quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XLII

        Aconteceu em Dallas. Deixar os outros em paz não assegura que não vão se voltar contra você, a estação 42 mostra a realidade da diplomacia. Embarquem com cuidado, o trem vai partir.


Texanos, esses exagerados! Quase cem mil pessoas lotam o autódromo, dezenas de trailers servem de lanchonetes, um caminhão com semirreboque foi transformado em loja de souvenires, heliportos provisórios desembarcam os fãs mais abonados, e a segurança não fica atrás (...) A frase no para-choque do caminhão-loja diz tudo: If is not biggest, is not texan. O semirreboque tem três eixos.

No camarote, gigantesco, alguns magnatas do petróleo com acesso livre abordam Richard sobre sua declarada simpatia pelos carros eléctricos, inclusive sobre as modificações que dizem ter feito no ônibus da banda. Ele explica que só os incompetentes têm que temer esses carros, porque o petróleo tem inúmeras outras utilidades, e a geração de energia é uma delas...

- Mas não é trocar seis por meia dúzia, amigo? Quer dizer, tirar o petróleo das ruas para colocar nos geradores?

- Não. Os motores dos geradores são muito mais eficientes (...) e instalações estacionárias permitem uma série de filtros e catalizadores grandes, frágeis e pesados, que são inviáveis até mesmo para uma locomotiva. Venham, vou fazer uns cálculos e vocês verão.

Fala e demonstra com autoridade, como eles podem lucrar quando os eléctricos começarem a proliferar pelas ruas, o que infelizmente não espera que aconteça antes de quarenta ou cinqüenta anos, por conta das limitações das baterias hoje disponíveis. Consegue acalmá-los (...) pela possibilidade de poderem continuar no mercado, quando a transição começar. Ele até sugere que eles, no momento oportuno, ganhem dinheiro fabricando insumos para esses carros, já que lidam com a matéria-prima necessária.

Os garotos aguardam serem chamados, meditativos (...) O mestre de cerimônias dá o sinal e eles vão para a entrada do palco de mãos dadas, encantando a equipe de apoio, que suspira com as histórias que Ronald contou sobre suas tradições. Rebeca já as olha torto, desconfiada. São chamados e o espetáculo começa pontualmente.

Enquanto eles levam o público ao delírio, Richard é novamente abordado pelos petroleiros. Desta vez eles vêm prestar solidariedade, por causa do drama de Patrícia. São todos pais, alguns até avôs de moças, não sabem se conseguiriam manter o aparente equilíbrio do mecânico (...)...

- Esse equilíbrio é só aparente, meus amigos, é para não deixar minha filha ainda mais preocupada. Ela já tem problemas demais para lidar.

- Entendo, é louvável de sua parte. Mas, sem ofensas, essa história da sua irmã...

- O verme que a prendeu naquela vida está recebendo o que merece. O que está assediando Patrícia (...) só não teve oportunidade de fazer os mesmos estragos... Lá vem ela!

Saem animados para o intervalo, e Deborah se põe ao trabalho. Ela faz uma diferença enorme na performance dos garotos. Termina com eles e vai ao irmão...

- Ritchie, sente-se que eu não te alcanço daqui de baixo. Você está tenso! Está pensando naquele tarado de novo?

- A culpa foi nossa, moça. A gente veio prestar solidariedade e...

- Eu entendo, e agradeço. O problema é com ele. Desde menino que ele tem a mania de carregar o mundo nas costas, depois pergunta a quem a filha puxou!

- Aha! Dessa eu não sabia! A senhorita vai me contar tintim por tintim, amanhã cedinho, porque agora a gente tem que ir e depois vamos desabar na cama.

Patrícia sai serelepe ao palco (...) Os visitantes caem na risada, dizem que um varão não teria copiado o pai com tanta fidelidade, e se põe a ouvir a irmã do grandalhão; ela também não é pequena, a genética sempre foi generosa com os Gardner, desde o século XVII. Após o tempo previsto (...) ainda dão uma sopa. Voltam moídos para os bastidores, de lá para o hotel. Eles valeram cada centavo do patrocínio e dos ingressos.

Passam a manhã no hotel, se recuperando da noite e lendo os jornais (...) sendo elogiados e tirando poses com populares. Os mesmos homens de ontem aparecem, agora com suas esposas. Richard os recebe (...) Patrícia deixa o jornal e se aproxima, de blusa branca e pantalonas azuis claro, deslumbrante, para ver o que se passa. Aqueles sujeitos realmente gostaram deles...

- Bom dia, moça. Sua tia já contou as travessuras do seu pai?

- Tudo. Ela não poupou detalhes, durante o desjejum. Mas como eu amo esse meninão travesso!

- A Deborah não sabe o estrago que fez.

- Estrago nenhum! Ele diz isso porque eu cuido dele, quando a minha mãe não está por perto. Ela sim, é mandona, durona, põe ele na linha! Mesmo grávida.

- Sua mãe está grávida? Que lindo!

Se enturma. Quando os outros a encontram (...) são chamados à roda. Só Matthew está fora, precisa gerenciar por telephone o caderno de cultura. A conversa é bem animada e descontraída, até ouvirem tiros vindos de fora. Richard põe todos para o interior do saguão e vai ver do que se trata. Vê gente conhecida (...) saca a pistola e atira no radiador e pneus do carro em que estão atirando, inviabilizando a fuga. Tudo termina em meia hora, com os três elementos mortos. Sem documentação ficará difícil identificá-los, mas algumas tatuagens nas costas mostram quem são. O alvo, provavelmente, era Enzo...

- Revirem esse Dodge, qualquer pista tem valor agora! Liguem para Grandpa e Star.

Patrícia já está falando com ela, assustada. Josephine manda que fiquem dentro do hotel até segunda ordem. Richard liga para o alto comando, pedindo explicações (...) alerta que há gente infiltrada nas forças armadas. Assim que termina vai ver os garotos. Encontra todos quietos e Patrícia abraçada a Enzo, em posição protetora...

- Está tudo bem agora, podem sair.

- Eles vão voltar?

- Não, estão mortos e os mandantes já viram que não baixamos a guarda.

- Por que estou desconfiada que o Enzo era o alvo?

- Porque está certa, como provavelmente tudo o que está deduzindo agora, e prefiro que não me conte; Não agora. Como estão os outros?

- Agüentando. A Rebeca queria sair para enfrentar, mas o Ron segurou.

- Baixinha valente, mas precisa aprender a medir os riscos. Esteja certa de que outro atentado assim está fora de questão. Ligou para casa? Então vamos ligar, antes de a imprensa solte a notícia. Ei, liguem para casa, avisem seus pais de que estão bem!

Ligam, mesmo assustados, e Rebeca furiosa. A notícia não tarda a ganhar a televisão, mas com tantos figurões no hotel, não dizem que o atentado foi contra o Dead Train (...) Pelo menos vinte pessoas, além deles, acreditam que eram o alvo dos atiradores. Patrícia trata de vasculhar cada milímetro do pai, até ter certeza de que não se feriu. Ele se expôs de novo, mas desta vez não havia como não ter sido assim.

No aeroporto, antes de partirem, os amigos texanos (...) Tiram os chapéus e pedem desculpas com toda a humildade do mundo, não é assim que o Texas trata seus hóspedes, ninguém deveria sair de sua mesa com fel na boca. O fã clube manda representantes com uma mala de roupas típicas, para os nove, como um pedido de desculpas. São camisas de vaqueiros com calças e saias jeans, botas de cowboy, cintos com fivelas ornamentais e um livro de culinária texana, tudo de primeira linha.

Um oficial da aeronáutica se apresenta, pede desculpas em nome das forças armadas, dando sinais cifrados de que identificaram e estão à procura de quem repassou as armas...

- Eu agradeço, capitão. A imagem do Texas não foi maculada por esse episódio.

São avisados de que pegarão outro vôo para New York. Se dirigem para outro portão, entrando no avião encontram a aeronave quase vazia. Só com os tripulantes, David Grant e Josephine, que acolhe Patrícia, chorosa. Aqui, em privacidade, a menina pode deixar a fortaleza que demonstrou durante o tiroteio (...) Recebe os mimos da diva durante a viagem.

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