domingo, 2 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XVIII

    A vida não faz a menor questão de se adequar aos nossos planos. Na estação 18 é o que ela faz, e a Dead Train estreia onde jamais esperava. Peguem seus ingressos e embarquem, o expresso vai partir!


Vão todos, inclusive Matthew, no ônibus para a entidade de New Jersey de que ele falou. Pelo caminho tiram photographias aos montes! Terão que comprar mais filmes (...).

Em Beverly Hills Josephine prepara a recepção antes do previsto. Vai alegre e festiva aos estúdios, conversar com os figurões. Como quase sempre, sai com motivações funcionais, raramente aparece em público a lazer. Tem saudades de quando podia chamar sua amiga Grace para suas empreitadas (...) Combinou com Nancy uma visita aos estúdios, da qual Patrícia ainda não sabe, assim como só Patrícia sabe, dos sete, que vão visitar a diva. Belo cenário para uma teoria conspiratória.

Vêem um set de filmagem montado, sempre há algum em New York. Este é um comercial de sapatos femininos, estrelado por Dovima. Ainda atrai atenção, mas (...) a maioria passa, olha e segue caminho. Matthew acompanha os sete, para evitar que tenham problemas antes que seu pai chegue. Fazem um belo turismo pela cidade, com contos e histórias de cada local. A Broadway enche os olhos dos garotos...

- É um dos lugares que mais freqüento. Deixo aqui boa parte de meus vencimentos, mas não me arrependo. É cultura, entendem? O que eu compro aqui, nenhum ladrão é capaz de levar.

- Sua philosophia faz sentido, está em sintonia com a nossa – diz Renata.

Os dois conversam animadamente, enquanto os outros seis fazem a típica cara de cinismo dos sunshadowers (...) cochicham e começam a cantar, em voz baixa...

- I crossed all the universe for give my missed star. The pines in my hart, is from the sad journey, dear...

Richard não quer que a brasileirinha tenha envolvimentos antes da hora, ainda mais com um homem (...) quase desconhecido, mas é plenamente a favor de que os seis tenham experiências que lhes façam diferença, o que inclui o amor. E todo mundo vê nas caras dos dois que tem coisa bonita no ar! Não adianta negarem. Patrícia se encarrega de dar o noticiário por um telephone público, desta vez com quatro pitaqueiros fazendo algazarra ao seu redor...

- Sim, senhor e senhora Rodrigues Ribeiro Rocha...

- Deixa de firula e chame logo de “Three R” – provoca Enzo.

- Mamãe, estou em New York – grita Robert.

- Moça, sai logo dessa cabine, quero telephonar – continua Rebeca.

- Ei, parem de fazer bagunça! O cara é gente boa, nos acolheu... Sim, é o repórter que cobriu o nosso incidente... O pai dele (...) foi salvo de um bombardeio na guerra.

- Que coisa boa! Eu sei o que sua mãe nos contou, em detalhes, sobre o que toda Sunshadow sofreu com as perdas no conflito... Hein??? Meu pai?!!

- Sim, foi o seu pai que salvou o pai dele, quando todo mundo achava que não tinha mais salvação. Agora os dois estão conversando, e eu acho que estão se interessando um pelo outro...

Agora a coisa complica. Renato pula do sofá, quando a esposa transmite a informação e toma o aparelho, exigindo explicações. Manda chamar o jovem adulto, para ter uma conversa séria com ele. Vão-se muitas moedas até o brasileiro do clã dos Queixada se dar parcialmente por satisfeito (...) Alega que não imaginava que algo assim poderia acontecer, que a filha, além de muito jovem, é demasiadamente imatura para essas coisas. Eduarda pega o phone antes que ele tente convencê-los de que Renata ainda não trocou as fraldas hoje. Simplesmente dá um ultimato a Richard, quer que Matthew se faça conhecer por eles antes de qualquer coisa acontecer.

A tarde cai e o ônibus sai. Matthew os leva para o albergue da entidade social, à qual doarão os mantimentos de que não vão precisar. As câmeras trabalham muito durante o percurso, principalmente quando chegam à Brooklin Bridge. Tudo lindo, tudo muito bem construído, mas o cenário muda aos poucos, quando se aproximam da entidade. Já sabiam desses guetos, mas ao vivo é um choque ver tanta carência, quando a poucas milhas há uma circulação tão pujante de riquezas, que sequer sentiriam o peso de incluir esses lugares em seu itinerário. Renata, mais familiarizada com a caridade, se entrosa rapidamente e descobre outros espíritas (...) Logo está no comando da distribuição das doações, facilmente convence os outros a ficarem para ajudar.

Richard chora discretamente. Vê pessoas chegando curvadas, sem perspectivas, muitas delas apenas tiveram marés sucessivas de má sorte, outras foram deliberadamente enganadas, outras ainda abandonadas pela família, como alguns idosos doentes. Patrícia se orgulha de seus parceiros, mas não se furta o direito à indignação. Termina de secar as lágrimas de seu enorme pai e vai directo ao assunto...

- Só uma pergunta. O registro do Dead Train foi concluído?

- Sim, foi.

Era só o que queria ouvir. Termina de ajudar os outros e os chama para o ônibus...

- Essa gente precisa de muito mais do que glicose e proteínas. O Dead Train vai estrear hoje. Aqui, agora, para este público. Começaremos com Forgotten.

- Eeeeeeeeeeeeeehaaaaaaaaaaaa!!!!!!

Rebeca pula de alegria, estava ficando impaciente para começar a cantar. Descem os instrumentos (...) montam tudo diante do público surpreso e começam. Rebeca na bateria, Ronald no baixo, Renata com um teclado, Robert no baixo, Enzo na guitarra e Patrícia com um pandeiro. Todos são vocais. One, two, three...

- Every times they say “the progress ill on”. Every time this people is walking alone. No matter the speeches that they repeat. So many cities continues dying away, and your people still abandoned stay.

Every time walking alone, every nation still ignores. All the lies what we learn, about the nation and about us.

The starvation is knoking in the next door, but you don’t listen by the television, what show any clowns like was a mirror...

Conseguem arrancar lágrimas daquelas pessoas, tanto quanto elas arrancaram de Richard. Gente que passa em frente fica curiosa com a música e decide entrar, tanto necessitados quanto o povo alienado e de bom coração que povoa a América. Eles também choram, inclusive de remorsos. Matthew tem um furo e photographa o máximo que pode (...) uma parcela grande das poses evidencia Renata. Pega filmes emprestados para registrar a estréia daquela turma que não sabia que era de cantores (...) Liga para a redação, explica, pede ao editor que ouça, ele gosta e manda que continue, embora o mundo artístico não seja sua especialidade. Rebeca toca com vontade, como se batesse em quem tornou a canção necessária. Ao fim da canção, o público de cerca de mil pessoas aplaude de pé. Patrícia não perde a chance...

- Boa noite, senhoras e senhores. Sejam bem-vindos. Este é o show de estréia da banda Dead Train, um show beneficente, como podem ver. É gratuito, mas se quiserem pagar ingressos na forma de donativos, ficaremos imensamente gratos. Eu sou Patty Petty, à minha esquerda temos Enzo e Renata, à minha direita, Conde Ronald e Bobby, logo atrás está a nossa mascotinha linda, Hot Rebeca.

- YEARRRR!!!

A baixinha faz a fuzarca na bateria, e Patrícia continua com a apresentação. Chama a próxima música e o show continua. The Dead Train está nos trilhos.
A notícia se espalha por New Jersey e logo a entidade fica abarrotada, tanto de gente quanto de donativos. Ninguém sabe quem são aqueles seis, mas gostam do que eles cantam e de sua iniciativa. Alguns boêmios nova-iorquinos, que buscavam algum lugar deprimente para suas elucubrações intelectuais, também se rendem e deixam para lamentar a vida em outra noite.

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