quarta-feira, 30 de março de 2011

Calendário musical

Como vocês já sabem, uma das coisas de que mais gosto é fazer pesquisas gugólicas de termos e músicas sobre determinados assuntos. Hoje o tema é calendário, só canções em português. O critério é apontar a primeira música da busca que tenha a expressão no título e na letra. Da lista, só conheço duas: Águas de março e Manhãs de setembro.

Começando pela própria palavra "calendário", cito três exempos: Calendário do Amor, que aborda a saudade e como lidar com ela dia a dia; Calendário, no mesmo tema da anterior. Calendário, o mesmo título e uma variação do tema, tem uma dose de culpa e de esquecimento.


Indo para os meses, temos:



  1. Janeiro a janeiro, que trata de alguém que quer o outro ano a ano;


  2. Fevereiro, além do amor, obviamente aborda o carnaval;


  3. Águas de Março, finalmente uma música boa, que nem preciso descrever, não fala de amores e ex-amores - e que conheço de ponta a ponta;


  4. Primeiro de abril, sobre amores frustrados e o dia da mentira;


  5. Maio, aborda a solidão e o final do dito mês;


  6. As noites de junho de antigamente traz a nostalgia das festinhas do período junino e de um tempo que soltar balões não era tão perigoso nem tão exibicionista;


  7. Julho de 83, um pouco de amor adolescente e lembranças perdidas;


  8. 1º de agosto, traz solidão e dias ensolarados num mês que pras minhas bandas costuma ser de muito vento e frio;


  9. Manhãs de setembro, canção que me faz sempre querer alcançar o tom de Vanusa no seu auge, trabalha a slidão e a vontade de a superar, de sair, falar e ensiar o vizinho a cantar nas manhãaaaaaaaaaas de setembro, nas manhãaaaaaaaas de setembro... E a única que fugi ao critério acima, porque eu não poderia deixar de fora a música que me inspirou esse post.


  10. Outubro e depois, um amor possível e uma vontade de construir, letra bobinha, mas interessante a ideia de se fazer planos juntos, achei válida.


  11. Doce novembro, auto-piedade e solidão, mais uma doçura fugidia.


  12. Dezembro, o mês que o autor não vai ficar sem sua amada. Decidido, o letrista, não?

Mas, no fundo, no fundo, os dois grandes temas de todas são o amor e o medo da solidão. Como quase toda canção, aliás.





Quem diria, o título do post é o nome de um CD da grande Emilinha Borba!!!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Capitão América - A glória da bomba!

Isto resume o espírito do Capitão América
Mais uma colaboração da patota do Alcatéia.com (vai lá) para com este obscuro escriba e deleite dos nossos leitores.


Steve Rogers nunca foi um sujeito dentro da média americana, sempre esteve muito abaixo dela. Magricela, nanico, cara de bobo e um "LOSER" em neon fuscia aceso na testa.
Mas havia um ponto em que Rogers era muito, mas muito acima da média mundial, seu caráter. Apanhava feito cachorro sem dono, mas jamais desistia, jamais dava ao valentão o prazer de vê-lo pedir para parar, de implorar perdão. Como nunca desistia, nunca perdia a briga, vencia pelo cansaço, ou pela perda dos sentidos.
Veio a tenebrosa Segunda Guerra Mundial e Steve tentou se alistar. Por questões de ética da época, os examinadores não riram dele, ao menos não na cara dele. Simplesmente diziam que estavam salvando sua vida e o mandavam para casa, jogar um vídeo game talvez, mas não havia nem Atari em 1942, então ele insistiu  em outras cidades até que encontrou o homem certo. Um cientista envolvido em um projecto ultra-secreto para desenvolver um batalhão se super soldados, pois o governo sabia que os nazistas estavam fazendo o mesmo.


O excército não queria um soldado fortão e pronto para a briga, isto poderia ser fabricado. Eles queriam um soldado obstinado, completamente comprometido com os ideais defendidos e disposto a abdicar da vida pessoal. Rogers era a cobaia perfeita.


Levado para um campo mais secreto do que a idade da titia, Steve recebeu as instruções básicas para estar apto ao treinamento pesado. Já pronto, foi levado ao laboratório e viu que se dera bem ao escolher o plano de saúde. Ledo engano. Se fosse tão bom, não precisaria ser amarrado e preso em um sarcófago high tech. A bomba que colocaram no soro eu não sei o que era, mas em minutos transformou aquela forma decadente em... Ah, desculpem, este é outro filme. Em questão de minutos aquilo deve ter transformado tudo o que era sólido em seu corpo em geléia, para poder crescer e empelotar tanto. Quando saiu daquela geringonça, o tira-gosto de onça havia se transformado em mais do que um Mr America, ele era desde então o CAPITÃO AMÉRICA!





Criado para estimular o patriotismo em uma época de crise sem precedentes, o Capitão América foi o único sobrevivente do grupo de super soldados enviados à Alemanha nazista. A derrota do Eixo levou o reich a preservar seu super soldado, o Crânio Vermelho, em uma máquina de suspensão de animação. A CIA, que na época funcionava muito melhor, avisou e fizeram o mesmo com o Capitão América, para haver alguém à altura de um vilão da estirpe. Foi assim, não só pelo soro que seu corpo passou a produzir, que ele sobreviveu e chegou aos nossos dias.


Há um tempo os directores imbecís da Marvel mataram o Capitão, já que não conseguiram corrompê-lo. Tentativa desesperada para conseguir vendas, já que os roteiristas geniais morreram faz tempo, e os bons estão quase todos velhos. No início do século, certos de que ficaria falso demais ele não dar uma surra no Bush, decidiram que matá-lo seria mais lucrativo. Achei pouco a Disney tê-la comprado.
O facto é que Capitão América representa valores que estão em franca decadência desde os anos oitenta. Na época, em suas revistas, ele bradava furioso por os Estados Unidos não deixarem a América Latina em paz, várias vezes pensando em desistir do uniforme, alegando que a bandeira não representava mais aquilo pelo que lutava. Chegou a combater gangues por falta de um oponente à altura, ficou repetitivo.


O vídeo oficial de lançamento mostra o que é Steve Rogers, ainda mais do que na época em que foi criado. Um homem humilde, que tem dúvidas de sua capacidade e por isto mesmo é escolhido para as tarefas mais importantes, pois não tem a soberba que muitas vezes precipita decisões desastrosas. Seus medos são eliminados com o treinamento, com o esmero na dedicação e com sua força de vontade, que é imensa. Não bastasse ter uma honestidade ilibada, um amor incondicional à liberdades individuais, ao livre arbítrio, aos animais, um desejo de se aprimorar sempre, melhorar sempre. Há quem diga que a Feiticeira Escarlate se endireitou por causa dele. Junte-se a isto ele ser forte, alto, ágil, bonitão, sem vícios, voz vibrante, altruísta, leal, at cétera, et cétera, et cétera... Os criadores do herói viajaram legal, exageraram na virtuosidade. Na época alguns já achavam exagero, hoje, quando os moleques se orgulham de roubar ou espancar o colega que torce para outro time, é algo a ser rechaçado. Sim, besta, eu sei que sempre houve bulling, mas eu conheço outras épocas e posso dizer que era paradisíaco se comparado ao que temos hoje. Hoje o mau comportamento é estimulado... empurrar para passar faz parte dos estímulos.

Mostrando a parte hesitante e frágil que a imprensa doutrora não se preocupou em divulgar, talvez mude a conversa. Talvez estimule os garotos que ficam no canto da sala, com medo de dizer que prestam. Com certeza não é a intenção dos productores, mas o bom mocismo sem a praga do politicamente patético será estimulado, será uma boa propaganda de valores que não são incompatíveis com as conquistas do mundo moderno. Mas também será uma baita propaganda para as academias de musculação, ah se será! Se o filme for o sucesso que acredito que será, alteres, aparelhos estúrdios, bombas e suplementos alimentares venderão como água.
Particularmente eu gosto do Capitão América, principalmente porque ele, no decorrer de sua história, foi coerente a ponto de repreender seu próprio país pelos erros cometidos no cenário internacional. Ele é um chato, muitas vezes, mas é aquele chato que todo mundo ama e a quem todo mundo recorre quando precisa de ajuda.


Agora esperemos pelas sátiras da Mad.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Liz para sempre

Elizabeth Taylor nos deixou.

Uma estrela cor de violeta vai surgir essa noite.

O que dizer sobre ela, se o nome fala por si mesmo?

Se ela fosse me ouvir, diria:

Obrigada por ter nos brindado com sua existência, Liz, que Deus te acompanhe em tua jornada.



Ao lado, uma das imagens mais significativas da beleza incomparável da atriz.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dói no Japão, dói em Amanda, dói em Nanael

Assim era, assim tornará a ser.
Amanda (aqui) é como uma sobrinha postiça. O que lhe dói, me dói também. Pois hoje ela está muito condoída pelo ocorrido no Japão. Peço que cliquem nos links, pois foram selecionados e colocados aqui para que meus leitores conheçam o Japão, para assim deixarem os preconceitos sucumbirem à força do conhecimento. Conheçam a verdade e ela vos libertará.


Menina Amanda tem pelo nascedouro do sol o mesmo amor que tenho pela Alemanha (aqui e aqui). Não nos negamos a brasilidade que trazemos na genética, mas quem me acompanha sabe que meu ateísmo ficou lá atrás. Temos ligações fortes com estes países que, em comum, compensam o grande número de feriados com o amor descomunal pelo trabalho árduo e pela eficiência no ofício. Eu já tinha em mente algo sobre Nipon, mas lamento que precise antecipar o assunto por algo tão triste.


Aproveito para dizer aos abutres de plantão, não é a primeira e não será a última vez que os japoneses se erguem de uma terra arrasada. Não pensem que por terem se acostumado a aplicar tão intensivamente a tecnologia de ponta, eles amoleceram ou se esqueceram de quem realmente são, ao contrário de nós. Ninjas e Samurais ainda existem, ainda há escolas que ensinam com amor e rigor a arte dos agentes secretos e dos guerreiros de outrora. Hoje eles lutam contra um inimigo que vai matá-los. Estão todos empenhados em conter e reverter as mazelas dos vazamentos radioativos. Eles sabem que vão morrer por isso, que será tão menos doloroso quanto mais rápida for a morte, que certamente a maioria demorará muito a morrer. Mas morrerão felizes pelo dever cumprido, por terem defendido seu povo e sua terra, por terem redomado o monstro que deve ser servil e não senhor. O Japão é dramático por natureza, mas é um drama de bom gosto.


O Japão é um arquipélago de pouco mais de 377.000km², pouco mais que o tamanho de Goiás (aqui e aqui). Se não lhes parece ser tão pouco, leve em consideração que se trata de um arquipélago, que o território é extremamente recortado e motanhoso. Agrava o facto de que muitas ilhas são bastante distantes entre si. Em resumo, o território realmente aproveitável é muito pequeno para mais de cento e quarenta milhões de habitantes. É por isto que eles optaram pela energia nuclear. Eles sabem dos riscos, sabem da vulnerabilidade, mas não têm território para hidrelétricas, estações eólicas e muito menos as vastas áreas de que necessitam as células photovoltaicas.
O único país que, hoje, poderia fornecer energia abundante é a China, que é uma ditadura monopartidária, que ainda tem rancores históricos e de vez em quando ainda chantageia os japoneses com boicote de matéria-prima.
Todo japonês que se preze gostaria de ter electricidade fornecida por rios, mas nem termoeléctricas eles têm onde instalar, mesmo as mais eficientes. Optaram pelo risco da alta eficiência, até que surja o que substitua à altura as usinas nucleares, ou até que a Rússia acorde, tome seu lugar no primeiro mundo e possa vender as grandes quantidades de energia de que eles precisam.


Mas se engana quem pensa que os japoneses estão choramingando e pedindo esmolas, por causa da tragédia. Eles estão procurando e contando os mortos para sua última homenagem, para então arregaçarem as mangas e reconstruírem o país.
Os artistas (aqui) estão cancelando turnês, principalmente no exterior, para empenhar esforços na reconstrução e no apoio às vítimas.
Ajuda a presteza de Fräu Merkel em ajudar a desvalorizar o iene e facilitar as exportações japonesas, mesmo com a Europa também imersa em uma crise financeira grave. Mas não é o amparo mútuo o meio mais rápido de superar uma crise? Bem, minha gente, vamos comprar bonecas Momoko (aqui) e outros artigos japoneses de primeira qualidade. Simples, sim, mas de primeira qualidade, como os kei cars (here e aqui) os famosos microcarros japoneses, que contam com uma série de isenções para compensar suas dimensões minúsculas, e que seriam a alegria da garotada no Brasil, se fossem importados. Robôs, que ainda metem medo em muitos ocidentais, também são produzidos para uso doméstico no Japão, onde são como bichos de estimação (aqui e aqui) ou companhias de pessoas solitárias. O que os japoneses usam hoje, nós só vemos em filmes de ficção científica.


Outra crítica típica de revoltadinhos leigos, que se enchem de informações rasas, é a ocupação de "áreas de risco" pelos japoneses. O motivo que os leva a optar pelas usinas nucleares é o mesmo que os leva a ocupar cada pedacinho de terra disponível. Qualquer pedaço de solo fértil é utilizado para plantar algo, não há desperdícios. Só que eles não fazem simplesmente chegar ao lugar e construir um barraco, contando com uma futura regularização. Os engenheiros sempre chegam antes, depois dos engenheiros a adequação (se aprovado) do terreno, depois a infraestrutura, depois os arquitetos e só então os prédios são construídos. Não é como aqui, onde o Estado faz vistas grossas para qualquer absurdo de olho nas próximas eleições, e em novos problemas graves sobre os quais possam fazer promessas e discursos retóricos absolutamente vazios de conteúdo. Por falar em infraestrutura...
Enquanto o nosso trem-bala se tornou uma novela ruim, um pastelão sem graça, cheio de furos e pleno de incompetentes (aqui, aqui, aqui e aqui) atrapalhando e ganhando com a demora, o trem-bala japonês (aqui, aqui e vídeos aquiaqui) está em sua terceira geração e não causa nenhum espanto, de tão comum que já é na paisagem. A passagem é um pouco mais cara, mas o japonês tem pressa e sabe dos benefícios de usufruir e financiar um avanço tecnológico desta monta. Lá o burocrata se limita a analisar e encaminhar documentos, não dar pitacos leigos em assuntos de alto grau técnico.
Não foi por culpa deles que a tragédia se deu, foi uma calamidade natural. Então os manoéis coloquiais tratem que ler além do que seus grupecos dogmáticos mandam, para não derramarem mais leviandades e torpezas na internet.


Mesmo com a crise, o padrão de vida do cidadão japonês é muito alto, bom para qualquer padrão mundial, impensável para os nossos. A alta carga tributária é paga sem maiores queixumes, pois os serviços prestados pelo estado estão à altura. As ferrovias são a base bem tratada do transporte nacional, as estradas são consertadas quando necessário e não se nota nenhum desnível ao volante, os aeroportos são modernos e não têm apagões aéreos, os metrôs são praticamente bicicletas sobre trilhos para os japoneses. Aliás, o de Tóquio, inaugurado em 1927, (aqui e aqui) é de babar! Deixa qualquer forasteiro abobalhado, e os nativos se esmeram em ser simpáticos e dar informações precisas. Principalmente se o forasteiro for um brasileiro. Para quem não sabe, Lisa Ono (esta) é a maior cantora de bossa nova viva do mundo, e a cultura brasileira é muito mais e melhor preservada por eles do que por nós.


Vocês, leitores mais habituais, devem estar se perguntando como um povo tão acostumado a tantos confortos, está se virando com a tragédia. É que eles estão simplesmente acostumados, não se apegaram a eles. Eles usufruem porque os deuses (sob ordens do Criador) lhes deram condições genéticas e ambientais para construir tudo isso, é para eles um gesto de agradecimento aceitar e usufruir de um presente. Por isso os empresários japoneses têm o hábito da troca de presentes, quando vão negociar. Isto não só humaniza a negociação (horror para os hedonistas que causaram a última crise) como transforma o trabalho em uma extensão da vida pessoal e do lazer. Eles têm o que ganhar convivendo conosco, mas o aprendizado de nossa parte também seria imenso.


Páginas dedicadas ao Japão, em potuguês, há muitas. J-Station (aqui) e Festival do Japão (aqui) são os de competência cultural mais acessíveis que encontrei, são muito completos e rotineiramente actualizados. O J-Station cuida  mais de novidades musicais e afins. Existe inclusive um blog (entre e desfrute aqui) cujo titular tem dez anos de vídeos feitos no Japão, quando morou lá.
Sites oficiais, também acessíveis, são os da Embaixada e do Japan on Line (aqui e aqui), que dão notícias sérias e consistentes, sem o dramalhão feito para vender notícias a que nos acostumamos.


O Japão precisa de ajuda. Não precisa ser carregado, precisa de um ombro onde se apóie até conseguir andar sozinho de novo. Apesar das diferenças, especialmente ambientais que merecem reprimendas, os japoneses fazem juz ao meu respeito. Eles tiveram a humildade de reconhecer a derrota e transformá-la em vitória, utilizando a força de seu oponente de então, os Estados Unidos, para alavancarem sua economia e passarem de terra devastada para oásis tecnológico. Como no judô, a força que o derrubou serviu para devolver-lhe a dignidade.
Não são um povo rancoroso, tanto que se tornaram os maiores aliados dos americanos. Mais do que tudo, são gente. São pessoas. Seu gentílico, uma identidade para saberem quem são, não altera os quarenta e seis cromossomos que os torna tão gente quanto nós. São tão bons e maus quanto nós. Interesses, como os empresários bem sabem, podem muito bem ser compatibilizados com uma boa negociação e um bom senso do razoável. Assim feito, todos ganham. E a recuperação japonesa é boa para todo o planeta; à excessão de uma ditadura, claro.


Enquanto as bugigangas bonitas deles ficam quase tão baratas quando as bugigangas bonitas, mas mal feitas e descartáveis que invadiram nossas lojas, e as importadoras se encarregam de nos trazer algo bem feito por gente bem paga sem artifícios cambiais unilaterais, vamos poupando nosso dinheirinho para ajudar quem certamente não se furtará o dever de retribuir o amparo.


Para terminar, uma artista bem recomendada pelo J-Station, a jovem Mai Kuraki (vídeo aqui, site aqui e blog aqui), que também cancelou turnês para arregaçar as mangas e ajudar seu povo. Menina linda, não?

sábado, 12 de março de 2011

Diversidade sem politicagem

Pois é, minha gente, os anos sessenta e setenta provaram que é perfeita e facilmente possível incentivar a tolerância, a diversidade e a igualdade na raça única, e cheia de biotipos, que é a humanidade terrestre. Não existem raças nesta espécie, ao contrário do que malandros de colarinho branco apregoam.

Há um blog americano sobre quadrinhos antigos... É, para a maioria de vocês eles são antigos. Bem, descobri este blog há poucos meses e esperava uma oportunidade para falar a respeito. A falta de tempo, que me obriga a fazer este um texto compartilhado entre Palavra de Nanael e Talicoisa, agora com cunho mais pop cultural, me deu a chance. Semana que vem trato de assuntos mais espinhosos, mas só no Palavra.
O blog (este) é Out Of This World, do simpático cidadão conhecido como KB. Sujeito maduro que decidiu partilhar seu acervo com quem gostar dele.

O movimento começou nos anos cinqüenta, quando ainda se corria o risco de represálias da KKK, a Ku-Kux-Klan, ou cocô-cocô-cocô para quem sabe o que eles têm na cabeça. Na época o apartheid ainda vigorava nos Estados Unidos e a união conjugal entre negros e brancos era crime. A turma do Bush queria perpetuar isto.

O marco mais significativo foi um quadrinho sobre Martin Luther King, este aqui, de um título que costumava tratar de história social de modo leve, mas inclemente e sem poupar ninguém. Isto encorajou as editoras a meterem a cabeça no assunto e mergulhar na piscina dos quadrinhos de igualdade inteligente. O interessante desses quadrinhos é eles não abordarem o assunto. Sim, eles não consideram em suas páginas, quase sempre, a relação branco-e-negro como um assunto. Fazem sabiamente entender que seria como abordar a relação gente-e-gente. Simplesmente mostram negros e brancos, héteros e homens visivelmente efeminados em situações cotidianas, hora se abraçando, ora querendo torcer o pescoço, como acontece com pessoas normais... Ou quase. Lembremos que foi a época da psicodelia, algumas estorinhas parecem ter saído de um retiro espiritual demasiadamente profundo, ou de uma dose maciça de LSD. Uma boa dose de absurdo faz parte da ficção.

O quadrinho que ilustra o texto saiu de Bunny (aqui), com a personagem título trabalhando como modelo com sua amiga Marcy, que é negra e costuma invadir o gibi da amiga sem pedir licença, mas deixando ela fazer o mesmo. Pela indumentária vocês podem imaginar o que foram os anos sessenta. Mó barato, aí! O broto papo firme está numa boa com seus camaradinhas, tendo um lero musical com a patota do bar.
O facto de não abordar, de modo politiqueiro, o que deve ser natural e incentivado como tal, permitiu aos roteiristas escreverem tramas leves, fáceis de entender e ricas em entrelinhas, que os mais intelectualizados e os mais sensíveis percebem facilmente, ao passo que os menos intelectualizados e os mais superficiais simplesmente se divertem com o ridículo alheio. Faz parte do espetáculo.

Uma característica da linguagem é a ausência de discursos. Não há diálogos idiotas como "Nós, os afrodescendentes como se não houvesse pardos e brancos na África, estamos conquistando nosso espaço dia a dia na sociedade racista que ainda oprime e reprime, negando a igualdade racial potoca-potoca-potoca..." que hoje são inseridos em qualquer situação, mesmo em cenas de batizados. Não há a subliminar prática racista anti-ariana e negros não são tratados como coitadinhos. Ninguém é coitadinho nestes quadrinhos, que levam a assinatura da longeva Archie Comics (site oficial), que começou a se mostrar estranha ainda nos anos quarenta e está na activa até hoje. Por falar nele, o site tem uma página de download gratuito e seguro, que já doou mais de dois milhões de arquivos, entre aqui e se divirta. Eu disse que esses quadrinhos antigos dão de cem a zero nas bobagens politicamente patéticas de hoje.

Desde que o abolicionista Monteiro Lobato (conheça-o) foi barrado de muitas escolas públicas, acusado de racismo, me desiludi completamente com os órgãos que deveriam ser culturais. Percebi o que há por detrás da decadência veloz que assola a cultura de massas: politicagem. Pessoas com reivindicações legítimas são iludidas por malandros que almejam vôos políticos, incentivadas a extremarem seus discursos e transformadas em massas de manobras. Como resultado a comunicação está cada vez mais artificial e sectarizada, pois é mais um aviso de punição iminente do que entretenimento.

Um exemplo que o Brasil conheceu foi Josie e as Gatinhas (here), que trabalha muito bem o estilo visto em Bunny and Marcy. Chegou a ter um desenho meio tosco, mas muito divertido, nos anos setenta, reprisado até início dos oitenta. Uma integrante da banda é negra com os devidos cabelos densamente encaracolados, e é um dos cérebros da equipe. Por ser negra? Não, simplesmente porque é um gênio mesmo. O único aparente estereótipo é a baterista loura, avoadinha, coitada! Mas não é burra, simplesmente com um enorme défcite de atenção.

Mas personagens mais antigos também entraram an dança, até antes, como Little Audrey, em um episódio bastante (este) instrutivo. O personagem negro é o pequenino Tiny, quase um Denis Mitchel careca, que sem querer põe a família com os nervos à flor da pele, e quando quer enlouquece de vez. Não há discursos de "O pequeno afrodescendente está fazendo o mesmo que os brancos fazem, então não deve ser punido". Simplesmente mostra uma criança hiper activa com uma criatividade acima da média pondo até mesmo a terível Audrey em apuros. Imagine mostrar isto a crianças americanas da época. Imaginem os gibis fazerem isto hoje. Alguém seria processado porque personificou Tiny como o pestinha da turma,  e não o garoto branco de chapéu, portanto é racista e vamos quebrar tudo! O mundo está ficando burro. Em vez de reverter, estão invertendo as discriminações e dando combustível para os cocô-cocô-cocôs que proliferam por aí.

Títulos com quase todos os personagens (e todos os principais) negros proliferaram na época, como Fatalbert e Fast Willie Jackson, que poderão ver no blog indicado. O que me faz lembrar inclusive de uma propaganda na Cruzeiro, sobre uma cadeira de rodas, onde o sujeito diz, "com licença, tenho pressa", com qualquer homem de begócios a caminho de uma reunião. Não havia espaço para coitados, os políticos ainda não tinham se dado conta disso e não estragavam os enredos. O que vão pensar de mim por este texto não me interessa, até porque já pensam desde que comecei a blogar. Deturpariam tudo o que eu dissesse não importando o que fosse, então que vão os que não gostam porcurar algo útil para fazer.

Quando não metem políticos no meio, as pessoas se entendem.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Carnaval e futebol - mórbida semelhança

Aviso: você lerá um post muito mal-humorado!

Vamos apontar algumas semelhanças entre o futebol e o carnaval?

1. Os dois foram trazidos de fora para o Brasil, mas se incrustaram de tal forma na cultura nacional que parecem ter nascido por aqui, incorporando elementos "da cultura nacional". Aliás, esse é um termo que, num país como o nosso, me parece um bocado estranho.

2. Sempre tem gente falando mal dos estrangeirismos, como o ralouim, e exaltam as coisas típicas da cultura nacional. E sempre tem um que cita o futebol e o carnaval no meio, porque incoerência define essas declarações.

3. Torcidas. Inclusive torcidas organizadas do mesmo time/escola que chegam a brigar entre si pra provar quem torce melhor.

4. Campeonato que se guia por critérios muitas vezes obscuros.

5. Título sob suspeita.


6. Título que não está sob suspeita, mas que os adversários põem sob suspeita mesmo assim.

7. Torcidas se provocando e chamando as perdedoras de choronas quando estas colocam o título sob suspeita - com ou sem razão.

9. Mulheres semi-nuas.

10. Gente que transita entre os dois mundos e que acaba se tornando quase onipresente. Sim, Ronaldinho Gaúcho, essa é com você.


Legenda ronaldinhogaúcha da foto:

Eu amo a ______________________ [insira qui o nome da escola de samba do momento], meu sonho sempre foi desfilar aqui, com essa torcida maravilhosa, esse calor, essa alegria!

Discurso útil também no futebol, quando basta substituir o "desfilar" por "jogar" e o "a" por "o", se for o caso. Se for a Udinese ou a Lusa, por exemplo, nem precisa.


Eu avisei que havia semelhanças entre futebol e carnaval...!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ei, tem um cisco no seu olho!


Oh, como estou preocupada!
 O que é a falta do que fazer, heim! Um político pseudmoralista, com dor de cotovelo por não ser o pai, criticou (ver aqui) Natalie Portman por estar grávida do noivo.

O ex-governador do Arkansas a acusa de se gabar da gravidez fora do casamento e alega que isto poderá gerar uma epidemia de mães solteiras. Onde ele estava nos anos setenta?

Ele sempre usa os termos "é certo", "não é certo" e "está errado" como se fosse o juiz da situação. O maior problema, é que ele também é apresentador de televisão. Não precisa pedir espaço, já tem o seu na mídia e inflama como quer a onda de conservadorismo que assola a humanidade. E se há um extremismo, existe o outro oposto, o dos que querem arreganhar tudo e acabar com toda e qualquer regra, usando exemplos hipócritas como este para legitimar sua sanha extremo-materialista.

Vamos deixar claro uma cousa, eu sou a favor do casamento. Gosto de um lar estruturado e de uma criança recebendo carinho e boa formação moral dos pais. Eu disse "formação moral"? Sim eu disse. Mas isto nada tem a ver com controlar ou castrar o estilo de vida do outro, enxergando um cisco que não existe e ignorando o tronco que há no próprio olho.
Ela tem um relacionamento estável com Benjamin Millepied, é noiva dele. O conheceu no ambiente de trabalho, durante as gravações de Cisne Negro (here), que lhe rendeu o merecido Oscar (here) de melhor actriz.
Não que seja da conta dele nem de mais ninguém, embora ela tenha a boa educação de informar aos fãs, mas o casamento está nos planos do casal. O que o ex-governador fará então? Vai perdoá-la?

Bem, a judia israelense Natalie Hershlag (wikipedia) não está preocupada com o que ele diz, está preocupada com o que o público ouve. É a este que ela deve satisfações até certo ponto, mostrando sua competência e dando bons exemplos. Sua vida é discreta, ela deixa o glamour para quando é necessário e não corre atrás de paparazzi para mostrar a última lipo de que ninguém ficou sabendo. Em um país assolado pela obesidade mórbida, ela mantém sua figura esguia com a simplicidade de ser vegetariana desde criança. Em um mundo que coloca ciência e religião como inimigas, obedecendo o que os papas da idade média mandavam, a seguidora da Torat é psicóloga por Harvard. Sabem o que é Harvard? É um lugar onde ninguém entra empurrado ou por cotas, nem mesmo uma conta bancária basta para entrar lá, mais difícil ainda é sair. É preciso ter muita competência. É preciso estudar muito, se dedicar com disciplina e seriedade à formação que escolheu. A judia grávida do noivo tirou de letra, senhor ex-governador. O ídolo de milhões terminou a faculdade e foi viver às próprias custas, em vez de onerar a família. Se as fãs fizerem um décimo do que ela fez em seus vinte e nove aninhos, logo as riquezas geradas sepultam definitivamente a última crise mundial.

Catapultada em sua carreira, após ter feito a rainha Amidala, em Guerra nas Estrelas (home page aqui) Portman é o mais próximo de Audrey Hepburn que a nova geração tem para oferecer. Ela consegue ser bela e elegante mesmo vestida de cesto de roupa suja, para não chamar atenção nas ruas.
Ela não se envolveu em escândalos, pelo contrário, em sua página pessoal (click here, guy) fala bastante de si sem revelar o que não interessa. Aprendeu bem nos anos em Harvard.

Embora o que se considera cristão possa não admitir, ela tem uma religião. Ela a segue a ponto de não comer e não sentir falta de cadáveres em seu prato, pois considera os animais como seus irmãos na criação. E não foi algo assim que outro judeu, crucificado por Roma e não por Israel, ensinou? Se há alguém de vida pública que tem condições de apaziguar os pólos ciência e religião, é ela. Porque dentro dela isto já existe, sua visão de mundo e do seu próprio mundo é muito clara e bem resolvida. Para se preocupar assim com a vida alheia, o tal apresentador não deve usufruir desta paz de espírito.
Vejam, ele não a chamou, não pediu declarações, nem deixou recado em seu site, simplesmente se aproveitou de seu programa e começou a descer a lenha, com aquela cara de piedade do lobo que lamenta estar comendo uma ovelha tão bonitinha; mas ele come e arrota.

Às mamães de plantão, o Talicoisa Enterprise Corporation pede tranqüilidade, caso tenham petizes fãs de Natalie. Se suas filhas são fãs da moça, se realmente a imitarem em vez de só seguirem dicas de chupar beiços de revistecas inúteis, vocês podem deitar e rolar, elas estão bem encaminhadas. Mande o pastor ir pastar, o orador ajoelhar e orar, o político ir caçar trabalho, a vizinha mal amada ir ter aulas de tango e apreciar o espetáculo. Mais do que uma actriz, estarão se espelhando em uma cidadã exemplar, que não confunde sensualidade, sexualidade e vulgaridade.
O cisco no olho dela era só um reflexo causado pela chama da kabbalah, cultivada de modo íntimo e sem alarde em sua criação familiar, já que tudo o que aquele político enxerga na cruz é o sangue de Jesus... Ele ensinou tanta cousa melhor para se prestar atenção! Desconfio que o que ele tem é mesmo dor de cotovelo, não seria o primeiro a desejar ser o pai dessa criança.

Quem dera toda celebridade fosse como esta moça, que merece ser célebre pelo simples facto de dar bons exemplos, quando poderia ganhar mais dinheiro participando de escândalos, fabricados por meios torpes de comunicação. Não sei se os caros leitores sabem, mas boa parte dos escândalos do meio artístico é pura encenação, um meio de o público não esquecer quem já deveria ter ido para o saco do ostracismo e procurado outro emprego, de preferência não público.

Não, ela não é santa. De certa forma isto é até bom, poque a torna um bom exemplo mais tangível e fácil de as moças seguirem. Estejam vocês certas de que, se um dia a encontrarem, ela dará saltos de felicidade se disserem que se dedicaram aos estudos e à boa cidadania por seus exemplos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Teogonia Tailicoisense

Teogonia é o título da obra mais conhecida de Hesíodo, abordando a origem e genealogia dos deuses helênicos. Já há algum tempo, percebo que não param de nascer deuses em nossa tão racional e científica era: ainda há espaço para se escrever a moderna Teogonia.

Claro, como não tenho o mesmo talento de Hesíodo, resta-me tentar abordar um pouco a existência desses nossos deuses. Como assim, você é monoteísta? Ou pior, se diz ateu, agnóstico? Rá, não me faça rir. Você serve a deuses sem se dar conta, e a deuses que nem conhece, como faziam os antigos gregos. Vamos a quatro exemplos.



Democracia. Criada - com uma concepção bem específica e particular à época - na antiguidade ateniense, a deusa democracia é camaleônica. Que o digam os "grandes líderes"Al-Gaddafi e Mubarak, até ontem apontados como dignos servos da deusa e hoje chamados por apóstatas ditadores exatamente por aqueles que os elogiavam.. (*).



Mercado. Há tempos insensado por vários povos, a ação desse deus é temida. Ninguém gosta de o ver nervoso, irritado. Quantas vezes se coloca no altar desse Moloque em holocausto os salários do povo?



Povo. Esse ser mítico a quem todos e ninguém ao mesmo tempo pertence. Todo mundo é povo, ninguém é povo. Povo é bom e e péssimo (principalmente o brasileiro). É um deus de dupla face e inúmeros significados, lançado à deidade especialmente após o século dezoito, sem deixar de ser execrado tantas outras vezes.



Espírito esportivo. Ah, esse deus que se move entre as modalidades mais diversas, espalhando a harmonia, o jogo limpo, a competição justa! Tudo em nome da honra, da glória, da integração humana! O Barão de Colbertin, em pleno século do racimos e do imperialismo, criou as olimpíadas contemporâneas exatamente com base nesse deus. E os ditadores mais sangrentos, assim como as empresas mais vorazes, tem lhe prestado louvor desde então, nas mais diversas modalidades.

(*) Ou vocês acham MESMO que a nossa imprensa livre levou mais de três décadas para entender que esses dois, especificamente, eram dois oressores-ditadores-sanguinários? Ou qe só agora eles resolveram ser ditadores e governaram seus rincões por mais de 30 anos exercendo a democracia?

Duke, com sua genialidade, dizendo mais e melhor com traços o que tentei dizer com minhas palavras.
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