisas de Zigfrida e sua equipe. A capa é criação de Renata, mostra uma mulher comum abrindo uma janela no peito e mostrando sua cópia, com alguns adereços a mais e melhor arrumada, mas a rigor sua cópia. Os detratores da cidade se apressam em comprar e logo Tobby faz dele o tema principal do programa...

- É um trabalho científico por excelência, mas longe de ser chato, algumas passagens são hilárias!

A sueca não pôde deixar de colocar seu humor corrosivo em algumas passagens, que citam supostas pesquisas de detratores que jamais as publicaram, mas são citadas em todas as entrevistas. As mensagens cifradas ocupam quase um terço do livro (...) para que todos os colaboradores tenham acesso às novas orientações.

O inverno chega com os seis voltando do último show do ano, que tirou as últimas rugas da testa de Patrícia. Ela precisa da música, é o que mantém sua sanidade no lugar (...) Pelo menos conseguiu trazer um Fusca Itamar vermelho a álcool, que dará à mãe no natal. Lhe daria a Volkswagen inteira, tem cacife para isso, se ela ainda fabricasse Volkswagens (...) Enquanto eles esfriam, os ânimos esquentam entre os novos inimigos de Zigtrida Fälkstaden, alguns dos quais literalmente mastigam o livro de tanta raiva. Se apressam em procurar literaturas que o desmintam.

&

Os Richards encontram a solução. A estrutura da casa é de toras bem ancoradas entre si, então é viável montar um chassi, como em um trailer, e assim permitir as escavações, para ver o que afinal está enterrado debaixo da sede da fazenda (...) entregam a empreitada a um engenheiro de confiança, porque eles estão assoberbados de trabalho, a começar pelo nó que a Chevrolet deu, ao anunciar o EV1. O carro é uma beleza (...) a forma de aquisição é que despertou desconfianças, principalmente no sunshadower. O velho Gardner foi enfático com o vendedor que lhe ofereceu um...

- Se eu levar um para casa e tentarem tomá-lo depois, alguém vai comer chumbo quente!

E desistiram da oferta. Ele entrou em seu Corvette Stingray preto 1973 convertido, e saiu cantando pneus com os 200HP instantâneos de cada um. A autonomia é relativamente curta, cabe pouca bateria de chumbo em um puro-sangue, mas 160 milhas dão e sobram para a região. Ele tem mais o que fazer do que acreditar em mais uma lorota (...) como acertar o fornecimento de novas ligas para seus compressores, deixou o neto cuidando do assunto até voltar...

- Quer dizer que nem pagando o dobro o carro seria seu? O que foi com eles? O trauma de terem sido derrotados quando disseram a verdade ainda persiste?

- O caso Corvair foi vergonhoso, mas não acredito que seja só isso. Eles têm usado demais o testosterona como argumento de vendas, um carro que não polui e não incomoda os ouvidos, vai contra a cabecinha do público que conseguiram com isso. Conseguiu algo?

Marcia acaba tendo que ajudar o marido, para ele não ficar sobrecarregado com os assuntos da Culture Train e de salvação do mundo. Lá está Phoebe (...) Molibidênio, Vanádio, Tungstênio e Nióbio entram rapidamente para o seu vocabulário. Os quatro voltam para casa, mas os adultos não ficarão alheios aos assuntos da fábrica (...) para isso têm seus celulares. Esses aparelhos (...) têm sido fonte de polêmica comportamental (...) símbolo de ostentação cafona, bem como de guerra nos bastidores do show business. São poucos os famosos cujos números não são conhecidos pelos fofoqueiros, os do Dead Train, por exemplo...

- Nem que a vaca tussa! Vocês têm os telephones do escritório, não precisam dos nossos.

Renata está irredutível. Segue para a Máquina de Costura, onde todos têm histórias correlatas, o assédio dos colunistas para terem seus números de celular, está ficando perigoso...

- Um deles abordou a Proo, na volta das aulas, propondo troca de números de celular. Por sorte Betty é grudada nela e logo a tirou de perto. Rê, depois falaremos com o Matt, a imprensa está ficando muito atrevida e perigosa pra gente, especialmente para a nossa neta.

As duas recebem neste momento, ligações de seus rebentos, com a notícia “Mon, Phoebe is plaing the piano!”, respondendo “But she still is a baby!”...

- Rê! O que tá acontecendo com Little Phee?

- Eu sei lá? Esse grau de talento só deveria se manifestar depois dos seis anos!

- Cosa è sucesso a lei?

- Enzo, a Phoebe tá tocando piano... Eu ouvi aquelas mãozinhas redondas dedilhando o piano!

Rebeca põe a mão na testa da goiana aflita, depois lidera a turma à casa dos pais aflitos (...) No que permitem seus bracinhos curtos e suas mãozinhas de boneca, a menina toca “Balada Por Elise” (...) Chamam urgente a professora Nancy, ela saberá o que fazer... Esperam...

- Deus... Meu Deus... Você não quer mesmo esperar ter tamanho de gente, não é? Ok, foi você quem pediu. Steph, é a sua primeira aluna, pode começar agora.

A menina treme, mas seus olhos brilham como nunca. Estrala as mãos, põe a prima no colo e a orienta. Marcia começa a ter um fio de esperança, porque é uma criança educando outra, então as linguagens não são muito distantes (...) Olha para o marido com cara de “A culpa é sua”...

- Minha? Por quê?

- Você sabe tudo, entende de tudo, sabe fazer de tudo! Tem que ter alguma coisa nos seus genes que copia e cola intelecto! Você, sua mãe, seu avô, a sua bisavó... Se bem que ela não é mãe dele...

- Ah, é isso... Ufa! Vó...

- Não se preocupe, meu amor, vamos cuidar da pequenina como eu cuidei de sua mãe. Marcia, peça desculpas à sua tia Patty, sua bronca pode ter sido elogiosa, mas foi uma bronca e foi injusta.

Nancy foi sua professora, como foi de sua mãe, de sua tia e agora é de sua filha. Ela a encara como fazia na época da sala de aula. A jovem se aproxima da sogra, cabisbaixa, mas ganha um abraço antes de conseguir parar de gaguejar. Ela se acostumou a ter o controle da situação, sempre conseguiu contornar os problemas (...) agora justamente sua filha ameaçava inverter a situação e subjugá-la. Foi desesperador!

&

Matthew volta de New York após um mês de incêndios criminosos, e de dar alguns sopapos em sujeitos que tentavam assediar sua neta para conseguir informações sobre sua esposa. Sua linda, escultural, maravilhosa, sua sexy voice wife o espera em Sunshadow (...) Também quer ver por si o que falaram de Phoebe...

- Rê, quê que estão dando pra essa menina comer?

- O Seu Richard acha que ela é o próximo passo da evolução da espécie. Já notou que ela praticamente não se cansa e quase não sente frio?

- Se aqueles ufólogos descobrem isso... Deus me livre!

- Não vão, Matthew, eu asseguro.

Josephine entra na casa, iluminando tudo ao dedor. Ela quer mesmo falar com os dois e a presença da pequena não é entrave, ela é uma de seus afilhados (...) Pega a criança nos braços e leva os três à Máquina de Costura. É clara com os quatro, não quer descontroles diante dela, quer ser avisada a qualquer dificuldade dos jovens pais com os progressos de Phoebe, e não menos importante, quer mais visitas (...) Vai suplementar o trabalho de Nancy, mas para isso precisa ter a menina por perto com alguma freqüência, de preferência muita freqüência.

Lá fora a imprensa se amontoa para ver Jose de Lane após quase um ano sem aparecer (...) Tudo se complica quando os outros quatro casais chegam para pedir bênção à sua protetora. As cortinas da frente permanecem fechadas durante toda a visita. Na saída ela diz que foi puxar orelhas dos pupilos ausentes. Meia verdade. Na realidade colocou a organização de olho em Phoebe, Patrícia e Rebeca compreenderam (...) estará muito mais segura como colaboradora do que como uma cidadã comum que ela nunca conseguirá ser. No sábado lá está o jovem casal com seu rebento especial, a criança fica encantada com o palacete...

- Essa casa é maior do que Sunshadow, mamãe!

- É também sua casa, mon petit chérie. Ricky, queremos falar com você a sós. Marcia, é só um minuto e vamos encontrar vocês no deck. Encontrar sua mãe naquela estrada, foi a melhor coisa que já aconteceu à organização...

A diva explica ao rapaz, sem a autoridade de Star, das conclusões a que Zigfrida chegou (...) por mais que ela mesma tenha relutado em aceitar isso sobre sua afilhada. Ademais, cedo ou tarde essa genialidade toda ficará escancarada e ela vai precisar de quem a ajude a lidar com os revezes correlatos...

- Minha mãe já me dizia desde que eu era menino, que o mundo não perdoa quem é bom demais.

- E não vai perdoar Phoebe. Compreende minha preocupação? Podemos contar com você?

- O codinome dela será Angel. Já começaremos a acostumá-la à vida dura e a guardar segredos. Fazer o quê?

O jovem homenzarrão se levanta, abraça Josephine e Nelson e sai com eles à piscina, onde Marcia tem ataques de fofura, vendo a desenvoltura da herdeira na água. O restante do fim de semana é ameno, apenas com entretenimento, enquanto Open Sunshadow continua a eriçar pelos de intelectuais teóricos (...) A convenção da banda coincide com uma campanha para banir o livro das escolas. Novamente tentando voltar e se firmar na fama, os Special Boys entram na campanha sem terem lido sequer o prefácio. Vivendo de empregos comuns, às vezes tocando para pequenas platéias, eles sentem falta do auge (...) Mas isso foi há décadas!

Do outro lado, os dezoito ídolos mundiais gozam do prestígio que construíram sobre rocha, os seis em particular têm seus momentos de relaxamento, quando encarnam os fundadores da banda...

- Boa tarde, gente, muito obrigada por terem vindo. Hoje teremos uma apresentação especial... Charlie, deixe esse sintetizador aí e venha pra frente... Você ainda não sabe da maior que me contaram agorinha... A Dianna acaba de dar à luz três meninos!

O músico fica bobo, ri feito um pateta não sabe para onde. Agora é avô e carregado pelos comparsas pelo salão principal do centro de convenções (...) O Sunshadow Racer Motors Show reflete um pouco o pessimismo crescente, mas não nos números. A população vê nas oportunidades do evento, uma chance de sobreviver aos revezes que se avizinham. Encerram o ano da banda com uma confraternização na Máquina de Costura, para celebrar terem todos saído vivos da encrenca.