sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XXIX

    O sucesso também amedronta. A estação 29 traz à bordo a reação dos prudentes, porque os imprudentes se deixam dominar fácil. Pés no chão e boa viagem, o trem vai partir.


É noite de estréia. Os garotos se encontram na suíte dos adultos, para algumas recomendações de última (...) Descem ao salão do hotel e vão para o ônibus, ansiosos por começar a cantar. Vão só com o motor eléctrico (...) desejam um pouco de silêncio, para afinarem os ouvidos (...) O silêncio pega alguns fãs de surpresa, quando entram na garagem do estádio. Lá dentro o ônibus é plugado em uma tomada para recarregar as baterias sem precisar ligar o motor diesel. Com calefação, os garotos se livram dos agasalhos e vão ao palco. As moças combinaram de usar calças de malha de lã e blusas soltas, para quebrar um pouco a cara de inverno que todo mundo faz, ao entrar em um ambiente aquecido.

Fazem uma última afinação e aguardam a chamada. O mestre de cerimônia os anuncia e eles entram serelepes no palco. Cabe a Enzo (...) iniciar o show. Ronald faz o solo de baixo, os cinco começam com um coral e ele canta...

- Learn guy, you have a life for live in your way, don’t take your doom in another hands, for don't be end like me. Dead train in the rain...

O público ovaciona e o rapaz ganha confiança aos poucos. Mais três músicas e fazem um breve intervalo. Patrícia o aborda...

- Eu não disse?

- É demais! As pessoas aplaudindo e gritando, acompanhando a música...

- Passou o medo?

- Passou. Totalmente!

Tomam água, vão ao banheiro, se confraternizam e voltam para o palco. Interagem um pouco com a multidão, acatam algumas sugestões e cantam o que lhes pedem. Na despedida, tocam a canção que diz o que sentem agora...

- Back to Sunshadow now, were your home stand by you. Back to Sunshadow again, were your people stand by you...

Voltam felizes para o hotel. Cansados, com os membros doendo de tanto tocar e correr pelo palco, mas voltam aliviados. Os sorrisos são escancarados, a sensação de dever cumprido é generalizada e a vontade de voltar para casa é enorme. Eles estão felizes, o público está feliz e os patrocinadores estão felizes (...) o ônibus rodando só com baterias, silente, o sono e o cansaço abatem os seis aos poucos. Chegam ao hotel se amparando uns aos outros (...) O ônibus fica na garagem de carga e descarga, recarregando as baterias e aquecendo o motor, para facilitar a partida na manhã seguinte.

Tomam uma ducha morna, um lanche leve e quente e vão para seus aposentos. A cena é do tipo que os paparazzi se matariam para poderem registrar, as garotas usam apenas baby dolls para irem dormir. Não desfilam pela suíte, apenas seguem Renata em sua prece e vão para suas camas, que amanhã bem cedo voltam para Sunshadow.

&

Chegam a revista e o almanaque (...) A neve está muito alta (...) então ligam, comentam e voltam à leitura. A capa da revista é o sexteto com sua madrinha sentada ao centro. Dez páginas ricamente ilustradas foram dedicadas ao primeiro furo que a revista teve em muitos anos, com uma ficha resumida sobre cada integrante, na última página da matéria. As duas primeiras são um pôster colorido, com a chamada “Dead Train; The new children of Jose De Lane”. Exemplares foram enviados para Goiânia (...) precisarão de tradução (...) Mesmo assim eles mostram pra todo mundo a prova cabal de que a “Renatinha virou artista famosa”.

O almanaque é uma história à parte. Tem informações e actividades relacionadas à banda, mas há muita informação científica e de conhecimentos gerais nas mais de cem páginas, com jogos, passatempos e muito entretenimento, tudo apresentado de modo que qualquer cidadão alphabetizado consegue compreender (...) há mensagens cifradas que só os agentes devidamente treinados e cientes do assunto, conseguem compreender, tanto na leitura quanto nos passatempos e ilustrações artísticas. Tudo idealizado e feito sob a rígida supervisão de Richard. Por isso haverá “distribuição de cortesia” nos órgãos públicos, especialmente os envolvidos em pesquisas e segurança nacional. Os agentes ainda são encorajados a colecionar os futuros números, que por força de segurança nacional, se manterão sempre interessantes ao leitor.

Enzo e Ronald começam a pensar em um problema que não tinham aventado. Suas irmãs Marina, Victória e Lucille. Elas estão absolutamente encantadas com a fama e o prestígio dos irmãos, temem que se deslumbrem e causem problemas (...) Decidem falar com seus pais, quase ao mesmo tempo, deixando claras suas preocupações e o que já souberam nos bastidores do jet set. Assim que as aulas voltarem, querem falar com as professoras delas (...) combinam de ligar para Patrícia...

- Enzo, meu caro, vocês não estão se precipitando?

- Não diria isso, se visse minhas irmãs falando de mim para os amigos... É como se o sucesso fosse delas. A Lucille ainda teve uma educação mais aristocrática, ela pelo menos sabe ser mais discreta, mas não Marina e Victória.

- Ok, honey, me convenceu; realmente temos um problema, mas não é tão terrível assim. Ainda estamos no começo, elas ainda não saíram falando de suas vidas íntimas, não se fizeram valer da fama de vocês, ainda é fácil consertar.

- Mas é justo o agravamento que queremos evitar!

- E evitaremos. Confie em sua amiga, resolveremos isso antes que elas se dêem conta. Agora vá aproveitar a família, eu ligarei para Ronald e falarei com ele também.

O faz. Com ele conversa mais longamente, o fidalgo é mais minucioso no trato familiar. Ela medita por alguns segundos e pede para falar com as três, mas só quando as festas de fim de ano tiverem passado (...) Decide não incomodar Josephine com isso, ao menos não até o ano novo, ela está entretida com sua família.

Nancy termina de contabilizar os ganhos da filha (...) É bem mais do que ela e Richard colocam na casa no mesmo espaço de tempo. Mesmo dedicando metade à poupança, é muito dinheiro para uma menina de quinze anos. Pensa na montanha de coisas que há para ela comprar (...) já deve haver gente pensando em como tirar o suado dinheiro dela. Se vira sutilmente para a esquerda, sentindo a presença de alguém e leva um susto ao ver o rosto do marido, com aquela cara sem-vergonha a poucos centímetros...

- Aaaaah!

- Assustei você?

- Não, imagina! Só estou treinando para o remake de Psicose! Claro que me assustou, maluco!

- Oh, so cute! O que te aflige, cara esposa?

- Baby, you’re right?

- A criança está bem, não se preocupe.

- Nunca diga isso a uma mãe!

- E por falar nisso, é a Patty que te preocupa?

- Mais ou menos, louco! Fiz a contabilidade dela... Já está ganhando muito mais do que nós dois juntos. É muito dinheiro para uma menina!

- Concordo... Infelizmente é uma prova de fogo que ela terá que enfrentar sem a nossa interferência. Claro que entre dar vinte dólares de mesada, e ela receber dois mil de uma só vez, há uma distância gigantesca... Pelo menos os vinte dólares semanais a gente economiza.

- Não brinca. Viu como está ficando independente? Se der na telha, ela aparece aqui com um carro! Sei lá, um Porsche...

Patrícia fica na escada, incógnita(...) em parte concorda. Ela sabe que tem muita gente que se deslumbra (...) O temor da mãe não é infundado, mas isso está totalmente fora de cogitação, até porque ela não tem idade para dirigir. Desce descalça e silente à sala, chega de mansinho atrás da mãe e a abraça, já sabendo o que vem depois, é puxada por torsão para o sofá e ganha cócegas.

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