segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CXV

    Trauma e recomeço! A estação 115 traz uma só lição em todas essas linhas, vocês precisam estar bem e vivos, o resto é supérfluo. Embarquem, o trem vai seguir viagem.


Nancy acredita que concluiu sua participação (...) Aquelas moças podem conviver em sociedade, sem perigos, mas aquelas mulheres precisarão da tutela pública pelo resto de suas vidas. Lamenta muito que tenham precisado de sua ajuda, mas já podem se virar em ambiente doméstico (...) As mais jovens voam com ela para Sunshadow, onde são recebidas pela população com o carinho que a professora severa lhes dispensou, durante o árduo aprendizado. Uma conseqüência do método escolhido, é que elas costumam falar cantando (...) Ninguém fica indiferente às quarenta moças branquelas que olham tudo como novidade, principalmente os visitantes. Logo (...) novas teorias conspiratórias nascem, reforçando as vigentes, inclusive a de que a cidade é um reduto conservador.

A idéia de um prédio para elas morarem sozinhas foi abandonada de imediato, querem que se sociabilizem o mais rápido possível, então foram acolhidas por sunshadowers em suas casas. Patricia liga para Josephine e informa da tranqüilidade com que tudo transcorreu...

- Muitos turistas, muita gente de fora que trabalha aqui, enfim... Os jornais logo noticiam, inclusive os nossos, mas é o tipo de coisa que não dá para manter em segredo. Engraçado ouvir elas falarem cantando, mommy fez um trabalho excelente, elas são muito afinadas.

- Então temos um problema resolvido. E Elizabeth?

- Agimos rápido, mas ela ainda evita olhar para um casal se beijando com mais entusiasmo. Isso vai passar, eu espero... Ah, os ufólogos... Sumiram, mas terão que voltar, eles ainda não me decifraram.

- Conversei com Jeremy a respeito. Talvez posamos tirar partido... Já pensou em ser super heroína?

- No, thanks. Voar por aí de maiô cavado não faz o meu tipo.

Conversam enquanto Renata conversa com Elias (...) está feliz no emprego, finalmente pode planejar o futuro. Gostou do tom da voz dele, mas estranhou a profusão de monossilábicos que ele solta. Vai comunicar suas impressões à tutora escolhida.

Nancy leva as moças para conhecerem a fundação e elas reconhecem as meninas, embora nunca tenham conversado (...) A curiosidade mútua é imensa, conclui que as crianças podem ajudá-las em sua nova fase de vida. A cantoria toma conta do lugar e pega todo mundo de surpresa. Vai comunicar à primogênita a boa notícia e encontra Renata transmitindo seu recado...

- Duas boas novas em um só dia! Não vou elogiar, mas estou contente. Só lembrando que faltam dez anos ou menos para eu ir ter directamente com ele, segundo o seu avô.

- O que vai fazer? Vai pra lá ou...

- O que for necessário, Rê. O que for necessário.

- Ele ainda está estudando?

- Então... Houve um problema e ele pensa em desistir, mas estou tentando dissuadí-lo... Ele fez uns testes e viu que estudando ou não, os resultados nas provas são os mesmos.

- AH, MAS NÂO VAI MESMO! Já passei um sabão no Brad por isso, ele não vai fazer o mesmo!

- Na próxima vez que for falar com ele, me passe o telephone, vou tirar essa idéia derrotista.

- Eita! Ei, não exagerem, eu disse que ele pensa em sair, eu estou cuidando para não acontecer.

- Eu sei que não vai. O problema maior é que ele ficou muito desiludido com a vida, não sabe mais o que quer dela. Teremos que cutucar até ele voltar a alimentar algum sonho.

Para alguém que se acha muito velho para muitas das coisas que queria fazer, será uma tarefa árdua. Ele termina de limpar o radiador do freezer (...) Desde que começou a fazer isso, o consumo dos aparelhos caiu consideravelmente. Aos poucos o velho patrão começa a ver nele um homem de confiança.

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Fischer ganhou a aposta. Demorou muito, mas Weasley Brook faleceu (...) ele morreu feliz, viu sua humilde chocolateria se tornar, em vinte anos, uma rede internacional de franquias. Viu o neto caçula unir sua família à de Patricia, viu Sunshadow deixar de ser desprezada (...) viu gente arrogante que o desprezou lhe pedir emprego; se foi de alma lavada. Só fica em Gerald a idéia de que ele pode ser o próximo. Na volta para casa, se senta na cadeira de balanço da varanda, olha ao redor e começa a ter os mesmos sentimentos do amigo. Era só uma fazenda decadente, ele vivia de lembranças e dos rendimentos que sua previdência proporcionava (...) Casou-se com Deborah, linda de morrer até hoje, o filho caçula tomou a frente do serviço, se reconciliou com a filha fujona, todos os dias encontram algo escondido na propriedade, poderia morrer hoje, morreria feliz. Mas terá que esperar algum tempo.

Deborah volta de mais uma busca com uma caixinha cheia de moedas do século XIX. Não são muitas, mas têm valor histórico (...) Estão apenas empoeiradas (...) uma passada na água e estarão prontas para o acervo. Amilton sai com Glenda à sede nova da empresa, para a menina se acostumar a saber de onde vêm seus confortos, e também se preparar para quando tiver que tomar sua parte do comando. Ela ainda não entendeu direito a sinestesia da mãe, para piorar, adora letreiros berrantes e extravagantes (...) Ela vê pela primeira vez o início do planejamento de uma turnê. Richard e Marcia fizeram um esboço, antes de começarem a planejar...

- Aqui – diz a moça – temos uma região delicada, muita gente com desafetos muito acima da média, deixá-los juntos seria uma carnificina...

Os melindres de quem precisa lidar com gente (...) Audrey é que tem trabalho duplo, porque é da casa e o neto do falecido está inconsolável, apesar de ele ter chegado à idade em que a qualquer momento não faria mais aniversários. Há muitos assim na cidade, apesar de a expectativa de vida ter ultrapassado oitenta anos (...) Perto dali, Elizabeth recebe Prudence. A visitante se deslumbra com a Máquina de Costura como se deslumbrou com a cidade. As meninas vão para o coreto, onde uma mesinha de acepipes as espera. Faz questão de dizer que ajudou a fazer tudo. Foi a primeira vez que as meninas resgatadas saíram sozinhas (...) A anfitriã, como a mãe, as tias e o irmão, começou a crescer rápido. A certa altura, Prudence pergunta quem é Elias...

- Aproveita que temos a tarde livre e senta, que lá vem história.

Ela conta o que sabe para uma menina que não sabe o que é ter família (...) Elias, enquanto sua prima distante fala a seu respeito, é ofendido em casa, pelos parentes. Chamam-no de fresco e gay, dizem que precisa apanhar e transar com uma puta de beira de estrada, quase o agridem (...) alguém mexeu nos exames que trouxe do psiquiatra, que o diagnosticou com depressão severa, com viés para extrema. Paradoxalmente (...) é o que o ajuda a manter sua sanidade em ordem, por isso o médico preferiu não curar, temendo que isso o induzisse a uma tragédia. Isso chega aos ouvidos da prima psicóloga...

- Não... Isso explica muita coisa.

- E ele acabou de me ligar, tomaram o exame da mão dele e leram em voz alta...

- A família do pai não estava lá, estava?

Tudo o que poderia dar errado, deu errado, inclusive ele não ter conseguido esboçar reação e ter retido tudo o que sentiu na hora (...) descobre que ele é tão sociável quanto um carcaju. Chama os outros para uma reunião de turma, para ajudar a conter os ânimos de Patricia, que bufa de raiva. Aquele metro e noventa nunca foi tão intimidador...

- Vou instalar um pabx remoto para você me passar a próxima ligação, aproveitarei e farei isso nas casas dos senhores também... Ricky, é mamãe. Quero um favor seu, agora.

Ele instala as conecções privativas de compartilhamento, que acabam se tornando também uma intranet e mais gente passa a ter seus pontos; a família de um, é a famíla dos seis (...) Membros e familiares da banda passam a conversar com vários interlocutores ao mesmo tempo, por computador ou telephone, o que será muito útil no auge do inverno.

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Zigfrida ainda tem uns anos de pesquisas pela frente, mas apresenta um relatório preliminar para Josephine (...) os resultados têm sido muito melhores do que imaginaram, o jeito Naomi de educar está mostrando resultados excepcionais. Mas uma criança, ainda muito jovem para ser influenciada por ele, chamou a atenção, Phoebe causou mais um alvoroço quando começou a dizer os nomes das cores, de muitas letras e dos números (...) Ela prestava atenção aos nomes que davam às palavras, às formas, cores, sons, planilhas, enfim, a tudo...

- Se descobrirem essa menina, então sim vão pensar que Sunshadow é reduto de aliens.

- Na verdade ela parece ser um pequeno gênio que tem todas as condições favoráveis para se desenvolver. Os limites que ela tem são os mesmos que todas as crianças da cidade têm, só que também a genética ajudou um bocado. Mesmo assim é uma bochechudinha fofa que dá vontade de beliscar!

- Eu estou devendo umas visitas. Irei com você, na próxima vez.

- Tá devendo é uns filmes, oh, diva reclusa! Qualé, Jose, o que você quer? Que estúdios inteiros rastejem pra você aceitar um papel? Sua sina é brilhar, mulher! Você não pode esconder isso do mundo!

- Rastejar... Não seria ruim... Bart...

- Você aceitou? Diga que sim, Jose! Diga que sim!

- A Frida falou em alguém rastejar, é isso mesmo?

Meia hora depois, lá estão executivos, diretores, produtores, actores, figurinistas e fofoqueiros literalmente aos pés da diva, inclusive Bart (...) ela não precisa mais do cinema, mas o cinema precisa desesperadamente dela, até mesmo os estúdios concorrentes ganhariam com seu retorno às telas...

- Posso ver o roteiro, monsieur?

A volumosa cópia é analisada rapidamente. Para algumas páginas ela faz caretas, mas a maioria até acha interessante. Engraçado como ainda tem no mundo artístico o efeito da Hollywood de outrora (...) as armadilhas sempre existiram (...) mas entregava fartamente o glamour que prometia. Termina de ler por cima, faz um biquinho para a direita, pega o telephone e fala com Nancy...

- Chérie, avise a quem deve que eu aceitei aquele papel de malvada.

Não é uma vilã em essência, é uma malvada. Todos aqueles homens começam a ladainha de onde pararam, beijam seus pés, mãos, juram lealdade e oferecem vassalagem, enquanto Nancy usa a rede social que o neto construiu, espalha a notícia por Sunshadow. O cinema mundial comemora.

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Conseguem indiciar todos os envolvidos no cárcere das mulheres, incluindo pessoas ultra ricas, que ficariam impunes se não fosse pelo trabalho da organização (...) Não sabem o que deu errado, sabem que deu muito errado. Foram pegos em crimes de colarinho branco, a que estão acostumados, mas as agências oficiais cumpriram com suas promessas (...) impedindo que contactos fossem feitos em tempo hábil. Star teve a notícia em primeira mão, o presidente foi o segundo, depois voltou a estudar o roteiro e suas primeiras falas. Pensa em fazer um laboratório, mas precisa de voluntários. Talvez os garotos.

Eles estão arrumando os detalhes para receber outra banda em Sunshadow, vão usar a cidade ao natural para fazer os clipes. Para Zigfrida é uma boa chance de obter um bônus para seus estudos, porque a cidade fica particularmente agitada e as crianças mais defensivas (...) O Airtrain desce com o quarteto à bordo, e eles encontram um Volvo FH12 com o semi reboque todo aparelhado, nele os dezoito esperando para fazer o acompanhamento e não tem jeito, eles têm que cantar “My Oh My” lá mesmo, na hora, ao vivo, para o delírio do público.

São alguns dias de festa. É como a resposta que eles receberam, decidem na hora o que e como farão (...) Vão à Máquina de Costura, no fim da tarde, para uma confraternização, com uma penca de paparazzi atrás, onde encontram Marcia e Richard com Phoebe. Os ingleses se aproximam do bebê, Holder não disfarça a perplexidade...

- Ainda não acredito que vocês duas são avós! Olha o tamanho desses dois, eu já os carreguei nos braços!

- Eu me lembro, você pulou comigo na piscina. Mommy, é hora de retribuir aquela gentileza! Dele eu cuido sozinho.

- Hora de carregar, galera!

Os quatro são carregados pela sala e depois jogados na piscina, onde todos pulam em seguida (...) um pouco mais longe um grupo de pedagogos tenta colher informações sobre as crianças da cidade, por meio de pesquisa por amostragem. O cidadão estranha as perguntas, chegam a questionar se aquilo é sério (...) Se recusam a dizer o que suas crianças fazem nas horas vagas, não confiam em gente de fora. Laura toma conhecimento e vai ver do que se trata (...) é logo reconhecida pelo grupo frustrado...

- Sunshadow não confia na imprensa externa, menos ainda em pesquisadores que tentam vasculhar a privacidade do cidadão, especialmente das crianças.

- Mas nós só queremos traçar um panorama da infância e da adolescência, a senhora deve ter conhecimento dos debates que se formaram sobre sua cidade.

- Sim, eu estou ciente de todas aquelas bobagens. Achar que uma criança não é espontânea só porque não é malcriada, só poderia ter saído de quem nunca teve filhos mesmo. Eu fui mãe solteira, criei a Silvia com muita dificuldade. Se esta cidade fosse uma fração do que disseram, ela não teria me acolhido e eu hoje não seria primeira dama. O sunshadower sabe quem são vocês e se lembram bem das ofensas que lhes dirigiram em rede nacional de televisão.

- Mas e a repressão doméstica? A senhora nega?

- Dê uma olhada nos adolescentes e vejam se eles sofreram alguma repressão, na infância. Aliás, olhem bem para os adultos e tirem suas conclusões. Se você acredita que limites são o mesmo que repressão, então você não é deste planeta e não fala das crianças deste planeta.

Ela não delonga (...) Laura é impiedosa na medida do necessário, conclui a conversa e volta às suas funções administrativas, que incluem a educação pública da cidade. Não vai facilitar um milímetro só para tornar a escola atraente aos alunos, eles precisam aprender desde bem cedo que a vida não é feita de confortos (...) Eles notaram que a população é bastante fechada, quando o assunto é sua prole. Mudarão a tática, mas não reconhecem que podem ter cometido gafes graves.

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Os clipes ficam prontos e são logo veiculados, com o humor cítrico e digestivo costumeiro (...) as canções inéditas logo caem no gosto do público e a era de paz aparente ganha mais alguns hits. Aparente, porque a organização sabe que há um vulcão ainda activo debaixo desse solo aparentemente firme. Apesar de a diplomacia americana ter conseguido bons resultados nas negociações entre Israel e Palestina, muita gente de ambos os lados quer que o outro desapareça do mapa.

Enquanto isso, Sunshadow inteira segue o que mandou Josephine, continua vivendo, porque deixar de viver não vai reverter os danos (...) Elisa volta para a casa onde nasceu, chorosa, beirando o desespero. Tentou suicídio, por sincronicidade Arthur estava por perto e quebrou o braço esquerdo, mas conseguiu tirá-la da linha do trem em cima da hora. O ex a trocou por uma garota de dezoito anos e a filha mimada agora chama essa garota de “mommy”. Ela sabe que é corresponsável por esse mimo, por isso mesmo lhe doeu tanto a rejeição (...) Gerald vai agradecer ao herói, o encontra nos braços da esposa...

- Oh, meu Greg... Encosta no meu ombro, meu amor, vou cuidar de você.

- Com licença... Bom dia a vocês... Arthur, eu não sou capaz de expressar minha gratidão, não haveria dentes suficientes no mundo para um sorriso adequado. Só quero que saiba que de hoje em diante, no tempo que ainda tenho, vou tratar você como meu filho.

O sorriso tímido e discreto da época de Gregory volta a estampar o rosto do homem, cujo acto de heroísmo quase matou sua mãe do coração (...) Carolina assumiu as tarefas da casa até o filho se reestabelecer. Para Elizabeth, ter duas avós por perto é uma farra, mas chorou quando viu o pai chegar em casa com o braço engessado (...) Elisa está tão deprimida que foi proibida de entrar na cozinha. Combinam de mandar Ana Clara assim que ela voltar da lan house, se há alguém que sabe superar uma traição, é ela.

No fim da tarde, em um longo vestidão de algodão cru com apliques de distantes miçangas coloridas, ela está na sede. A goiana pega a cabeça da deprimida, coloca no ombro esquerdo e pede que solte todos os bichos que tem entalados (...) Enquanto xinga, Elisa amolece e se abraça mais à moça de ouvidos doloridos. Abraça, agradece, beija-lhe a mão, depois o rosto, Ana clara avisa que não é de ferro e pede moderação, mas ela se empolga, começa a gostar do que faz...

- Elisa, tira essa mão daí, senão ah... Ah... Foda-se!

Amilton vai ver que barulho de rangido é aquele, se põe diante da porta, arregala os olhos, puxa a porta, dá meia-volta e retorna à sala de estar...

- People... Seguinte... A boa notícia é que Elisa está reagindo bem à intervenção, só que Claire está reagindo com ela... É isso esse ranger de cama no quarto dela...

Lá dentro, pelo programa de rádio “Hora da Saudade” ouvem Flying por Chris de Burgh...

- Esquece esses babacas, fica comigo.

Elisa, mais velha e muito mais alta, se rende a uma mulher muito mais bem resolvida e preparada para a vida. Está chocada consigo (...) Vão à sala avisar que o problema foi resolvido, e que voltam antes das vinte e duas horas, agora entram na longa Caprice Wagon tree seats e vão à Máquina de Costura (...) Ana Clara não tem pressa (...) vai construir a relação aos poucos. Começa dividindo com ela os cuidados dispensados à sobrinha, que está relendo uma poesia que pretende digitar e depois encadernar, assim que tiver o suficiente. A menina não sabe o quanto ganha com direitos autorais, e os pais preferem que não saiba até ter idade para isso, mas o extrato da poupança é animador.

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