domingo, 30 de setembro de 2018

Dead train in the rain XLV

    Greg pensava ser só mais um, mas era o único. A estação 45 mostra o que uma auto estima negativa pode te fazer perder. Erga a cabeça e embarque, o trem vai partir.


Não sabem o que estão fazendo lá, já que foram retidos na série e parecem não dar a mínima. Os garotos do Dead Train encontram o trio do “The Special Boys” pela primeira vez, desde que eles saíram tresloucados à caça de fama e dinheiro (...) Eles não têm idéia de quanto dinheiro ganham, só sabem o quanto lhes é repassado pelo empresário...

- Vejam quem está lá! Os defuntos do trem!

- Já estão fedendo, alguém os enterre logo!

- Não me parecem tão bons quanto dizem, vistos de perto!

- Ah, é porque são bonzinhos, não podem...

Se calam quando Rebeca se aproxima, de olhar sombrio, com uma maçã na mão (...) nas mãos dela já viram uma folha de papel arrancar sangue de um atrevido...

- Eu não vou xingar vocês, porque seu vocabulário restrito não reconheceria metade das palavras que eu usaria, mas darei um recado, “vaga-boys”, segurem suas línguas se não quiserem comê-las com queijo e mostarda, em um sanduíche.

Avisa e volta para os companheiros, sem ter alterado o tom de voz, mas deixando claro o recado. Desta vez Patrícia a deixou à vontade, talvez o episódio os convença a jogar limpo nas entrevistas. Agora vão para a aula (...) Rebeca com Ronald e Enzo com Silvia, de mãos dadas. Renata fica de pajem para Patrícia e Robert, os únicos solteiros na banda. O amor é lindo, mas arde nos olhos de quem está só e carente. A brasileira não está exactamente só, mas (...) Matthew fica até uma semana longe.

O início do ano é festivo, a região inteira foi beneficiada com a reinauguração da estação ferroviária. Os primeiros trens são de carga, mas logo os de passageiros começam a circular e acabam servindo de transporte público complementar. Alguns colegas foram diretamente beneficiados (...) conseguiram trabalhos temporários com mais facilidade, graças às necessidades logísticas de uma ferrovia de turismo (...) estão vivendo um misto de saudades de quando brincavam despreocupados, com a perspectiva da liberdade da vida adulta; coitados, se soubessem!

Voltam para casa na Pontiac Catalina Wagon de nove lugares, que Deborah acabou de tirar da loja. O cheiro de carro novo é um deleite (...) Leva todo mundo, com Nancy e Patrícia na frente, para casa. O carro é presente do irmão, para ela atender a clientela, enquanto não estiver viajando com a banda. O ritmo de trabalho aumentou muito, com a revitalização da cidade, e as pessoas sentiram isso no corpo tanto quanto no bolso.

Deixam os outros em suas respectivas casas, se deparando com uma rara tarde de folga. O sobrado cercado de jardins tem outros sons, além dos da oficina. As duas bebês entretém seu pai, enquanto a mãe atravessa a entrada e vai à sala, onde os três se divertem consigo mesmos (...) Vão à copa, ele preparou um almoço substancial e deixou na estufa, para quando elas voltassem. Se portam como uma família normal, como toda a banda procura se portar, deixando do portão para fora a imagem de fama, fortuna e prestígio que construíram. Em dois meses voltarão à maratona de trabalhos intensivos, que precederão a nova turnê. Por hora, só os trabalhos burocráticos e ensaios ordinários.

Ao mesmo tempo, Gregory compra um motorhome, feito de um ônibus genérico com peças de tudo quanto é marca, em 1955, tem até as lanternas da Volkswagen Bus. A idéia é morar no local de trabalho, pretende usar o veículo para as filmagens com Bartholomew (...) intriga Josephine por não terem conseguido uma pista sequer de algum parente vivo, se é que existe. Entretanto, está feliz com sua recuperação, ainda mais com a discrição que ele pensa que tem, ao perguntar sobre os garotos do Dead Train, sempre achando um jeito sutil de perguntar particularmente por Patrícia; sutil para quem não o conhece (...) Hollywood inteira se pergunta o que ele estará esperando. Ela conclui sua participação em um filme e vai ter com ele (...) com Bart acompanhando...

- Greg, venha cá... Por que você não se declara de uma vez?

- Perdão, Mrs. De Lane?

- Você acha que ninguém mais percebeu que está caidinho pela Patty?

Ele fica sem palavras. Olha tremulamente para a diva (...) É um profissional competente e confiável, mas como pessoa é uma marmota. Ele não consegue reivindicar absolutamente nada do que não for absolutamente necessário e absolutamente dentro do prazo, geralmente subestimando suas necessidades...

- Mon ami, nós nos conhecemos já há anos, eu conheço você como se fosse meu filho! Por que você não falou com ela?

- Ela... Ela é uma estrela, Senhora! Eu sou um...

- Não se atreva a completar a frase! Sua pouca autoestima me preocupa, Gregory! A Patty não é uma estrela inacessível, como você pensa, está sendo injusto com ela. Mas pelo menos confessou a paixão.

- Garoto, você está enganado em relação à Patty – diz Bart (...) Ser estrela é parte da profissão dela, só isso. Eu tenho culpa nisso, Jose. Tive muitas oportunidades de levar o garoto comigo, em minhas folgas (...) deveria ter insistido, quando ele dizia que estava indisposto. Mas hoje você vem comigo, vou ligar pro Dean e pro Jerry, confirmando a noitada de hoje, te incluindo nela... Jerry, aqui é Bart. Fala, feioso! Vou levar o Greg comigo, desta vez. Não, ele não aceitou, mas vou levar assim mesmo...

O problema dele não é só com o status de Patrícia, mas a noitada será um bom começo. A garota sempre se mostra muito forte e independente, isso afasta muitos potenciais pretendentes (...) Ela não desconfia, está muito ocupada com família e trabalho, nesta ordem. Interrompe um pouco sua tentativa de rotina de moça comum dos confins da América, para atender ao telephone, é o cupido louro dando seu recado...

- Que legal! Vou querer conhecer, quando voltar para Hollywood...What?... Você tem certeza?

- Só você não percebeu chérie?

- Well... Não! Ele está aí?

- Non, Bart o levou para relaxar. Ele pensa que por ser uma estrela, você não daria bola.

- Ah, meu Deus, só me faltava essa! Tem um pervertido sem noção no meu encalço, querendo que eu seja Grace Kelly, mas um cara interessante tem medo de mim???

- Então acha o Greg interessante?! Oh la la!

- Decerto que sim! Eu não preciso de um cara protetor... Já tenho meu pai pra isso... Mommy! Daddy! C’mon, please! Vou ligar a conversa ambiente, para nós todos tratarmos do assunto. Vocês dois sabiam que o Greg está caidinho por mim?

- Vai dizer que você não sabia?! A garota mais inocente na cidade mais pervertida de Michigan!

- Patty, minha filha, você é tão esperta com os outros, mas tão bobinha com seu próprio coração! Jose, onde está o rapaz?

- Saiu com o pai de aluguel. Bart o convidou para uma noitada com astros do cinema, para ele perder o medo de estrelas da música. Acha que a Patty não vai dar bola para uma pessoa “comum”.

- Mas eu sou uma pessoa comum! O estrelato faz parte do meu ofício, mas longe das câmeras eu sou uma garota normal; apenas com alguns privilégios genéticos, nada mais.

Deborah se diverte, mas fica à parte. É a única na sala que, além das gêmeas, não tem intimidade com a diva (...) Combinam que os dois vão conversar na semana que vem, antecipando em um mês uma reunião sobre a gravação dos videoclipes, de onde sairá a capa do próximo álbum. Ela avisa aos outros, para que antecipem o que têm a fazer em suas vidas civis. Se volta para a tia e descarrega...

- Do que a senhorita está rindo? Acha que vai ficar de fora? Seus serviços de massagista serão úteis para ele ficar calmo e tranqüilo, antes de conversarmos. Ele é um cara muito tímido, sabe?

- E que cara não fica tímido perto de você, Patty? Já se olhou no espelho, para ter noção do medo que você impõe aos homens?

- “Medo”? O que sou, a medusa?

- Você é uma mulher poderosa! Os homens tremem de medo de mulheres poderosas, e o seu caso não é só a aparência. Vem comigo, vou te mostrar.

O espelho da própria moçoila se presta ao serviço. Deborah aponta cada detalhe de quase 1,9m de altura da sobrinha. Já a viu irritada, sabe o quanto um homem se assustaria ao ser encarado por ela, daquela altura. Novamente ela faz aquela cara de adulta preocupada (...) Vai falar com os amigos, pedindo sinceridade total, e eles confirmam...

- Se não fôssemos amigos de longa data, eu recearia me aproximar de você – diz Robert.

- Você é muito gostosa e muito poderosa, Patty – arremata Rebeca. O povo te compara à Jose!

- Ridículo! Jose é uma estrela de primeira grandeza, eu sou uma cantora em início de carreira!

A já não tão baixinha entra em casa e volta à varanda com revistas de crítica musical. Há “Poderosa Patrícia” em cada parágrafo de uma matéria. Não desaba porque descobriu isso ainda cedo, dá para contornar...

- Vai dar uma chance ao Greg, poderosa?

- Vou, Rê. Vou. Acho que ele precisa de mim.

- E você vai ficar muito bem, cuidando daquele rapaz tímido. Afinal, você não precisa ser protegida, não é o tipo de mulher que os babacas procuram pra casar e trancar em casa.

- Você está certa de que quer se casar com o Matt, o meu caso é só uma possibilidade de namoro.

- É o que vamos ver, cara Patrícia Petty Gardner. Espero que essa antecipação do fim de nossa relativa folga não se dê em vão.

No que depender de Bart, não será. Ele não embebeda o rapaz, mas os dois amigos tratam de deixa-lo relaxado, e ele solta tudo diante da cúpula do cinema mundial. Nada que eles não tenham percebido, mas a confissão sempre ajuda no veredicto.

Em uma semana estão de volta ao batente (...) Uma idéia dada por Groucho Marx agrada muito, a de três pianos motorizados descendo alguma ladeira de San Francisco, cada um com dois integrantes a bordo. O quadro passa a imagem de uma banda jovem e irreverente, mas com sólida formação musical. Experimentam algumas cores provisórias, colocando folhas de papel celofane sobre o rascunho. O cuidado todo é para que o público não confunda a mensagem de “banda jovem” com “banda da moda” (...) Terminam de planejar e entregam os resultados para a equipe de arte. Agora vão para o segundo motivo da viagem. Chamam Gregory, que não sabe da antecipação dos trabalhos...

- Com licença... Me avisaram para vir...

A única pessoa no ambiente é Patrícia, de cabelos soltos, em um leve vestidinho minimalista cinturado, salmão claro, de seda, com barra logo acima dos joelhos, alças de meia polegada de largura, decote romântico e um cinto fino da mesma fazenda. Ele fica tonto (...) sem sequer perceber que está andando na sua direção...

- Nós precisamos conversar, Greg. Jose me falou sobre você.

- Falou o quê?

- Tudo. Você está enganado a meu respeito. Eu não sou uma estrela, não na vida cotidiana. Nela, eu me interessaria sim, por alguém como você.

Ele quase morre. Sua pressão sobe e desce em um balé mortal, que o priva ainda mais de perceber que está se aproximando daquela garota sedutora, sem conseguir soltar mais uma palavra sequer, sem condições de suportar vivo a hipótese de isso ser um alarme falso. Ela estende as mãos e ele obedece ao gesto, estendendo as suas. Ela as prende, dá um sorriso e ele não vê absolutamente mais nada, simplesmente obedece ao “Me abrace” e seu coração normaliza, entorpecido, com a cabeça recostada naquele ombro esquerdo tão delicado e acolhedor. Fica completamente anestesiado, enquanto ela afaga seus cabelos. Nem percebe que está abraçado, não sabe sequer se está vivo ou morto, só sabe que é muito bom! Ouve alguns anjos cantarem, enquanto ela sussurra algo aos seus ouvidos, sem compreender direito como está compreendendo aquele idioma ininteligível. Não percebe que aceita o compromisso, só perceberá que assumiu a responsabilidade de ser o namorado da líder do Dead Train, quando acordar do torpor.

Ela ainda não sabe como fará para contornar a distância e a escassez de prazos, serão momentos bastante esporádicos de namoro, às vezes curtos. Por isso mesmo trata de apertar o abraço e aproveitar cada segundo destes primeiros momentos (...) Olha para ele, que ainda não acredita no que está acontecendo, alisa o rosto e começa a ver graça naquilo. Chama-o e o encara, inclina a cabeça e aproxima o rosto ao dele, conseguindo o primeiro beijo. Afinal é seu namorado (...) vai tirar dele o que lhe for de direito. Agora ele parece ter percebido a encrenca em que se meteu.

O beijo não foi (...) só para dizer que ele já em dona. Ela vê os olhos marotos do pai pelas persianas, dá um sorriso enorme de satisfação e faz sinal de positivo, podem entrar. Apresenta seu namorado ao pai...

- Ouça, Greg, eu gosto de você, mas precisa ter consciência de que ela é minha filha, então eu terei que ser chato, às vezes. Segundo, teremos um problema de logística; você é um cara ocupado, ela mais ainda. Vocês terão que agendar seus encontros com muita antecedência.

- Eu estou ciente disso, mas não constitui empecilho. Afinal, o Matt não tem problemas com a Renata.

- Só diferenciando que eles moram na mesma cidade, querido. Mas para que serve o telephone?

- Ei, podemos entrar também, ou vocês ainda vão cozinhar mais um pouco?

Rebeca se anuncia já entrando. Entram os seis, Matthew com uma penca de conselhos ao rapaz, tanto sobre a encrenca em que se meteu, quanto sobre ficar longe da amada (...) avisa que vai pagar os pecados quando estiver longe, cheio de trabalho e sem dia para revê-la. Enzo está longe de seu par, mas volta logo para seus braços. Agora Robert é o único solitário na banda.

Ela aproveita que os outros cercam o rapaz, para ligar para a mãe...

- Mommy, I have a boyfriend!

- Então vocês se acertaram? Que lindo, minha jóia! Eu quero ver esse rapaz.

- Verá, assim que nossas agendas coincidirem. Mamãe, ele é tão fofo! Tão tímido!

- Acredito, ele ficou todo encolhido, quando eu estive aí! E o seu pai?

- Com os outros, dando as boas vindas e as regras. Agora vou conhecer o trailer onde ele mora, a Jose disse que é uma gracinha!

Conversam sem delongas, Nancy logo manda a filha ir namorar e ela não se faz de rogada, já sabendo das regras. Patrícia até acha o motorhome uma gracinha, mas quando olha a despensa e o guarda-roupa...

- Greg, o que é isso? Meu querido, você está muito mal cuidado!

Ela primeiro arruma as roupas dele (...) providencia alimentos que dispensam refrigeração, para quando não tiver a cantina dos estúdios ou um restaurante ao alcance. Ela tem certeza de que a alimentação contribuiu para seu último problema de saúde. Sem experiência com namoro, apenas o enche de carinho e cuidados.

O que poderia estragar o clima romântico, está acontecendo a milhas dali. Um pastor a toma como encarnação do anticristo. Ele prega ferozmente (...) afirmando que o sucesso estrondoso e repentino foi obra do demônio, lembrando ainda que o pai dela é ateu “Um inimigo do povo santo a serviço de satanás”. Ele busca letras aleatoriamente em várias músicas, até formar “We love devil”, para provar que se trata de um sinal do fim dos tempos.

Enquanto isso, ela namora candidamente o rapaz órfão que Josephine e Bartholomew pegaram na sarjeta (...) Richard olha é para Robert, que se afasta para não atrapalhar o clima de romance dos outros...

- Aonde você vai?

- Por aí. Ver um pouco dos estúdios.

- Não minta pra mim, Bobby, eu já um homem calejado.

- Tá na cara?

- Em neon. Vem comigo, vamos tratar do seu assunto, enquanto os outros tratam de si. Me fala dessa menina idiota, se não for doer demais.

Dói, mas ele fala. Richard presta atenção à combinação de palavras com tons de voz e cadência do que vier depois, para repassar a Zigfrida (...) Hoje a menina idiota está com a cara no chão, arrependida tanto de ter acreditado em fofocas (...) nem falo no partido que deixou escapar e a mãe lhe cobra desde que a banda estourou. A menina já cogita sair de casa assim que tiver idade, para nunca mais ser cobrada por isso.

Já que abriram mão de quase dois meses de serviço leve, vão de uma vez ver contactos e fechar parcerias que estão em andamento. Aproveitam para fazer isso com mais calma (...) Uma das parcerias é com uma empresa de logística e transportes, que quer usar a imagem em suas campanhas. Nada mais lógico. Matthew vai atrás, registrando tudo, enquanto Richard observa e passa relatórios para Josephine, que se desmancha de orgulhos (...) já está na hora de o Dead Train voltar à mídia, Matthew começa a mandar material para a redação.

Richard e os garotos voam para Sunshadow, Matthew para New York. A nova parceria pode até render algum benefício para a cidade, como uma linha de trem ou até um aeródromo. A bordo do avião, vai uma Patrícia um pouco diferente, com respiração mais leve, as íris em flor e um sorriso suave. Os outros passageiros notam isso, sua tristeza crônica há muito era alardeada pelos tabloides. Chegaram a aventar que ela estaria insatisfeita e pretendia sair da banda, só mais um dos incêndios que Matthew precisou apagar.

Patrícia conta à mãe e à tia sobre o namoro. É difícil associar aquela adolescente empolgada e dengosa à mulher precoce e taciturna que comanda os negócios milionários de uma marca valiosa. Mas é ela mesma, toda pimpona e serelepe a dar saltitos (...) enquanto narra os pormenores com as oito photographias tiradas da ocasião em mãos. O que as duas vêem é uma garota imensamente feliz abraçada a um rapaz que parece não acreditar no que está acontecendo (...) Não fizeram questão de divulgar a notícia, mas não demoram a descobrir e fazer polêmica fútil.

Gregory, de sua parte, está no céu. Josephine e Bartholomew observam com muito gosto o rapaz que vêem organizando o equipamento de filmagem, não é aquele todo recolhido e de olhar vago. Está mais ágil e às vezes até ensaia um sorriso.

E a imprensa “especializada” não tarda. A pior chamada é “Com tantos astros aos seus pés, Patty Petty levou um satélite sem graça para casa”, mas os textos de algumas são bem mais perversos, até o acusando de oportunista, outros comparando-o a Mel Ferrer(...) de início ele dá razão à manchete, mas logo leva uma chacoalhada de Audrey Hepburn, que informa rapidamente Josephine do caso...

- Chame-o, amiga, quero falar com ele... Greg, eu quero falar com você, pessoalmente. Não fosse por Audrey, você teria sabotado seu namoro e magoado Patty. Venha à minha casa agora.

Desliga e liga para a pupila. Patrícia fica furiosa, avisa que quer dar uma palavrinha com ele assim que terminarem a conversa (...) Antes de mais nada a diva dá uma bronca. O faz ver o que vai jogar fora se der ouvidos aos maledicentes, mostra-lhe o que realmente estaria estragando se deixasse sua autoestima pífia tomar suas decisões. A chacoalhada é mais forte do que a primeira, mas agora vem a bonança. Passa a falar com ternura sobre os motivos de tê-lo acolhido, da confiança que lhe foi oferecida e, principalmente, da garota maravilhosa que ele tem à suas mãos...

- Não se engane petit garçon, você não escolheu Patrícia; ela te escolheu, foi ela quem se abriu e lhe deu as mãos. Ela é uma moça séria, um dia vocês podem vir a se casar, mas isso depende mais de você do que pode imaginar. Ela não dá a mínima para os apelos dos outros rapazes. Tem idéia do quanto isso é valioso? Agora você percebe o tesouro que recebeu dela?

Ele (...) apenas balança a cabeça para dizer que compreendeu...

- Você não deveria ter interrompido seu tratamento psicológico. Retome-o, será de fundamental importância para o seu relacionamento. Agora eu vou ligar para ela. Patrícia ficou furiosa quando soube da manchete e pediu para falar com você, depois das duas broncas que recebeu... Chérie, já terminei com ele... Non, ele está calmo, apesar de um pouco envergonhado. Tivemos a ajuda de um querubim, antes de me ser repassado... Oui, foi ela... Agora fale com ela...

- Patty?

- Greg? Não leia mais essas publicações, querido, não há nem figurinhas para découpage que lhes pague o que custam. Eu escolhi você, Greg, não estou nem aí para os outros, nem para as fofocas, nem para coisa nenhuma. Já chega o Bobby sofrer por causa disso, não me faça sofrer também.

- Não! Nunca! Eu não vou mais deixar essa gente me influenciar.

- Obrigada, Greg. A gente se encontra na semana que vem, quando começar a turnê.

- Estarei aqui, te esperando.

- Só mais uma coisa, Greg; I love you.

- I love you too...

Ele começa a rir abobalhadamente em meio a prantos (...) arrancando o sorriso máster de Josepine. Conta-lhe o teor da conversa, o tom de voz e o desfecho...

- Oh la la! Essa eu vou espalhar por toda Hollywoody!

Abraça o rapaz, enquanto liga para o anjo e manda espalhar a fofoca (...) até chegar à imprensa, que passa a dar como certo o matrimônio de Patrícia Pettit Gardner com Gregory Winston. Claro que o assediador fica furioso, pois considera Patrícia como sua propriedade. Ele observa bem a fisionomia de Gregory para identificá-lo à primeira vista. Vai a campo se certificar de que ele não tem a mesma proteção que cerca Patrícia.

Encontra um fornecedor de armas clandestinas e faz um orçamento, depois sai para trabalhar, para conseguir o dinheiro necessário à compra da arma, da munição adequada e de um carro veloz (...) O lugar onde pretende viver com a garota já está pronto, isolado do resto do mundo (...) Não quer correr o risco de perdê-la como perdeu sua “amada Grace Kelly para um maldito estrangeiro”. Não se dá conta de que está sendo observado desde que tentou entrar clandestinamente em Mônaco, e que a vigilância se intensificou desde que começou a assediar Patrícia. Josephine não quis contar, mas a princesa ficou apreensiva quando soube que o maníaco tinha um novo alvo, especialmente por causa da semelhança do alvo consigo.

A moçoila por sua vez está feliz e radiante, com os amigos, planejando os detalhes internos para a turnê que se avizinha. Põe a planilha na mesa de lanches, a poucos passos da piscina (...) Incluiu três visitas a entidades filantrópicas, incluindo uma das raras que cuidam de autistas com competência. Silvia, Lucille, Marina e Victoria estão lá, vendo o quanto eles consomem de glicose e phosphato em seu trabalho. O que as câmeras mostram não chega a dez por cento do serviço.

Também há um componente inusitado. A Life Magazine firmou acordo com o Coast to Coast e com os estúdios para cobrir a turnê, com photos de Matthew. Desta vez uma equipe de reportagem inteira vai acompanhar a banda para o que já chamam de “The Grand Tour”, estão cientes de que perderão mais privacidade ainda.

Findado o planejamento (...) pulam na piscina, porque nem só de pão vive o homem. Enzo e Ronald avisam às irmãs que desta vez podem falar do que viram hoje da turnê, dos clipes, do novo álbum e tudo mais. Mas pedem que não toquem no assunto com eles, porque agora querem descansar os neurônios.

sábado, 29 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XLIV

    Todo o ouro do mundo não é páreo para a morte. A estação 44 mostra o que acontece após um luto: a vida continua. Enxuguem suas lágrimas e subam, o trem não vai esperar.

Em uma cerimônia fúnebre militar, Richard deposita sobre o caixão a bandeira de Sunshadow, em nome dos mil cidadãos mortos na guerra. Ele e a família foram convidados (...) para fazer justiça ao luto de sua cidade, mas também para revelar um segredo que finalmente pode começar a ser divulgado (...) embora a CIA saiba que ninguém vai acreditar tão cedo na conversa. Nelson chama o mecânico para um canto, já agradecendo pela maravilha que o mini compressor fez por sua Zundapp...
- O homem que estamos sepultando hoje conheceu seu pai e seu avô. Chegou a lutar com eles (...) em uma missão secreta.
- Então eu posso considerar isso como um sepultamento deles também.
- Lembra-se daquela sua idéia de voltar a usar Hollywood para nossos propósitos? Sabe qual o verdadeiro nome do soldado que acabamos de enterrar?
- Não, peraí! Ele é Steve Rogers? O Capitão América é real?!!
- Tudo o que as revistas publicaram (...) aconteceu de verdade. As revistas eram na verdade, um relatório cifrado para Washington. Está na hora de você conhecer a verdade sobre os heróis das revistas, Brain, porque um dia você será um deles. A sua infância foi mais verdadeira do que você pensa, Richard, e o mundo é melhor do que as pessoas querem acreditar. Venha comigo.
Vai para uma sala com várias câmeras e televisores, onde é posto em contacto com Josephine, Grant e outros agentes que já têm ciência do caso. É tudo muito rápido (...) mas Patrícia desconfia assim mesmo...
- Olha, desta vez eu até posso contar, mas você não vai acreditar.
- Experimente.
- O soldado que foi enterrado hoje é Steve Rogers.
- Oh, claro... Suponho que aquela tenente chorosa seja Diana Prince. Não quer falar, não fala, não precisa curtir com a minha cara.
- But is true!
- Vejam! Lá em cima! Será um pássaro? Um avião? Não, é só meu pai me passando trote outra vez. Vamos pra casa.
Voltam para casa. Alguns oficiais (...) preferem que os segredos sejam guardados para sempre, mas o próprio Richard sempre diz “Não existe essa conversa de segredo, um dia todos sabem a verdade, e as conseqüências são tão mais amenas quanto mais cedo e mais preparada a população estiver”. Richard não alimenta heróis, nem mesmo seu pai e seu tio.
&
Melinda manda photographias do que pode ter sido seu último aniversário. Nancy abraça a filha por trás, para evitar que faça aquela cara de novo (...) Ela vê aos poucos a alegria do pós guerra se tornar uma euforia cega. Começa a ter saudades da época de criança, que nem faz muito tempo. Talvez tenha mais saudades é da inocência que tinha então, quando não sabia que o mundo era tão perverso como testemunhou nos últimos dois anos (...) Melinda nasceu pouco depois de começar a receber do mundo as doses de perversidade, é como se sua inocência estivesse, como ela, dando seus últimos suspiros (...) a tranqüilidade que tinha na primeira infância lhe faz muita falta...
- Honey?
- I’m good, mom. Estou bem.
- Você nunca está bem, quando faz essa cara.
- Tá muito séria?
- Psicoticamente séria. Até parece que quem está morrendo é você!
- De certa forma... De certa forma é sim. Eu me analiso também, percebi minhas mudanças nesses poucos anos... Estou acometida por um forte saudosismo.
A voz embarga várias vezes (...) Ela para de falar e suspira profundamente, põe a mão na testa e faz que vai sair, mas é detida pela mãe, então desiste de ser uma adulta amargurada e deita a cabeça no colo da genitora. As rugas na testa se desmancham lentamente, mas Nancy sabe que as de dentro ainda estão firmes. Mesmo o rosto da garota, apesar de desfranzido, continua severo.
Meia hora de brincadeiras na piscina, construída durante a turnê, ajuda a mudar a cara de Patrícia (...) a perspectiva de duas novas vidas a ajuda a esquecer o ocaso de uma, pelo menos por agora. Deborah olha da janela de seu quarto, pensando em tudo o que perdeu (...) Sente-se estúpida. Viu que a sobrinha que não conhecia revolucionou a cidade, mas não viu a revolução acontecer. As três semanas de retorno a Sunshadow não foram suficientes para se actualizar com tudo (...) lhe dói saber de seus dramas, e de não poder ajudar mais do que com suas massagens.
Mas a líder do Dead Train não é a única, todos os seis estão mudados, depois de tamanha demonstração de agressividade do mundo para consigo, mas nenhum deles mudou tanto quanto Silvia (...) A menina alegre, tagarela e expansiva parece ter ficado na saudade. Já parou de culpar Laura por cada folha de árvore que cai, mas a filha carinhosa de outrora está arredia, passou até a fechar a porta do quarto (...) Às vezes elas voltam a se abraçar, mas é mais por sentimento mútuo de culpa, do que pelo carinho transbordante que dominava a cena.
Irônico como a cidade que tiraram do esquecimento está pujante e feliz, enquanto eles não demonstram um décimo do vigor de há um mês. Renata termina de fazer uma leitura do Livro dos Médiuns, medita e liga para os outros. Convoca todos para uma reunião na casa de Patrícia (...) Pede que levem roupas de banho, sob a normal. Em quinze minutos estão todos em frente à placa amarela com a frase “Não posso impedir as pessoas de serem idiotas, mas posso fazer com que hesitem em colocar sua idiotice em prática” (...) ela diz para terem paciência, os leva para os fundos da casa, onde a moçoila ainda mima a mãe...
- Oi, gente. Algum problema?
- Sim, senhorita mártir, mas já vamos resolver. Muito bem, todo mundo tirando a roupa e pulando na água!
Agora eles entendem. Patrícia entende quando os cinco pulam na piscina e começam a sabotar sua cara jururu, arrancando gargalhadas sonoras.
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Patrícia conversa com Zigfrida sobre Melinda. Fala do modo sereno e resignado com que ela encara a iminência do óbito (...) Mesmo com todo o mal estar que os efeitos colaterais do tratamento lhe impõe...
- Ela está te dando uma lição de vida, não é?
- Mais do que isso – diz com voz mais madura que de costume – ela está de mostrando como eu devo viver. Você é veterana na profissão, já deve ter visto uma penca de meninas mimadas, fúteis, que se desesperam por causa de uma briga com um garoto (...) sem nem terem idade para saber o que é um namoro.
- “Penca”? Você está comparando garotas a bananas!
- É uma expressão que a Rê trouxe do Brasil. Se diz penca ou cacho para algo que se tem aos montes, às vezes até banalizado de tão numeroso.
- Quantas vezes esteve com ela?
- Além daquela primeira visita, estive três vezes com os três. Ela sempre me recebe com um sorriso banguela... Ela perdeu os dentes por causa da medicação, sabia? Perdeu-os e sabe que isso não vai salvá-la, só adiar um pouco o desfecho.
- “Desfecho”. Medo de mais um luto?
- Depois da minha avó, só ela conseguiu me trazer esperanças no mundo... Que barulho é esse? Pai, que barulho...
- Sua mãe vai ter os bebês!
Diz e dispara com Nancy para a maternidade. Não é mais difícil do que se pode esperar de um parto de gêmeas, elas (...) enchem o hospital com seus choros de recém-nascidas. A primeira pessoa para quem Patrícia conta é Josephine, a segunda é Maria de las Dolores, que avisa a Melinda que há uma irmã da Patty Petty com o nome dela. A criança fica eufórica, mal cabendo em si. Se ainda tivesse as pernas, correria pelo hospital para espalhar a notícia.
Audrey e Melinda conhecem seu quartinho no mesmo dia (...) Logo os outros cinco vão com suas famílias, com Renata levando Eddie nos braços, Eduarda ainda precisa de amparo do marido após o parto de ontem.
Pouco mais de um mês, com a casa tão repleta de alegria que mal cabe em seu prédio, decidem do hospital se ligam ou não para ela...
- Ela tem que saber. Ela se responsabilizou pela menina, ela custeou tudo, até colocou seu prestígio para apoiar o tratamento dos outros doentes. Não são só eles que devem isso a ela, nós também devemos. Coragem, Phineas (...) eu estou ligando, mas você tem que falar... Está chamando. Coragem!
- Patty, é o doutor Blatter, como vai? É sobre a Melinda... Eu... Eu tenho que ser directo (...) o sofrimento dela finalmente acabou...
- Obrigada, doutor. Providencie tudo, depois me mande a conta. Muito obrigada pelo que fez pela minha irmã...
Ela desliga e olha sóbria para o nada. Faz a cara de mártir (...) Ela é forte, muito forte... Mas agora precisa desesperadamente do colo da mãe. Nancy vai avisá-la de uma tragédia horrorosa e a flagra lacrimejando, com o rosto se avermelhando rapidamente...
- Patty, mataram o presidente... Minha filha, o que houve?!!
- Mãe... A... Melinda... Ela morreu...
Deixa a cara de mulher séria, durona e dona de seu mundo, para desabar em um choro desesperado e escandaloso (...) O ídolo de milhões (...) com seus pouco mais de seis pés de altura, agora é só uma menininha (...) Por horas ela chora desatadamente, depois está dormindo nos braços da mãe. Ela liga para Josephine e avisa sobre o estado da filha.
Já recuperada, vê o pai constrangido, avisando que estão pedindo sua presença no funeral do presidente...
- Vá, pai, é essa a sua missão. A minha é com os pais da Melinda, eles não têm ninguém por eles na América. Amanhã eu choro no seu colo, tá?
Ele vai com o coração partido. Sabe que ela foi sincera, mas por isso mesmo sente um pouco de culpa.
Enquanto Richard tem uma honra triste (...) acabando por se tornar um ombro paterno para os americanos, Josephine e o Dead Train são os únicos presentes no sepultamento de Melinda Gonzáles. Para não chorar, Patrícia canta...
- It was once a caterpillar, that looked enchanted for a star. The caterpillar aways said “One day I ill be with you”. One day her dream is realized, she could finally fly and directing your spirit to heaven, she met with the Star Heart.
Fly, butterfly, your place is no more here. Fly, little angel, back to your true home.
Tank you for being in this world my little star. You lit my aching heart, showed me my pain was small. Today I’m better person for having know my little caterpillar.
Fly, butterfly, your place is no more here. Fly, little angel, back to your true home.
Ela canta sozinha, com uma voz bem mais madura (...) vez nem Josephine segura as lágrimas.
O tempo passa, as lágrimas também (...) Patrícia é flagrada amamentando as pequenas. Os adultos olham aquilo quase se desmanchando, porque a garota ainda tem o rosto arredondado e suave, apesar dos momentos de franzimento do cenho...
- Que bom saber que posso contar com essa ajuda! Poder te chamar e voltar a dormir, no meio da noite, vai fazer muito bem à minha cútis.
Ela não recusa. Se levanta pronta ao menor sinal de choro e vai atender as irmãs. Passa a ser comum (...) dividir as responsabilidades com a mãe. É comum vê-la por Sunshadow, levando as duas para passear, bem agasalhadas e juntinhas ao seu corpo, às vezes acompanhada de Renata, que cuida de Eddie com a mesma dedicação. Naomi facilitou a maternidade, quando Patrícia nasceu, agora é ela quem alivia a vida de Nancy. Infelizmente, férias propriamente ditas, os seis ainda demorarão a ter (...) há uma série de assuntos que exigem suas jovens mentes, como a gravação do segundo álbum e dos videoclipes de cada música...
- A gente pode aproveitar uma cena de um dos clipes para fazer a capa do disco.
- Boa, Bobby! Então teremos que fazer um projecto photográphico à altura...
Discutem os rumos da banda para o ano que vem, enquanto sua agente precisa negociar para que eles tenham tempo para respirar. Mais de cinqüenta pedidos de shows já estão sendo estudados, dois deles na Alemanha. Josephine encarregou Bart de conversar com as cidades muito próximas entre si, não quer que os garotos sejam consumidos pelo trabalho.
Apesar de não se apresentar à mídia há alguns meses, o Dead Train continua nela. A reabertura e ampliação da estação ferroviária, foi acompanhada de uma estrada paralela à principal, que leva à estradinha de acesso a Sunshadow. O fluxo de turistas já justificou a ampliação dos poucos estabelecimentos comerciais da cidade, mas trouxe junto a tietagem pirata dos paparazzi, que se encarregam de alimentar a indústria de notinhas de celebridades, enquanto Matthew cuida das notícias relevantes. Uma delas é a avalanche de provocações, que alguns artistas ciumentos e invejosos têm derramado nos jornais (...) Um paparazzo aborda Rebeca, sem a menor noção do perigo que corre, faz uma pergunta, ela faz cara de inocente e ele esclarece...
- Eles disseram exactamente isso?
- “Enquanto o trem descansa em paz, o Cool Boys faz a alegria dos fãs”, e o “The Special Boys” disse que conhece todos os pontos fracos de vocês.
- Cara, que dó de você! Ter que ganhar a vida escutando tanta merda deve ser triste! Olha, pra compensar, eu estou indo agora pra casa da Patty, a gente vai falar com o Matt sobre a campanha deste ano inteiro e até um pouco do próximo.
- Já estão trabalhando para o ano que vem?
- Nós nunca paramos de trabalhar. Nós somos empresários, não tiramos férias como todo mundo, só quando o serviço termina. E o deste calhamaço aqui vai até o fim do ano, no mínimo. Tenho que ir, Tchau.
Pelo menos tem uma notícia fresquinha para sua coluna, em vez de “Renata do Dead Train passeia pela praça do dead train”. Rebeca (...) teve umas dúvidas e quer ter tempo para esclarecê-las. Essa conversa de que o patrocinador vai fornecer as roupas, não lhe agrada (...) não vai usar o que não quiser. Ele poderia, por exemplo, fornecer roupas provocantes ou exóticas, só para chamar mais atenção do público do que a banda.
A discussão é tensa, com Rebeca ameaçando cantar pelada no palco, e eles sabem que ela é capaz disso, mas concordam em colocar uma cláusula que faculte os garotos de usar o considerarem inapropriado. Vão até o fim da tarde nessa reunião, que é findada com um buffet (...) quando gente de fora tenta interferir na rotina da banda, é o quase como xingar suas mães. Agora é com Josephine.
A diva gosta da atitude dos pupilos (...) Fizeram bem em esperar alguns anos até se lançarem, conseguiram amadurecer bastante. Bart consegue um acordo, mas eles pedem uma contrapartida, mais dez shows no decorrer do ano que vem. Eles sugerem que contractem logo Deborah, porque vão precisar dela. Tudo em sigilo (...) Os seis já estão calibrados para o ritmo de seu trabalho.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Dead train in the rain XLIII

    Uma ameaça a menos, agora só faltam todas as outras. A estação 43 Traz a resignação aos ônus da fama, eles são inevitáveis. Preparem seus bloquinhos e embarquem, o trem vai partir.


Os fãs de New York fazem questão de adular os seis (...) Josephine e Grant voltaram a Los Angeles sem descer do avião (...) Richard recebe sinal verde da agência e libera as janelas do ônibus, aqui não haverá riscos aos seis. Chegam ao hotel e Matthew vai imediatamente para a redação do jornal. Um mensageiro aborda Richard e lhe entrega um bilhete, fazendo um sinal, e se retira...

- Brain, pode dormir tranqüilo. A Cascavel Branca está morta. Preferiu se matar a se entregar, o que não faz diferença, pois já temos todos os nomes de sua organização. Avise à Patty e conte o que achar prudente.

Ele vai feliz. Chama a filha e conta resumidamente, sem citar nomes e operações (...) até dizer que os riscos que Enzo corria já foram eliminados...

- A avó da Silvia está morta.

O choro agora é de alívio. A única ameaçada no momento é ela, mas não pensa nisso. Pede ao pai que dê um jeito de algum oficial avisar sobre o fim do problema, para os outros também serem tranqüilizados. Agora vai (...) usufruir de um dos maiores alívios que já sentiu na vida.

Laura tem um certo pesar, mas não lamenta a morte da mãe. Talvez até facilite a reaproximação com a filha, que abre a porta (...). Se aproxima devagar da mulher, que só chora por saber que a menina também era um alvo.

A tradicional coletiva é uma pasmaceira. Todo mundo quer saber detalhes sórdidos do atentado, que eles não viram (...) Alguns jornalistas ficam frustrados pela falta de defuntos. Mas Patrícia confirma que Richard foi lá fora, enfrentar os meliantes, conta toda pimpona a cena de um herói mandando os civis entrarem, para ir enfrentar os vilões.

Matthew assume, mas quando pensa que vai arrematar detalhes (...) é feito o novo entrevistado...

- Onde você estava, durante o tiroteio?

- Vai realmente se casar com Renata?

- Pretende conhecer o Brasil?

- Os ciúmes que sua posição privilegiada gera, não te preocupam?

- Pronto, estava demorando! Por que isso, gente?

-Matt, o que houve?

Renata chega e assume o para-raios. Quase ao mesmo tempo, os outros cinco chegam por trás dos repórteres e ajudam-na, fazendo perguntas fajutas em série. Se divertem enquanto Richard atende a uma chamada urgente (...) e manda chamarem o general que causou a confusão. Manda-o calar a boca antes que ele tenha tempo de dizer qualquer coisa, e desembucha...

- Eu vou falar uma única vez, animal, por isso quero que escute até a última palavra. Se um dos boçais que se acham deus apertar aquele botão, todos nós seremos atingidos. Ainda que nenhum contra ataque aconteça, já que vidas alheias não importam aos digníssimos cristãos, uma nuvem radioativa vai tomar conta do mundo inteiro, inclusive dos Estados Unidos da América (...) Não importa onde vocês descarreguem esses mísseis, nós seremos atingidos. E se a argumentação da subsistência não convence, vou te dar uma dica, olha para essa luminária em forma de maçã à sua esquerda... Não interessa como eu sei (...) Viu? É uma câmera, eu a construí e ensinei centenas de agentes a construírem similares. É para avisar, satanista de bíblia sob o braço, que se cometerem esse crime contra a humanidade, vocês e suas famílias serão seqüestrados e jogados nos locais atacados, ainda com a radioatividade alta. Mais alguma pergunta estúpida? Óptimo. Espero não precisar dar outro aviso. Agora chame o general de verdade...

- Richard, o que você disse para ele?

- Uma pequena parcela da verdade, o que incluiu jogar na cara dele a própria hipocrisia. Eu realmente não sei, Nelson, quem realmente são os nossos inimigos, se o já declarado exército soviético, ou se quem deveria zelar pelo nosso bem estar.

- Richard, teremos que mudar algumas diretrizes, estamos todos nos expondo demais, especialmente você. Tem sido absolutamente necessário, mas estamos todos nos expondo demais.

- Concordo. Trataremos do assunto na próxima assembleia, quero que todos os novatos compareçam, é de suma importância que eles estejam cientes, porque terão que agir por conta própria cedo ou tarde.

Ele ascende rápido na organização. Não tem a menor pretensão de ser líder, herói ou o raio que o parta, quer evitar o pior, tão somente isso. Justo por isso eles confiam tanto nele. Agora vai ligar para a esposa, para ter um pouco de alegria. E a alegria é plena, ela se mostra orgulhosa de seu marido (...) Ele sai e dá de cara com a filha, mas com uma carinha bem mais amistosa...

- Às vezes acho que você é mais poderoso do que o John Kennedy.

- Às vezes acho que você é mais poderosa do que eu. Sua cabecinha ainda é um mistério para mim, sabia?

- Alguma invasão alienígena agendada para daqui a pouco? Então vamos logo pro restaurante, a Frida chegou e quer falar com todo mundo.

Ele sabe do que se trata. Todos sabem. Mas a sueca não se limita ao atentado (...) vasculha as ramificações que dizem respeito aos sentimentos suscitados pelo incidente. Para isso faz uma dinâmica de grupo, conversando sobre correlatos, afrouxando a vigília, até que grita “Uma barata!” para ver a reação de cada um. Rebeca pula em cima antes que os outros reajam, antes mesmo que Zigfrida termine de falar...

- Ei, cadê a barata?

- Menina, você é maluca!

- Então não tinha barata nenhuma?

- Não, era só para testar a reação de vocês, em situações de emergência. Você tem que aprender a controlar seus impulsos!

- E você queria que eu deixasse a barata ir embora?

- Não, claro que não!

- Então qual o problema? Nem tinha barata de verdade!

Ela (...) uma tese de doutorado pela frente, em seis capítulos. Pega um tarot de sua bolsa e espalha as lâminas sobre a mesa de acrílico, explica resumidamente o que é cada uma e pede que cada um dos seis escolha cinco delas, cada uma atribuída a um dos companheiros, e mais uma para si mesmo (...) Antes que Rebeca se lance sobre a mesa e pegue sem pensar, ela pede que eles pensem por um minuto sobre cada um dos outros; vale escolher cartas já dedicadas a outro, se for o caso. Ela anotará tudo em uma tabela com os cruzamentos dos nomes. Uma hora e ela já tem um material bem rico para análise. A Imperatriz é unanimidade a respeito de Patrícia.

Vão para o ensaio, cientes da conveniência de não terem que viajar para o show seguinte (...) Pedem para o ônibus parar em frente a uma loja de discos, onde causam frisson. Clientes e funcionários ficam estáticos (...) Eles sabem que não adianta mais passarem incógnitos, nunca mais conseguirão isso. Cada um compra um disco dos Beatles e outro dos Rolling Stones (...) suas expressões e seu comportamento não os deixam parecerem tão jovens; ainda mais após sobreviverem a tantas coisas em tão pouco tempo. Ah, sim, a tietagem não os poupou, até que todos os seis assinassem todos os discos que os fãs estavam comprando; o dono da loja, malandro, colocou funcionários na fila e agora tem vários álbuns autographados, que venderá bem mais caro.

O restante da turnê é ameno, sem sobressaltos, sem surpresas desagradáveis, apenas com alguns protestos pontuais (...) O próximo compromisso oficial será a produção e divulgação do novo álbum, o que incluirá a gravação de clipes. Por agora se retiram da mídia, para o público não ficar farto de Dead Train (...) Se limitarão a administrar os negócios de sua marca, o que não é pouca coisa. Conseguiram alcançar e controlar o sucesso, mas ele é maior do que imaginavam. Voltam para casa, exaustos, um pouco menos assustados e muito mais maduros (...) São recebidos como heróis pelos concidadãos, e com tietagem gritante pelos turistas que já movimentam Sunshadow. Deborah é recebida com lágrimas por seus amigos de infância...

- Mommy!

Desta vez só Patrícia corre, Nancy está evitando estripulias por conta da gravidez avançada. A mulher leciona por amor ao ofício, o que a filha e o marido ganham (...) seria suficiente para se manterem com folga em Mônaco, mas amam aquela cidade aonde as pessoas agora querem ir e conhecer.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XLII

        Aconteceu em Dallas. Deixar os outros em paz não assegura que não vão se voltar contra você, a estação 42 mostra a realidade da diplomacia. Embarquem com cuidado, o trem vai partir.


Texanos, esses exagerados! Quase cem mil pessoas lotam o autódromo, dezenas de trailers servem de lanchonetes, um caminhão com semirreboque foi transformado em loja de souvenires, heliportos provisórios desembarcam os fãs mais abonados, e a segurança não fica atrás (...) A frase no para-choque do caminhão-loja diz tudo: If is not biggest, is not texan. O semirreboque tem três eixos.

No camarote, gigantesco, alguns magnatas do petróleo com acesso livre abordam Richard sobre sua declarada simpatia pelos carros eléctricos, inclusive sobre as modificações que dizem ter feito no ônibus da banda. Ele explica que só os incompetentes têm que temer esses carros, porque o petróleo tem inúmeras outras utilidades, e a geração de energia é uma delas...

- Mas não é trocar seis por meia dúzia, amigo? Quer dizer, tirar o petróleo das ruas para colocar nos geradores?

- Não. Os motores dos geradores são muito mais eficientes (...) e instalações estacionárias permitem uma série de filtros e catalizadores grandes, frágeis e pesados, que são inviáveis até mesmo para uma locomotiva. Venham, vou fazer uns cálculos e vocês verão.

Fala e demonstra com autoridade, como eles podem lucrar quando os eléctricos começarem a proliferar pelas ruas, o que infelizmente não espera que aconteça antes de quarenta ou cinqüenta anos, por conta das limitações das baterias hoje disponíveis. Consegue acalmá-los (...) pela possibilidade de poderem continuar no mercado, quando a transição começar. Ele até sugere que eles, no momento oportuno, ganhem dinheiro fabricando insumos para esses carros, já que lidam com a matéria-prima necessária.

Os garotos aguardam serem chamados, meditativos (...) O mestre de cerimônias dá o sinal e eles vão para a entrada do palco de mãos dadas, encantando a equipe de apoio, que suspira com as histórias que Ronald contou sobre suas tradições. Rebeca já as olha torto, desconfiada. São chamados e o espetáculo começa pontualmente.

Enquanto eles levam o público ao delírio, Richard é novamente abordado pelos petroleiros. Desta vez eles vêm prestar solidariedade, por causa do drama de Patrícia. São todos pais, alguns até avôs de moças, não sabem se conseguiriam manter o aparente equilíbrio do mecânico (...)...

- Esse equilíbrio é só aparente, meus amigos, é para não deixar minha filha ainda mais preocupada. Ela já tem problemas demais para lidar.

- Entendo, é louvável de sua parte. Mas, sem ofensas, essa história da sua irmã...

- O verme que a prendeu naquela vida está recebendo o que merece. O que está assediando Patrícia (...) só não teve oportunidade de fazer os mesmos estragos... Lá vem ela!

Saem animados para o intervalo, e Deborah se põe ao trabalho. Ela faz uma diferença enorme na performance dos garotos. Termina com eles e vai ao irmão...

- Ritchie, sente-se que eu não te alcanço daqui de baixo. Você está tenso! Está pensando naquele tarado de novo?

- A culpa foi nossa, moça. A gente veio prestar solidariedade e...

- Eu entendo, e agradeço. O problema é com ele. Desde menino que ele tem a mania de carregar o mundo nas costas, depois pergunta a quem a filha puxou!

- Aha! Dessa eu não sabia! A senhorita vai me contar tintim por tintim, amanhã cedinho, porque agora a gente tem que ir e depois vamos desabar na cama.

Patrícia sai serelepe ao palco (...) Os visitantes caem na risada, dizem que um varão não teria copiado o pai com tanta fidelidade, e se põe a ouvir a irmã do grandalhão; ela também não é pequena, a genética sempre foi generosa com os Gardner, desde o século XVII. Após o tempo previsto (...) ainda dão uma sopa. Voltam moídos para os bastidores, de lá para o hotel. Eles valeram cada centavo do patrocínio e dos ingressos.

Passam a manhã no hotel, se recuperando da noite e lendo os jornais (...) sendo elogiados e tirando poses com populares. Os mesmos homens de ontem aparecem, agora com suas esposas. Richard os recebe (...) Patrícia deixa o jornal e se aproxima, de blusa branca e pantalonas azuis claro, deslumbrante, para ver o que se passa. Aqueles sujeitos realmente gostaram deles...

- Bom dia, moça. Sua tia já contou as travessuras do seu pai?

- Tudo. Ela não poupou detalhes, durante o desjejum. Mas como eu amo esse meninão travesso!

- A Deborah não sabe o estrago que fez.

- Estrago nenhum! Ele diz isso porque eu cuido dele, quando a minha mãe não está por perto. Ela sim, é mandona, durona, põe ele na linha! Mesmo grávida.

- Sua mãe está grávida? Que lindo!

Se enturma. Quando os outros a encontram (...) são chamados à roda. Só Matthew está fora, precisa gerenciar por telephone o caderno de cultura. A conversa é bem animada e descontraída, até ouvirem tiros vindos de fora. Richard põe todos para o interior do saguão e vai ver do que se trata. Vê gente conhecida (...) saca a pistola e atira no radiador e pneus do carro em que estão atirando, inviabilizando a fuga. Tudo termina em meia hora, com os três elementos mortos. Sem documentação ficará difícil identificá-los, mas algumas tatuagens nas costas mostram quem são. O alvo, provavelmente, era Enzo...

- Revirem esse Dodge, qualquer pista tem valor agora! Liguem para Grandpa e Star.

Patrícia já está falando com ela, assustada. Josephine manda que fiquem dentro do hotel até segunda ordem. Richard liga para o alto comando, pedindo explicações (...) alerta que há gente infiltrada nas forças armadas. Assim que termina vai ver os garotos. Encontra todos quietos e Patrícia abraçada a Enzo, em posição protetora...

- Está tudo bem agora, podem sair.

- Eles vão voltar?

- Não, estão mortos e os mandantes já viram que não baixamos a guarda.

- Por que estou desconfiada que o Enzo era o alvo?

- Porque está certa, como provavelmente tudo o que está deduzindo agora, e prefiro que não me conte; Não agora. Como estão os outros?

- Agüentando. A Rebeca queria sair para enfrentar, mas o Ron segurou.

- Baixinha valente, mas precisa aprender a medir os riscos. Esteja certa de que outro atentado assim está fora de questão. Ligou para casa? Então vamos ligar, antes de a imprensa solte a notícia. Ei, liguem para casa, avisem seus pais de que estão bem!

Ligam, mesmo assustados, e Rebeca furiosa. A notícia não tarda a ganhar a televisão, mas com tantos figurões no hotel, não dizem que o atentado foi contra o Dead Train (...) Pelo menos vinte pessoas, além deles, acreditam que eram o alvo dos atiradores. Patrícia trata de vasculhar cada milímetro do pai, até ter certeza de que não se feriu. Ele se expôs de novo, mas desta vez não havia como não ter sido assim.

No aeroporto, antes de partirem, os amigos texanos (...) Tiram os chapéus e pedem desculpas com toda a humildade do mundo, não é assim que o Texas trata seus hóspedes, ninguém deveria sair de sua mesa com fel na boca. O fã clube manda representantes com uma mala de roupas típicas, para os nove, como um pedido de desculpas. São camisas de vaqueiros com calças e saias jeans, botas de cowboy, cintos com fivelas ornamentais e um livro de culinária texana, tudo de primeira linha.

Um oficial da aeronáutica se apresenta, pede desculpas em nome das forças armadas, dando sinais cifrados de que identificaram e estão à procura de quem repassou as armas...

- Eu agradeço, capitão. A imagem do Texas não foi maculada por esse episódio.

São avisados de que pegarão outro vôo para New York. Se dirigem para outro portão, entrando no avião encontram a aeronave quase vazia. Só com os tripulantes, David Grant e Josephine, que acolhe Patrícia, chorosa. Aqui, em privacidade, a menina pode deixar a fortaleza que demonstrou durante o tiroteio (...) Recebe os mimos da diva durante a viagem.