sábado, 29 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XLIV

    Todo o ouro do mundo não é páreo para a morte. A estação 44 mostra o que acontece após um luto: a vida continua. Enxuguem suas lágrimas e subam, o trem não vai esperar.

Em uma cerimônia fúnebre militar, Richard deposita sobre o caixão a bandeira de Sunshadow, em nome dos mil cidadãos mortos na guerra. Ele e a família foram convidados (...) para fazer justiça ao luto de sua cidade, mas também para revelar um segredo que finalmente pode começar a ser divulgado (...) embora a CIA saiba que ninguém vai acreditar tão cedo na conversa. Nelson chama o mecânico para um canto, já agradecendo pela maravilha que o mini compressor fez por sua Zundapp...
- O homem que estamos sepultando hoje conheceu seu pai e seu avô. Chegou a lutar com eles (...) em uma missão secreta.
- Então eu posso considerar isso como um sepultamento deles também.
- Lembra-se daquela sua idéia de voltar a usar Hollywood para nossos propósitos? Sabe qual o verdadeiro nome do soldado que acabamos de enterrar?
- Não, peraí! Ele é Steve Rogers? O Capitão América é real?!!
- Tudo o que as revistas publicaram (...) aconteceu de verdade. As revistas eram na verdade, um relatório cifrado para Washington. Está na hora de você conhecer a verdade sobre os heróis das revistas, Brain, porque um dia você será um deles. A sua infância foi mais verdadeira do que você pensa, Richard, e o mundo é melhor do que as pessoas querem acreditar. Venha comigo.
Vai para uma sala com várias câmeras e televisores, onde é posto em contacto com Josephine, Grant e outros agentes que já têm ciência do caso. É tudo muito rápido (...) mas Patrícia desconfia assim mesmo...
- Olha, desta vez eu até posso contar, mas você não vai acreditar.
- Experimente.
- O soldado que foi enterrado hoje é Steve Rogers.
- Oh, claro... Suponho que aquela tenente chorosa seja Diana Prince. Não quer falar, não fala, não precisa curtir com a minha cara.
- But is true!
- Vejam! Lá em cima! Será um pássaro? Um avião? Não, é só meu pai me passando trote outra vez. Vamos pra casa.
Voltam para casa. Alguns oficiais (...) preferem que os segredos sejam guardados para sempre, mas o próprio Richard sempre diz “Não existe essa conversa de segredo, um dia todos sabem a verdade, e as conseqüências são tão mais amenas quanto mais cedo e mais preparada a população estiver”. Richard não alimenta heróis, nem mesmo seu pai e seu tio.
&
Melinda manda photographias do que pode ter sido seu último aniversário. Nancy abraça a filha por trás, para evitar que faça aquela cara de novo (...) Ela vê aos poucos a alegria do pós guerra se tornar uma euforia cega. Começa a ter saudades da época de criança, que nem faz muito tempo. Talvez tenha mais saudades é da inocência que tinha então, quando não sabia que o mundo era tão perverso como testemunhou nos últimos dois anos (...) Melinda nasceu pouco depois de começar a receber do mundo as doses de perversidade, é como se sua inocência estivesse, como ela, dando seus últimos suspiros (...) a tranqüilidade que tinha na primeira infância lhe faz muita falta...
- Honey?
- I’m good, mom. Estou bem.
- Você nunca está bem, quando faz essa cara.
- Tá muito séria?
- Psicoticamente séria. Até parece que quem está morrendo é você!
- De certa forma... De certa forma é sim. Eu me analiso também, percebi minhas mudanças nesses poucos anos... Estou acometida por um forte saudosismo.
A voz embarga várias vezes (...) Ela para de falar e suspira profundamente, põe a mão na testa e faz que vai sair, mas é detida pela mãe, então desiste de ser uma adulta amargurada e deita a cabeça no colo da genitora. As rugas na testa se desmancham lentamente, mas Nancy sabe que as de dentro ainda estão firmes. Mesmo o rosto da garota, apesar de desfranzido, continua severo.
Meia hora de brincadeiras na piscina, construída durante a turnê, ajuda a mudar a cara de Patrícia (...) a perspectiva de duas novas vidas a ajuda a esquecer o ocaso de uma, pelo menos por agora. Deborah olha da janela de seu quarto, pensando em tudo o que perdeu (...) Sente-se estúpida. Viu que a sobrinha que não conhecia revolucionou a cidade, mas não viu a revolução acontecer. As três semanas de retorno a Sunshadow não foram suficientes para se actualizar com tudo (...) lhe dói saber de seus dramas, e de não poder ajudar mais do que com suas massagens.
Mas a líder do Dead Train não é a única, todos os seis estão mudados, depois de tamanha demonstração de agressividade do mundo para consigo, mas nenhum deles mudou tanto quanto Silvia (...) A menina alegre, tagarela e expansiva parece ter ficado na saudade. Já parou de culpar Laura por cada folha de árvore que cai, mas a filha carinhosa de outrora está arredia, passou até a fechar a porta do quarto (...) Às vezes elas voltam a se abraçar, mas é mais por sentimento mútuo de culpa, do que pelo carinho transbordante que dominava a cena.
Irônico como a cidade que tiraram do esquecimento está pujante e feliz, enquanto eles não demonstram um décimo do vigor de há um mês. Renata termina de fazer uma leitura do Livro dos Médiuns, medita e liga para os outros. Convoca todos para uma reunião na casa de Patrícia (...) Pede que levem roupas de banho, sob a normal. Em quinze minutos estão todos em frente à placa amarela com a frase “Não posso impedir as pessoas de serem idiotas, mas posso fazer com que hesitem em colocar sua idiotice em prática” (...) ela diz para terem paciência, os leva para os fundos da casa, onde a moçoila ainda mima a mãe...
- Oi, gente. Algum problema?
- Sim, senhorita mártir, mas já vamos resolver. Muito bem, todo mundo tirando a roupa e pulando na água!
Agora eles entendem. Patrícia entende quando os cinco pulam na piscina e começam a sabotar sua cara jururu, arrancando gargalhadas sonoras.
&
Patrícia conversa com Zigfrida sobre Melinda. Fala do modo sereno e resignado com que ela encara a iminência do óbito (...) Mesmo com todo o mal estar que os efeitos colaterais do tratamento lhe impõe...
- Ela está te dando uma lição de vida, não é?
- Mais do que isso – diz com voz mais madura que de costume – ela está de mostrando como eu devo viver. Você é veterana na profissão, já deve ter visto uma penca de meninas mimadas, fúteis, que se desesperam por causa de uma briga com um garoto (...) sem nem terem idade para saber o que é um namoro.
- “Penca”? Você está comparando garotas a bananas!
- É uma expressão que a Rê trouxe do Brasil. Se diz penca ou cacho para algo que se tem aos montes, às vezes até banalizado de tão numeroso.
- Quantas vezes esteve com ela?
- Além daquela primeira visita, estive três vezes com os três. Ela sempre me recebe com um sorriso banguela... Ela perdeu os dentes por causa da medicação, sabia? Perdeu-os e sabe que isso não vai salvá-la, só adiar um pouco o desfecho.
- “Desfecho”. Medo de mais um luto?
- Depois da minha avó, só ela conseguiu me trazer esperanças no mundo... Que barulho é esse? Pai, que barulho...
- Sua mãe vai ter os bebês!
Diz e dispara com Nancy para a maternidade. Não é mais difícil do que se pode esperar de um parto de gêmeas, elas (...) enchem o hospital com seus choros de recém-nascidas. A primeira pessoa para quem Patrícia conta é Josephine, a segunda é Maria de las Dolores, que avisa a Melinda que há uma irmã da Patty Petty com o nome dela. A criança fica eufórica, mal cabendo em si. Se ainda tivesse as pernas, correria pelo hospital para espalhar a notícia.
Audrey e Melinda conhecem seu quartinho no mesmo dia (...) Logo os outros cinco vão com suas famílias, com Renata levando Eddie nos braços, Eduarda ainda precisa de amparo do marido após o parto de ontem.
Pouco mais de um mês, com a casa tão repleta de alegria que mal cabe em seu prédio, decidem do hospital se ligam ou não para ela...
- Ela tem que saber. Ela se responsabilizou pela menina, ela custeou tudo, até colocou seu prestígio para apoiar o tratamento dos outros doentes. Não são só eles que devem isso a ela, nós também devemos. Coragem, Phineas (...) eu estou ligando, mas você tem que falar... Está chamando. Coragem!
- Patty, é o doutor Blatter, como vai? É sobre a Melinda... Eu... Eu tenho que ser directo (...) o sofrimento dela finalmente acabou...
- Obrigada, doutor. Providencie tudo, depois me mande a conta. Muito obrigada pelo que fez pela minha irmã...
Ela desliga e olha sóbria para o nada. Faz a cara de mártir (...) Ela é forte, muito forte... Mas agora precisa desesperadamente do colo da mãe. Nancy vai avisá-la de uma tragédia horrorosa e a flagra lacrimejando, com o rosto se avermelhando rapidamente...
- Patty, mataram o presidente... Minha filha, o que houve?!!
- Mãe... A... Melinda... Ela morreu...
Deixa a cara de mulher séria, durona e dona de seu mundo, para desabar em um choro desesperado e escandaloso (...) O ídolo de milhões (...) com seus pouco mais de seis pés de altura, agora é só uma menininha (...) Por horas ela chora desatadamente, depois está dormindo nos braços da mãe. Ela liga para Josephine e avisa sobre o estado da filha.
Já recuperada, vê o pai constrangido, avisando que estão pedindo sua presença no funeral do presidente...
- Vá, pai, é essa a sua missão. A minha é com os pais da Melinda, eles não têm ninguém por eles na América. Amanhã eu choro no seu colo, tá?
Ele vai com o coração partido. Sabe que ela foi sincera, mas por isso mesmo sente um pouco de culpa.
Enquanto Richard tem uma honra triste (...) acabando por se tornar um ombro paterno para os americanos, Josephine e o Dead Train são os únicos presentes no sepultamento de Melinda Gonzáles. Para não chorar, Patrícia canta...
- It was once a caterpillar, that looked enchanted for a star. The caterpillar aways said “One day I ill be with you”. One day her dream is realized, she could finally fly and directing your spirit to heaven, she met with the Star Heart.
Fly, butterfly, your place is no more here. Fly, little angel, back to your true home.
Tank you for being in this world my little star. You lit my aching heart, showed me my pain was small. Today I’m better person for having know my little caterpillar.
Fly, butterfly, your place is no more here. Fly, little angel, back to your true home.
Ela canta sozinha, com uma voz bem mais madura (...) vez nem Josephine segura as lágrimas.
O tempo passa, as lágrimas também (...) Patrícia é flagrada amamentando as pequenas. Os adultos olham aquilo quase se desmanchando, porque a garota ainda tem o rosto arredondado e suave, apesar dos momentos de franzimento do cenho...
- Que bom saber que posso contar com essa ajuda! Poder te chamar e voltar a dormir, no meio da noite, vai fazer muito bem à minha cútis.
Ela não recusa. Se levanta pronta ao menor sinal de choro e vai atender as irmãs. Passa a ser comum (...) dividir as responsabilidades com a mãe. É comum vê-la por Sunshadow, levando as duas para passear, bem agasalhadas e juntinhas ao seu corpo, às vezes acompanhada de Renata, que cuida de Eddie com a mesma dedicação. Naomi facilitou a maternidade, quando Patrícia nasceu, agora é ela quem alivia a vida de Nancy. Infelizmente, férias propriamente ditas, os seis ainda demorarão a ter (...) há uma série de assuntos que exigem suas jovens mentes, como a gravação do segundo álbum e dos videoclipes de cada música...
- A gente pode aproveitar uma cena de um dos clipes para fazer a capa do disco.
- Boa, Bobby! Então teremos que fazer um projecto photográphico à altura...
Discutem os rumos da banda para o ano que vem, enquanto sua agente precisa negociar para que eles tenham tempo para respirar. Mais de cinqüenta pedidos de shows já estão sendo estudados, dois deles na Alemanha. Josephine encarregou Bart de conversar com as cidades muito próximas entre si, não quer que os garotos sejam consumidos pelo trabalho.
Apesar de não se apresentar à mídia há alguns meses, o Dead Train continua nela. A reabertura e ampliação da estação ferroviária, foi acompanhada de uma estrada paralela à principal, que leva à estradinha de acesso a Sunshadow. O fluxo de turistas já justificou a ampliação dos poucos estabelecimentos comerciais da cidade, mas trouxe junto a tietagem pirata dos paparazzi, que se encarregam de alimentar a indústria de notinhas de celebridades, enquanto Matthew cuida das notícias relevantes. Uma delas é a avalanche de provocações, que alguns artistas ciumentos e invejosos têm derramado nos jornais (...) Um paparazzo aborda Rebeca, sem a menor noção do perigo que corre, faz uma pergunta, ela faz cara de inocente e ele esclarece...
- Eles disseram exactamente isso?
- “Enquanto o trem descansa em paz, o Cool Boys faz a alegria dos fãs”, e o “The Special Boys” disse que conhece todos os pontos fracos de vocês.
- Cara, que dó de você! Ter que ganhar a vida escutando tanta merda deve ser triste! Olha, pra compensar, eu estou indo agora pra casa da Patty, a gente vai falar com o Matt sobre a campanha deste ano inteiro e até um pouco do próximo.
- Já estão trabalhando para o ano que vem?
- Nós nunca paramos de trabalhar. Nós somos empresários, não tiramos férias como todo mundo, só quando o serviço termina. E o deste calhamaço aqui vai até o fim do ano, no mínimo. Tenho que ir, Tchau.
Pelo menos tem uma notícia fresquinha para sua coluna, em vez de “Renata do Dead Train passeia pela praça do dead train”. Rebeca (...) teve umas dúvidas e quer ter tempo para esclarecê-las. Essa conversa de que o patrocinador vai fornecer as roupas, não lhe agrada (...) não vai usar o que não quiser. Ele poderia, por exemplo, fornecer roupas provocantes ou exóticas, só para chamar mais atenção do público do que a banda.
A discussão é tensa, com Rebeca ameaçando cantar pelada no palco, e eles sabem que ela é capaz disso, mas concordam em colocar uma cláusula que faculte os garotos de usar o considerarem inapropriado. Vão até o fim da tarde nessa reunião, que é findada com um buffet (...) quando gente de fora tenta interferir na rotina da banda, é o quase como xingar suas mães. Agora é com Josephine.
A diva gosta da atitude dos pupilos (...) Fizeram bem em esperar alguns anos até se lançarem, conseguiram amadurecer bastante. Bart consegue um acordo, mas eles pedem uma contrapartida, mais dez shows no decorrer do ano que vem. Eles sugerem que contractem logo Deborah, porque vão precisar dela. Tudo em sigilo (...) Os seis já estão calibrados para o ritmo de seu trabalho.

0 comentários: