segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A lição de Os Dez Mandamentos

Filme Pipoca? Talvez, mas para o público alvo, já é um clássico.
  Não, eu não estou fazendo propaganda e nem apologia. Também não é o tipo do filme que eu veria, já foram muitos com o tema e acredito que ele se esgotou, pelo menos na narrativa apresentada. Quanto à novela, francamente, foi arrastada demais para o meu gosto. A questão não é esta. A questão é a lição que essa produção dá ao cinema nacional, que ensaia maturidade, mas choraminga subsídios estatais e acusa o cinema americano de invadir as salas de cinema... The seventies B side still're in here.

  Alegar que a Universal está usando a Record para praticar doping cinematográfico é ridículo, mesmo que esteja. Primeiro porque as duas são praticamente a mesma coisa, segundo porque a Globo também faz merchandising do mais fuleiro de suas produções, exibindo na Sessão da Tarde até os maiores fiascos de bilheteria, terceiro porque não estão fazendo absolutamente nada ilegal. Apesar de a repetição irritante durante toda a programação diária já ter enchido meu saquinho, estão defendendo o que é deles.

  O que fizeram basicamente? Pegaram um producto que já tinham, deram uma caprichada cinematográfica, investiram pra valer nos efeitos especiais e mantiveram o elenco que deu certo na novela. O tema interessa ao público, não só o da Record, acreditem.

  Há reportagens que mostram salas praticamente vazias, durante a exibição da fita, também há que mostram filas grandes para vê-la. Quem esta dizendo a verdade? os dois lados, cada um no momento em que fez sua matéria. O facto é que o Brasil vive uma guerra midiática de palavra conta palavra, imagem contra imagem, vídeos contra vídeos, desacredita a própria imprensa, tanto quanto os políticos já estão há tempos.

  Então vamos às principais lições que eu vi, e que todos os que se dizem cineastas deveriam aprender.

  • Apresentaram um producto que interessa ao seu público. Não fizeram questionamentos sobre a importância retórica, apostólica, historiológica e o escambau. Simplesmente apresentaram algo que já sabiam que o público queria ver e pronto!
  • Não tenho notícias de alguém mendigar apoio federal para rodar um quadro sequer. Tudo foi feito com recursos próprios por gente que sabia o que estava fazendo, para um público que sabia em linhas gerais o que iria ver, o que leva às duas lições seguintes;
  • Houve profissionalismo. Não é porque o tema já tem público certo que viajaram na maionese, ou simplesmente colocaram um resumo da novela na tela. Não comparando com o que Hollywood faz, e que por tanto ainda reinará por um bom tempo, tudo foi bem cuidado. Como producto o filme é honesto e entrega o que promete;
  • Arregaçaram as mangas. Apesar dos rumores de trapaça, por assim dizer, a Record não poderia arriscar um prejuízo em tempos tão bicudos, isso seria um erro mais grave e potencialmente fatal do que os cometidos pela Manchete, e em curso na Bandeirantes;
  • Os interessados se mobilizaram. Em vez de irem às redes sociais para amaldiçoar o cinema estrangeiro, reclamar que o governo abandonou a cultura, perseguir quem esperou com ansiedade pelo Deadpool, foram lá para divulgar algo que queriam ver e chamaram quem puderam para ir ver também;
  • Empresários compraram ingressos para todos os seus funcionários verem o filme, sim, eu sei. Já pensaram se todos os empreendedores mais nacionalistas fizessem o mesmo para os seus? Já pensaram se famílias inteiras combinam de encher uma sala de cinema? Já pensaram que isso simplesmente NÃO ACONTECIA NO BRASIL até a IURD decidir fazê-lo? Pois é! E há muitos fãs do mercenário imortal entre eles;
  • Ninguém foi à internet com aquelas trollagens imbecis como "Record = Adulto! Paramount = m#rd@! Sem mimimi! Eu sou o dono da verdade e ponto final, vão se piiiiii". Foram elogiar o filme que, mesmo não sendo tudo isso, ganhou a simpatia de quem não viu pela, ao menos aparente, civilidade, que tanto falta aos fanboys;
Ainda prefiro este, mas eles mandaram bem.

  Eu sei muito bem o quanto é difícil conseguir recursos para entretenimento, neste país, a não ser que tu sejas um sertanejo universitário, ou uma cantora vestida de galinha pintadinha, ou um funkeiro mirim que se gaba de usar drogas. Sou servidor público e sei muito bem o quanto as cartas são marcadas, neste jogo de trapaceiros. Mas também sei que se fazer de vítima do sistema, o mesmo em que praticamente todos os "produtores" que o criticam querem mamar, não só não resolve como ainda queima o filme, sem trocadilhos.

  Custa fazer um filme pipoca para arrecadar verba e então realizar o sonho do épico relevante? Esnobar o público leigo, ofender o cidadão comum e ainda querer que ele sustente seus devaneios alegadamente artísticos, vai contra todos os mandamentos de um bom cineasta. Então, seu mané, vê se toma juízo, tire seu foco do umbigo e aprenda com os acertos de quem tu desprezas! Porque um dia, pode ser justo esse desprezado que vai patrocinar teu sonho.