segunda-feira, 25 de março de 2013

A Disney e a menstruação - filme institucional

Buscando por animações de temas livres da Disney, aqueles que quase nunca ou nunca são encontrados nos parques temáticos dos estúdios, encontrei uma pérola. Pelas indumentarias e pela excelente qualidade da animação, a obra é do terceiro terço dos anos 1940, no máximo o parto dos anos 1950.

Antes de mais nada, advirto que não há absolutamente nada de obsceno, então os caçadores de filmes banidos podem ir procurá-los n'outro lugar. Mas não pensem que ninguém se indignou, atentem para o contexto e saberão que isso deve ter ocorrido. Acredito mesmo que grupos de dogmopatas bradaram contra os estúdios alegando que estavam pervertendo sua juventude, incitando as moças de família à degradação moral, à lascívia, à imoralidade! Moças devem acreditar até a morte que as crianças são trazidas pela cegonha, ou mesmo concebidas pelo espírito santo... Mesmo que nem as retardadas com mais de dezesseis anos acreditem mais nisso, e que todas saibam de mães solteiras, o que invalida toda a gritaria!

Tampouco esperem algo de revolucionário para a época. Não se mostram órgãos sexuais, nem mesmo disfarçados, não mostram nem mesmo contornos dos seios. Não há nada de pornographico e nada de libertário... quer dizer, há algo de libertário sim, mas não na acepção que está em voga. Vamos aos comentários sobre a obra.

The Story of Menstruation é uma animação curta, são apenas cerca de dez minutos, não mais do que nove, se descontarmos a introdução e os créditos. Tecnicamente é o que se espera da Disney, que faz(ia) desenhos curtos semanais com mais qualidade do que a maioria das animações de gala de ouros estúdios. Os jogos de luzes e sombras beiram a perfeição, mesmo para um filme que não foi lançado para concorrer a prêmios, mas apenas a título de esclarecimentos e orientação para a vida.

A narração é feminina, toda em inglês, usando um tom de voz suave, materno, mas também firme. Embora não entre em detalhes sexuais, nem de longe mesmo, explica com a competência e a delicadeza necessárias. Ah, isto faz falta nos dias correntes. As pessoas se acostumaram a ser tratadas como coisas, o que acabou se refletindo nas mídias. Diga-se tristemente de passagem, até mesmo as e os ginecologistas tratam as pacientes com certa brutalidade, como se elas quisessem ardentemente sangrar e sofrer dores horríveis todos os meses.

Para quem ainda rumina pensamentos de que cólica menstrual é frescura de mulher, experiente suportar a dor de uma facada no fígado todos os meses. Todos os testes de simulação de que tenho notícia, levaram os voluntários a nocaute logo na primeira fase.

Voltando ao filme, ele encanta pela delicadeza dos traços que confere às personagens. Não, não esperem diversidade de biotipos em um filme quarentista. Esta sensibilidade poderia até ter passado pelas cabeças da equipe, mas o departamento de market teria mostrado razões fortes para barrar a idéia. Pelo menos uma: NINGUÉM O TERIA VISTO. É uma ferida na história americana.

Ainda assim, aqueles que souberem não ser desnecessariamente chatos, conseguirão se encantar com a sutileza da abordagem. Começa, por exemplo, mostrando que tudo o que há na menininha recém-nascida, continua a existir na moça já madura. Tudo com uma naturalidade e neutralidade que os filmes de hoje não têm. As mudanças de humor, o mal-estar, dicas de alimentação e exercícios, tudo o que as moças até hoje precisam saber para enfrentar melhor aqueles dias terríveis, está no filme.

Por ser institucional, ele mostra uma cartilha feita na época, que infelizmente não será encontrada lá, muito menos por cá, a não ser que colecionadores se disponham a digitalizar e rodar o material. Por ser antigo, o vídeo não é de alta qualidade, mas vale cada segundo de admiração, pela qualidade da obra.

O filme só peca mesmo pela duração. É um assunto que ATÉ HOJE suscita dúvidas. Ao contrário do que podem os leitores pensar, a geração dos anos oitenta/noventa se mostrou quase toda incapaz de tocar no assunto com suas filhas. Por isso o filme ainda hoje se mostra valioso, em sabendo relevar moldes culturais de época, e por isso mesmo ele deveria ter uns vinte minutos a mais.

Sem delongas, aproveitem, porque é um filme com a antiga qualidade Disney de animação.



sexta-feira, 15 de março de 2013

A sanfona está chorando


Caríssimos, o sanfoneirto-mor do Brasil está se despedindo. O estado vegerativo em que se encontrada desde Dezembro, evoluiu para coma irreversível.

Internado por infecção respiratória e arritmia cardíaca, o músico de setenta e um anos passou por traqueostomia e hemodiálise, no período de internação. Continua usando marca-passo e tomando medicação, mas o desfecho é virtualmente inevitável.

Não é o tipo de artista que atrai os holofotes dos programas em voga, porque não quebra boates e não faz declarações gratuitamente polêmicas. Talvez por isso o grande público nem sinta sua falta. MAs Garanhuns vai chorar muito.

José Domingos de Morais, ao contrário do que o vulgo pensa, tem um repertório estilístico vasto, que inclui Bossa Nova e Jazz. Não é um cantor bruto, foi lapidado pelos estudos, apenas não perdeu suas referências e nem esqueceu a filiação por Luiz Gonzaga. Concorreu ao Grammy Latino duas vezes, vencendo em 2002.

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quinta-feira, 7 de março de 2013

The Karen Carpenter Story

Fonte: The Carpenters Fan Club

Ainda hoje eu não encontrei um modo digno, a altura para escrever particularmente sobre Karen Anne Carpenter. Confesso que ando indolente, mas não é esta a causa. Karen foi uma pessoa extremamente complexa, a ponto de muitas vezes ser considerada um membro à parte na dupla com seu irmão Richard.

Mas há um filme a seu respeito, feito poucos anos após seu passamento. Não aquele feito às pressas, usando bonecas, mas um com actores de carne e osso: The Karen Carpenter Story. É uma hora e meia amassando a buzanfa por uma boa causa. Foi feito para a emissora CBS, exibido em 1º de Janeiro de 1989. Por isso mesmo não se trata de um filme épico, feito para ganhar o Oscar, mas simplesmente para narrar como os dois irmãos caipiras passaram de músicos da banda colegial, para um dos maiores ícones da música pop do mundo. Mas asseguro que merece um remake hollywoodiano, se algum dia Richard o permitir.

A narrativa é rápida, só faz pausas ou se delonga onde se faz necessário, mal se vê o tempo passando. Começa com Karen desacordada no chão de sua casa, os paramédicos tentando reanimá-la e a jovem Karen de antes da fama assediando a Karen desacordada, de patins... Surreal? Talvez, mas foi um recurso muito bom, que deu o tom do filme inteiro e atiçou a curiosidade de vê-lo até o fim... Que nós sabemos qual foi.

Os primeiros trinta minutos são dedicados a isso, mostrar sem detalhes demais, a chegada da família à nova casa, até o crescente desconforto da moça com a fama crescente. Richard é mostrado como o músico competente que é, aliás, um pianista excepcional, muito respeitado pela crítica... E um antigomobilista que põe a mão na graxa. Karen é mostrada como a caçula jovial, manhosa, impulsiva, sem papas na língua e sem meias-palavras, mas quando decide parar com a brincadeira e cantar à sério... Meu Deus!!!!!!

No fim do primeiro terço, Karen começa a ter preocupações com a forma física que desencadearam a obsessão pelo peso. Ela nem se dá conta de que os espelhos que usa, são portas de aço inox de elevadores, que distorcem mesmo a imagem... Talvez tenhamos aqui uma metáfora, porque ela realmente usava as fontes erradas para se enxergar. Sempre foi uma moça espevitada, meiga, com o biotipo favorável à maternidade, mas o susto pela fama monstra e o contacto constante com artistas altas e magérrimas, além de desilusões pessoais, tiveram efeitos nefastos.

É quando ela começa a usar roupas com enchimentos... Embora tenha se punido de forma estúpida e desnecessária, Karem era um anjo de pessoa, mas temperamental e muito esperta, talvez esperta demais em momentos nos quais devesse deixar as cousas passarem. Ela sabia medir com precisão a diferença de tratamentos, o que aumentava sua insegurança pessoal, como se vê aos 45 minutos do filme.

A produção, embora ainda hoje deixe nossas emissoras babando de inveja, é enxuta, sem exageros, sem grandes photographias, focando esforços na vida pessoal e profissional dos irmãos Karen e Richard, mostrando inclusive o esforço dos pais em fazê-los levar uma vida familiar normal; algo muito difícil, àquela altura do campeonato. O facto é que, embora ela jamais admitisse que se metessem em sua vida, ao menos não enquanto seu orgulho não dissesse que poderia, o irmão costumava intermediar e interceder em seu favor. A coesão familiar foi preservada.

Há legendas cronológicas indicando as épocas em que os factos se passam, com ambientação temporal muito caprichada, especialmente nos figurinos... E sempre mostrando a veia antigomobilista de Richard, parece até que ele fez questão disso. Também parece ter feito questão de mostrar que a ascensão não os estragou, mostrando que é possível sim ficar rico e famoso sem se tornar inimigo de seus antigos amigos... Cutucada em colegas de profissão? Imagina...


Imagem do filme
Para quem procura revelações bombásticas, alguma sordidez ou torpeza ainda desconhecida, pode esquecer. O roteiro não nos poupa dos defeitos da moça, mas não os repete até parecerem hediondos. Tampouco o filme glamoriza Karen, sequer foi escalada uma actriz de beleza acima da média para interpretá-la. Para quem espera colheres de chá, com trechos de músicas ou até uma ou outra completa, o filme é razoavelmente satisfatório.

Enfim, os actores são convincentes em seus papéis, no que se vê clara intervenção de Richard. A protagonista não tentou imitar a voz de Karen, usou-se de gravações, claro, ou vocês pensam que nasceu alguém com jóia vocal semelhante? O filme poderia tranqüilamente sofrer alguns cortes para caber na grade de nossas televisões, afinal é um filme deito para televisão. Bem como pode ser estendido e tornar-se uma trilogia, porque há muitos detalhes importantes que ele não mostra, como a crise conjugal que terminou de estragar tudo, mas isso ainda dói muito nos Carpenter e talvez não seja liberado tão cedo.

O triste nem é saber o final. O triste é saber o final, mas mesmo assim esperar que os paramédicos cheguem a tempo e Karen volte a cantar... Mas eles não chegam... E Karen não volta... Desculpem...

Eis o filme na íntegra: