A vida não faz a menor questão de se adequar aos nossos planos. Na estação 18 é o que ela faz, e a Dead Train estreia onde jamais esperava. Peguem seus ingressos e embarquem, o expresso vai partir!
A notícia se espalha
por New Jersey e logo a entidade fica abarrotada, tanto de gente quanto de
donativos. Ninguém sabe quem são aqueles seis, mas gostam do que eles cantam e
de sua iniciativa. Alguns boêmios nova-iorquinos, que buscavam algum lugar
deprimente para suas elucubrações intelectuais, também se rendem e deixam para
lamentar a vida em outra noite.
Vão todos, inclusive Matthew, no ônibus para
a entidade de New Jersey de que ele falou. Pelo caminho tiram photographias aos
montes! Terão que comprar mais filmes (...).
Em Beverly Hills Josephine prepara a recepção
antes do previsto. Vai alegre e festiva aos estúdios, conversar com os
figurões. Como quase sempre, sai com motivações funcionais, raramente aparece
em público a lazer. Tem saudades de quando podia chamar sua amiga Grace para
suas empreitadas (...) Combinou com Nancy uma visita aos estúdios, da qual Patrícia ainda
não sabe, assim como só Patrícia sabe, dos sete, que vão visitar a diva. Belo
cenário para uma teoria conspiratória.
Vêem um set de filmagem montado, sempre há
algum em New York. Este é um comercial de sapatos femininos, estrelado por
Dovima. Ainda atrai atenção, mas (...) a maioria passa, olha e segue caminho. Matthew acompanha os
sete, para evitar que tenham problemas antes que seu pai chegue. Fazem um belo
turismo pela cidade, com contos e histórias de cada local. A Broadway enche os
olhos dos garotos...
- É um dos lugares que mais freqüento. Deixo
aqui boa parte de meus vencimentos, mas não me arrependo. É cultura, entendem?
O que eu compro aqui, nenhum ladrão é capaz de levar.
- Sua philosophia faz sentido, está em sintonia
com a nossa – diz Renata.
Os dois conversam animadamente, enquanto os
outros seis fazem a típica cara de cinismo dos sunshadowers (...) cochicham e começam a cantar, em voz baixa...
-
I crossed all the universe for give my missed star. The pines in my hart, is
from the sad journey, dear...
Richard não quer que a brasileirinha tenha
envolvimentos antes da hora, ainda mais com um homem (...) quase desconhecido, mas é plenamente a favor de que os seis
tenham experiências que lhes façam diferença, o que inclui o amor. E todo mundo
vê nas caras dos dois que tem coisa bonita no ar! Não adianta negarem. Patrícia
se encarrega de dar o noticiário por um telephone público, desta vez com quatro
pitaqueiros fazendo algazarra ao seu redor...
- Sim, senhor e senhora Rodrigues Ribeiro
Rocha...
- Deixa de firula e chame logo de “Three R” –
provoca Enzo.
- Mamãe, estou em New York – grita Robert.
- Moça, sai logo dessa cabine, quero
telephonar – continua Rebeca.
- Ei, parem de fazer bagunça! O cara é gente
boa, nos acolheu... Sim, é o repórter que cobriu o nosso incidente... O pai
dele (...) foi salvo de um bombardeio na guerra.
- Que coisa boa! Eu sei o que sua mãe nos
contou, em detalhes, sobre o que toda Sunshadow sofreu com as perdas no
conflito... Hein??? Meu pai?!!
- Sim, foi o seu pai que salvou o pai dele,
quando todo mundo achava que não tinha mais salvação. Agora os dois estão
conversando, e eu acho que estão se interessando um pelo outro...
Agora a coisa complica. Renato pula do sofá,
quando a esposa transmite a informação e toma o aparelho, exigindo explicações.
Manda chamar o jovem adulto, para ter uma conversa séria com ele. Vão-se muitas
moedas até o brasileiro do clã dos Queixada se dar parcialmente por satisfeito (...) Alega que não imaginava que algo assim
poderia acontecer, que a filha, além de muito jovem, é demasiadamente imatura
para essas coisas. Eduarda pega o phone antes que ele tente convencê-los de que
Renata ainda não trocou as fraldas hoje. Simplesmente dá um ultimato a Richard,
quer que Matthew se faça conhecer por eles antes de qualquer coisa acontecer.
A tarde cai e o ônibus sai. Matthew os leva
para o albergue da entidade social, à qual doarão os mantimentos de que não vão
precisar. As câmeras trabalham muito durante o percurso, principalmente quando
chegam à Brooklin Bridge. Tudo lindo, tudo muito bem construído, mas o cenário
muda aos poucos, quando se aproximam da entidade. Já sabiam desses guetos, mas
ao vivo é um choque ver tanta carência, quando a poucas milhas há uma
circulação tão pujante de riquezas, que sequer sentiriam o peso de incluir
esses lugares em seu itinerário. Renata, mais familiarizada com a caridade, se
entrosa rapidamente e descobre outros espíritas (...) Logo está no comando da distribuição das
doações, facilmente convence os outros a ficarem para ajudar.
Richard chora discretamente. Vê pessoas
chegando curvadas, sem perspectivas, muitas delas apenas tiveram marés
sucessivas de má sorte, outras foram deliberadamente enganadas, outras ainda
abandonadas pela família, como alguns idosos doentes. Patrícia se orgulha de
seus parceiros, mas não se furta o direito à indignação. Termina de secar as
lágrimas de seu enorme pai e vai directo ao assunto...
- Só uma pergunta. O registro do Dead Train
foi concluído?
- Sim, foi.
Era só o que queria ouvir. Termina de ajudar
os outros e os chama para o ônibus...
- Essa gente precisa de muito mais do que
glicose e proteínas. O Dead Train vai estrear hoje. Aqui, agora, para este
público. Começaremos com Forgotten.
- Eeeeeeeeeeeeeehaaaaaaaaaaaa!!!!!!
Rebeca pula de alegria, estava ficando
impaciente para começar a cantar. Descem os instrumentos (...) montam tudo diante do público surpreso e começam. Rebeca na bateria,
Ronald no baixo, Renata com um teclado, Robert no baixo, Enzo na guitarra e
Patrícia com um pandeiro. Todos são vocais. One, two,
three...
-
Every times they say “the progress ill on”. Every time this people is walking
alone. No matter the speeches that they repeat. So many cities continues dying
away, and your people still abandoned stay.
Every
time walking alone, every nation still ignores. All the lies what we learn,
about the nation and about us.
The
starvation is knoking in the next door, but you don’t listen by the television,
what show any clowns like was a mirror...
Conseguem arrancar lágrimas daquelas pessoas,
tanto quanto elas arrancaram de Richard. Gente que passa em frente fica curiosa
com a música e decide entrar, tanto necessitados quanto o povo alienado e de
bom coração que povoa a América. Eles também choram, inclusive de remorsos.
Matthew tem um furo e photographa o máximo que pode (...) uma parcela grande das poses evidencia
Renata. Pega filmes emprestados para registrar a estréia daquela turma que não
sabia que era de cantores (...) Liga para a redação, explica, pede ao editor que ouça, ele
gosta e manda que continue, embora o mundo artístico não seja sua
especialidade. Rebeca toca com vontade, como se batesse em quem tornou a canção
necessária. Ao fim da canção, o público de cerca de mil pessoas aplaude de pé.
Patrícia não perde a chance...
- Boa noite, senhoras e senhores. Sejam
bem-vindos. Este é o show de estréia da banda Dead Train, um show beneficente,
como podem ver. É gratuito, mas se quiserem pagar ingressos na forma de
donativos, ficaremos imensamente gratos. Eu sou Patty Petty, à minha esquerda
temos Enzo e Renata, à minha direita, Conde Ronald e Bobby, logo atrás está a
nossa mascotinha linda, Hot Rebeca.
- YEARRRR!!!
A baixinha faz a fuzarca na bateria, e
Patrícia continua com a apresentação. Chama a próxima música e o show continua.
The Dead Train está nos trilhos.
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