Trauma e recomeço! A estação 115 traz uma só lição em todas essas linhas, vocês precisam estar bem e vivos, o resto é supérfluo. Embarquem, o trem vai seguir viagem.
Nancy acredita que concluiu sua participação (...) Aquelas moças podem conviver
em sociedade, sem perigos, mas aquelas mulheres precisarão da tutela pública
pelo resto de suas vidas. Lamenta muito que tenham precisado de sua ajuda, mas
já podem se virar em ambiente doméstico (...) As mais jovens voam com ela para Sunshadow,
onde são recebidas pela população com o carinho que a professora severa lhes
dispensou, durante o árduo aprendizado. Uma conseqüência do método escolhido, é
que elas costumam falar cantando (...) Ninguém fica indiferente às quarenta moças branquelas que olham tudo como
novidade, principalmente os visitantes. Logo (...) novas teorias conspiratórias nascem,
reforçando as vigentes, inclusive a de que a cidade é um reduto conservador.
A idéia de um prédio para elas morarem
sozinhas foi abandonada de imediato, querem que se sociabilizem o mais rápido
possível, então foram acolhidas por sunshadowers em suas casas. Patricia liga
para Josephine e informa da tranqüilidade com que tudo transcorreu...
- Muitos turistas, muita gente de fora que
trabalha aqui, enfim... Os jornais logo noticiam, inclusive os nossos, mas é o
tipo de coisa que não dá para manter em segredo. Engraçado ouvir elas falarem
cantando, mommy fez um trabalho excelente, elas são muito afinadas.
- Então temos um problema resolvido. E
Elizabeth?
- Agimos rápido, mas ela ainda evita olhar para
um casal se beijando com mais entusiasmo. Isso vai passar, eu espero... Ah, os
ufólogos... Sumiram, mas terão que voltar, eles ainda não me decifraram.
- Conversei com Jeremy a respeito. Talvez
posamos tirar partido... Já pensou em ser super heroína?
- No, thanks. Voar por aí de maiô cavado não
faz o meu tipo.
Conversam enquanto Renata conversa com Elias (...) está feliz no emprego, finalmente pode
planejar o futuro. Gostou do tom da voz dele, mas estranhou a profusão de
monossilábicos que ele solta. Vai comunicar suas impressões à tutora escolhida.
Nancy leva as moças para conhecerem a
fundação e elas reconhecem as meninas, embora nunca tenham conversado (...) A curiosidade mútua é imensa, conclui
que as crianças podem ajudá-las em sua nova fase de vida. A cantoria toma conta
do lugar e pega todo mundo de surpresa. Vai comunicar à primogênita a boa
notícia e encontra Renata transmitindo seu recado...
- Duas boas novas em um só dia! Não vou
elogiar, mas estou contente. Só lembrando que faltam dez anos ou menos para eu
ir ter directamente com ele, segundo o seu avô.
- O que vai fazer? Vai pra lá ou...
- O que for necessário, Rê. O que for
necessário.
- Ele ainda está estudando?
- Então... Houve um problema e ele pensa em
desistir, mas estou tentando dissuadí-lo... Ele fez uns testes e viu que
estudando ou não, os resultados nas provas são os mesmos.
- AH, MAS NÂO VAI MESMO! Já passei um sabão
no Brad por isso, ele não vai fazer o mesmo!
- Na próxima vez que for falar com ele, me
passe o telephone, vou tirar essa idéia derrotista.
- Eita! Ei, não exagerem, eu disse que ele
pensa em sair, eu estou cuidando para não acontecer.
- Eu sei que não vai. O problema maior é que
ele ficou muito desiludido com a vida, não sabe mais o que quer dela. Teremos
que cutucar até ele voltar a alimentar algum sonho.
Para alguém que se acha muito velho para
muitas das coisas que queria fazer, será uma tarefa árdua. Ele termina de
limpar o radiador do freezer (...) Desde que começou a fazer isso, o
consumo dos aparelhos caiu consideravelmente. Aos poucos o velho patrão começa
a ver nele um homem de confiança.
&
Fischer ganhou a aposta. Demorou muito, mas
Weasley Brook faleceu (...) ele morreu
feliz, viu sua humilde chocolateria se tornar, em vinte anos, uma rede
internacional de franquias. Viu o neto caçula unir sua família à de Patricia,
viu Sunshadow deixar de ser desprezada (...) viu gente arrogante que o desprezou lhe pedir emprego; se foi de
alma lavada. Só fica em Gerald a idéia de que ele pode ser o próximo. Na volta
para casa, se senta na cadeira de balanço da varanda, olha ao redor e começa a
ter os mesmos sentimentos do amigo. Era só uma fazenda decadente, ele vivia de
lembranças e dos rendimentos que sua previdência proporcionava (...) Casou-se com Deborah,
linda de morrer até hoje, o filho caçula tomou a frente do serviço, se
reconciliou com a filha fujona, todos os dias encontram algo escondido na
propriedade, poderia morrer hoje, morreria feliz. Mas terá que esperar algum
tempo.
Deborah volta de mais uma busca com uma
caixinha cheia de moedas do século XIX. Não são muitas, mas têm valor
histórico (...) Estão
apenas empoeiradas (...) uma passada na água e
estarão prontas para o acervo. Amilton sai com Glenda à sede nova da empresa,
para a menina se acostumar a saber de onde vêm seus confortos, e também se
preparar para quando tiver que tomar sua parte do comando. Ela ainda não
entendeu direito a sinestesia da mãe, para piorar, adora letreiros berrantes e
extravagantes (...) Ela vê
pela primeira vez o início do planejamento de uma turnê. Richard e Marcia
fizeram um esboço, antes de começarem a planejar...
- Aqui – diz a moça – temos uma região
delicada, muita gente com desafetos muito acima da média, deixá-los juntos
seria uma carnificina...
Os melindres de quem precisa lidar com gente (...) Audrey é que tem trabalho duplo, porque é da casa e
o neto do falecido está inconsolável, apesar de ele ter chegado à idade em que
a qualquer momento não faria mais aniversários. Há muitos assim na cidade,
apesar de a expectativa de vida ter ultrapassado oitenta anos (...) Perto dali, Elizabeth recebe
Prudence. A visitante se deslumbra com a Máquina de Costura como se deslumbrou
com a cidade. As meninas vão para o coreto, onde uma mesinha de acepipes as
espera. Faz questão de dizer que ajudou a fazer tudo. Foi a primeira vez que as
meninas resgatadas saíram sozinhas (...) A
anfitriã, como a mãe, as tias e o irmão, começou a crescer rápido. A certa
altura, Prudence pergunta quem é Elias...
- Aproveita que temos a tarde livre e senta,
que lá vem história.
Ela conta o que sabe para uma menina que não
sabe o que é ter família (...) Elias, enquanto sua prima distante fala a seu respeito, é ofendido em
casa, pelos parentes. Chamam-no de fresco e gay, dizem que precisa apanhar e
transar com uma puta de beira de estrada, quase o agridem (...) alguém mexeu nos exames que trouxe do
psiquiatra, que o diagnosticou com depressão severa, com viés para extrema.
Paradoxalmente (...) é o que o ajuda a
manter sua sanidade em ordem, por isso o médico preferiu não curar, temendo que
isso o induzisse a uma tragédia. Isso chega aos ouvidos da prima psicóloga...
- Não... Isso explica muita coisa.
- E ele acabou de me ligar, tomaram o exame
da mão dele e leram em voz alta...
- A família do pai não estava lá, estava?
Tudo o que poderia dar errado, deu errado,
inclusive ele não ter conseguido esboçar reação e ter retido tudo o que sentiu
na hora (...) descobre
que ele é tão sociável quanto um carcaju. Chama os outros para uma reunião de
turma, para ajudar a conter os ânimos de Patricia, que bufa de raiva. Aquele
metro e noventa nunca foi tão intimidador...
- Vou instalar um pabx remoto para você me
passar a próxima ligação, aproveitarei e farei isso nas casas dos senhores
também... Ricky, é mamãe. Quero um favor seu, agora.
Ele instala as conecções privativas de compartilhamento,
que acabam se tornando também uma intranet e mais gente passa a ter seus
pontos; a família de um, é a famíla dos seis (...) Membros e familiares da banda passam a
conversar com vários interlocutores ao mesmo tempo, por computador ou
telephone, o que será muito útil no auge do inverno.
&
Zigfrida ainda tem uns anos de pesquisas pela
frente, mas apresenta um relatório preliminar para Josephine (...) os resultados têm sido muito
melhores do que imaginaram, o jeito Naomi de educar está mostrando resultados
excepcionais. Mas uma criança, ainda muito jovem para ser influenciada por ele,
chamou a atenção, Phoebe causou mais um alvoroço quando começou a dizer os
nomes das cores, de muitas letras e dos números (...) Ela prestava atenção aos nomes que davam às
palavras, às formas, cores, sons, planilhas, enfim, a tudo...
- Se descobrirem essa menina, então sim vão
pensar que Sunshadow é reduto de aliens.
- Na verdade ela parece ser um pequeno gênio
que tem todas as condições favoráveis para se desenvolver. Os limites que ela tem
são os mesmos que todas as crianças da cidade têm, só que também a genética
ajudou um bocado. Mesmo assim é uma bochechudinha fofa que dá vontade de
beliscar!
- Eu estou devendo umas visitas. Irei com
você, na próxima vez.
- Tá devendo é uns filmes, oh, diva reclusa!
Qualé, Jose, o que você quer? Que estúdios inteiros rastejem pra você aceitar
um papel? Sua sina é brilhar, mulher! Você não pode esconder isso do mundo!
- Rastejar... Não seria ruim... Bart...
- Você aceitou? Diga que sim, Jose! Diga que
sim!
- A Frida falou em alguém rastejar, é isso
mesmo?
Meia hora depois, lá estão executivos,
diretores, produtores, actores, figurinistas e fofoqueiros literalmente aos pés
da diva, inclusive Bart (...) ela não precisa mais do cinema, mas o cinema precisa
desesperadamente dela, até mesmo os estúdios concorrentes ganhariam com seu
retorno às telas...
- Posso ver o roteiro, monsieur?
A volumosa cópia é analisada rapidamente.
Para algumas páginas ela faz caretas, mas a maioria até acha interessante.
Engraçado como ainda tem no mundo artístico o efeito da Hollywood de outrora (...) as armadilhas sempre existiram (...) mas entregava fartamente o glamour
que prometia. Termina de ler por cima, faz um biquinho para a direita, pega o
telephone e fala com Nancy...
- Chérie, avise a quem deve que eu aceitei
aquele papel de malvada.
Não é uma vilã em essência, é uma malvada.
Todos aqueles homens começam a ladainha de onde pararam, beijam seus pés, mãos,
juram lealdade e oferecem vassalagem, enquanto Nancy usa a rede social que o
neto construiu, espalha a notícia por Sunshadow. O cinema mundial comemora.
&
Conseguem indiciar todos os envolvidos no
cárcere das mulheres, incluindo pessoas ultra ricas, que ficariam impunes se
não fosse pelo trabalho da organização (...) Não sabem o que deu
errado, sabem que deu muito errado. Foram pegos em crimes de colarinho branco,
a que estão acostumados, mas as agências oficiais cumpriram com suas promessas (...) impedindo que contactos fossem
feitos em tempo hábil. Star teve a notícia em primeira mão, o presidente foi o
segundo, depois voltou a estudar o roteiro e suas primeiras falas. Pensa em
fazer um laboratório, mas precisa de voluntários. Talvez os garotos.
Eles estão arrumando os detalhes para receber
outra banda em Sunshadow, vão usar a cidade ao natural para fazer os clipes.
Para Zigfrida é uma boa chance de obter um bônus para seus estudos, porque a
cidade fica particularmente agitada e as crianças mais defensivas (...) O Airtrain desce com o
quarteto à bordo, e eles encontram um Volvo FH12 com o semi reboque todo
aparelhado, nele os dezoito esperando para fazer o acompanhamento e não tem
jeito, eles têm que cantar “My Oh My” lá mesmo, na hora, ao vivo, para o
delírio do público.
São alguns dias de festa. É como a resposta
que eles receberam, decidem na hora o que e como farão (...) Vão
à Máquina de Costura, no fim da tarde, para uma confraternização, com uma penca
de paparazzi atrás, onde encontram Marcia e Richard com Phoebe. Os ingleses se
aproximam do bebê, Holder não disfarça a perplexidade...
- Ainda não acredito que vocês duas são avós!
Olha o tamanho desses dois, eu já os carreguei nos braços!
- Eu me lembro, você pulou comigo na piscina.
Mommy, é hora de retribuir aquela gentileza! Dele eu cuido sozinho.
- Hora de carregar, galera!
Os quatro são carregados pela sala e depois
jogados na piscina, onde todos pulam em seguida (...) um pouco mais longe um grupo de pedagogos tenta
colher informações sobre as crianças da cidade, por meio de pesquisa por
amostragem. O cidadão estranha as perguntas, chegam a questionar se aquilo é
sério (...) Se recusam a dizer o que suas
crianças fazem nas horas vagas, não confiam em gente de fora. Laura toma
conhecimento e vai ver do que se trata (...) é logo
reconhecida pelo grupo frustrado...
- Sunshadow não confia na imprensa externa,
menos ainda em pesquisadores que tentam vasculhar a privacidade do cidadão,
especialmente das crianças.
- Mas nós só queremos traçar um panorama da
infância e da adolescência, a senhora deve ter conhecimento dos debates que se
formaram sobre sua cidade.
- Sim, eu estou ciente de todas aquelas
bobagens. Achar que uma criança não é espontânea só porque não é malcriada, só
poderia ter saído de quem nunca teve filhos mesmo. Eu fui mãe solteira, criei a
Silvia com muita dificuldade. Se esta cidade fosse uma fração do que disseram,
ela não teria me acolhido e eu hoje não seria primeira dama. O sunshadower sabe
quem são vocês e se lembram bem das ofensas que lhes dirigiram em rede nacional
de televisão.
- Mas e a repressão doméstica? A senhora
nega?
- Dê uma olhada nos adolescentes e vejam se
eles sofreram alguma repressão, na infância. Aliás, olhem bem para os adultos e
tirem suas conclusões. Se você acredita que limites são o mesmo que repressão,
então você não é deste planeta e não fala das crianças deste planeta.
Ela não delonga (...) Laura é impiedosa na medida do necessário, conclui a conversa e
volta às suas funções administrativas, que incluem a educação pública da
cidade. Não vai facilitar um milímetro só para tornar a escola atraente aos
alunos, eles precisam aprender desde bem cedo que a vida não é feita de
confortos (...) Eles notaram que a população é
bastante fechada, quando o assunto é sua prole. Mudarão a tática, mas não
reconhecem que podem ter cometido gafes graves.
&
Os clipes ficam prontos e são logo
veiculados, com o humor cítrico e digestivo costumeiro (...) as canções inéditas logo
caem no gosto do público e a era de paz aparente ganha mais alguns hits.
Aparente, porque a organização sabe que há um vulcão ainda activo debaixo desse
solo aparentemente firme. Apesar de a diplomacia americana ter conseguido bons
resultados nas negociações entre Israel e Palestina, muita gente de ambos os
lados quer que o outro desapareça do mapa.
Enquanto isso, Sunshadow inteira segue o que
mandou Josephine, continua vivendo, porque deixar de viver não vai reverter os
danos (...) Elisa volta para a casa
onde nasceu, chorosa, beirando o desespero. Tentou suicídio, por sincronicidade
Arthur estava por perto e quebrou o braço esquerdo, mas conseguiu tirá-la da
linha do trem em cima da hora. O ex a trocou por uma garota de dezoito anos e a
filha mimada agora chama essa garota de “mommy”. Ela sabe que é corresponsável
por esse mimo, por isso mesmo lhe doeu tanto a rejeição (...) Gerald vai agradecer ao herói, o encontra nos braços da esposa...
- Oh, meu Greg... Encosta no meu ombro, meu
amor, vou cuidar de você.
- Com licença... Bom dia a vocês... Arthur,
eu não sou capaz de expressar minha gratidão, não haveria dentes suficientes no
mundo para um sorriso adequado. Só quero que saiba que de hoje em diante, no
tempo que ainda tenho, vou tratar você como meu filho.
O sorriso tímido e discreto da época de
Gregory volta a estampar o rosto do homem, cujo acto de heroísmo quase matou
sua mãe do coração (...) Carolina assumiu as
tarefas da casa até o filho se reestabelecer. Para Elizabeth, ter duas avós por
perto é uma farra, mas chorou quando viu o pai chegar em casa com o braço
engessado (...) Elisa está tão
deprimida que foi proibida de entrar na cozinha. Combinam de mandar Ana Clara
assim que ela voltar da lan house, se há alguém que sabe superar uma traição, é
ela.
No fim da tarde, em um longo vestidão de
algodão cru com apliques de distantes miçangas coloridas, ela está na sede. A
goiana pega a cabeça da deprimida, coloca no ombro esquerdo e pede que solte
todos os bichos que tem entalados (...) Enquanto xinga, Elisa amolece e se abraça mais à moça de
ouvidos doloridos. Abraça, agradece, beija-lhe a mão, depois o rosto, Ana clara
avisa que não é de ferro e pede moderação, mas ela se empolga, começa a gostar
do que faz...
- Elisa, tira essa mão daí, senão ah... Ah...
Foda-se!
Amilton vai ver que barulho de rangido é
aquele, se põe diante da porta, arregala os olhos, puxa a porta, dá meia-volta
e retorna à sala de estar...
- People... Seguinte... A boa notícia é que
Elisa está reagindo bem à intervenção, só que Claire está reagindo com ela... É
isso esse ranger de cama no quarto dela...
Lá dentro, pelo programa de rádio “Hora da
Saudade” ouvem Flying por Chris de Burgh...
- Esquece esses babacas, fica comigo.
Elisa, mais velha e muito mais alta, se rende
a uma mulher muito mais bem resolvida e preparada para a vida. Está chocada
consigo (...) Vão à sala avisar que o problema
foi resolvido, e que voltam antes das vinte e duas horas, agora entram na longa
Caprice Wagon tree seats e vão à Máquina de Costura (...) Ana Clara não tem pressa (...) vai construir a
relação aos poucos. Começa dividindo com ela os cuidados dispensados à
sobrinha, que está relendo uma poesia que pretende digitar e depois encadernar,
assim que tiver o suficiente. A menina não sabe o quanto ganha com direitos
autorais, e os pais preferem que não saiba até ter idade para isso, mas o
extrato da poupança é animador.
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