quarta-feira, 27 de abril de 2016

Joguem-nos às moscas!




- Garçom! Tem uma mosca na minha sopa de letrinhas!
- E ela está aprendendo bem?
- Nada! Já soltou “Ajente vamos”, “Quis galfo xiki” e “nois vai, nois fica, fais faiz, nois si trumbica”!
- Santo Deus, é mais grave do que pensei! Vou buscar uma pimenta professora, um instante!

- Garçom! Onde está a mosca da minha sopa?
- Está em falta, Senhora! É o Dólar, estão preferindo exportar todas as moscas de sopa!
- Shit! Então me traga um besouro mesmo!

- Garçom! Tem uma sopa com mosca no meu sanduíche!
- Mas não foi o que o Senhor pediu?
- Não, eu pedi uma sopa com uma mosca comendo sanduíche!
- Perdão, Senhor, já trago outra!

- Garçom! Tem uma mosca cantando na minha sopa!
- E canta bem?
- Muito! Ouve só!
- Eu sou a mosca que pousou na sua sopa! Eu sou a mosca que vai te contaminar!

- Garçom! Tem uma sopa de macarrão colorido na minha mosca!
- E ela gostou?
- Adorou! Ficou doidona!
- Hair in sunshine! Hair in sunshine! Sunshine! Shine…

- Picasso! Tem uma paisagem deformada na minha sopa!
- Idiota! Isto não é uma sopa! É a expressão culinária dos anseios da mosca que a cozinhou!
- E mosca cozinha?
- Cozinha, quarto, suíte, sala de estar e garagem para dois carros grandes!
- E quando entregam?
- Nunca! Jamais me entregarei à sopa padronizada dos medíocres!

- Oche... Garçom... Vem cá, vem...
- Que é, meu rei?
- Tem uma mosca na minha sopa, num sabe!
- Égua! Quer que eu tire, quer?
- Não... Traz uma rede, que nadar em sopa quente cansa!

- Garçom! Tem uma mosca no meu churrasco!
- Bah! E qual é o problema? O fresco nunca engoliu uma mosquinha?
- Já engoli até a tua mãe! O problema é que tu me trouxeste uma mosca fresca, ela só anda na parte magra da carne!
- Barbaridade! Vou dar uns coices no churrasqueiro, pra parar de deixar mosca fresca entrar na cozinha!

- Stark! Tem uma mosca na minha sopa!
- Quer que eu chame a guarda, Majestade?
- Não, traga os instrumentos! Eu mesmo vou torturar e matar essa insolente!

- Roberto! Tem uma mosca na minha partitura, bicho!
- Eh, eh, eh, eh, eh! Moscações! Já trago uma partitura nova!
- Vá e volte a trezentos por hora!
- Bye! Bye!

- Zukerberg!  Tem uma mosca no algoritmo do meu perfil!
- Malditos trolls brasileiros! E ainda escreveram “moisca”, os fugitivos do Mobral!
- Como recupero a sopa da minha postagem?
- Faça uma senha robusta, que eu já recupero sua conta.

- Bzzzz! Bzzzzzz bzz bzzz bzzzzzzzzzzz!
- Bzzzzzzz! Bzz bzz Bzzzz, bzzz! Bzzzzzzzz! Bzz bzz.
- Bzzzz.

- Donald! Tem uma nota de cem dólares na minha sopa!
- Qual o problema? Você só gosta de dinheiro mesmo!
- A nota é falsa, sobrinho estúpido! Tem a photo de uma mosca no lugar da de Franklin!
- QUAK! Foi mal, tio, é a sopa de brinquedo dos meninos.
- Pois pare de brincar em serviço e me traga uma sopa de verdade!

- Príncipe Albert! Tem uma Charlote na minha sopa!
- Não... Você não pode estar reclamando disso! Você Jura que não quer a Charlote na sua sopa? Quer virar chacota na Europa inteira? Me dê aqui! Steph, traga uma sopa de Putin para este... Deixa pra lá.

- MIB... Sopa... Mosca... Casa...
- Olhe para cá. Você tomou a melhor sopa da sua vida e vai voltar satisfeito para seu planeta.
- Satisfeito... Casa... Gorjeta...
- Obrigado, Senhor. Tenha uma boa dobra espacial.

- Garçom! Tem... Ei, o que é isso?
- Chega de piadas de mosca na sopa! Vai voltar pra sua cela, está na hora do tarja preta.
- Larguem-me! Eu sou a mosca da sopa de Napoleão! Vou decapitar vocês todos! Socorro...

terça-feira, 19 de abril de 2016

Moana


  Esta é uma história muito, mas muito antiga. Aconteceu em algum universo paralelo da Disney, nas ilhas da Polinésia, enquanto palestinos e romanos ainda se toleravam em uma paz frágil, falsa e constantemente perturbada.

  Moana era seu nome. Era uma garotinha linda, uma princesa que adolescia feliz e serelepe pelos domínios de seu povo. Vivia com seu pai, o chefe de seu povo Tui Waialiki, e sua avó. Tudo era lindo, tudo era encantado, todos eram felizes na dureza cotidiana... Ok, nem tanto, afinal ela era adolescente!

  A Avó Waialiki era o modelo de mulher para Moana. Carinhosa, sábia, gostava de contar o que sabia do folclore de seu povo, e a garota de dezesseis nos gostava de ouvir... Sim, eu sei que parece absurdo, mas naquela época nem todos tinham internet de banda larga em casa, então ouvir histórias dos mais velhos era um bom programa.

  Uma característica de Moana, herdada do pai, era o espírito aventureiro. Aprendeu e ter respeito, mas não temer nada nem ninguém. Aonde aquele grandalhão com cara de maluco, o que virou regra entre os reis da Disney, ia Moana para ganhar experiência e estreitar laços. A única rixa entre os dois (Aha, eu sabia, nenhum adolescente vive sem treta!) era a obsessão da garota em explorar o mar. Na verdade nem além dos recifes eles iam mais, e Tui não contava o motivo. Era um tabu.

  Moana não compreendia por que seu povo tinha parado de se aventurar nas águas turbulentas e perigosas do Pacífico, queria ver o que havia lá fora e, não menos, queria encontrar a ilha mítica de seus antepassados, com a ajuda do deus Maui, de quem sua avó tanto falava com tanta propriedade e com que transmitia tanta serenidade... é um deus mucho loco, mano!

  Um dia, não mais do que de repente, a avó falece. Naquela efervescência hormonal e emocional a que os adolescentes estão expostos, ela dá a louca e se manda para o mar aberto. Não, Tui não deixou, mas ela foi assim mesmo. Forte, decidida e ciente de sua fé, ela não poderia encontrar obstáculos grandes demais... Se não tivesse feito a besteira de levar os amigos; leitão, Pua e um galo doente...

  Meu Deus! Pela ira de Maui! Por que raios ela levou esses três trastes? Bem, a explicação é simples e a DC poderia aprender com ela, em vez de simplesmente enfraquecer ou corromper seus heróis: A trama precisa de um ponto fraco. Se não é a heroína, e o caráter da agora princesa mais velha da Disney é sólido demais, é alguém bem próximo. E quem melhor do que três candidatos a best sellers na prateleira da seção de brinquedos licenciados? E no final, eles vão acabar ajudando, mesmo sem querer.

  Um detalhe interessante é que Moana, nas línguas polinésias, incluindo o Havai, significa "oceano". Notemos aqui o ponto nodal de toda a inspiração para a trama, ela si em busca de seus antepassados indo mar adentro, para onde seu pai a proibira de ir, sem maiores explicações.

  Sem spoilers, o enredo na verdade é uma jornada épica pelo auto conhecimento, o desbravamento da psique e o encontro da paz interior que reside dentro de cada um, mas de onde nos distanciamos na rotina maçante e às vezes padronizadora do cotidiano das responsabilidades. Lembremos, ela é uma princesa, precisa dar o exemplo, isso para uma adolescente pode ser um peso muito grande; afinal a continuação do povo dependerá dela, caramba! Ela será a líder, ela vai mediar, ela vai interceder, qualquer comunidade mais sofisticada precisa disso, gostemos ou não.

  Moana é mais uma da leva de princesas que não vão labutar discretamente, porque isso já rendeu a pecha INJUSTA de "inúteis"  e "padrão patriarcal" às clássicas. Ela é surfista, que na época era como ser ciclista ou motorista. Ela vai escancaradamente atrás do que quer e não vai se deter pelas lágrimas paternas, nem pelas próprias. O que vai ter de garota querendo aprender surfe, depois de ver o longa...
Moana e sua dubladora

  Apesar de a cinturinha de vespa já não fazer parte do repertório da Disney, não nas animações digitais, Moana é um bom exemplo de forma física perfeita, derivada de seu estilo de vida, e a cintura é bastante estreita. Uma boa inspiração para um país onde a obesidade está se tornando a regra na população.

  A previsão é de lançamento nos Estados Unidos em vinte e três de Novembro, por aqui só em cinco de Janeiro. Mas já aviso o mesmo que com Divertida Mente, é um enredo muito mais denso, profundo e rico em referências psicológicas do que a maioria do público vai notar. Aqueles que tiverem discernimento, aprenderão.