Festa, mudança e luto. A estação 119 costura risos e prantos no tecido da vida, e todos terão que usar a roupa. Todos à bordo, o trem vai partir.
- PAI!
Ele olha para trás, vê aquela garotinha
atrevida e voluntariosa em prantos, com as mãos juntas ao peito (...) Loura, olhos azuis, rosto perfeito, tudo o
que os casais procuram em uma criança, ela é que recusou todos eles. Não queria
se separar do tio que sempre ia ajudar a amiga na creche-orfanato que ajuda a
manter. Ele volta em passos cadenciados, se ajoelha diante daquele pedaço
petulante de gente e a abraça. São míseros quatro aninhos de idade que só
reconhecem autoridade naquele homem. Após cinco devoluções, a direção não
hesita em emitir uma autorização para um conhecido confiável (...) Ele passa antes na casa dos parentes,
no Setor Coimbra, porque sabe que cedo ou tarde precisará de ajuda (...) Os parentes ligam imediatamente
para Eduarda e Renato, e Renata fica sabendo, e ela sabendo a turma é reunida
na Máquina de Costura...
- Galera, notícias fresquinhas do Elias! Ele
é pai!
Olham para ela como tivesse dito um completo
absurdo (...) explica como uma versão
loura da Rebeca o adoptou como pai. Também como as pessoas a devolveram, quando
perceberam que não era apenas uma bonequinha teleguiada (...) A menina tem muita, mas muita personalidade, não é
qualquer um que sabe lidar com ela. Elias sempre foi firme com Sandra, mas
também sempre foi o colo onde ela tirou as sonecas da tarde. Todos se viram
para Patrícia...
- Cara! Ele é muito mais parecido com você do
que com a Rê! E agora é pai do meu clone louro!
- Rê, quero detalhes e dane-se o relógio.
Como ele começou a se envolver com essas crianças?
A história de amizade é longa (...) O respeito da menina por ele
cresceu quando percebeu coerência no que ele fazia, não era só a ela, ele repreendia
qualquer um, mesmo adulto, que fizesse algo errado (...) Os seis se desmancham...
- Ow... Eu acho que estou me sentindo avó de
novo! Quero detalhes! Consiga para mim tudo o que puder saber sobre essa
Rebequinha rejeitada.
Não é difícil, à noite os seis se reúnem
novamente com a ficha completa da petiz. É psicologicamente uma cópia de
Rebeca. A menina recebeu bem as normas da casa, onde agora Elias dormirá no
sofá (...) Luxo e moleza são tudo o
que Sandra não terá. Amanhã ele vai comprar um sofá maior.
Em Sunshadow, após o treino matinal, Patrícia
e Rebeca repassam os detalhes da novidade. Nancy fica ansiosa para ter uma
photo da menina, na realidade quer ter uma do Elias hoje, morando por sua
própria conta (...) Vão
todos para suas obrigações assim que se abastecem. Richard tem um contacto
secreto disfarçado para esta manhã, nada de extraordinário, só discutirão o
melhor modo de fazer um déspota cair em desgraça. Matá-lo agora seria fabricar
um mártir para seus seguidores, isso é tudo o que eles não querem.
Na fábrica, Richard e Marcia têm a ajuda de Amilton
e Eddie (...) onde um casal trabalhar, o outro trabalhará também. Conseguem acertar
preços, quantidades e composições das ligas de que precisam para os novos
compressores, agora precisam pesquisar e encomendar o melhor maquinário para
usiná-las. A banda está trabalhando nos shows já agendados, estão os seis em
Los Angeles, no escritório central, na pracinha privativa, falando com Melinda
e alguns executivos, com frutas em fartura, das mais diversas origens e de
todos os tipos inimagináveis para todo mundo.
Elizabeth e Prudence aproveitam a ausência
dos pais, reúnem a turma inteira e improvisam uma festa em casa (...) Mas elas precisam acordar
mais cedo...
- Então os amores da mamãe estão fazendo uma
festa improvisada sem terem nos consultado... Não, deixe eles. Continue
filmando e photographando, eu quero ver tudo assim que chegar... Arrastaram Happy
Moon pra muvuca? William, eu não quero perder um lance sequer, salve tudo assim
que terminar.
- Giovanni está lá? Ah, cazzo! Vai dormir de
pijama de ursinho por uma semana!
- Todo pimpão! Dá pra acreditar nisso?
- Vamos convidar eles para ver um filme,
quando voltarmos. Vou ligar pra Miko.
No fim da tarde lá estão eles. A casa está um
brinco (...) Patrícia coloca o DVD no aparelho e vê
a bela edição, com a tradicional entrada da Metro Goldwin Mayer, então as
crianças se vêem durante a festa. As pequenas farreiam, mas as mentoras do
delito...
- Os amores da mamãe estão muito safadinhas!
- Vocês duas estão de parabéns, pela limpeza.
Sinal de que realmente não precisamos de empregados, mas que isso lhes sirva de
lição, mocinhas, nós estamos de olho em vocês, mesmo que estejamos do outro
lado do mundo.
- Proo, fomos espionadas! Ninguém mais está
seguro neste mundo, ninguém mais pode fazer uma besteira, todos têm câmeras
hoje em dia!
- Só porque te pegamos com a boca na botija,
malandrinha? Você pode fazer sua festinhas, seus festivais e suas reuniões
altamente secretas em casa, mas ainda não tem idade para fazer isso sem
permissão.
Agora sabem que precisam ficar de olho nessa
turma (...) Felizmente as travessuras das crianças só causam risos,
já não é incomum garotos cometerem atrocidades como se fossem adultos, fora de
Sunshadow. Tudo já esperado pela organização, mas não por isso menos triste.
&
Eduarda recebe uma photographia de Elias com
Sandra. Praticamente Sunshadow inteira quer ver (...) A pequenina está de rosto colado com o pai, nem de longe ele lembra
a figura amargurada que conheceram. Elizabeth e Prudence passam por debaixo de
pernas para ver aquela imagem, arregalam os olhos e vêem em cores a lenda, o
mito, o azarão profissional com a filha em sua diminuta sala. Zigfrida está na
cidade e quer ver aquilo, abre caminho...
- Cara! Vocês falam tanto nele, que parecia
ser lenda urbana! Ele existe!
Pede uma cópia, gostou do que viu e quer
analisar a cena. Os seis voltam no início da tarde de Detroit, e mais cópias
são necessárias. Patrícia abre um sorriso pensando “Ele não mudou muito”, o reconheceria
de imediato. Vê na menina, agarrada ao rosto dele, a esperança de ele voltar a
gostar da vida (...) Enquanto isso, Elias é acusado de racismo por gente que não conhece a história
da adoção, mas se revoltou por ele ter levado para casa um “objecto de desejo
da estética racista européia”.
Marina e Victoria chegam com Nina e Lola,
decidiram antecipar a entrega de um histórico encadernado, antes de saírem
juntas com seus rebentos. Enzo retarda um pouco o passeio...
- Não importa o quê, vocês podem contar pra
mim.
- A gente tá bem, Enzo. A gente se afastou um
pouco, bem... Falha nossa.
- É, nos envolvemos demais com a vida
doméstica, mas eu prometo levar a Lola pra brincar com o Tota assim que der uma
folga.
Não se vão antes de um abraço no irmão (...) Volta para casa pensativo, enquanto paparazzi
clicam um dos homens mais desejados do mundo em estado de meditação. Encontra
Silvia voltando do mercado, puxando um carrinho de compras, enquanto o rebento
carrega um saquinho de frutas cristalizadas. A cena de família feliz condiz com
a realidade, mas o semblante do cantor está um pouco tristonho. Nada que a
visão de um De Soto 1947 não reverta. É Karen voltando com a família, directo
do aeroporto (...) Aquelas frutas e aqueles doces durarão menos do que Silvia
imaginou, mas ela fica muito feliz por isso. Fica ainda mais interessante
quando Elon desce de bermuda, com a prótese à mostra, então todos eles vibram e
saem de seus esconderijos, vão agradecer à família, ainda clicando, e rumam
para vender seu trabalho. Vai render muito dinheiro por muito tempo.
Rebeca e Ronald estão com Robert e Mikomi. Jean
Pierre e Marie vão se casar no ano que vem. Por força da tradição que
abraçaram, ela se casa primeiro e fica para a cerimônia do irmão. O caso agora
é Sakura, que conheceu em uma turnê no Japão o filho de uma amiga da mãe. Kenji
Toyoda é um mecânico honesto, eficiente e ciente de suas obrigações. Também um
otaku de carteirinha, que ganha algum extra fabricando cosplay (...) foi visitar a mãe em
Nagoya e encontrou Sakura hospedada lá. O resto são favas contadas, o rapaz
está disposto a seguir os passos de Mikomi e ser um honrado representante do
imperador em território americano. Para isso passará seis meses intercalados,
viajando como representante da fábrica onde trabalha, para se acostumar ao
jeito dos americanos...
- Sim, minha irmã é uma excelente carateca.
- Além de um ídolo, uma grande lutadora!
Também pratico, embora eu não tenha muito tempo, ultimamente.
- Não precisa de muito tempo, isso se
contorna com técnica e concentração. Vem, eu te mostro.
Ela não humilha, não mostra tudo o que sabe,
mas ele sai completamente desapontado consigo...
- Você não é carateca, é uma ninja!
- Ow, transmitirei a lisonja à Patty e ao Mr.
Gardner. Ter técnicas como base é bom, Kenji, mas qualquer árvore que se prenda
ao canteiro, morre como arbusto.
É convidado e na manhã seguinte está no
treino diário. É aterrorizante ver os Richards treinando juntos (...) Ele não tarda a falar com Mikomi a
respeito...
- Também acho que seria uma boa matéria,
Kenji. O problema é que isso violaria a privacidade deles. Ser esposa, amiga e
mãe de celebridades me impõe algumas regras éticas rígidas. Tudo o que se diz
deles, gera polêmica, e em última instância, o que eu disser de algum deles,
acabará me afetando, porque eu sou uma deles, compreende?
- Compreendo, mas pense bem no caso, talvez
haja um modo de contornar o problema.
- Ficarei eternamente grata, se conseguir
encontrar e me indicar.
- Já falou com eles? Quem sabe uma matéria
sobre tradições japonesas na América funcione!
- Ok, agora você tem minha gratidão eterna.
Vou falar com Bobby.
Ele sugere (...) um documentário e comece pelo seu próprio
jardim, do qual já tem material vasto em imagem e texto. Ela vasculha seu
acervo bem organizado, começa a rascunhar um diagrama, liga para a revista, tem
sinal verde (...) Liga para Matthew e ele se
compromete com a ajuda. Lá fora, namorando, um pretenso genro fica feliz por
ter agradado de cara sua futura sogra.
&
No momento em que Patrícia mostra aos amigos
o tailleur quarentista que o amigo Gianni Versace fez (...) Elizabeth aparece chorando, com Prudence atrás, tentando
consolar, gritando “Mataram o tio Gianni”. O Airtrain faz mais uma viagem
lúgubre, com Patrícia no tailleur verde e preto, vendo um convidado de honra do
seu cinqüentenário adiar eternamente o comparecimento. Ele sabia que aquela
mulher de largo chapéu preto (...) exigia
tato. Começou dizendo-lhe que tinha uma beleza clássica, que independe de moda,
de então em diante ela mostrou onde e como tocar, e onde jamais deveria sequer
olhar pela fechadura. Ele compreendeu (...) a menininha mandona, que ela assume ser
sem constrangimentos.
Voltam para casa, enquanto os noticiários se
dividem entre a perda estúpida do gênio da moda e a presença realesca da líder
do Dead Train (...) em uma
das últimas obras do estilista, visto como uma última homenagem, encoraja a
joalheria a finalmente entrar em contacto com Melinda...
- Entendo e agradeço pela postura. Vocês
deveriam ter vindo bem antes, provavelmente já teriam o aceite dela. Com Rebeca
e Renata vocês não precisam se preocupar, não rola esse tipo de ciúmes entre os
seis. Deixem a proposta, vou escrever “Abrir quando o luto terminar” e entregar
em mãos.
Entrega assim que volta a Sunshadow. Patrícia
coloca o envelope na sua escrivaninha e volta aos seus afazeres, que são
muitos. Um deles é assegurar que a neta cresça em segurança, e se prepare com
naturalidade para o ingresso na organização. A pequena está aprendendo a
guardar segredos e transmitir aos adultos (...) Sai da
biblioteca e vê as filhas lendo o diário que ela deixou. Vai assesorá-las, há
muitas passagens que suas cabecinhas puerís não conseguirão digerir sozinhas.
Julia foi encarregada e aceitou com
felicidade a tarefa de marcar a semana do aniversário de cinqüenta anos da
diva (...) O título ela já escolheu, “Todos os seus inimigos caíram” (...) The Cool Boys e The Special Boys
finalmente sairão do ostracismo, dando depoimentos que os programas sabem não
serem confiáveis, mas darão audiência. Em troca eles acompanham o play back
durante as entrevistas e tentam vender os álbuns encalhados... mas fica muito
estranho um cinqüentão “cantar” com voz de adolescente!
O luto começa a esfriar e ela abre o
envelope. Achou muito fofa a maneira como redigiram a proposta (...) Os recebe dois dias depois,
para apresentarem seu projecto publicitário, sempre cercada pelos companheiros
de estrada, com marido e filhas pequenas ao seu lado. Entre analisar
photographias e ver aquela mulher maravilhosa ao vivo, há uma distância
sensorial imensa. Ela aceita emprestar sua beleza rara para a nova coleção de
jóias. Sessões de photos e filmagens serão em Sunshadow (...) A cidade cultiva hábitos sofisticados e tem
lugares à altura, inclusive o jardim de Mikomi. Usam o acervo automobilístico
dela para aumentar a aura de sofisticação da campanha. Tudo termina nas
vésperas de outro luto.
Diana Spencer não é exactamente uma amiga íntima
dos seis, mas eles já mediaram diálogos e ajudaram a rainha a conviver com ela
sem que isso causasse uma guerra civil na Inglaterra. A morte trágica motivada
pela perseguição de paparazzi eriça pêlos na cidade (...) Eles pensam nos pequenos príncipes,
que nunca tiveram moleza, ponto em que mãe e avó convergiam. Estão em uma fase
da vida muito difícil para qualquer pessoa em condições normais, que estas não
são. A demora na manifestação de Buckinghan começa a preocupar, mas a rainha
faz tudo certo e tem resposta inesperadamente boa dos súditos. Eles vão, não
ter intimidades não é não ter relações, eles têm e são antigas. Alguns amigos
em comum eram íntimos da princesa (...) Patrícia
em especial tem contactos próprios com o governo inglês, quer saber dele se
aquilo foi mesmo só uma fatalidade que poderia ter sido evitada.
Voltam rápido, a tempo de Rebeca assoprar
suas velinhas. Os fãs que ajudam a cuidar de Norma estão lá, batendo mais
photos para matar os outros de inveja (...) percebem com nitidez o respeito dos cinco pela líder da turma. E o que os
loucos dão de presente à encrenqueira? Arcos com flechas, espadas, punhais,
binóculos de visão noturna, livros sobre lutas e acessórios do gênero. A única exceção
fica por conta de Patrícia, que lhe dá um sidecar (...) ele tem um motor eléctrico auxiliar para as arrancadas, frenagens,
trocas de marchas e eventuais manobras de ré.
Julia volta a Los Angeles com idéias novas
para o documentário (...) Seu Grand Marquis foi modificado por ela, o incluirá no filme. Pega
marido e filhos na escola e volta para casa, quer descansar a cabeça para
colocar tudo em prática com o padrão de qualidade que sua rainha merece. A
aproximação da data só faz eriçar mais o show business. Também marca a
graduação informal de Stephanie, que mostrou ter realmente uma vocação sólida
para o magistério (...) A menina é aceita na sala dos professores da fundação,
toma o café deles, olha os diários, as notas, inclusive as próprias, comenta
sobre alguns alunos e fica sabendo dos planejamentos de aulas. Sente-se
realizada naquela sala.
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