segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CVIII

    Fase nova para a banda. A estação 108 tem o prazer de apresentar o velho e esquecido padrão americano de qualidade. Deslumbrem-se enquanto embarcam, o trem vai partir.


Dois meses bastam para as armadilhas serem desarmadas (...) Mais um mês e eles podem desabar nas cadeiras de vime do jardim privativo de Patrícia, quase um mês antes do previsto. Estão um caco! Os bons filhos se apressam em levar mimos gastronômicos que fizeram para suas mamães e seus parceiros. Richard leva a bandeja com os salgadinhos e uma mesinha, Marcia o suco e Elizabeth um saquinho com garfinhos e canudos...

- Ah, amores da mamãe!

A pequena se assanha e pula no colo da mãe, enquanto o irmão e pretensa cunhada servem os acepipes (...) nada naquele festim está acima das posses de um trabalhador comum, eles não têm cotidianos caros. Só o que está prestes a mudar é a rotina da casa, quando o jovem casal contrair matrimônio e for ter sua vida a dois (...) o que preocupa os seis agora é a saúde de Audrey, não a Petty Gardner, mas Hepburn. O estado de saúde do anjo das crianças só não é mais preocupante porque talvez seja irreversível, ela mesma sabe que não tem muitos anos pela frente, mas não deixa a missão que escolheu nem para se cuidar. Por agora ela está forte, sabe-se lá a que custas, e trabalha a todo vapor.

No último trimestre do ano Renata e Josephine aparecem com uma surpresa, uma biographia autorizada ainda em vida por David Grant. O próprio orientou a médium em pontos mais obscuros. “Grant, the great” é lançado na convenção de fãs da banda (...) Leitura obrigatória para todos os cinéfilos e envolvidos directamente com o cinema. A simples presença da diva nos três dias da convenção já garante publicidade e comparecimento acima da média. Ela tenta de todo jeito, até trouxe a família para isso, parecer uma mulher normal, mas nem seus pais a vêem como uma (...) O livro é dividido em aspectos da vida do mestre dos bastidores; pessoal, profissional, artístico, social, cívico e sonhos não realizados. Cada um em capítulos que vão do começo até seu falecimento, como se fossem seis livros diferentes em um só, com revelações do que o público já pode saber. Só a organização fica de fora da obra, mas há mensagens póstumas cifradas (...) os colaboradores saberão reconhecê-las. No mesmo evento, Lucille, Marina e Victoria apresentam oficialmente seus noivos e avisam que se casarão no mesmo dia e local. Melinda olha para Yuri, o cutuca, mostra o anelar como se dissesse “cadê os nossos?” (...) Grant lhe pediu que esperasse até a gande surpresa do ano, que para a organização não era surpresa alguma, Gorbatcherv só antecipou o que já era esperado.

Não muito longe dali, meio que a contragosto, Judith se prepara para o primerio natal “familiar” em décadas. Se desacostumou a comemorar qualquer coisa que não sejam seus prazeres noturnos (...) Agora come em horas certas, toma banho todos os dias, dorme sempre na mesma cama, tem seus passeios, toma a medicação religiosamente nos horários determinados, enfim, só não tem a mãe megera a atazaná-la (...) Patrícia é avisada de cada desvio ou evolução, ninguém além dela, Nancy e Josephine sabe a respeito. Para aliviar mais esta tensão por responsabilidade delicada, chama os amigos e as quatro novatas para fazerem um coro, enquanto ela canta tocando um banjo a canção que lhe veio à mente nos últimos dias...

- About my garden that I do not have much to say, I have some thingsto cry and cry I sing the pain I have in my heart, for each of the flowers that I planted in my backyard...

Um ritmo meio caipira, com entonação clássica e melancólica, cheia de metáforas que os cinco compreendem bem (...) quem são as flores perdidas e carcomidas por insetos, eles mesmos já foram atacados por pragas que ela precisou expulsar com energia. Em parte é a música que mantém sua sanidade do lado de cá do abismo. É uma canção de aspecto singelo, mas com ramificações muito complexas. Ao fim da execução vem a parte técnica, discutem instrumentação, segundo vocal, duração e em qual álbum vai entrar. Ronald vê a miniatura de um Auburn vermelho em uma estante do estúdio e pergunta pelos progressos de seus futuros promotores de eventos...

- Estão trabalhando, Ron. Há coisas que os quatro querem esconder do meu pai e vice versa, então não contam metade do que já fizeram. Tem muito mistério no ar.

Estão no momento entrando em um consenso, terão cedo ou tarde que construir um autódromo (...) Richard está realmente jogando pesado, várias equipes de dragster, nascar, fórmula Indy, truck monster e customizadores já se mostraram interessadas pelo Sunshadow Racer Motor Show. Talvez Summerfields tenha uma boa área, há fábricas abandonadas, falidas pela concorrência com os importados baratinhos e sofisticados. Farão a sondagem no decorrer dos trabalhos. Encerram a fase de planejamento (...) Amilton oferece o celeiro velho, que só precisa de um tapa e de se arranjar um lugar para os implementos que guarda. Não é difícil, em um dia o esvaziam e limpam, então podem ter idéias do que fazer lá dentro. Têm até Setembro do ano seguinte para tudo estar pronto.

Na Máquina de Costura, Greta pega fôlego após uma breve corrida para alcançar os outros, após ter se distraído com uma vitrine de bonecas e servido de refeição para as câmeras (...) Se lembra de quando concorria de igual para igual com a irmã, que há anos não parece mais ser sua gêmea. Mirtle a acolhe e deixa descansar recostada no seu ombro, enquanto os adultos providenciam o lanche da tarde (...) A cerca de 4700 milhas dali, Elias ouve novamente e em volume baixo a gravação que veio com os presentes (...) ouví-las em um recado conversado e direcionado para si causa-lhe espanto. As máquinas de escrever e photográphica causaram ciúmes na casa, embora todos se beneficiem delas. “Seguir em frente não é escolha, é o único jeito” ecoa em seus sonhos, de vez em quando se lembra neles daquele rosto rosado sorrindo para si, de dentro da Veraneio.

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Patrícia quer satisfações dos Richards para o que viu no galpão onde guarda os carros à espera de restauro. Dois Fords 1929 e 1931 estão completamente descaracterizados (...) sabe exactamente o que pretendem fazer com eles…

-E então?

- É uma emergência, mom, nos demos conta de que não há um único hot rod em Sunshadow…

- E escolhemos aqueles dois às pressas, não há tempo hábil para modificar um carro mais novo e sofisticado.

- Pelo que vi, já fizeram um baita trabalho neles! Vocês não vão colocar motorzinhos de 400HP, aquelas bitolas e aqueles reforços são para rachadores profissionais.

Infelizmente não dá para devolver a originalidade deles (...) Nancy assiste à argumentação com o sorriso solene de quem vê sua primogênita honrar a herança materna. Ela consente, mas avisa que aqueles monstros devoradores de milhas são seus (...) deduziu tudo assim que abriu o galpão para verificação de calibres e viu os dois carros em um canto separado, já reluzindo a pintura nova. Na verdade cada um terá 750HP, ainda estão preparando um electro-rod, um mostro de arrancada movido a baterias, que terá pelo menos 400HP em cada eixo, baseado em um Chevrolet 1927 (...) Mas tudo ficará para finalizar em Fevereiro, o inverno já não permite estripulias automobilísticas. Havia um show para este inverno, mas foi cancelado após o organizador fazer tudo diferente do que foi combinado, inclusive vender ingressos antes da assinatura do contracto. Os seis estão ansiosos para os quatro assumirem logo suas funções.

Mudam de assunto, falam do casamento triplo que terão na primavera. Olivia será a madrinha de casamento do noivo, a pedido de Lucille (...) Diana e David só se lamentam porque a casa ficará definitivamente vazia (...) A imprensa sabe pouco, mas com esse pouco especula muito, o noivo de Victoria já despedaçou um vasinho de flores, quase acertando um paparazzo que o clicou em um sanitário público. Felizmente o que ele queria photographar, estava protegido pelos braços e pelo espaço estreito.

Maria e Enzo se preparam para mais netos, Karen está já uma moça, não demora muito a seguir com sua vida e sua carreira (...) Eles vão à casa de Diana e David, lá encontram uma comoção intensa, com Nancy chorando nos braços do marido, em um canto Jean Pierre abraçado a uma garota da mesma idade, enquanto seus pais e avós conversam com a jovem mãe e os jovens avós dela (...) Sally é neta da mulher que Serguei salvou às próprias custas de ser morta por cães ferozes, o homem negro com uma cicatriz na testa era o bebê nos braços dela. Os remorsos pela convivência precária ainda atormentam Nancy (...) Apesar dos prantos, tudo aquilo é motivo para comemorarem a amizade íntima entre Sally e Jeep. Ainda são meninos, não se atrevem a dizer que estão realmente namorando, não nesta tenra idade.

Lucille chega para felicitar o sobrinho e também é posta a par da história triste. Pede alguns detalhes e logo lhe vem uma inspiração. Se apressa em pegar uma caneta e rascunhar a letra. Histórias tristes são sua principal metéria prima, mas uma com final feliz é rara, não pode desperdiçá-la (...) Inspiração que Ronald e Rebeca também aproveitam, conversam com os outros e começam a trabalhar em “Seeds of Blood” já visando o próximo álbum. Apresentarão a canção já no próximo show, em Orlando. Alheios a isso, Sally e Jeep saem de mãos dadas para a chocolateria.

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Passageiro extra no Airtrain II. Os músicos conversam com Ricky sobre os problemas de qualidade que já encontraram (...) É mais grave do que ele imaginava, identifica no excesso de terceirizações um dos pivôs dessa queda de qualidade, erro que a Culture Train não cometerá, mesmo que isso signifique não poder atender a qualquer clientela, por causa dos custos.

Ver dois Richards enormes e maravilhosos saindo do avião, leva muitas fãs ao desepero, algumas precisam realmente ser socorridas pelos paramédicos, com sintomas de overdose. Eles seguem para o Hotel em meio à histeria de sempre, mas agora com todo mundo querendo ver os impávidos colossos juntos (...) Patrícia não se furta de acariciar o rebento até o elevador (...) Se instalam e têm duas horas para conversar e se inteirar das novidades, quando descem à coletiva, que desta vez quase não sai. A banda já está cansada delas, tornaram-se um lugar comum e geram mais aborrecimentos do que valem, mas prometeram enviar jornalistas novatos e ganharam uma chance. Os Richards ficam com Matthew nos bastidores, longe do alcance da imprensa, mas o rapaz é motivo para muitas perguntas, como já esperavam...

- Não, Richard não vai cantar, ele está aqui para conhecer in loco os assuntos da banda.

É só o que os xeretas podem saber. Não foi grande coisa, mas a presença maciça de repórteres novatos deu frescor à coletiva. Nos últimos dois anos eles quase pareciam seguir um roteiro. Na hora de conhecer o local do show, Ricky fica chocado (...) pega uma furadeira, uma caixa de ferramentas e conserta tudo, logo descobre que há uma fratura em uma das vigas do palco, fica furioso com a organização do evento, mas os responsáveis simplesmente somem...

- Eu substituí uma viga quebrada bem embaixo da bateria e você só diz “sinto muito”??

Patrícia trata de acalmar o filho, diz que aquilo é motivo previsto em contracto para rescisão sumária. Ele varre todo o estádio e quanto mais procura, mais erros encontra...

-E vocês ainda reclamam que os japoneses estão tomando empregos! Vocês têm certeza de que são americanos?

Desta vez ela não interfere, está se vendo no comportamento dele, feliz e sorridente. Pelo menos os operários têm seus brios tocados e corrigem o trabalho porco que fizeram, já a administração nem dá as caras (...) Os fãs não notam os problemas corrigidos, só o padrão acústico que tem diferenciado os shows do Dead Train da maioria. Tudo mais transcorre como planejado, mas precisam eles mesmos pagar os salários dos operários, porque os responsáveis legais pela empreitada sumiram, mas não receberão um centavo.

Seis shows, sete entrevistas, um comercial, um evento cultural e um avô babão explodindo de orgulho depois, eles voltam para Sunshadow. Ele procura pelos sócios e avisa que precisarão antecipar a estréia da Culture Train (...) Começa procurando seus contactos por e-mail, faz a proposta e convida para a negociação (...) Tem urgência, mas ser filho de Patrícia Petty finalmente lhe traz um bônus, todos se prontificam imediatamente (...) Josephine acompanha de longe, sorridente, enquando aguarda pela queda do muro da vergonha. Liga para um amigo que aceitou o convite de Richard...

- Sim, eu aceitei, Jose. O projecto dele é muito bom, ele traçou planos de longo prazo e deu boas garantias, além de ser filho da Patty.

- E ele disse que vocês vão organizar os shows da banda?

- What? Não, ele não tocou no assunto! Por Tiamat, ele não disse nada a respeito!

- Então vocês aceitaram mesmo sem saber disso? Oh lá lá! Não conte para ele, finja que não sabe e mantenha segredo...

- Tá, você tá pedindo então eu faço... Mas por que ele omitiu isso? Todo mundo sabe que eles estão descontentes com os organizadores, se tivesse dito logo, teria uma avalanche de propostas .

- Acho que ele sabe e quis evitar isso. Queria gente que acreditasse nele e não que quisesse apenas pegar carona com a banda.

- Agora fiquei preocupado! Quando todos souberem disso, vai ter, com o perdão do uso do versículo, choro e ranger de dentes. O garoto vai conseguir uns trezentos inimigos da noite para o dia!

- Ele já está conseguindo isso, por ter recrutado ele mesmo os operários para o último show.

Ele está muito imerso no trabalho para se preocupar com essa gente. O ritmo no galpão improvisado é intenso (...) Richard já acertou com trinta equipes, vários fabricantes de peças e customizadores. Em Setembro, como prometeram, está tudo pronto...

- Puta que pariu! Vocês conseguiram! Meus parabéns, eu estou positivamente surpreso! Em Novembro teremos uma atração de arromba em Sunshadow. Vem cá, garoto, sabia que não me decepcionaria!

Os dois monstros de 2,08m de altura e mais de 200kg se abraçam, o avô com a certeza de que poderia morrer hoje, já tem um substituto à altura para as próximas fases dos planos gerais. Alardeiam e os paparicos aos quatro logo começam, e eles desabam nos braços de suas mães (...) As mães olham de cima, cientes de que a educação recebida de berço os tornou mais fortes do que as frustrações da vida. Os patrocinadores, sabendo de tudo, começam a gotejar, de repente vazam, derramam e logo há um tsunami de empresas querendo colocar sua logomarca nos empreendimentos da Culture Train, doravante o nome de fantasia da fazenda.

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