Havia um realejo que tocava de manhã. Não tenho certeza da hora, lembro que coincidia com a hora de mamar. Tocava temas alegres, não sei precisar as notas, sei que haviam poucos bemóis. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
O prédio era muito simples, com uma escada externa dando acesso ao piso superior. Muitas árvores ao redor, o via sempre de cima. Não havia qualquer adereço, nem mesmo um toldo para atenuar o sol causticante. Não me lembro de quem morava lá, lembro que estava todo ocupado. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
Ela conversava com dois homens, um era o marido. Usava um vestido azul intenso muito bem cortado, provavelmente feito por ela mesma, com a sobriedade típica dos anos pré-guerra. O vento era suave, ainda assim lhe assanhava os cabelos de ébano, lhe dando um aspecto de celebridade. Não sei precisar o lugar, somente sei que foi na Alemanha, em um campo ensolarado e certamente alto, talvez na região dos Alpes, pois o vento era inclemente em várias ocasiões. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
Não era um chalé pomposo, tinha um charme indelével justo por sua austeridade, que ficava mais evidente com a neve em grossas camadas ao seu redor, escorridas do telhado íngreme. As luzes estavam acesas, os vidros a permitiam amarelar a neve por vários metros, não chegando entretanto à árvore nua que ficava logo depois. Um incidente grave foi quando um dos garotos caiu na água gelada e a mãe foi socorrê-lo. Conseguiu, provavelmente, também sair, após muita luta, do buraco no gelo fino. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
A estrada vazia, com postes a perder de vista, tudo muito moderno e bem feito. O céu estrelado, sem uma nuvem sequer. Creio que era lua nova. Estávamos em boa velocidade, mesmo assim parecia pouca, pois a grande largura e a ausência de curvas da estrada tolhiam as referências. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
As estrelas tão próximas! As construções de uma beleza quase asfixiante, amplamente envidraçadas, o céu limpo e uma total despreocupação com o futuro. Não mais havia medo. Voava entre as estrelas com a facilidade de quem vai à padoca da esquina, quando via que não eram brancas como pensava noutro tempo, eram várias cores e tonalidades, cada uma com a sua específica, algumas com várias. A música não findava, nunca. Suave, enternecedora, linda de se admirar. Mas é tudo muito brumoso, vejo o que a neblina permite.
Ainda vejo algo, de vez em quando. Não é imaginação, sei para onde os olhos apontam e não é a região da antena cerebral que capta a imaginação.
O prédio era muito simples, com uma escada externa dando acesso ao piso superior. Muitas árvores ao redor, o via sempre de cima. Não havia qualquer adereço, nem mesmo um toldo para atenuar o sol causticante. Não me lembro de quem morava lá, lembro que estava todo ocupado. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
Ela conversava com dois homens, um era o marido. Usava um vestido azul intenso muito bem cortado, provavelmente feito por ela mesma, com a sobriedade típica dos anos pré-guerra. O vento era suave, ainda assim lhe assanhava os cabelos de ébano, lhe dando um aspecto de celebridade. Não sei precisar o lugar, somente sei que foi na Alemanha, em um campo ensolarado e certamente alto, talvez na região dos Alpes, pois o vento era inclemente em várias ocasiões. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
Não era um chalé pomposo, tinha um charme indelével justo por sua austeridade, que ficava mais evidente com a neve em grossas camadas ao seu redor, escorridas do telhado íngreme. As luzes estavam acesas, os vidros a permitiam amarelar a neve por vários metros, não chegando entretanto à árvore nua que ficava logo depois. Um incidente grave foi quando um dos garotos caiu na água gelada e a mãe foi socorrê-lo. Conseguiu, provavelmente, também sair, após muita luta, do buraco no gelo fino. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
A estrada vazia, com postes a perder de vista, tudo muito moderno e bem feito. O céu estrelado, sem uma nuvem sequer. Creio que era lua nova. Estávamos em boa velocidade, mesmo assim parecia pouca, pois a grande largura e a ausência de curvas da estrada tolhiam as referências. Mas é tudo muito brumoso, vejo aquilo que a neblina permite.
As estrelas tão próximas! As construções de uma beleza quase asfixiante, amplamente envidraçadas, o céu limpo e uma total despreocupação com o futuro. Não mais havia medo. Voava entre as estrelas com a facilidade de quem vai à padoca da esquina, quando via que não eram brancas como pensava noutro tempo, eram várias cores e tonalidades, cada uma com a sua específica, algumas com várias. A música não findava, nunca. Suave, enternecedora, linda de se admirar. Mas é tudo muito brumoso, vejo o que a neblina permite.
Ainda vejo algo, de vez em quando. Não é imaginação, sei para onde os olhos apontam e não é a região da antena cerebral que capta a imaginação.
3 comentários:
Desdobramento ruleia.
Conte sempre tudo o que lhe for permitido, Mein Kleiner Freund.
Não tenho estas percepções oníricas, mas sempre sonho com textos lindos assim...
Morri.
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