Isto resume o espírito do Capitão América |
Steve Rogers nunca foi um sujeito dentro da média americana, sempre esteve muito abaixo dela. Magricela, nanico, cara de bobo e um "LOSER" em neon fuscia aceso na testa.
Mas havia um ponto em que Rogers era muito, mas muito acima da média mundial, seu caráter. Apanhava feito cachorro sem dono, mas jamais desistia, jamais dava ao valentão o prazer de vê-lo pedir para parar, de implorar perdão. Como nunca desistia, nunca perdia a briga, vencia pelo cansaço, ou pela perda dos sentidos.
Veio a tenebrosa Segunda Guerra Mundial e Steve tentou se alistar. Por questões de ética da época, os examinadores não riram dele, ao menos não na cara dele. Simplesmente diziam que estavam salvando sua vida e o mandavam para casa, jogar um vídeo game talvez, mas não havia nem Atari em 1942, então ele insistiu em outras cidades até que encontrou o homem certo. Um cientista envolvido em um projecto ultra-secreto para desenvolver um batalhão se super soldados, pois o governo sabia que os nazistas estavam fazendo o mesmo.
O excército não queria um soldado fortão e pronto para a briga, isto poderia ser fabricado. Eles queriam um soldado obstinado, completamente comprometido com os ideais defendidos e disposto a abdicar da vida pessoal. Rogers era a cobaia perfeita.
Levado para um campo mais secreto do que a idade da titia, Steve recebeu as instruções básicas para estar apto ao treinamento pesado. Já pronto, foi levado ao laboratório e viu que se dera bem ao escolher o plano de saúde. Ledo engano. Se fosse tão bom, não precisaria ser amarrado e preso em um sarcófago high tech. A bomba que colocaram no soro eu não sei o que era, mas em minutos transformou aquela forma decadente em... Ah, desculpem, este é outro filme. Em questão de minutos aquilo deve ter transformado tudo o que era sólido em seu corpo em geléia, para poder crescer e empelotar tanto. Quando saiu daquela geringonça, o tira-gosto de onça havia se transformado em mais do que um Mr America, ele era desde então o CAPITÃO AMÉRICA!
Criado para estimular o patriotismo em uma época de crise sem precedentes, o Capitão América foi o único sobrevivente do grupo de super soldados enviados à Alemanha nazista. A derrota do Eixo levou o reich a preservar seu super soldado, o Crânio Vermelho, em uma máquina de suspensão de animação. A CIA, que na época funcionava muito melhor, avisou e fizeram o mesmo com o Capitão América, para haver alguém à altura de um vilão da estirpe. Foi assim, não só pelo soro que seu corpo passou a produzir, que ele sobreviveu e chegou aos nossos dias.
Há um tempo os directores imbecís da Marvel mataram o Capitão, já que não conseguiram corrompê-lo. Tentativa desesperada para conseguir vendas, já que os roteiristas geniais morreram faz tempo, e os bons estão quase todos velhos. No início do século, certos de que ficaria falso demais ele não dar uma surra no Bush, decidiram que matá-lo seria mais lucrativo. Achei pouco a Disney tê-la comprado.
O facto é que Capitão América representa valores que estão em franca decadência desde os anos oitenta. Na época, em suas revistas, ele bradava furioso por os Estados Unidos não deixarem a América Latina em paz, várias vezes pensando em desistir do uniforme, alegando que a bandeira não representava mais aquilo pelo que lutava. Chegou a combater gangues por falta de um oponente à altura, ficou repetitivo.
O vídeo oficial de lançamento mostra o que é Steve Rogers, ainda mais do que na época em que foi criado. Um homem humilde, que tem dúvidas de sua capacidade e por isto mesmo é escolhido para as tarefas mais importantes, pois não tem a soberba que muitas vezes precipita decisões desastrosas. Seus medos são eliminados com o treinamento, com o esmero na dedicação e com sua força de vontade, que é imensa. Não bastasse ter uma honestidade ilibada, um amor incondicional à liberdades individuais, ao livre arbítrio, aos animais, um desejo de se aprimorar sempre, melhorar sempre. Há quem diga que a Feiticeira Escarlate se endireitou por causa dele. Junte-se a isto ele ser forte, alto, ágil, bonitão, sem vícios, voz vibrante, altruísta, leal, at cétera, et cétera, et cétera... Os criadores do herói viajaram legal, exageraram na virtuosidade. Na época alguns já achavam exagero, hoje, quando os moleques se orgulham de roubar ou espancar o colega que torce para outro time, é algo a ser rechaçado. Sim, besta, eu sei que sempre houve bulling, mas eu conheço outras épocas e posso dizer que era paradisíaco se comparado ao que temos hoje. Hoje o mau comportamento é estimulado... empurrar para passar faz parte dos estímulos.
Mostrando a parte hesitante e frágil que a imprensa doutrora não se preocupou em divulgar, talvez mude a conversa. Talvez estimule os garotos que ficam no canto da sala, com medo de dizer que prestam. Com certeza não é a intenção dos productores, mas o bom mocismo sem a praga do politicamente patético será estimulado, será uma boa propaganda de valores que não são incompatíveis com as conquistas do mundo moderno. Mas também será uma baita propaganda para as academias de musculação, ah se será! Se o filme for o sucesso que acredito que será, alteres, aparelhos estúrdios, bombas e suplementos alimentares venderão como água.
Particularmente eu gosto do Capitão América, principalmente porque ele, no decorrer de sua história, foi coerente a ponto de repreender seu próprio país pelos erros cometidos no cenário internacional. Ele é um chato, muitas vezes, mas é aquele chato que todo mundo ama e a quem todo mundo recorre quando precisa de ajuda.
Agora esperemos pelas sátiras da Mad.
2 comentários:
Não consigo gostar do Capitão América, nem é americanofobia nem nada.
Agora, as sátiras da MAD sempre são boas...
Eu gosto dele. O problema é que ficou muito fácil e freqüente associá-lo ao conservadorismo militar.
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