sábado, 29 de novembro de 2008

Ana Maria

Ana Maria é uma funcionária pública exemplar, do tipo que salva a imagem do funcionalismo público. Estudou muito, se esforça ao máximo até nas tarefas mais triviais. Chega pouco antes do seu horário, mas nunca sai um segundo sequer antes do fim do seu expediente. É trouxa! Otária! Os colegas mais amaciados não a perdoam, embora sempre recorram aos seus préstimos, quando o desleixo compromete relatórios dos quais dependem seus vencimentos. Mas quando não precisam, é trouxa e otária, que trabalha pra dar voto ao prefeito, que odeia funcionário público e nunca ouviu sequer falar dela.

As colegas, porque amigas não são mesmo, deixam paletós nas cadeiras e vão ao salão, que marcaram para o horário mais vazio, o do expediente. Após o quê vão ver vitrines, querem aparecer bem nas phorographias da festa de fim de ano do sindicato. São todas saradas, freqüentam as mesmas academias que as esposas de políticos nos horários mais confortáveis, o do expediente; de andar ao sol e irem aos clubes, são coradas, com marquinhas de biquíni, as últimas gírias e fofocas na ponta da língua; a freqüência nos salões mantém seus cabelos bem pintados, uniformes e dentro da última moda da semana.

Ana Maria, coitada, é branca como a neve, tem os cabelos negros como a noite e os lábios rubros como o sangue. Feia, muito feia! Gente branca é feia! Ainda mais gente branca com curvas no corpo, total off, over, nem parece mana da peripheria. Ana Maria já sofreu perseguições atrozes do mesmo sindicato que alardeia a liberdade, a igualdade e a fraternidade; desde que os inimigos estejam devidamente escravizados, degredados e isolados. Pobre Aninha. Foi-se a época em que boa educação e senso de dever eram abonadores em um emprego. Pobre sim, mas nunca coitada. Acham que teria sido perseguida se não incomodasse? Greves de cunho puramente politiqueiro encontraram nela a única pedra dentro do sapato. Gastar cento e vinte mil reais para trazer artistas de fora, quando a escola não oferece nem mesmo um ramalhete para os formandos, alegando contenção de despesas? Enquanto o grupo de favoritos vadia, Ana Maria trabalha. Resultado? Alunos e servidores lhe osculam as mãos e pedem bênção. Não tem marquinhas de biquíni (o que numa nova-balzaquiana de quarenta e dois anos nem cai bem) e sua pele não tem as cores da moda, que o racismo anti ariano impõe goela abaixo de quem quer ser fashion. Não fossem as escovas, de vez em quando, os grampos escorregariam dos cabelos. Mas ser branco é muita feiura! Negros só como amigos, pois negro é pobre e pobre não pega bem; mas brancura é muita feiura, tem que se tostar ao sol e ficar loura-falsa-vulgar para arrasar na night. Mui modernos.

A última briga de Ana Maria foi quando queriam que parasse de atender aos funcionários da escola, para se dedicar somente aos alunos...

- Mas nem por cima do meu cadáver!

Há cousas que a fábula não deixou claro sobre a Branca de Neve, mas sua sósia demonstra com belicosa fúria quando precisa. Chamou todos os secretários e o director de frouxos. Sim, são um bando de frouxos, pois só a encaram juntando todos, mesmo assim balbuciando de medo. Afinal ela ousou enfrentar o todo poderoso Sindicartas Marcadas. Ousou não aceitar as investidas do presidente de tal nem baixar a cabeça para o reaccionarismo camuflado. pelo menos os bolsistas, todos sob sua tutela, são obrigados a merecer a aprovação no fim do ano.

Mas a mesma roda que leva um ponto ao pico, também o leva à lama que ela atravessa. Os disfuncionários do nãodicato fracassaram vergonhosamente nas últimas eleições. Um dos candidatos chegou à apelação mais pueril, achincalhando com a inteligência do eleitorado, mas não houve segundo turno para ele. Água, luz, telephone e ônibus totalmente de graça? Alberto Benett tinha que ter conhecido a figura.

As próximas eleições coincidirão com a de directoria. Ana Maria não quer saber desse cargo malfadado, mas adivinhem em quem os que ela protege e acolhe votarão? Os acomodados já estão acordando para isso e fazem de tudo para apagar sua imagem, mas miram nela com o cano apontado para suas testas vazias.

Ana Maria existe, Audrey foi a figura mais próxima de seu coração angelical que encontrei para ilustrar o texto, mas o nome e a esphera pública foram trocados para proteger sua sacra identidade. E se alguém tocar um dedo nela, mostrarei porque Hitler pediu minha cabeça, na encarnação passada.

Compulsão!

Qualquer membro da Tali-coisa corporation: -Bom, (foco nas mãos, que estão tremendo e com as unhas roídas) eu comecei entrando em fóruns de discussão, sabe (forte espasmo), para passar o tempo e tudo mais... Daí, um dia, encontrei figuras estranhas (limpa o rosto), eles me convidaram para janelões no msn e... e...

Terapeuta (com cara de pensa super elaborada): - Calma, estamos aqui para te ajudar.

Membro da TC corporation: - Sabe, tudo começou com um blog só, no começo era legal, eu sentia que tinha (fungando)... tinha... um espaço só meu, sabe? Quando via um espaço em branco, queria preencher com minhas idéias, queria agradar as pessoas, queria, sei lá, postar loucamente... Daí a coisa foi evoluindo, eu comecei a mexer com "tóchico", coisa radioativa mesmo, sabe césio? Depois passei a ver vídeos... Alguns eram estranhos... Era MAIS DE UMA HORA, vendo vídeo, vendo vídeo MAIS DE UMA HORA... E antes disso já estava tomado pelo axé, sabe? O resultado foi que (choro descontrolado), eu desenvolvi compulsão por blogs... E... e... e... Já perdi as contas de quantos eu já tenho...

Terapeuta: - E o que cê pretende fazer daqui pra frente?

Membro do TC corporation: - Ah, chegar em casa e postar tudo o que eu disse aqui...


Pois é, galerë, a ala axezística do Tali-coisa acaba de ganhar mais um blog... Agora, nós vamos usar nossa extrema siacabância, aliada a um gosto duvidoso por coisas toscas e intensa falta do que fazer para elaborar listas totalmente sem fundamento, mas muito divertidas. Se você é um cultvivaarevoluçãoabaixoaculturademassa, fuja para as montanhas, pois a coisa mais cultural que você verá aqui será a lista dos melhores filmes de Drew Berrymore!


Acessem lá, seus gostoso!

www.maisdeumahora.blogspot.com


Ps.: Antes que perguntem, o nome do blog é em homenagem ao tão amado e idolatrado vídeo do Velhinho que comeu e não pagou!


E é mais de uma hora de siacabância!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Rotina e Banalidade

Essa semana, depois de séculos, eu finalmente assisti o filme 1984, baseado no livro homônimo (sim, eu estou falando difícil hoje) de George Orwell.

A estória se passa num futuro alternativo. Basicamente, do mesmo jeito que Aldous Huxley fez em Admirável Mundo Novo, que também virou filme, mas não é tão bom. Mudaram o final, mas a idéia central está lá. E é bem legal, também. Mas eu ainda gostei mais do 1984.

Nesse futuro alternativo, as pessoas são controladas por uma empresa/agência, chamada IngSoc. E a maior "arma" deles, é o chamado "Grande Irmão". O Grande Irmão, na verdade, é um sistema de vigilância 24 horas, que os observa até quando estão dormindo. Sim, o nome original é Big Brother, que originou o nome do Reality Show. Mas a realidade com o Grande Irmão não era entretenimento de massas, e sim, controle da vida. Dos meios de produção, principalmente. E acabava sendo também um controle "mental" sobre as pessoas.

Claro, não dá pra pensar nisso sem fazer paralelos com a religião. O Grande Irmão age como o Deus Judaico-Cristão-Islâmico, que tudo vê, tudo sabe, tudo pune ou recompensa. Mas esse não é ponto deste texto. Não hoje, pelo menos.

Uma das coisas que mais marcam na estória, é ver o quanto as pessoas tem suas vidas controladas, determinadas, e se sentem felizes com isso. Se sentem felizes em serem parte da "máquina" do Estado. Ou da IngSoc, mais claramente. E isso me faz pensar sobre como isso se aplica tão bem aos trabalhadores das grandes corporações, de hoje. Ou à nossa sociedade, de forma geral. Você TEM QUE produzir. TEM QUE fazer isso e aquilo, TEM QUE blá blá blá... Pra ser aceito pela sociedade.

E isso não para por aí. As próprias religiões tem esse lado, dizendo "se você não se comportar assim, vai pro Inferno (ou algo que o valha)". Você não tem o direito de decidir o que fazer. Algumas religiões "modernas" dizem que você faz o que quer, mas tem que acarretar as consequências. Princípio básico da Física, que diz que "toda ação tem uma reação, de força igual e direção contrária". Enfim... Não é de religião que eu quero falar, tampouco.

Onde eu quero chegar, é numa cena que me marcou demais. Cheguei a me emocionar com ela, e perceber o quanto o ser humano se distancia às vezes da sua humanidade.

A cena em questão é uma em que Winston (o personagem principal, interpretado por John Hurt) e Julia (o par "romântico", interpretada por Suzanna Hamilton), estão num quarto de um antiquário, que tinha sido alugado por Winston para que eles pudessem se encontrar. Ela traz algumas coisas de "contrabando" (quase tudo é proibido), como pão "de verdade", chá "de verdade", café "de verdade", geléia, e algumas outras coisas. Se fossem encontrados com isso, seriam presos.

Mas o que mais marca, é um momento em que Winston diz a ela: "Eu quero você". Ela só pede a ele que se vire, e só olhe quando ela disser. Na cena, Winston olha pela janela, reparando numa mulher gorda que estende roupas e fica cantando. Ele se maravilha com a voz da mulher, e pensa em "como ela pode transformar uma música escrita por uma máquina em algo tão lindo".

Quando Julia permite que ele se vire, ela está usando um vestido (todos são obrigados à usar uniformes) que mal lhe cabe, e maquiada, pra dizer o mínimo, de uma forma exagerada.

A emoção exprimida por ele, foi basicamente o que eu senti. E que é o verdadeiro tema desse texto.

Ela se vestir daquela maneira, pra nós, nos dias de hoje, seria bobo, banal,(e num arroubo de senso crítico-estético desmedido) ridículo. Porém, numa sociedade como a deles, onde TUDO segue um padrão, era quase como cometer um pecado. Algo completamente fora da "normalidade", e proibido. Na sociedade controlada pelo Grande Irmão, NINGUÉM pode ser especial. Todos são apenas engrenagens da grande máquina.

E o que me emocionou é notar o quanto somos assim. Permitimos que a banalidade, e consequentemente, a rotina, estraguem a nossa visão, tanto de AQUILO que nos cerca, como de QUEM nos cerca.

Pra nós, que (assim mesmo, entre aspas) "temos isso todo dia", é algo bobo, ou fútil, ou banal, uma mulher se arrumar pro homem que ama. Ou pra si mesma, sei lá.

Mas pra quem não pode ter isso, é a 8ª maravilha do mundo.

E é isso que eu não quero perder. Essa capacidade de me surpreender com o mundo, com as pessoas. Não me refiro à questão da banalização da violência, ou de enxergar qualquer coisa que acontece no mundo. Quer dizer... A violência na nossa sociedade JÁ É banalizada. Quantas famílias não jantam assistindo telejornais mostrando a desgraça através do mundo?

Me refiro ao comum. O dia a dia.

Quero sempre me surpreender com o Sol nascendo. E achar lindo.

Quero sempre me surpreender com o Sol se pondo, com aquela mistura de luzes azuis escuras e alaranjadas. E achar lindo.


Eu acho lindo. Ainda.


Quero me surpreender com alguma garota, me dando um sorriso inesperado. E achar lindo.

Não quero ser banal. Não quero cair na rotina. Não quero deixar de perceber o quanto o ser humano, a humanidade, e o mundo em que vivemos é maravilhoso.

Não, não vou fechar os olhos, crendo que tudo é paradisíaco. Mas ainda aquilo que é "feio", que é "mal" ou "mau", tudo aquilo que pode ferir... Tudo isso, AINDA me é maravilhoso. E que continue sendo...

E pra quem quiser ver, tem no Youtube a cena em questão.

http://www.youtube.com/watch?v=IVGtYJq0D6I

Nesse aí, é lá pelos 06:25 que aparece o que eu disse.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Meus amáveis perdedores

Os estadunidenses costumam chamar àqueles que não atendem a determinados critérios, como beleza e popularidade, de "loosers", literalmente, perdedores. Mas eles mesmos também criaram uma legião de perdedores adoráveis, que, no fundo, no fundo, conquistaram e ainda conquistam os corações e o imáginário de crianças e adultos mundo a fora.
Apresento a vocês uma pequena listinha com alguns de meus perdedores preferidos, segundo catagorias inventadas por esta que vos escreve.

1. Categoria perdedores imaginativos. São aqueles que usam sua doce imaginação para fugir às agruras à sua volta, e sempre nos fazem rir com sua capacidade de recriar situações mentalmente. Doug Funnie e aquele menininho que sempre achava que saía de suas encrencas sonhando acordado que aparecia em desenhos da Warner Brothers são exemplos deste tipo.

2. Categoria perdedores mau-humorados/sarcásticos. São perdedores, mas com estilo, e às vezes até se dão bem. Por baixo de seu mau-humor e até jogo sujo, também podem mostrar muita ternura, tais como Patolino e o Pato Donald; eles, aliás, nem a pau se reconhecem como perdedores.

3. Categoria eu-me-acho. Perdedor? Nem pensar. Eu sou o máximo e me garanto, mesmo que o amor da minha vida simplesmente nem saiba que eu existo ou fuja de mim como de uma assombração. A maravilhosa Senhorita Piggy e as fabulosas Lucy e Patty Pimentinha (do desenho do Minduim - adoro esse apelido do Charlie Brown) são exemplos típicos.

E os melhores de todos estão na categoria Gonzo, o Grande. Eles são amáveis, generosos e têm um grande amor platônico que ou os ignora ou os despreza. Se eu pudesse, os abraçaria para sempre e diria o quanto eu os adoro. Para mim, Gonzo é e sempre será o símbolo de tudo isso, por isto ele dá nome à categoria. Neste mesmo grupo, cito os não menos queridos Charlie Brown, Pateta e Eddie, o Sortudo (de Hagar, o Horrível).

Gonzo, eu te amo!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Nós nos tornamos especialistas em perseguir o tempo. Somos seguidores do tempo. Nos moldamos em virtude dele. Fomos lapidados pelo tempo.

“Eu corro demais” mesmo. Corro de madrugada pra dar conta da prova na manhã que nasce. Corro atrás do ônibus que passa. Corro pra ler a notícia cada vez mais curta. Corro por causa da concorrência.

É que o relógio deixou de ser o sol, pulou pro meu pulso, minha gente.

Então, acompanhem Dona Bethânia em “Oração ao Tempo”. São cinco minutos de um Tempo voador.


terça-feira, 25 de novembro de 2008

O fichário e o Polyvore

Quando eu era pequena eu tinha a mania de sair recortando todas as revistas Nova/Elle/Cláudia que eu encontrava pela frente. Um dos meus maiores passatempos era cortar as roupas da seção de moda e colar em um fichário, meus primos achavam isso muito estranho, mas eu passava muito tempo sozinha, então, tinha que inventar minhas brincadeiras.
O fichário (a capa era roxa e verde, com desenhos do Scooby Doo) eu não sei que fim levou, mas até hoje eu ainda me lembro de algumas roupas que eu colei lá: vestidos das Spice Girls, várias botas (eu sempre tive fixação por sapatos), e provavelmente qualquer item que tenha estado na moda lá por 1997.

Eu cresci e esse hábito ficou para trás... Até a semana passada.
Aconteceu como sempre acontece, eu estava matando tempo na internet e acabei encontrando por acidente um site que me fez reviver os tempos do fichário: o Polyvore.
Lá você cria “sets” combinando todos os tipos de roupas, sapatos, bolsas e acessórios que a sua imaginação permitir, e tudo isso sem precisar mutilar revistas e usar tubos de cola.
Ainda estou engatinhando, como vocês podem ver aqui:


Rafa

Mas lá tem gente que faz coisas assim:

Lilli

E gente que faz arte:

Moonpiglet

Rachel 179

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cuidado! Eles estão entre nós




Lembra daquela vez em que você colocou um vestido novo e alguém disse que você ficava pálida de cor-de-rosa? E quando você pintou o cabelo e te disseram que antes estava melhor? E aquela outra vez, em que você tirou uma boa nota e o seu colega disse que o legal não era fazer uma boa redação, e sim ser craque em matemática? Não se esqueça daquele dia em que o cara mais lindo do pedaço te deu bola e a sua amiga disse que ele faz isso com todas.

Você já passou por isso, ou por situações parecidas. E a culpa é toda dos dementadores. Eles estão entre nós.

Dementadores são seres que se alimentam da alegria e da esperança alheias. Eles sugam todas as boas sensações, as boas lembranças e transformam a pessoa num trapo. Na série Harry Potter, eles são representados por seres encapuzados, que flutuam, nunca mostram o rosto e têm as mãos podres.

Na vida real, eles não são tão assustadores. Têm forma humana, como eu e você. Mas existem. Existem e fazem questão de mostrar que estão presentes. Sabe aquelas pessoas que se comprazem em te puxar para baixo? Então, elas são os nossos dementadores.

Os nossos dementadores são tão loucos, mas tão loucos, que não se contentam em te ver mal. Se você está resfriado, com cólica, pegou chuva e quebrou o salto numa tampa de bueiro, eles podem até ficar um pouco felizes. Mas o objetivo deles é outro: provocar a infelicidade alheia. Eles é que querem estragar o seu dia, não querem que as circunstâncias o façam. E é aí que mora o perigo.

Conviver com uma criatura dessas, em casa, no trabalho, na Internet, na escola, na rua, não é uma tarefa agradável. Felizmente, os dementadores do dia-a-dia são bem previsíveis. Geralmente, fazem comentários ferinos ou contam alguma história triste. Fazem questão de lembrar que, seja o que for que você pretenda fazer, não vai dar certo. Dementadores também gostam de dizer que são melhores que você, ou que você não é bom o suficiente em alguma coisa.

Para combatê-los, na vida real, não adianta simplesmente berrar “Expecto Patronum!”. Não vai adiantar, e eles ainda vão espalhar por aí que você é louco. Comer chocolate também não é uma boa idéia. Eles vão dizer que você já está gordo e/ou com espinhas demais.

No fim das contas, o que acaba mesmo com os sugadores da felicidade alheia é isso: ligar o botão do “foda-se” e deixar que os dementadores sigam seu caminho, loucos da vida, por que não conseguiram pegar você. Quer tentar?


Já aviso que a solução do problema é temporária. Amanhã, ou daqui a quinze minutos, eles voltarão a te incomodar. Como é que eu conjuro um patrono, mesmo? Harry, ajuda aqui!

domingo, 23 de novembro de 2008

O bom filho...

A carta que podia ser minha:

Fernando, você perdoe essa carta que eu desejaria que fosse mais alegre e animadora, como é animadora uma carta sua. Sobretudo para justificar minha insegurança que faz você ficar surpreendido... Mas você deu minha resposta única: "só você sabe a custa de que sacrifícios, no íntimo sou frágil, incerta, descontrolada". Você se espantaria se eu lhe dissesse exatamente isso: você é que tem uma segurança que eu admiro embora saiba a custa de que ela é feita. Me diga como você tem trabalhado, o que tem lido, como vai essa forma de ser alegre que é sua bateria.

[Clarice Lispector, para Fernando Sabino.
1946. Mas podia ser hoje.]

Este é um pequenino trecho de uma compilação das correspondências entre Clarice e Fernando, durante alguns anos. Ganhei esse livro há alguns anos e é daqueles que a gente tem dó de terminar. Eu vou lendo uma carta por vez, imaginando como devia ser a letra de Clarice, quanto tempo Fernando se demorava no texto. E como essa dupla de amigos estreitou seus laços apesar do oceano (Fernando morava nos EUA e Clarice, na Europa). E como um envelope pode preencher o espaço de milhares de quilômetros.

E que bom pertencer a um envelope que, apesar de não ter selos e nem cruzar o Atlântico, nos torna íntimos, companheiros.

Wellcome back pra mim!

sábado, 22 de novembro de 2008

No mínimo setenta


Ninguém deveria morrer com menos de setenta anos. Pessoas com sessenta ainda têm algum viço, muitas têm energia de sobra e uma década é o mínimo para passar aos mais jovens sua experiência de vida. Quando se passa dos setenta, provavelmente os netos já têm uma certa idade e sentirão menos a separação. Além do quê, gente que trabalhou pesado a vida toda, passa a ter o trabalho intelectual da sabedoria para se manter activo e descansar o corpo.

Mas há pessoas que deveriam viver, no mínimo, até os oitenta e cinco. É gente que faz a diferença, que impõe respeito aonde quer que vá. São as pessoas que se dedicam a algo que não seja a satisfação pessoal ou os negócios da família. Esse tipo de gente não tem só experiência de vida, tem uma bagagem moral que uma década não basta nem para começar a ensinar. Ainda que o corpo não responda mais a contento, a mente continua lúcida e afiada, pronta para despejar seu repertório a quem quer que se interesse.

Há um grupo, porém, que não deveria ir embora antes dos cem anos. São verdadeiros missionários, gente que abre mão de sua própria vida pessoal para se entregar a uma causa. São pessoas que dão às outras esperanças para continuar a labuta, não esmorecer enquanto ainda têm forças e acreditar que ser justo vale à pena. Esse grupo chega às raias da verdadeira bondade, ainda que com uma vara de marmelo nas mãos, tem a sabedoria de quem sabe que não vivenciou mais porque não pôde, que quando pôde fez o que quis. Se deixou de ir às baladas, foi para se dedicar a algo ou alguém que julgou merecer. Entre seus prazeres e o conforto do próximo, escolheu este.

Um quarto grupo faz falta, não importa o quanto demore a desencarnar. Podem eles chegar aos cento e vinte, que mesmo assim o cortejo fúnebre estará repleto de inconformados. São pessoas que tanto se deram àquilo em que creram, e fizeram com tamanho amor, que passaram a ser veneradas. Estas despejam em uma hora de conversa, mais conteúdo do que a maioria acumula durante a vida inteira. Quando podem e querem, vão às festas, passeiam pelas praças, comem pizza com coca cola. Mas não pensam duas vezes antes de deixar o prato à mesa, se lhe chama a urgência. Hora, distância, localidade, custo, dificuldade, nada disso tem tamanho para essas pessoas. Se vivessem na região do Mediterrâneo antigo, entrariam para a história como mitos, semi-deuses ou deuses cujas vidas antes do Olimpo seriam contadas por escritores e philósophos de todo o mundo. Algo como "Cristina, Deusa da Fraternidade". Gente que, mesmo falando de amenidades, nunca é fútil, nunca se arrasta pela maledicência. Se tem vontade de esganar alguém, ignora a vontade até que passe, mas não se furta ao dever de corrigir a conduta de quem lhe é a competência. São pessoas das quais tudo o que se falar é pouco.

Mas há um grupo numeroso cuja passagem deveria ser regulamentada por lei. Filhos jamais deveriam morrer antes dos pais. Só isto já tornaria o mundo mil vezes melhor do que é.

É amanhã, ai meu Deus!

Durante o início do ano, fomos avisados de um ano atípico, iríamos enfrentar um concurso cruel, com concorrentes cruéis. Hoje, faltando apenas um dia para prova, me dei conta de que, diferentemente do que a política do terror, provocada pela sede de resultados, feita pelas escolas diz, o vestibular não se trata de uma competição cruel, com concorrentes cruéis. O fato de se fazer essa imagem é um grande erro e prejudica os próprios concorrentes, já que a ideia de um concurso prevê vitoriosos e derrotados e, como ninguém quer ser o próximo a ter a vida apontada como péssimo exemplo durante as aulas de Biologia, todos levam o estudo de forma equivocada

Durante todo ano, levei os estudos com uma relação de simples treino; estudei de forma intensa - bem, nem sempre-, mas não pensando em aprendizado, ou de crescimento interior, mas pensando em resultados, pensando em uma possível vitória ou derrota. Isso me fez desenvolver uma relação peculiar com os estudos, criei um ciclo de culpa, no qual me sentia culpado quando não estava estudando, e pressionado a aprender quando estava com os livros na mão -sempre pensava que meus concorrentes estavam aprendendo, enquanto eu começava a aprender.

Ao acordar, fiz a reflexão que deveria ter feito desde o início: o vestibular não se trata de uma competição, se trata de uma jornada de amadurecimento, na qual temos de ter determinação e de abdicar de algumas coisas por senso de responsabilidade. E por mais que o medo de perder assuste, o que realmente importa é ter a consciência de que levei minhas responsabilidades com um grau de maturidade que nunca havia tido até então.

Quando era criança, eu era o pior nos esportes, mas nem ligava, continuava tentando melhorar. Sem nem ligar para as minhas limitações, continuei tentando, até um dia chegar a ser ao menos o segundo a ser escolhido para o time. Deveria ter levado os estudos dessa forma esse ano, mas acontecesse que, quando praticava esportes, não havia coordenadores e professores me pressionando, nem dizendo que meus erros poderiam ser fatais.

Mas, de qualquer forma, esse meu pensamento veio antes da prova e posso fazê-la com ele, o que me deixa mais tranquilo...

Agora chega, néam? Esse é meu último dia para descansar e não vou bancar o marido da Sandy e ficar postando em blog, quando deveria estar aproveitando o dia... então, vou mijogar no cinema...


Esse texto é dedicado a Muri (se tem uma pessoa que se esforçou esse ano, foi você), Janna (filha, cê chegou a estudar SETE HORAS por dia, sua consciência deve tá limpa como o ar de Natal), Carol (pára de pensar no resultado e se mantenha o foco nas provas), Tuza (nunca lhe vi se esforçar tanto) , Aline (por mais que eu ache que cê não vai ler isso aqui, quero que saiba que você é a única estudante passível de admiração, na minha opinião... hahaha, cê estudou muito, mais que Janna, só precisa ter calma) e Mônica (tão linda, criando responsabilidade!) e, é claro, ao Frank (Pelé pride).


Gente, rezem, orem, façam macumba, joguem os búzios, meditem, deitem no tapete e rezem para Alá para eu passar, sério!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Água, cigarros e um Valium

Uma noite de sábado, um qualquer.

As luzes apagadas. Só a televisão trazia alguma claridade ao ambiente.

Na pequena mesa ao lado da poltrona, um copo com água, um cinzeiro, um maço de cigarros e uma cartela de comprimidos, com um único restante.

Na poltrona, ele. Com os olhos vermelhos, devido às noites sem dormir. As costas doíam. Os olhos também. A cabeça também. O ar lhe faltava, em alguns momentos.

Não, não estava morrendo. Os médicos não encontraram nada. Todos os exames estavam normais. Eram apenas a ansiedade, o nervosismo, a falta de perspectiva. Esses eram os problemas. E isso que lhe tirava o sono, e agora começava a lhe afetar a saúde.

Pegou um cigarro, e acendeu. Olhava para a TV, mas sem ligar para o que passava. Não aguentava mais ver notícias dizendo que a Bolsa de Valores da casa do chapéu tinha caído, o que ia provocar recessão no mundo todo.

Afinal, embora as bolsas no mundo inteiro estivessem em baixa, todos os seres humanos continuam acordando todos os dias, saindo pra trabalhar, e comprando alguma coisa. O dinheiro continua rolando no mercado, o que equivale a dizer que nada mudou, quase. 90% da população mundial não investe em ações.

"O mundo vai continuar a girar", ele pensou. "As pessoas vão continuar a viver".

E sua vida continuava na mesma, também. Sem novidades, sem nada de bom acontecendo. De ruim, às vezes, acontecia. Mas nada de especial. No fim, as coisas continuavam iguais.

Tomou um gole de água, e devolveu o copo à mesa. O cigarro estava amargo. Mais do que o normal.

Mas isso não importa. O que importa é o pequeno comprimido restante na cartela. Ele é que vai trazer a paz. A paz prometida. A paz pro coração e pra mente.

Aquele pequeno pedaço de areia branca. Vai fazer os olhos se fecharem, e por uma noite, vai fazer a realidade sumir.

Sonhos podem vir, podem acontecer. Mas de qualquer forma, vão ser melhores que a realidade.

Ele tira o comprimido da cartela, e o leva à boca. Toma mais água pra descer, e retorna o copo à mesa, outra vez.

Desliga a TV. Agora é apenas ele e a escuridão.

E que venham os sonhos...


E que venham os sonhos... Quaisquer sejam eles...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Poeminha de quinta



Enquanto a chuva não dá uma trégua e minha inspiração para postar está tão distante quanto os dias de sol, fui buscar no baú dos meus poemas um pra pôr aqui. E desculpem pelo trocadilho do título, mas eu não resisti...
A imagem ao lado me parece bem sugestiva quanto ao teor do poema e foi retirada de:
http://www.naniques.blogger.com.br/Mulher%20sombra.jpg

Embate

Ele se ri à minha face,
e seduz-me fácil assim,
vem em seu mais doce disfarce,
dançando em volta de mim:
canta-me todas as fraquezas,
e joga-as aos meus pés,
confunde-me as certezas,
e dirige-me ao revés.
Ele vem suave, manso,
meu destino corroer,
oferece-me o descanso
dum eterno padecer...
Faz tão certas as derrotas,
previsíveis tantas quedas,
traz fechadas todas as portas -
nem sequer deixa-me uma fenda...
Ele vem, maldoso, cínico,
falsos dotes me louvar -
traz, em seu sorriso irônico,
pedras para eu tropeçar.
Mal sabe que já o adivinho,
que seus truques já não me atraem,
que eu quero o meu caminho:
meus passos não se distraem;
mal sabe que, em cada luta
é à vida que eu abraço,
e o que agora minha alma escuta
é o destino, que eu traço.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Velhice

Já faz um tempo que eu não escrevo aqui (na verdade, isso é pressão minha, só umas duas semanas), nesse meio tempo:

Mallu Magalhães e Marcelo Camelo começaram a namorar;
•O Guns N´Roses lançou o Chinese Democracy;
•O Obama venceu;
•Luana e Dado forneceram uma nova baixaria para alimentar as fofocas;
•Suzana Vieira e Marido forneceram uma nova baixaria para alimentar as fofocas;
•Britney apareceu magra num clipe;
•Amy Winehouse cortou o cabelo e conseguiu ficar ainda mais estranha;
•Madonna se separou;

E eu fiquei um ano mais velha, apesar de todo mundo continuar achando que eu aparento ter uns quinze ou dezesseis – vantagem de ser hobbitze!
O problema é o seguinte: eu ganhei uns cinco livros de presente (é o que eu gosto de ganhar, então, o pessoal já fica ligado) e até agora não consegui ler quase nada. Não dá tempo, novembro é o mês das provas e do corre-corre supremo, e nessa hora que eu sinto o peso da idade (ui).

Sério, quando eu tinha os tais quinze ou dezesseis anos eu lia pelo menos uns dois livros por semana, agora eu me contento em ler uns dois por mês.
Adquirir responsabilidades sucks.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

I put Baby in a corner!

Quem tem uma mente doentia, sabe como é. Nos momentos mais inoportunos, surge uma idéia totalmente imbecil.

Outro dia, assisti ao filme Dirty Dancing. Aquele, com a irmã-do-Ferris e Patrick Swayze (que ainda não morreu, a despeito do que foi noticiado há algum tempo). Todo mundo já deve ter visto na Sessão da Tarde, então vou me poupar de maiores explicações.

Minha mente doentia começou a trabalhar ao longo da película. Toda a vez em que a irmã-do-Ferris aparecia em close, eu dizia para mim mesma: é o Sean Penn de peruca! Alguém concorda? Será que eles são parentes?

domingo, 16 de novembro de 2008

Metalinguagem

Tá, eu sei que aqui no blog cada um escreve quando quer ou quando pode e não é preciso justificar as ausências - se bem que eu nem sei se funciona assim mesmo, ou se eu inventei isso quando na verdade a está furiosa e com um caderninho de anotações esperando mais um dia sem postar para poder elaborar uma carta de demissão-, mas é que eu acho meio chato ficar no msn toda hora e não postar nem um tiquinho assim. Resolvi, portanto, postar aqui minhas justificativas...

Eu tenho textos prontos, o problema é que eu só não consigo vir aqui e postá-los. Não sei por que, mas sempre que resolvo vir aqui e passar para o computador o que está no papel, me dá uma preguiça enorme, sei lá, uma vibe meio whatever... Acho que é preguiça mesmo, aliada ao fato de que, no momento, nem ligo para as pessoas que visitam o blog - desculpa, só estou sendo franco e odeio mimimi de "adoro vocês".

As únicas coisas que ainda consigo fazer pelo blog são divulgar um pouco e fazer textos como esse. Aliás, essa é minha técnica favorita, eu simplesmente clico em nova postagem e começo a digitar.

Primeiro me ocorre um tema na cabeça, algo que esteja mais perceptível na minha vida, alguma coisa que tenha me influenciado bastante nos últimos dias; logo em seguida me vem um introdução, uma maneira de como abordar tal assunto; depois eu simplesmente vou digitando o que me vem a cabeça, as frases e reflexões vêm em turbilhão e, muitas vezes, meus dedos não conseguem acompanhar a velocidade do raciocínio, mas eu sigo nesse ritmo até que tudo fica smurfs_ (haha!) para continuar sem correção. No final de tudo, sai tudo da maneira que falo, da maneira que penso e o texto fica repleto de empolgação.

O que acho mais legal em fazer esse tipo de post é a sensação boa que fica no cérebro, quer dizer, pode parecer meio "Tributo a Bob Marley", mas quando escrevo dessa forma é como se eu entrasse em uma conexão forte comigo mesmo, como se eu colocasse meu interior em frente a um espelho e simplesmente descrevesse o que há nele, felizmente o que vejo é quase sempre legal. Tudo isso deixa em um estado que chega a ser meio louco. Não, eu não tomo NADA, eu só escrevo.




Elmo, desculpe se postei no seu dia, mas é que eu vi o botão de postar e me deu uma vontade...

e eu estava precisando sentir um barato...

Update: Gente, peloamordeDeus, assistam ao filme filme cujo nome eu esqueci novamente, mas que é ótimo... E digam se o protagonista não lembra o Fio! Quer dizer, nesse jeitão meio depressivo, mas legal de ser... (quando lembrar o nome do filme posto nos comentários)

sábado, 15 de novembro de 2008

Só brumas


Havia um realejo que tocava de manhã. Não tenho certeza da hora, lembro que coincidia com a hora de mamar. Tocava temas alegres, não sei precisar as notas, sei que haviam poucos bemóis. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
O prédio era muito simples, com uma escada externa dando acesso ao piso superior. Muitas árvores ao redor, o via sempre de cima. Não havia qualquer adereço, nem mesmo um toldo para atenuar o sol causticante. Não me lembro de quem morava lá, lembro que estava todo ocupado. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
Ela conversava com dois homens, um era o marido. Usava um vestido azul intenso muito bem cortado, provavelmente feito por ela mesma, com a sobriedade típica dos anos pré-guerra. O vento era suave, ainda assim lhe assanhava os cabelos de ébano, lhe dando um aspecto de celebridade. Não sei precisar o lugar, somente sei que foi na Alemanha, em um campo ensolarado e certamente alto, talvez na região dos Alpes, pois o vento era inclemente em várias ocasiões. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
Não era um chalé pomposo, tinha um charme indelével justo por sua austeridade, que ficava mais evidente com a neve em grossas camadas ao seu redor, escorridas do telhado íngreme. As luzes estavam acesas, os vidros a permitiam amarelar a neve por vários metros, não chegando entretanto à árvore nua que ficava logo depois. Um incidente grave foi quando um dos garotos caiu na água gelada e a mãe foi socorrê-lo. Conseguiu, provavelmente, também sair, após muita luta, do buraco no gelo fino. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
A estrada vazia, com postes a perder de vista, tudo muito moderno e bem feito. O céu estrelado, sem uma nuvem sequer. Creio que era lua nova. Estávamos em boa velocidade, mesmo assim parecia pouca, pois a grande largura e a ausência de curvas da estrada tolhiam as referências. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
As estrelas tão próximas! As construções de uma beleza quase asfixiante, amplamente envidraçadas, o céu limpo e uma total despreocupação com o futuro. Não mais havia medo. Voava entre as estrelas com a facilidade de quem vai à padoca da esquina, quando via que não eram brancas como pensava noutro tempo, eram várias cores e tonalidades, cada uma com a sua específica, algumas com várias. A música não findava, nunca. Suave, enternecedora, linda de se admirar. Mas é tudo muito brumoso, vejo o que a neblina permite.
Ainda vejo algo, de vez em quando. Não é imaginação, sei para onde os olhos apontam e não é a região da antena cerebral que capta a imaginação.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Crescit in egregios parva juventa viros*

* (Dos meninos se fazem os homens)

Esses dias estava conversando com o César. Eu e ele nos conhecemos desde os 3 anos. Hoje eu tenho 29. Ele, 28. Mas somos amigos desde a infância, este é o ponto.

Estou à beira dos 30. Ficando velho. Ele também. E todos os nossos amigos, também.

O Júlio, sofreu um acidente horrivel. Ficou em coma por mais de 20 dias. Mas sobreviveu, e hoje está aí vendendo saúde. Faz faculdade de Letras, está noivo e trabalha numa grande indústria farmacêutica.
Há 10 anos atrás, ele tinha acabado de entrar numa faculdade que não quis fazer depois. Não namorava. Não trabalhava. Não fazia muita coisa, além de falar merda comigo e o César.

O Alvaro, hoje, é tatuador. Mora em São Lourenço da Serra. Tem dois filhos com a Priscila, que era uma das meninas mais bonitas daqui. Rala que nem um fdp pra sustentar os filhos. E a Pri também.
Há 10 anos, ele não fazia nada além de balada. Tinha o apelido de "Zé Galinha". Sim, ele era pegador. Ela, estava fazendo faculdade de Moda.

O Tiago, irmão do Cesar, hoje está pra sair de uma clínica. Quase se matou.
Há 10 anos atrás, ele só estudava e ficava atrás do Cesar e de mim.

O Gustavo, irmão mais novo do Cesar, está fazendo cursos e se transformando num técnico de som. Dos bons, mesmo.
Há 10 anos atrás, ele era só um pentelho.

O Cesar, hoje, está se tratando pra perder peso, depois de ter chegado à quase 210 kg. Chegou a ser internado. Ficou mal pra cacete. Mas tá cada dia melhor, graças à Deus.
Há 10 anos, ele era um puta baixista, um puta músico, fazia facu. E zoava. Muito. Comigo e com o Júlio. E o Alvaro. E o Tiago. E o Gustavo. Resumindo, ele zoava todo mundo.

Eu, hoje, tenho 1 divórcio na conta. Estou desempregado há 8 meses. Com dívidas. E tendo uma recaída da Síndrome do Pânico que me aflige desde os 22 anos. E sem muita perspectiva.
Há 10 anos, eu estava buscando uma namorada, cabulando aula e bebendo.

Todos nós crescemos. Envelhecemos. Sofremos. Dos meninos se fizeram homens. E homens que ralam todos os dias. Pra continuar vivo. E pra viver ainda mais.




Da esq. pra dir.: Tiago, Gustavo, Cesar, Alvaro, Priscila, Julio e eu. Da última vez em que estivemos todos juntos.



--§--

Este texto é uma pequena homenagem aos amigos que me acompanharam por esta vida.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A chuva cai lá fora




Chove cães, gatos, cântaros, canivetes e tudo o mais que tem direito aqui em Florianópolis desde sei lá quando. Não lembro qual foi o último dia completo de sol a que assisti, e o nosso velho slogan "Terra de sol e mar" há muito parece ser mais uma piada de mau gosto.

Todos os trocadilhos, perguntas bobas e piadinhas possíveis de ser feitas com chuva já foram usados à exaustão. Assim, diante da evidente tempestade lá fora, alguém pergunta, ironicamente: "Será que vai chover?"; no meio de mais uma semana de cacau (*), a indefectível e suas variantes: "vamo tudo virá sapo"; perante a óbvia insistência dos pingos, o desânimo: " Mas meu Deus, quando é que vai parar de chover?", com todas as alusões possíveis e imagináveis ao time que está perdendo no momento, ao mau humor de São Pedro e por aí a fora.
Fico me imaginando como a menina da foto acima, me perguntando quando a chuva vai parar pra eu poder ir brincar lá fora. Aliás, as crianças estão impossíveis com essa chuva toda, e vocês devem imaginar como está delicioso dar aula para adolescentes que não têm onde gastar suas energias. A foto surrupiei de: http://ceuestrelado.blogs.sapo.pt/arquivo/chuva.JPG
Então, hoje, mais uma vez em meio à chuva, resolvi que iria falar de... chuva! Mas não é qualquer uma não, é a cantada e decantada em verso e prosa. Achei que seria algo divertido, e que era relativamente original, mas vi que alguém já tinha pensado nisso antes, colocando algumas músicas com chuva na sua listinha.

Vale a leitura: http://www.anica.com.br/2008/02/26/musicas-com-chuva. Concordo com tudo o que ela falou, em especial de "Rain drops keep falling on my head" ( http://www.youtube.com/watch?v=lHPm0hsSNFo), que é uma delicinha pra se ouvir, e ainda me lembra o Pateta, que a canta de quando em vez nos bons e velhos desenhos clássicos.
Eu ainda acrescentaria outras em inglês, mas cito aqui duas de que sempre lembro: "Rain and tears" (http://www.youtube.com/watch?v=nnf7ISLpQdw) e, obviamente, a lindinha Rhythm Of The Falling Rain (http://www.youtube.com/watch?v=h5ZSSM2U6m0&feature=related), que tem uma versão brasileira muito bacana de Demetrius, gravada e regravada, cuja versão com cifras para violão tem aqui: http://cifras.clickgratis.com.br/demetrius/ritmo_da_chuva-4414.html.
Sim, ainda tem "Singing in the rain", maravilhosamente cantada e dançada com o fantástico Gene Kelly. Mas depois de quase três meses de toró (*) por aqui, dá vontade de baixar a Mirtes, pegá-lo pela orelha e dizer: "sai dessa chuva, menino!".
Então, pra finalizar, algumas músicas brasileiras que sempre me vêm à mente quando chove.
1. "A chuva cai". Pra dançar e cantar, da qual tirei um trecho pra pôr o título no post. Duvido que não teve pelo menos um que saiu cantando esse clássico samba.
2. "Deixa chover". Sim, Guilherme Arantes, e sim, eu gosto : " Deixa chover/Ah! Ah! Aaaaaaah!Deixa a chuva molhar/Dentro do peito/ Tem um fogo ardendo /Que nunca, nada/ Nada vai apagar...". E aposto como mais alguém aí cantou.
3. "Que maravilha". "Lá fora está chovendo, mas assim mesmo eu vou correndo só pra ver o meu amor..." ... essa ainda me faz lembrar a imprevidência que é sair de vestido - e branco - em dia de chuva. Mas gente, se o meu amor me girar no meio da rua e achar uma maravilha... ai, ai..........!!!
4. "Chove, chuva". Sempre canto - e às vezes, quando não tem ninguém olhando, danço - quando chove demais.
5. "Enquanto durmo", lindamente interpretada pela Zélia Duncan. Suspiro com essa.
(*) Cacau e toró são sinônimos de chuva por aqui.
Enquanto escrevo, um pouco de sol deu as caras. Efeito talicôsico! Corceluia!
Edit: Como pude esquecer de "Chuva de Prata"???

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Novela? Nem pensar!

Quando eu era criança, adorava novelas. Todo mundo assistia, e os pais ainda não tinham chegado à conclusão de que certos programas eram inadequados para crianças.

Na adolescência, mesmo na minha fase mais rebelde sem causa, continuei assistindo, embora não contasse isso para os meus amigos “do mal”.

Agora, passados alguns (pouquíssimos) anos, joguei a toalha. Não assisto mais, não consigo. Cada novela que estréia, eu penso “Ah, essa vai ser legal!”, mas sempre me decepciono e largo de mão. Das que estão no ar, a das seis e a das sete, não vi um capítulo sequer.

Alguns motivos para desligar a tevê e ir fazer outra coisa:

1-As Helenas são todas umas insuportáveis

Não vou mentir que nunca gostei das novelas do Maneco. Eu gostei daquela em que os bebês foram trocados (“Por Amor”), especialmente porque existia Branca Letícia de Barros Motta, uma vilã com V maiúsculo (tentou matar o filho a tesouradas, incriminou o namorado da filha e vivia falando mal de todo o mundo). Também achava legal “História de Amor”, talvez porque aquela foi a primeira Helena da Regina Duarte, era novidade. Agora, depois que Regininha Torcicolo interpretou duas mil e quinhentas Helenas, eu cansei. A última foi de chorar de pena. A mulher passou a novela inteira fazendo discurso pró-excepcionais e procurando escola para a filha! Uma protagonista tem que fazer bem mais do que isso, não é mesmo, minha gente?

2-Não fazem mais novelas “nordestinas”

Novelas nordestinas são ótimas. Todas elas sempre têm um quê de realismo fantástico. Lembram do Cadeirudo? Da Mulher de Branco? De Jorge Tadeu e suas flores? De Tião Galinha e seu cramulhãozinho? Por que não fazem mais, por quê? Fora que a gente aprende expressões como “ficar de trololó”, “mangando de mim”, “morreu de morte matada” e “se assunte!”. Quem mora no Nordeste diz que o sotaque das novelas é totalmente fake, mas o importante é se divertir.

3-Não fazem mais novelas que, de tão ruins, são boas

“O Clone” era assim. A novela não tinha pé nem cabeça, todo mundo viajava para o Marrocos a torto e a direito, Lucas parecia que estava sob o efeito de quilos de tranqüilizantes, Tio Ali fazia aquelas dancinhas ridículas... Mas foi a melhor novela de Glória Perez. Aliás, essa autora merecia um prêmio, só por ter criado os melhores bordões da história da dramaturgia brasileira. “Arrastando meu nome pela medina”, “Né brinquedo, não!”, “Cada mergulho é um flash!”, “Vou te jogar no vento!” ,“Espalhando a corrupção”e a clássica “Ardendo no mármore do inferno” são frases que ainda hoje me ocorrem. Adoro!

4-Faltam galãs que saibam interpretar

Do que adianta as mulheres fazerem e acontecerem, se os homens não acompanham? Toda a mocinha – e toda a vilã – precisa de um par romântico à altura. Enquanto os mais jovens não aprendem, os autores apelam para os Matusaléns. E eu não tenho mais paciência para ver Marcos Paulo, Tony Ramos e José Mayer bancando os garanhões. Chega a ser constrangedor. Alguém pode me dizer o que é o visual do José Mayer nessa novela das oito? Eu tenho medo!

5-Faltam boas histórias

Este é o item mais complicado. Novela não precisa de inovação. Porque é sempre a mesma coisa: filho que não é filho, ricos que perdem tudo, pobres honestíssimos, pais perguntando: “Quanto você quer para se afastar do meu filho?”. Pode repetir todos os clichês, mas tem que ser boa. Precisa mobilizar o país. Quem comenta “A Favorita”, gente? Não sei dizer o que falta, se são boas tramas ou bons personagens. Só sei que me recuso a ligar a tevê e ver aquele visual fashion from hell do Silveirinha...

sábado, 8 de novembro de 2008

Festa de criança 1

Ontem fui a uma festa de crianças. O filho de uma colega completou um ano.

Fora a dificuldade por ter sido longe, e eu ainda não ter minha furreca, tudo correu bem. Mas me impressionou as cousas que no meu tempo de criança não eram sequer cogitadas, senão em festas de milionários. Touro mecânico, cama elástica, piscina de bolinhas, um castelinho inflável, um monte de garçons e funcionários para cuidar dos petizes.


Não faço uma crítica, apenas um paralelo de quem se habituou às austeridades de um aperto econômico que já dura trinta e seis outonos. Quando eu era criança, no máximo haviam balões e chapeuzinhos cônicos de papel, estes presos com elásticos dos mais vagabundos, que não raro chicoteavam o olho de alguém.


Brinquedos? Se houvesse uma árvore no quintal, haveria um balanço feito com uma ripa de madeira e dois pedaços velhos de corda, com certeza uma seria de cisal e a outra de plástico.


Quem tivesse uma vitrola, teria som ambiente. Nós não tínhamos, no máximo o rádio de pilha e não era muito diferente de festinhas de crianças mais abastadas do que eu. O básico não diferia.


Ontem, chegando ao salãozinho de eventos do sindicato, já encontrei a entrada toda embalonada, com bexigas tradicionais e de esculpir. Lá dentro, ainda quase vazio posto que gosto de chegar cedo, vejo a molecada já presente em fila para pagar micos no touro mecânico, no palco uma mesa decorada com bichos de pelúcia, pirulitos, maçãs-do-amor, um cenário de bosque onde tinha até um leão sorrindo. Tá, sabemos que sorriso de leão é jugular rasgada, mas as crianças ainda não precisam saber disto.


Interessante notar que as crianças mais novas eram justo (dos cinco aos nove anos) as que se saíam melhor no tal touro mecânico. Respeitando a capacidade de cada um, a operadora do brinquedo derrubava seis ou sete adolescentes para cada criança que caía. Havia uma fofinha em um vestido pink rodado, nos seus seis aninhos, que me lembrou a amiga Eddie Van Feu, falando mais que o homem da cobra e se jogando naquela cousa sem dar trela às limitações de seu pouco tamanho, ainda que precisasse de ajuda para subir no brinquedo e ajeitar o vestidão com anágua.


A algazarra vocês podem imaginar, pois o que imaginarem será pouco. Tão logo os parabéns foram cantados, a bagunça que já se instalara virou um pandemônio. Pelo menos nisto ainda é como naquela época.


Decerto que a Luciene pagou os tubos para dar aquilo ao Diogo, e espero que ele valorize esse esforço com o tempo, se não quiser ter o traseiro listrado por uma vara de marmelo. Ainda assim é cousa com a qual nem sonhávamos nos anos 1970, haviam vezes em que eu via gente chegando com presentes (nem sempre para mim) sem ter idéia do que se tratava, pois se servia uma mesa mais apurada e nada mais. A festa era a visita.

Vocês, mamães e papais neófitos, não tardem em mostrar aos rebentos as diferenças abissais que separam a frugalidade doutrora, da opulência fácil que temos hoje em dia. Um dia, já casado, minha esposa terá que me meter a colher de pau na cabeça todos os anos, pois minha tendência é manter o frugal e não dar pelotas para datas comemorativas.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

MEME Trilha Sonora.


1°) [Créditos Iniciais] – "Thunderstruck" - AC\DC. Não consigo não me animar com essa música.

2°) [Acordando] - "No Surprises" - Radiohead. Porque eu preciso acordar aos poucos. With no surprises.

3°) [1° dia de aula] – "School's Out" - Alice Cooper. Porque eu adoro estudar, mas não gosto de ir à escola.

4°) [Se Apaixonando] – "If I was Your Vampire" - Marilyn Manson. Sem explicação. Só é essa. Ponto.

5°) [Música de Briga] – "(Can't you) Trip Like I Do" - Filter. Porque é rápida e louca. Como uma briga. Rápida, louca. Violenta.

6°) [Terminando Tudo] – "Space-dye Vest" - Dream Theater. Me ache uma música mais triste que essa.

7°) [Aproveitando a Vida] – "Rock'n'Roll All Night" - Kiss. Auto-explicativa.

8°) [Formatura] – "Rock you like a Hurricane" - Scorpions. Essa dá uma sensação de "Agora lá vou eu!".

9°) [Caindo aos Pedaços] – "Gently" - Slipknot.

10°) [Dirigindo] – "Born to be wild" - Steppenwolf. Tá, é óbvia. Mas tem tudo a ver.

11°) [Flashback] – Qualquer uma do Glenn Miller. Pq me faz lembrar de quando eu era pequeno, e meu pai ficava ouvindo os LPs.

12°) [Reatando Namoro] – Sinceramente, é dificil. Nunca reatei. Mas acho que "Snuff" do Slipknot tem a ver.

13°) [Casamento] – "Hava Nagila". É uma canção judaica tradicional. Significa "Vamos nos alegrar". E é o que se supõe acontecer num casamento, ué.

14°) [À vespera da Guerra] – "La Vie en Rose" - Edith Piaf. Pra quem não sabe, o cara que compôs essa música era um soldado que estava indo pra guerra. Um dia antes de embarcar pra guerra, ele foi até a Edith Piaf. E deu a música pra ela.

15°) [Batalha Final] – "Ride of the Valkyries" Richard Wagner. Porque é grandiosa. Como uma batalha final tem que ser.

16°) [Momento de Triunfo] – "Overture 1912" Tchaikovsky. Não preciso dizer nada. Quem viu "V de Vingança" sabe que tem tudo a ver.

17°) [Cena de Morte] – "Heaven Can Wait" - Iron Maiden. Porque tem aquela coisa de "só mais um pouquinho vai. Só uns 10 anos à mais".

18°) [Créditos Finais] – Sinfonia Nº 9 de Beethoven, 1º Movimento. Porque é grandiosa, mas melancólica.


Os escolhidos pra seguir o MEME serão comunicados com 3 dias de antecedência via formulários prechidos em 5 vias e com firma reconhecida.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Meu processo criativo deu "tilt".




Encontrei uma nova e fabulosa desculpa para quando não consigo postar nada, catada do meu querido Calvin.
Ele, sempre ao lado de Haroldo (Hobbes), ora seu cúmplice, ora seu sarcástico tutor, é e sempre será o exemplo mais claro de meu lado "malvado" e postergador.
Assim, minha mente deu "tilt" que nem o processo científico dos livros que ilustram esse post.
Não há limites para as descupas de Calvin para ser mau, e também não há limites para minhas desculpas em não escrever, ou fazê-lo de forma tão precária.

O melhor de tudo é que, como a imaginação de Calvin vai ao infinito, nunca faltarão: alienígenas que o abduzem e o trocam por um robô; um clone malvado; uma propensão maléfica; seu tigre de estimação agindo pela surdina, nos famosos ataques de tigre ou em cartas cifradas ameaçadoras.
Quando acabarem as desculpas do volume acima, poderei usar as do seguinte e em todas as demais, já que ele é mestre na arte da escusa.


Calvin sempre me inspira! :)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Para Esfinges

(...) Então, nesse caso, o que é o conhecimento? Deve ser um típico brinquedão novo, com o qual os pueris se gabam e o expõem aos tolos, como se fosse um estandarte cintilante.
Ou poderia ser uma dessas armas de fogo pós-modernas que conseguem devastar os vivos ao comando de um só dedo. O conhecimento sendo usado para subjugar, diminuir, humilhar. “Eu sei, você não sabe!” Ora, segredinhos infantis.

Ah, uma barra de ouro, o conhecimento. Um olho em terra de cegos. Um pássaro na mão. Uma mão na roda. O bilhete premiado. Guardado, enclausurado, claustrofóbico. O último biscoito do pacote, protegido dos demais. Somente um então deverá possuí-lo. Uma pedra de ametista, um baú azul-escuro.

O conhecimento devia ser como aquilo que brota, aquilo que é acessível a todos. Aquilo de onde quanto mais se tira, mais se tem. O conhecimento devia ser um bem divisível, emprestável, compartilhável. Jamais destrutivo. Nunca penhorável.

Quer que eu conte outra utopia?


***

Hoje é aniversário de nossa célebre Cinderela Baiana, a Meg! Nossa Rafa do Pellot! Feliz Aniversário e muito, muito axé pra você!

sábado, 1 de novembro de 2008

Física quântica

Frank: Ontem eu assisti às aulas da manhã, enfrentei uma maratona pra comprar tickets e remédio anti-ansiedade e ainda assisti às aulas da tarde. Quando tava voltando pra casa... Guess what! No meio do caminho, o motorista simplesmente virou pra trás e disse que o ônibus tava SEM FREIOS (!!!!!), assim como quem diz "passa a manteiga", ou "essas mais de mesa"! Daí eu peguei outro ônibus e tive de ir direto pra o curso, onde eu tive mais aulas sobre o que é uma tese... O pior é que enquanto escrevo isso, fico fazendo análise sintática das frases (Faz parar!!!!!!)

Carol: KKK, pelo menos cê treina... Eu tava morrendo de sono, mas passei a tarde estudando, fui pra o curso e errei TODAS as pronúncias de tão cansada que eu tava, fui pra o curso da noite e cochilei durante a aula de geografia, não consegui acompanhar a matéria que o professor tava dando... E não falava coisa com coisa. Ah, sem contar com minha dor de cabeça.

Frank: aff, tirando a parte de quase morrer à la O carro desgovernado, cê tá bem pior. Mas o foda é que eu total não com clima de assistir aula desse Sim (de The Sims) chato! Tipos, naquela vibe de quando se falta aula, sério! Não com o mínimo senso de compromisso, acho que joguei tudo pro ar, o lado bom disso tudo é que vou passar a tarde dormindo! (VIVA!)

Carol: Eu com muito sono, ando dormindo mal, acordando antes da hora, e hoje não com o humor lá muito bom...

Frank: Vá pro médico... Isso é estresse (alguém não leu a proposta de redação da FANEC). No mínimo isso é ansiedade, e remédios pra ansiedade fazem você dormir bem...

Carol: Ah, mas eu não gosto de remédios, e já tenho taquicardia pra ter efeitos colaterais iguais aos seus.

Frank: D'oh! Como que um remédio pra ANSIEDADE vai causar TAQUICARDIA (um dos sintomas da ansiedade)???????????? Além do mais, cê super pode tomar algo natural (eu disse tomar, não fumar, peloamordedeus) tipo o meu remédio, o Kava Kava, que ainda tem um nome legal!

Carol: Mas cê disse que o de ansiedade tirava a concentração, daí cê tinha de tomar um pra concentração que dava taquicardia!

Frank: Nem, era outro que dava taquicardia... E a concentração eu não tenho por vida mesmo, foi o médico que disse depois de umas consultas... Eu nunca passo muito tempo focado em algo, acho que só aprendo as coisas pq meu QI é 130...

Carol: Eu também não tenho concentração, mas acho que meu QI deve ser 30...

Frank: Carol, acho que o mínimo de QI humano é 85, seu QI é no mínimo esse, a não ser que sua mãe tenha passado a gestação em Goiânia e cê tenha sofrido com a radiação...

Carol: Ah, droga, agora descobri que não sou humana, sério... Cê bem que poderia ter dito "Não Carol, seu QI deve ser, rebaixando ao mínimo, 150!". Valeu pelo apoio...

Frank: Hahahaha! Seu boletim total me impede de dizer isso... Mas acho que seu QI deve ser maior que 110... O foda é que cê só usa pra coisas inúteis, tipo decorar todas as falas de Gossip Girl, ou repassar notícias do E! News.
PS.: Socialmente considerado inútil, pois isso é o que realmente importa na vida. Tipo, pouco me fudendo (mentira , fudido) se U= E- ri! Mas super me preocupo sobre quem vai morrer em GG...

Carol: Quem vai morrer em GG?!?!?!?!?!

Frank: Nem sei, mas se levarmos em consideração que é do mesmo produtor de O.C, vai morrer alguém tipo a Blair, ou a Serena, até pq esse cara AMA destruir um enredo...

Carol: KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK é verdade! Tomara que seja Serena, adoro Blair

Frank: não vamos discutir por causa disso novamente, peloamordedeus (prefiro S.)

Carol: Caramba, CHEIA de espinhas e estourando todas elas, ODEIO fazer isso, mas essa foi a mania que arrumei pra substituir a de roer unhas

Frank: EW! Que nojo. Sei lá, cê podia substituir a mania de roer unhas por mania de estudar! Se bem que aí seu pai iria lhe tirar da terapia, alegando cura TOTAL!

Carol: Acorda, é mais fácil Jesus voltar e Paris ser virgem que eu ter mania de estudo, por sinal, olha as crateras na minha CARA, cê reparou?

Frank: Cê sabe que eu não reparo em nada, NUNCA! Mas, olhando bem, nem tá tão séria a coisa, cê pode muito bem dizer que dormiu no sítio e que isso é picada de mosquito...
EEEEI, pára com isso, JÁ, é nojento, sério!!!!


Carol: Eu seeeeeeei, mas vou substituir isso pelo quê????? Cara, que sono, não vou sair da sala no intervalo!

Frank: Ah, sei lá... Cê assiste a todas as séries adolescentes possíveis e não sabe como surtar? QI 30 pride?
Falando sério, cê precisa comentar seu quadro de ansiedade com sua analista, ou tomar quilos de Kava Kava.

Carol: Tá, vou até anotar, vou lá hoje... com vontade de vomitar, será que isso tem alguma relação com o fato de eu não comer desde o almoço de ontem?

Frank: Sério????????? (mode voz da psicóloga fanha do ano passado on) ANORÊÊÊÊÊÊNXIA!!!! (off)!!! Ter aversão a comida e vontade de vomitar também são sintomas da ansiedade

Carol: Não é que eu ando comendo muito, daí resolvi parar por um dia...

Frank: Agora sim cê tá usando o que aprendeu no Warner Chanel rsrsrsrsrs... Falando sério, pare com isso agora e fale com sua terapeuta!

Carol: Tá, mas faz parte da ansiedade esquecer o que fez no dia anterior?

Frank: Não, cê só bebeu muito rsrsrsrs... Alcoolismo.


Aiai, acho que é bem assim a cabeça de maior parte dos jovens do mundo... Cheia de ocupações, neuras hipocondriacas, não consegue manter um único assunto e tem muitos, mas muitos provlemas manais!
Ah, sem contar com a total aversão a física (que era aula que se passava enquanto trocávamos bilhetes)

A vida continua, sempre



Era uma vez três moças, que estavam à mesa de uma lanchonete com um chopps e três pastel. Três beldades com distintas características, mas perfeitamente complementares entre si.


Flávia era meio sarcástica, até mordaz em alguns momentos. Clarissa, bem, já foi vista tentando acender a caneta enquanto passava o cigarro no papel. Viviana, a mascotinha do trio, era rebelde e subversiva sob a pele de menina frágil.


Quando Clarissa percebeu que o cigarro não tinha tinta, as três se tocaram de fazer um blog. Na época não era cousa muito popular. Eu mesmo torcia o nariz para isto, nem de internet gostava. Mas as três cinéfilas encasquetaram e inauguraram o dito.


Com o tempo e os milagres da internet, amealharam atenções, corações e inimigos invejosos. Tiveram que abrir um fórum para tanta gente se aboletar sem apertos. Então veio o sucesso.


Ah, o sucesso. Quem dera metade dele fosse em grana viva. Mas o aceitaram mesmo assim. Os foristas foram chegando, se amontoando e tagarelando. Ateus, bruxos, católicos, espíritas, judeus, protestantes, umbandistas, zoroastristas, enfim, uma fauna diversificada. Seus textos eram esperados, ansiados, muitas vezes descaradamente plagiados por outros blogueiros.


O sucesso, porém, tem a dualidade da exposição excessiva. Logo apareceu um que xinga a mãe por tê-lo beijado na frente dos outros fedelhos (como fazem em certos fóruns) e começou a bagunçar o coreto. As baixas foram muitas e caras. Em seguida outro idem invadiu os códigos html (ou seja lá como se escreve essa bodega) e tirou o Fórum do ar. A labuta incansável das três blogueiras conseguiu reestabelecer a ordem e o progresso.


O maior inimigo, porém, está dentro de casa. Embora para muitos não importe, elas têm vidas próprias, e estas vidas fazem o que devem e não o que queremos. Viviana emigrou para San Francisco. De início os textos até melhoraram e muito, mas logo a neurose corporativista dos ianques a fez se distanciar, pouco a pouco, daqueles que tanto ama e tanto a amam. Tornou-se comum as quartas e os sábados ficarem vazios.


Clarissa começou a ver a vida passando e se apressou em aceitar convites para trabalhos, além de relatar em seus textos as visitas estranhas a médicos ainda mais estranhos, com nuances muito estranhas; continuava tentando fumar o lápis e escrever com o isqueiro. Mesmo assim os textos saíam. Mas já também começavam a falhar.


Flávia, então já mãe, se desmanchava em textos sobre seu rebento. Sabrina se mostrava muito matura e responsável, muito mais que a maioria dos adolescentes, em seus três aninhos. Passou a ser a mais presente das três, se esforçava para dar conta, mesmo assim começou a falhar.


Nossas três heroínas já demonstravam cansaço e desejo de liberdade há tempos. Eu notava que mais hora, menos hora, deixariam formal e definitivamente a actividade literária do Garotas Que Dizem Ni. Não sei se meus olhos de mago me enganam, mas uma ou duas lágrimas as ondas electromagnéticas do computador me fizeram perceber em cada uma, várias vezes.


Elas amavam o que faziam, muito, mas também estavam cientes de suas limitações e necessidades pessoais, que estavam sendo negligenciadas em prol de pouco mais de dois mil foristas, dos quais cinqüenta, se muito, são realmente assíduos. Então decidiram a três corações, ainda que cortados, encerrar as actividades. Comunicaram aos foristas mais íntimos, para que ajudassem com os outros, e Clarissa deu a notícia. Já fizera algo como isto antes, mas desta vez não era brincadeira. E desta vez não teve "Um abraço abraçado, minha flor alvinegra". Porque não foi literatura, foi despedida.


Eu tinha preparado para hoje algo sobre as pin-ups de Alcêu Pena, mas nós não mandamos na vida, é ela quem manda em nós, por mais que nosso cérebro limitado se esforce em burlar suas ordens. Noutro dia falo do Mestre Pena.


Mas o negócio não é um Fiat Dobló, é uma Rural Willys. Não é feio como parece e é bem mais proveitoso do que se pensa. Elas deixaram claro que manterão o arquivo e o fórum até onde conseguirem, Mamma Flávia já avisou que abrirá um bloguinho particular e menos abrangente, provavelmente falará de viagens e de Sabrina, ao menos principalmente,


Decerto que muita gente vai evadir, não terá motivos para continuar conosco. Que D'us as abençoe, ficarão os que realmente têm compromissos uns com os outros. E vamos enxugar essas lágrimas, que elas estão vivas, Clarissa tomará juízo e deixará de fumar, Viviana de voltar a freqüentar o Fórum e Flávia ainda contará muitos casos de suas viagens, só não o fará em forma de texto, mas em conversas internas.


E para não fugir à tradição: Um abraço de vida nova, minhas flores de bolinhas. 8)