domingo, 9 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CXIV

    E o anjo se foi! A estação 114 tem o triste dever de informar que o luto mais caro não pode fazer a vida parar, vocês precisam continuar mesmo com a dor. Então embarquem, o trem vai partir de qualquer forma.


Enya briga com o editor de moda, manda-o enfiar a carreira naquele lugar e sai batendo a porta. Robert viaja imediatamente para Los Angeles (...) No Jose’s Hotel ela é categórica...

- Que faça “heroína chique” na puta que o pariu! Que esfregue photoshop nos cornos do marido que pensa que é pai dele! O cretino ainda disse que eu estou ficando gorda para a profissão!

- Oh, então é isso... Sem trabalho você não fica, mas sua carreira nas passarelas...

- Mandei ele usar como supositório.

- Rebeca! Saia deste corpo que não te pertence!

- Como eu queria ser ela, naquele momento, pra arrancar o saco dele e jogar pros cães de guarda!

- Calma! Não se exalte, respire fundo e lembre-se do seu adorável maluquinho!

Ele a abraça, faz cafuné, afaga, tudo para conter sua indignação. Ele reconhece (...) há muito tempo os estilistas não primam mais pelo bom senso, conhece muitas modelos, mas não reconhece mais a maioria nas páginas editadas das revistas. Enya (...) não tem medo do trabalho pesado (...) Ele usa de sua experiência diplomática para conseguir um meio termo, enquanto o rastilho de pólvora queima e os editoriais de moda são redigidos.

Matthew já está a par e tomando as providências cabíveis (...) consegue se lembrar do que ela disse, sobre ter sido chamada de gorda pelo editor...

- Ah, seu safado! É aqui que eu vou puxar o seu tapete! O dia em que ela for gorda, a Pirata será civilizada. Maryan, traz aquela listinha de desaforos que aquele boçal já soltou pra humilhar modelos em início de carreira, por gentileza.

Não reverte a situação e nem a moça o quer, mas coloca o editor onde ele nunca esteve, na berlinda. Enya tem quadris largos para a sua compleição, mas é só isso, ela é naturalmente magérrima (...) os contractos prevêem a venda de imagem e tempo, não de sua dignidade. Nesse meio tempo, Patricia aproveita a ausência de Robert para contar a Rebeca sobre Judith, explicando os motivos de ter mantido segredo até o momento...

- Eu estava começando a ficar brava com você, mas justo isso me fez ver que eu iria mesmo fazer besteira. O que vai ser dela?

- Se continuar a se comportar, com o emprego que agora tem, vai ser gente. Sim, ela sabe que nós ajudamos a manter aquele albergue, a responsável foi minuciosa para descrever o constrangimento dela, especialmente porque agora também trabalha para nós.

- O que eu posso fazer? Não vou contar isso pro Bobby.

- Nem deve. Deixe as coisas como estão. Enquanto não se fizer necessário, e parece que nunca será, ele não precisa saber. Ele e você agora têm um problema de super exposição dentro da família, não devem esquentar cachola com ela.

- Não acho que seja um problemão assim! Eu não teria mandado ele enfiar a carreira no rabo, eu mesma teria feito o serviço. Como é bom ver a Popcorn saber se defender sozinha!

Josephine termina de afagar a moça indignada e a libera (...) só aconselha se manter longe dos holofotes por algum tempo. Ela chega a Sunshadow de braços com o irmão, só querendo saber de seu pequeno maluquinho, pintor surrealista e baterista insano. Ela sabe, mesmo assim se arma de paciência quando desce do avão e vê um mar de paparazzi. Não dá muita conversa, vai directo para casa e se fecha ao redor do filho. O certo é que para algumas revistas ela não posa mais.

No sábado as publicações especializadas inundam as bancas, e o contra-ataque bem humorado de Matthew está pronto e operante, com a chamada “Você acha que estou gorda?” sobre a photo de Enya em um maiô preto cavado. Um mês e ela é chamada pela revista rival, que teve a idéia de começar a contestar modelos pré-fabricados de beleza (...) Vai ser entrevistada, enquanto se empresta à coleção de inverno.

O resto do ano transcorre no sufoco de sempre. Nas proximidades do natal, e da primeira festinha de aniversário, Phoebe dá outro susto...

- Mom... Me... Me here...

Marcia e Richard ligam afoitos para suas casas de solteiros, dizendo quase em uníssono “Mom! Phoebe is speaking!” (...) todos querem ouvir aquela amostra grátis de gente. Nancy, Eduarda, Carolina e Josephine quase babam, a brasileira toca a bisneta seguidas vezes, para ter certeza de que não é uma dessas bonecas de última geração...

- Vixe! Menina, espera sair das fraldas, não cresce tão depressa!

- Vixe... “falda”... “Keshe”...

- Vó, vai com calma, senão ela começa a tagarelar em português também.

- O que vocês dão pra ela comer? Sopa de letrinha?

Já que vieram antes da hora, ficam para o aniversário (...) Sunshadow inteira cochicha a respeito da pequenina à boca miúda, só entre conhecidos (...) não querem que ela enfrente com tão pouca idade a perversidade da imprensa profissional, nem que consiga inimigos sem nem saber ainda o que é um. Eddie tem trabalho para desfazer a cara de mártir da avó preocupada, mas desta vez dá total razão a Patricia...

- D’us, essa menina precisa ser cercada de cuidados! Toda inveja que enfrentei vai ser nada, perto do que espera por ela!

- Essa cara de mártir não vai ajudar, vovó broto! Segura as pontas e coopere um pouco com minhas pobres mãos. Somos três profissionais experientes para cuidar dela; Frida, a outra avó e esta tia-avó aqui.

É o que Renata e Zigfrida estão conversando. Phoebe é o bode expiatório perfeito para os teoristas da manipulação genética por Sunshadow. Ela continua falando e expandindo seu vocabulário, com o agravante de que a cidade fala vários idiomas (...) O inverno a todo vapor gelado ajuda, reduz drasticamente o atrevimento da imprensa. Richard medita taciturno, com Nancy atônita sob o braço, no sofá da sala. Ele faz elocubrações biogenéticas a respeito da bisneta, mas não obtém uma resposta satisfatória.

&

- Audrey se recolheu. Ela está esperando em casa pelo desfecho.

Com esta declaração, Patricia dá o tom lúgubre do início dos trabalhos da banda, no ano. Jack e Patric largam os saxofones e se sentam no palco, tentam falar algo, mas começam a chorar (...) Enquanto isso, em New Mexico, estudiosos de ufologia começam a ligar alguns pontos que lhes parecem consistentes...

- Então alguém teria escapado do acidente, poderia ter caído em Michigan!

- Um tipo de cadeira ejetora que teria sido a única a funcionar, a nave estaria avariada.

- Eles caem em Corona e poucos meses depois, nasce Patricia Petty Gardner.

- Contaminação! Ela deve ter genética alien por contaminação! Nancy Petty Gardner deve ter recebido o dna sem perceber, uma tentativa desesperada do alien para sobreviver!

Passam a estudar minuciosamente a vida de Patricia. Descobrem que ela foi uma menina precoce (...) com uma imensa facilidade para comandar e conseguir cooperação. Decidem que um grupo vai neste ano para Sunshadow. Lá os músicos terminam o trabalho do dia e vão para a Máquina de Costura. Elizabeth e Phoebe são os dois pontinhos de alegria em um dia marcado pela sobriedade pré luto. Não há tempo de se conformarem e o luto se concretiza. Patricia faz novamente a cara de mártir (...) O silêncio relativo dos choros solitários, de pessoas que não se sabe se estão amparando ou sendo amparadas, incomoda mais do que uma histeria de inconsoláveis. Renata está serena, a vê sair do corpo já em sua melhor forma e ir embora (...) se preocupa com quem está lá, se desidratando e querendo acordar do pesadelo. No momento, os seis precisam engolir o choro e consolar todos os outros. As milhões de crianças, que só estão vivas hoje graças aos seus préstimos, também choram ao saberem que ela nunca mais vai voltar.

Voltam a Sunshadow (...) amanhã terão muito trabalho, a começar pela avaliação de protótipos e ilustrações institucionais, para poderem enfrentar a concorrência cada vez mais acirrada de mão de obra mal paga, quando não escrava. Melinda trabalhou como uma mula, auxiliada pela gêmea em cooperação mútua (...) pelos próximos dez anos poderão enfrentar a concorrência desleal sem medo. E amanhã Patricia decide se puxa e estica ou não as orelhas de um candidato a galã, até ele ser escalado para o remake de Dumbo; Bradley é seu nome, até se parece com os Richards, estava concluindo a faculdade e a largou para tentar a sorte em Hollywood.

Em New York, uma joalheria internacional se vê em um dilema, quer Patricia usando suas jóias (...) É a modelo perfeita, uma mulher já madura, conhecida por sua elegância, com gosto declarado pelo retrô e plasticamente maravilhosa, mas ofusca praticamente tudo ao seu redor, inclusive as jóias que usa. Deixarão para decidir isso por último (...) Ela, por sua vez, cuida de perto da formação da filha, inclusive explicando o motivo de as pessoas irem embora para sempre, incluindo, algum dia, ela mesma...

- Não importa o quanto você aprenda e cresça, Elizabeth, vai te machucar do mesmo jeito. A diferença está no modo como reage e na rapidez com que retoma sua vida. Também por isso eu não perco uma oportunidade de abraçar você, minha filha.

O luto recente deixou todos muito sensíveis, mas Patricia supera os demais de longe. Rebeca conclui uma explicação sobre a morte para Evelyn, na presença dos gêmeos (...) Silvia e Enzo apoiam Giovanni em suas primeiras tentativas de andar, enquanto Karen põe as trigêmeas para se apoiarem mutuamente. Mikomi e Robert Apenas observam Sakura cuidar do altar de Soishiro (...) Renata fala a Matthew sobre o que viu no velório (...) a preocupa Sean dar conta do legado da mãe. Stephanie começa a ajudar na chocolateria, de vez em quando olhando para a 4-4-4-4, com as dezenas, às vezes centenas de turistas que sempre aparecem. Entre eles, desta vez, estão dois ufólogos que a analisam milimetricamente (...) Para todo mundo, são apenas fãs meticulosos, o que não é toda a verdade, mas eles são. Sobem à cabine e notam que a visibilidade é muito maior do que supunham (...) Tiram photos para estudarem depois.

Voltam ao hotel (...) e dão de cara justamente com Patricia indo para a chocolateria com Elizabeth. A reação ela já conhece, acena para os dois e a menina imita. Gastam mais um rolo de filme com essa passagem. As duas encontram Stephanie recolhendo duas tijelas de banana Split, ela também recebeu uma lição de vida da mãe, que corre para a irmã e é sacolejada como de costume. Audrey a leva para o escritório e lhe mostra os croquis que já tem. Todos têm um toque retrô, induzindo ao pensamento de um mundo mais tranqüilo e menos idiota (...) Em uma semana todos os dezoito integrantes aprovam o material, e Melinda pode mandar colocar em prática, o que inclui os préstimos do sobrinho. A Cuture Train começa a planejar os eventos para aquele material todo (...) e Phoebe acompanha tudo de perto, interessadíssima naqueles gráphicos coloridos e cheios de detalhes.

Vão os dezoito para a Máquina de Costura, comemorar o fim de uma de milhares de encrencas que têm para o ano. Encontram na praça da divisa, photographando a casa, os dois que noutro dia photographaram Patricia e Elizabeth...

- Eles de novo... Passei por eles, quando fui ver os croquis preliminares que a Mel mandou pra Dee. Conhece, mascote?

- Não... Mas vamos nessa, fiquei curiosa...

- Olá, boa tarde. Sua curiosidade me deixou curiosa.

Pane! A híbrida de humana com alienígena os descobriu, como se fosse minimamente difícil (...) Os dezoito sabem a diferença, sabem que aquilo não é só reação de fãs, é também medo. Rita e Madeleine se aproximam, olham bem, os reconhecem e dizem quem são...

- WOW! Vocês estão procurando aliens em Sunshadow?

- S-sim, é o caso de Roswell... Uma parte da nave pode ter caído em Michigan...

- Wohoo! Venham conosco, quero detalhes!

Ele pensou rápido, desviou as suspeitas, mas agora ele e o amigo são levados para o quartel general da híbrida (...) São deixados à vontade, embora a presença de dezoito astros mundiais da música iniba, ainda mais que a líder do bando é suspeita de conspiração intergaláctica. Princess e Barbarian trocam sinais discretos no decorrer da conversa (...) Na despedida, elas acreditam que podem comentar sobre suas conclusões...

- Galera, não são pistas de uma nave espacial que eles procuram, é um alien vivo... e esse alien seria eu... Não me perguntem como eles chegaram a essa conclusão estapafúrdia, mas eles pensam que eu caí de um disco voador.

- Como assim? Você ouviu algo que a gente não notou?

Ela explica para Gloria o tom de voz, os gestos e os olhares dos dois, toda a linguagem corporal além do receio que tinham em tocá-la mais do que aos outros. Aos poucos a perplexidade dá lugar aos risos (...) Liga para Star falando à Josephine (...) eles podem causar mais problemas, Princess tornou-se um ponto delicado na organização.

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