O que adoça também pode amargar. Ter o respeito dos temidos não assegura o respeito dos temerosos. A estação 25 traz um balde de água fria para quem pensa que o estrelato é um chão aveludado. Mantenham seus pés no chão, porque nossa viagem está só no começo.
Vão a uma avenida movimentada, experimentar
ao vivo a reação do público. Um dia terão que enfrentar isso, então o fazem em
uma cidade acostumada a encontrar estrelas. Nos primeiros cinco minutos, tudo
normal; autógraphos, photographias, tietagem e promessas de que logo gravam o
disco. Ouvem algumas de suas canções pelo rádio, as emissoras conseguiram
permissão para reproduzir o que eles cantaram no talk show.
Ouvem um estrondo de motores se aproximando,
as pessoas ficam apreensivas e os garotos se viram para trás, quando Ronald
reconhece alguém...
- Eu não acredito...
- E aí, conde! Lembra da gente?
- Chuck, seu safado! Quanto tempo!
- Ele lembra, galera!!!
Se abraçam e os outros motoqueiros fazem um
montinho (...) São os mesmos que ele
encontrou em uma das viagens de preparação da banda. Ronald chama os populares
e os amigos, e apresenta a turma liderada por veteranos de guerra. Os paparazzi
adoram, mas mantém distâncias seguras (...) Patrícia usa um telephone público, o que também rende photos, e
avisa o pai a respeito. Quando os adultos chegam, os seis já ganharam blusões
dos Street Warriors e um deles grita...
- Meu Deus, eu não acredito! Jose De Lane!
Era só para eles treinarem o contacto com o
público, mas as amizades que fizeram ainda na incubação, estão rendendo frutos
muito doces. A diva já fez o papel de uma motoqueira solitária errante. Foi
aceitando papéis que as veteranas recusavam que ela fez sua fama, dando carisma
a personagens que tinham tudo para ser uma bomba. Ronald em especial (...) ganhou o respeito de um tipo de gente que as
pessoas normalmente temem e evitam, ao ser receptivo ao reencontro. Os
motoqueiros avisaram, por tabela também aos cidadãos, que há muitos bandidos se
aproveitando da agilidade de um grupo sobre motocicletas, para praticar crimes
dignos das atrocidades da guerra, que não acreditem em tudo o que lerem e
ouvirem, muito menos dos advogados. Os rebeldes são convidados para uma visita
à casa de Josephine. Dezesseis motocicletas saem em comboio, atrás de dois Cadillacs
e um Rolls Royce. Pelo rádio eles ouvem a notícia do evento. Quando chegam à
mansão, há uma horda de repórteres especializados para cobrir a visita (...) e o fim de semana ganha um brilho especial;
brilho de Harley Davidson e jaquetas de couro. Rebeca já avisa que vai querer
uma motocicleta preta enorme, toda customizada, quando tiver idade para
dirigir.
O retorno a Sunshadow é festivo, mas todos
querem descanso. Nunca pensaram que a fama daria tanto trabalho. Com eles vão
Matthew e um representante dos estúdios, com documentação pronta para os outros
pais assinarem. Rebeca e Robert mal podem esperar para contar a surpresa aos pais.
Esperam deixar a vida de celebridade para
trás por alguns dias, embora Josephine tenha alertado que agora é que a
experimentarão de verdade, para o bem e para o mal, na escola. Terão que se
esforçar mais do que os outros, que se comportar melhor do que os outros, que
fazer por merecer mais do que os outros, para que seu desempenho escolar não
seja posto sob suspeita.
É uma choradeira desatada (...) Norma e Robert choram abraçados aos filhos. Nunca imaginariam que dois
garotos dariam a seus pais uma casa, com o primeiro cachê. Sabem aquela
sensação de pais que percebem que foram bem sucedidos na criação dos rebentos?
É o alívio que os dois sentem ainda longe da velhice (...) Se mudam no mesmo dia, com mobília também nova.
&
De volta à rotina, ou quase. Os seis chegam
ao colégio como se fossem agentes uniformizados do governo, todo mundo olha,
aponta, comenta, mas ninguém chega perto. O rádio de um La Sale coupé verde toca
“Bla-bla-band”, uma das (...) que mais lhes
rendem desafetos, porque muita gente famosa vestiu a carapuça, não só cantores.
Vão para a sala de aula, dar seguimento à vida civil.
A sala de aula fica repleta de burburinhos,
Helen Ross precisa intervir a todo momento, mas sabe quem são o motivo. A
solução que encontra é fazer grupos (...) cada
integrante da banda em um, para evitar que acreditem em favorecimentos. Dá
resultados, mas não todos os que ela esperava. Renata e Ronald experimentaram
uma pequena e cruel hostilidade subliminar, como se ela ser estrangeira e ele
ser negro fossem deméritos para a fama que conquistaram. Só Rebeca ficou mais
ou menos tranqüila, porque rosnou na primeira tentativa de hostilidade...
- Sem ofensas, mas vocês já são famosos, o
que estão faz...
- Grrrrrrr!!!!
E o colega se calou instantaneamente,
engolindo seco.
Não houve prejuízos para o resultado
acadêmico, pelo contrário, as notas ficaram um pouco acima da média, mas a
reação da turma a preocupou. Helen chama, no intervalo, as professoras mães de
duas deles...
- Eu não acredito no que estou ouvindo...
- Ter inveja é aceitável, mas hostilizar a
Renata por causa disso?!!
- Ouçam, eu fiz esse teste justamente porque
conheço a biographia de Jose De Lane, sei como ela sofreu na escola até a
conclusão do doutorado. Decidi fazer um teste para observar os efeitos em
situação controlada (...) a maioria foi
hostil. Eu temo que eles não possam continuar estudando aqui, pelo menos não do
jeito que as coisas estão.
Eduarda e Nancy se olham. A americana vai
avisar Josephine do ocorrido, mas de resto não sabe o que fazer, além de
endurecer em sala de aula (...) Lá fora, os seis
recebem a solidariedade dos poucos colegas que não se deixaram dominar pelo
despeito, mas estes acabam sendo taxados de aduladores. Ninguém está engolindo
que a turma de Vai Quem Quer tenha conseguido tanto prestígio e sucesso, que
seja amadrinhada pela diva de milhões e musa de gerações, que já seja amiga da
elite do cinema americano, que já tenha mais para contar aos netos do que seus
avôs têm para lhes contar; que tenha levado a termo o sonho que acalenta, em
vez de ser o que os outros esperavam que fosse e se contentasse com a vida
medíocre da sala de jantar com televisão.
O director Lawson chama as mães (...) Se desculpa, em primeiro lugar, pedindo que não saiam do colégio e
não tirem dele seus filhos, por causa do mau comportamento dos colegas. Elas
sabem que há um certo interesse, que o colégio tem a ganhar com seis
celebridades em seu corpo discente, mas Nancy o tranqüiliza...
- A culpa não é do colégio, Mr. Lawson. É dos
pais de delegam à escola o trabalho que é deles, o de educar seus filhos. O que
eles fizeram na aula da Helen, foi o que aprenderam em casa.
Nem desconfiando disso, Richard testa as
máquinas-ferramenta que encomendou (...) Fischer já tem contactos com corredores profissionais de
arrancada. De quebra, poderá fabricar muitas peças que hoje já são raras, dando
sobrevida aos muitos carros das décadas de dez e vinte, que ainda circulam pela
região graças aos seus préstimos; inclusive, recentemente, o Ford A Phaeton 1929
dos Tamasauskas.
Reunião de emergência na casa de Patrícia.
Josephine já foi avisada e Richard está furioso, mas não mais indignado do que
os nobres e os brasileiros. Matthew só saberá quando voltar de New York, onde
está ajudando na próxima edição da revista (...) Tratam de acariciar seus rebentos (...) Por agora, apenas orientam os seis a permanecerem juntos e só
darem conversa aos colegas que os respeitaram, qualquer coisa mais que façam
agora, sem motivação prévia, será carniça para os abutres da imprensa.
Richard chama a filha para ajudá-lo na
peça-piloto do maquinário novo. Eles vestem os aventais, luvas e óculos, ela
prende o cabelo, ele pega um pesado bloco de liga de alumínio extrusado e a
prende em uma plataforma móvel do torno, que tem na placa uma enorme serra-copo (...) A tarde inteira é dedicada à usinagem grossa do equipamento. Patrícia
pega seu paquímetro e ajuda a conferir as medidas. Atuar como mecânica ajuda a
esquecer, ao menos um pouco, o desgosto que ser artista lhe deu. Vão à
fresadora, para adiantar o serviço de amanhã (...) À tarde fará os testes dinâmicos.
Funcionou, a moçoila dormiu bem após o
trabalho pesado. Claro que a trilha sonora do trenzinho ajuda muito. A mesma
sorte não tem Renata, que ainda tem na cabeça a insinuação de que ela transou
para conseguir a fama. Foi tudo muito sutil, tanto quanto cruel. Ronald está
decidido a virar a página, selecionar naquele ambiente quem merece ser seu
amigo. Enzo nunca sentiu seu sangue calabrês ferver, até aquele momento. Robert
está dengando a irmã, a flagrou treinando com facas ao alvo (...) Entre os seis impera a decisão de usar o
trabalho artístico para ajudar a virar esta página.
Krumb liga para Richard. O agente duplo tinha
sido cercado em Praga e fez um refém, que para seu azar era um terrorista
suicida (...) poupando os agentes da CIA e KGB de sujarem suas
mãos (...) Irônico como após assassinar quase cem
reféns, foi morto justo pelo último deles. Aproveita para perguntar como vão os
garotos, e ele conta do incidente no colégio...
- Eu lamento muito, Richard! Muito mesmo, mas
os garotos vão ter que aprender a lidar com isso, terão que amadurecer
depressa.
- Eu sei. O mais chato foi com Ronald e
Renata, a menina mais doce que eu já conheci na vida!
- Começo a te dar razão nos seus
prognósticos. Uma época negra espera pela América.
- Quem mais pensa assim?
- Fora aqueles idiotas alienados do
congresso? Todo mundo.
- Idiotas eleitos por outros, sejamos
sinceros.
- É, por nós. Eles não saem do nada (...) saem do nosso meio mesmo.
- Mas quando vejo as alternativas... Se eu
fosse teísta daria graças a Deus pelo que temos.
- Rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá... Eu
também!
A conversa consegue
descontrair o mecânico.
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