terça-feira, 25 de setembro de 2018

Deas Train in the rain XL

    A fragilidade erige a fortaleza. A estação 40 destrincha um pouco da estrutura das personalidades, um campo minado. Tenham tato e embarquem, o trem vai partir.


De volta ao lar. Patrícia fica o domingo inteiro em casa, sendo paparicada e lendo as cartas dos fãs mentalmente aceitáveis (...) Cada um voltou de Los Angeles com um malote para responder, inclusive Matthew e Richard; o dele a esposa lê primeiro. A garota recebe algumas propostas de casamento, mas (...) A maioria é de gente pedindo photographias, dicas de beleza e informações sobre sua intimidade. Mas uma carta chama sua atenção, enviada de um hospital...

- Jose, é Patrícia. Pode averiguar uma informação para mim, por gentileza?

Ela confirma (...) Patrícia começa a chorar, alertando os pais. Lhes entrega a carta e Nancy lê em voz alta...

- “Oi, Patty Petty! Como vai? Meu nome é Melinda Gonzáles, tenho nove anos e sou sua fã. Eu estou escrevendo do hospital onde moro desde os seis anos. Eu tenho leucemia e tomo muitos remédios todos os dias, que me dão dor no corpo inteiro. Faz uns meses que a dor ficou menor, quando deixaram minha mãe trazer um rádio pro meu quarto. Quando ela ligou pela primeira vez, tocou Forgotten (...) Eu pedi pra ouvir mais e ela trouxe uma vitrola (...) Todos os dias eu me distraio da dor, ouvindo as músicas de vocês. Eu quase danço, mas só consigo mexer os braços. Queria poder sair da cama e dançar pelo quarto, mas tiveram que tirar minhas pernas, falaram que já estavam mortas. Mas não me importa mais, eu sei que vou terminar assim também. Só queria que a minha mãe parasse de chorar e fingir que está com cisco no olho, cisco não dá soluço! Um dia ela falou que soluçou porque tomou muito refrigerante, mas isso dá é arroto! Patty, fala com a minha mãe pra ela parar de chorar. Com carinho, Melinda.” Meu Deus...

- Vai responder?

- Não, não vou responder. Eu vou para Minneapolis, ver essa menina. Se quiserem, podem me acompanhar.

Josephine (...) sabe que tentar demover a pupila seria um tiro no pé, então providencia uma visita como deve ser.

Descem diante de um público surpreso. Matthew precede Richard, depois vêm Patrícia, Renata, Rebeca, Ronald, Robert e Enzo; todos de terno, alinhados, sorridentes e caminhando firme. Entram no hospital e a garota vai ao balcão, saber onde fica o quarto de Melinda. Vão o mais discretamente possível, mas chamam atenções e abrem bocas por toda a extensão do corredor. A figura de Patrícia (...) impressiona. Chegam ao quarto...

- Senhora Gonzáles, podemos entrar?

- Podem, eu já... Vigem Santa!!!

- Você veio!!! Você veio!!!

A menina se agita na cama, com a aproximação dos seis, até esquece o gosto amargo do almoço de hoje...

- Olá. Vim saber que conversa é essa de soluçar por causa de refrigerante.

Patrícia abraça a menina franzina e combalida (...) Está calva, com manchas pelo corpo, mas não reclama (...) Ganha uns afagos de sua musa analgésica e até algumas músicas em voz baixa. O médico da menina chega, vê a visita com desconfiança e Patrícia vai a ele...

- Bem, a conta do hospital já está bem alta, se é o que quer saber. Eles disseram que vão vender o táxi do pai dela para...

- Eu assumo. Vamos acertar.

Ela o olha nos olhos, com severidade e o persuade (...) ela chama o pai e paga a conta. Ganhou milhões nestes meses, não aparenta o que tem porque não quer que apareça, também porque os seis estão assustados com a rapidez com que enriqueceram...

- Mandem-nos a fatura, de hoje em diante.

Diz e volta para o quarto, onde a mexicana se distrai de suas tristezas (...) O médico corre até ela...

- Eu... Obrigado! Eu não sei como agradecer. Não é todo dia que alguém faz um acto de caridade assim.

- Cuide dela. Não poupe recursos, eu só peço isso.

Entra no quarto ouvindo risos de criança (...) Rebeca está matando, no bom sentido, as duas de tanto rir. Lá fora a imprensa se amontoa ao redor de Matthew, para saber o que os seis estão fazendo naquele hospital...

- Eles estão com a menina, agora. Por ela, vocês poderiam entrar, seria até bom para chamar atenção para essa doença terrível, mas trata-se de um hospital, vocês entendem. Mas se quiserem entrevistar a família, depois, eu posso dar o endereço e telephone, para vocês tentarem.

Aceitam. Ele entra, fala com Richard e volta com o endereço em mãos. Um homem em um táxi AMC Hambler 1960 chega. As feições e o tom de canela da pele denunciam sua origem, ele foi pedir um pouco mais de prazo para vender o carro (...) desata a chorar quando sabe. Vai imediatamente ao quarto da filha e encontra as visitas a entretendo. Só por ele a esposa sabe da caridade e também chora. Os outros garotos congratulam a amiga, especialmente Renata. Mesmo ainda cansados pela jornada frenética de trabalho, se sentem dispostos. Patrícia se sente em paz. Dão uma olhada nos quartos próximos, ver se alguém mais precisa de uma dose de alegria a ser ministrada via intracordial.

&

Os jornais do dia seguinte mostram na primeira página os integrantes do Dead Train saindo do hospital. Eles nunca tinham visto Patrícia tão altiva. Os outros a olhavam com uma admiração clara, quase devocional. Ao paparazzo que perguntou (...) a resposta foi “É para isso que o dinheiro serve”. Lê também uma matéria sobre a comunidade hispânica nos Estados Unidos, que (...) esperava um gancho para colocar nas bancas. Se a população em geral se comove, a mãe de Laura se enfurece por eles terem ajudado uma “sub-raça” a permanecer em solo americano.

Patrícia pede aconselhamento à amiga, quer uma resposta directa, olhando nos olhos, por isso fala pessoalmente...

- Rê, a Melinda tem mesmo que morrer? Você sabe se ela precisa mesmo morrer?

- Ela pediu por isso. Ela veio porque quis, para os pais pagarem por atrocidades que fizeram.

- Ela é um castigo, então?

- Não, ela é a cura. Me disseram que pela dor da perda da filha, eles deixarão de vez as tendências destrutivas que trouxeram.

- Quando?

- Breve. Ela já está concluindo o que veio fazer.

- I can see the sadness cloud in your eyes. I can understand you need cry your pain. But after my soul go on don’t cling to suffering please. The rain of your eyes is for only for clean the sadness. Every angels some day back to heaven, every people some time go far away from us for ever. Every dreams have start, midle and some day die. It’s the live, no good, no bad, is only the life, is only we have...

Ela solta a canção que lhe veio pela manhã e Renata chora (...) A música é cantada diante de Zigfrida, na primeira sessão fora de Los Angeles. Primeiramente ela fica encantada, mas também fica assustada, pois confirma a tristeza bem disfarçada (...) A canção foi intitulada “Resignation”, ali mesmo, durante a sessão, discutida entre os amigos...

- Que alegria triste, Patty! Você demonstra um sentimento tão bonito, mas também tão perigoso para uma menina!

- Por quê? Tem algum traço mórbido nisso?

- Nej, kära... Não, querida. O problema é que você canta o amor puro, o que renuncia a si, que se dá sem pedir nada em troca, uma coisa que o mundo ocidental aprendeu a louvar nas igrejas, mas rejeita com agressividade fora delas. Eu gostaria de saber com quem você aprendeu esse tipo de amor, porque eu tentei aprender e falhei.

- Acho que foi com minha avó. Eu recordo ainda hoje de uma das últimas conversas que tivemos, poucos dias antes de ela ir embora.

Ela conta, nem sempre segurando os prantos (...) O lugar, o clima, os tons de voz, as expressões faciais de Naomi, trechos de conversas anteriores, até do diário da avó. A riqueza de detalhes faz a sueca imaginar que Patrícia sofre de forte saudosismo, que ainda estaria vivendo afetivamente no início dos anos cinqüenta. Não verbaliza, mas solta comentários de isca, como “Você gosta dessa época!” sempre obtendo positivas da paciente.

Fala aos pais dos garotos, primeiro parabenizando pela boa educação que lhes deram (...) nenhum deles preocupa; nenhum, exceto Patrícia. É franca, apesar de saber que vai assustar, diz que já viu vários quadros parecidos e quase todos culminaram em suicídio...

- O que não me parece ser o caso, considerando todo o contexto, mas não posso desprezar minha experiência. Me digam, vocês dois, o que normalmente a acalma?

Pensam por alguns segundos. Enumeram (...) o trabalho na oficina, um carinho prolongado, a própria música e o trem eléctrico (...) Ela pede para ver esse brinquedo do qual nunca lhe falaram. Sobem com ela ao quarto, enquanto contam a história, e ela monta as peças. Os trilhos nas paredes, como se fossem estantes de duas pistas, em vários níveis, impressiona. Nancy liga o brinquedo, para Zigfrida ver...

- É melhor do que qualquer droga sintética. Cinco minutos ouvindo esse trenzinho, e ela dorme tranqüila.

- É bem musical... Ela ouve todas as noites?

- Não, só quando está com a cabeça muito cheia (...) Ou quanto está triste mesmo.

- Teria que passar uma semana com vocês, para saber tudo! É uma surpresa atrás da outra!

Na oficina, Patrícia mostra aos amigos o Cadillac Fletwood Imperial V16 1931 que estava abandonado (...) tomou posse e começou a restaurá-lo. Não está ruim, pelo contrário, só sofre pelos quase trinta anos de abandono ao relento, o interior está quase intacto...

- Meu pai disse que era de um magnata que cometeu suicídio, quando faliu. Ninguém quis arrematar o carro e ele foi abandonado.

- Cara, que carro louco! Vai fazer um hot rod?

- Não, baby, eu vou deixar ele do jeito que saiu da fábrica, em sete de Agosto de 1931. Vou precisar de algum tempo para conseguir os detalhes que foram subtraídos, quando estava à beira da estrada.

- Vai ter que levar a gente pra passear!

- Assim que estiver pronto, Rê! Até lá, já terei a carteira de motorista.

- Então é verdade! Você é mecânica mesmo!

A psicóloga fica pasma, vendo a garota de macacão, descendo o motor no cofre com a grua; gentilmente auxiliada pelos amigos, é claro. Richard se apressa em ajudar (...) para que o monstro de dezesseis bocas desça suavemente sobre seus encaixes. A própria dona do carro fixa o motor ao câmbio, que estava praticamente pronto (...) A habilidade da dupla é espantosa, juntos fazem o serviço de uma equipe inteira...

- Por hoje está bom. Obrigada, pai. Eu sou mais coisas do que você pensa, Frida. Basta que se faça necessário.

- Obstinada, já vi que é. Há quanto tempo esse... Desculpe, não sou uma grande conhecedora de automóveis... Um Cadillac?

A garota explica (...) A sueca não perde tempo e analisa a explanação. Percebe com clareza que a tristeza bem disfarçada é atenuada quando o assunto não é pessoal. Não tenta entender nomes complicados como carburador, trambulador ou virabrequim, se concentra na narrativa da paciente. Ela mostra o interior e o baú original, que ainda tem uma grade retrátil para levar mais um. A pintura verde e preta original também será mantida. Primeira conclusão: Patrícia se sente mais à vontade trabalhando do que vivendo, quando sente falta do abraço dos pais. É o que acontece, assim que (...) organiza a oficina...

- Patty, venha, quero averiguar uma coisa.

Ela vai e recebe os afagos da sueca. Se derrete toda e retribui, então Zigfrida sabe por que tanta gente faz fila para abraçar Patrícia. É uma sensação muito boa, ela retribui o carinho de forma magistral. Isso vicia! Os outros olham com os típicos e cínicos sorrisos de Sunshadow, Ronald não resiste...

- Mais uma súdita, Vossa Majestade?

- Desculpe, mas a banda está completa – diz Rebeca.

- Deixe seu currículo com nossa secretária. Nós ligamos para você – Robert entra no meio.

Ela volta à tarde para Los Angeles e (...) conversa longamente com Josephine (...) detalhes sobre o trenzinho e a relação forte que ainda tem com a falecida avó, recebem destaque. A diva ouve com o cenho franzido, com um misto de preocupação e encantamento (...) Solta um sorriso, olha a amiga com cara de “Você também se encantou com ela” e começa a rir. Pensa em apresentá-la a Grace, quando iniciarem as turnês internacionais.

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