sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Merece um filme - Automan


Das muitas criaturas bizarras da fauna televisiva dos anos oitenta, uma despertou especial atenção do público. Era claramente inspirado no filme Tron, mas com linguagem e contexto apropriados a um seriado cheesecake. O roteiro não era dos melhores, mas era bom, os diálogos até conseguiam ser bastante divertidos, especialmente pela influência do imenso amor próprio do protagonista.

Automan estreou em quinze de Dezembro de 1983, pela ABC, e tinha tudo para ser um sucesso, mas durou pouco, até dois de Abril de 1984. Assim como Tron, parece que o público não absorveu bem o conceito da série.

Era basicamente o seguinte, um policial científico fazia estudos de algoritmos sofisticados em seu computador (UAU! Ele tinha um computador!) nas horas vagas, e às vezes até durante o batente. Com o tempo esses algoritmos se tornaram autônomos, sem que ele percebesse. Em paralelo, o policial nerd baixinho e tímido instalou naquele computador, como se existisse memória suficiente para isso na época, dados de como ele gostaria de ser, ele montou um galã de cinema, alto, forte, másculo e helenisticamente desenhado. A idéia era usar a imagem como holograma de teste, mas esse era o plano dele, o oficial de polícia Walter Nebicher, alguém tinha outros, planos para aquela imagem.

O algoritmo safado tomou posse da descrição, inclusive da personalidade programada e decidiu sair do computador... É, foi aqui que forçaram a barra, mas sem isso a série não teria saído do papel; se bem que talvez não tivesse saído do ar também. Quando estava com todos os comandos devidamente organizados e fechados, o algoritmo só esperou que Walter voltasse a trabalhar, ligasse aquele computador e rodasse o programa. O que aconteceu? Ele tomou conta da máquina, se apoderou da rede eléctrica e sugou uma quantidade imensa de energia, como se um computador suportasse tanta carga. Foi assim que o holograma Automan se materializou. Do pescoço para baixo era uma roupa de malha onde os efeitos especiais colocavam um céu infinito estrelado, do pescoço para cima era um galã louro mel, de voz grave, olhar de aço e um amor próprio tipicamente leonino.

Com ele veio um ponto luminoso chamado Cursor, responsável por materializar a energia de acordo com suas necessidades, quase sempre na forma de meios de transporte. Aliás, o carro que usavam na série era nada menos do que o legendário Lamborghini Countach, preto com traços azul neon. Algo interessante nesse carro, além de custar uma fortuna na vida real, era a quase total ausência de inércia, conseguindo fazer curvas em ângulo reto a trezentos quilômetros por hora!

Seu ponto fraco, como qualquer máquina que tenha reservas próprias de energia, era a escassez desta. De tempos em tempos ele precisava desaparecer para se recarregar na rede pública, ou seja, morreria de fome no Brasil. Mas como algoritmo autônomo com um ego maior do que a usina de Itaipu, ele conseguia sobreviver e agir nas linhas de transmissão, até o amigo precisar dele e o chamar.

Se nos Estados Unidos ele foi uma decepção, no Brasil os doze episódios foram reprisados à exaustão, e venderam bastante brinquedos. Há um décimo terceiro episódio, que só foi exibido Sci-Fi Channel, em uma época que não havia tevê a cabo no Brasil.

Bem, se Tron foi reditado com uma bela continuação, por que Automan não poderia ter seu longa? Afinal, computadores que geram e rodam hologramas saíram há anos da ficção científica e fazem parte do cotidiano do cidadão comum, já estamos prontos para aquela figura grega de corpo estrelado e ego gigantesco; só ele já ocuparia metade do disco rígido, claro, mas valeria à pena. E quem sabe, como vilã, uma bela Autowoman. Já pensaram na farra que eles fariam hoje, em um mundo totalmente dependente de uma rede de computadores?

Em 2012 o actor Chuck Wagner, que fez o Automan, apresentou um documentário sobre a série, com depoimentos do elenco original:


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O último natal dos Tanner

Ele desce com dificuldades, com a mão na cabeça e jurando que ainda vai colocar um elevador na casa.
Talvez fosse mais fácil comprar uma casa pequena, de um só pavimento, mas sempre se esquece disso. Além do quê, sempre moraram lá, criaram os dois filhos naquela casa; os filhos e um alienígena. A encontra na varanda da frente, devidamente agasalhada, a admirar a velha Caprice wagon 1995, o último carro que compraram...

- Kate, que dia é hoje?
- É quarta-feira, Willie.
- Não tínhamos um compromisso para hoje?
- Eu creio que não, por que?
- Eu tenho certeza de que havia algo para fazer hoje, algo muito importante!

Ela pensa por alguns minutos, mas desiste, não se lembra de absolutamente nada marcado para o dia de hoje. Ele se cala e se senta também, no banco de balanço, suspenso por correntes. Fazia anos que não se sentavam juntos naquele banco, desde que Lynn voltou com o marido e os dois filhos, de férias, mas foi só uma semana, logo retornaram para Viena e nunca mais puseram os pés nos Estados Unidos.

Brian simplesmente desapareceu. Foi tentar a sorte no Brasil e nunca mais se teve notícias dele, desde que mandou um cartão de natal da Cidade do México. A casa ficou grande, muito grande. Pararam de viajar, de ir ao supermercado, até os passeios pelo bairro se tornaram raros, desde que Trevor e Raquel morreram nos atentados de onze de Setembro.

Willie insiste novamente...

- Vamos ver... O que estávamos fazendo no ano passado, nesta época?
- Eu estava no hospítal.
- Como?? Eu não me lembro disso!
- Porque você teve um AVC, querido. Passou quase um mês inteiro internado. Eu estava cuidando de você.

Ele puxa pela memória e se lembra de algo, de a visão se turvar e de perder o controle dos músculos. Depois disso, só se lembra de nunca mais ter andado de bicicleta. Se lembra também que nunca mais comeu chocolate, perdeu parte do paladar no episódio...

- Kate, lembra do Alf?
- Como não lembrar, Willie?
- Por que ele foi embora?
- Não se lembra?
- Não... Estou com saudades dele.
- A polícia do planeta dele veio buscá-lo.
- Por que? O que ele fez?
- Fugiu do casamento!
- Ele tinha uma noiva??? E por que ela não podia ter vindo morar com a gente?
- Você está louco??? Como iríamos ocultar a existência de dois alienígenas comedores de gatos? Ainda mais depois de criarem, eles tinham prometido doze filhos para suas famílias!

Ele fica cabisbaixo. Pouco resta do pouco cabelo que tinha, quando os filhos e o alienígena enchiam a casa. Casa grande, onde esperavam receber a visita dos netos, na velhice. A onda de revival oitentista só fez aumentar a amargura do velho Tanner. Ela também não se sente melhor, envelheceu muito rapidamente desde que Alf foi capturado, e os filhos começaram a perder o interesse na vida em família. Se faz de forte porque tem um marido doente que depende de si, mas seria capaz de se mudar para uma fazenda, se isso trouxesse os filhos e o alien de volta, mesmo com sua prole gigantesca. Se lembra quando olhava para o espelho e se achava linda, quando os amigos da filha chegavam a pensar que fosse sua irmã mais velha, hoje se acha horrorosa, não importa o quanto os outros digam o contrário.

Voltam para dentro, que está escurecendo e a neve voltou a cair. Tomam uma sopa rala, de propósito meramente nutritivo, então vão dormir. Ela o abraça, contendo o choro, mas não as lágrimas. Aos poucos a respiração dele enfraquece até que se extingue. Então ela chora com vontade, abraçada ao corpo do marido. Poucas horas depois ela o segue. Na manhã de natal Lynn recebe, em Viena, o e-mail do seguro comunicando o falecimento de seus pais. Brian jamais foi encontrado.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Clarice e Luiza


Faz tempo que desisti de quase tudo o que passa na Globo, por isso fui pego por uma grata surpresa. Trata-se de um quadro retrô, em que uma mulher misteriosa narra e encena um programa de rádio, para as mulheres de meados dos anos sessenta.

Para as feministas mais extremistas, de quem todas as feministas que se prezem querem distância, é um acinte. Tudo é ambientado na época; roupas, cenários simplificados, assuntos tratados e até o vocabulário. Onde já se viu, falar às mães e pretendentes à maternidade? Pois Luiza fala em cena, que também conta com Maria Fernanda Cândido, Alessandra Maestrini e a novata Cintia Dicker.

É tudo muito leve, fluído e sem afetações. Os conselhos são dirigidos àquelas que vestem a carapuça, sem atacar as que não se enquadram. Exibindo as marcas do tempo em seu rosto impecável, sem qualquer uso de corretivos digitais ou qualquer outra deselegância "moderna", a diva pantaneira empresta sua classe e elegância a um texto que é, por si, repleto de charme e feminilidade.

A própria abertura do quadro é um espetáculo, com fundo musical e cenário de época, inclusive uma antiga câmera de televisão e um microphone bi-trapezoidal cromado, que recebem uma escultural dama em um tailleur vermelho.

Os tópicos, os leitores podem deduzir. Moda, comportamento, filhos, família, trabalho, saúde, beleza e miudezas do dia a dia. Algo que parece muito banal aos viciados em engajamento e lutas, que na verdade estão é fugindo de suas próprias vidas, mas que fazem toda a diferença no núcleo familiar.

Muitos hão de se discordar do tipo de abordagem, pois remete a uma época em que uma mulher não conseguia trabalhar fora sem a permissão do marido. Sim, leitores, nós já tivemos essa mazela, até 1962. Entretanto, deve-se ouvir e ver de coração desarmado os conselhos e argumentos, que sem nossos julgamentos conseguem se encaixar perfeitamente nos dramas cotidianos.

Isso, claro, sem contar a beleza plástica do quadro, que é tão deslumbrante quanto suas apresentadoras. Elas, aliás, fogem à moda deprimente da emissora, que estragou o excelente Auto Esporte e o transformou em "Celebridades que gostam de carros". Aparecem nas cenas como intérpretes mudas, como se a voz doce e maternal de Maria Fernanda fosse de cada uma. Ou seja, elas se colocam como uma peça, não como "Celebridade fazendo bico no programa".

Quando já ia me perguntando de onde a Globo tinha tirado um escritor tão talentoso, com uma linguagem tão rica e compacta ao mesmo tempo, eis que o estilo e uma rápida pesquisa esclarecem minha dúvida. Eles não encontraram, não há nenhum escritor de talento raro e adorável na nova safra da televisão. A autora é Clarice Lispector. O quadro é baseado em conselhos femininos que ela publicava em jornais, nos anos 1950 e 1960, sob o pseudônimo de Helen Palmer, a narradora misteriosa.

Sinceramente, o quadro Correio Feminino, com o cabedal de Clarice e a maravilhosa Luiza e sua trupe de ladies, poderia substituir facilmente um programa que já deu o que tinha que dar há muito tempo.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O triste ocaso de Austin Beebach

Imagem de The Everyday Goth

Austin era um garoto doce, afável, com uma voz suave e bem afinada. Ele ganhava seus trocados cantando na rua, tocando seu velho violão, único bem material que tinha. Tudo o que cantava, saía do coração, ele cantava o que não conseguia falar, por isso encantava tanto os passantes.

Um dia, em uma de suas sessões ao ar livre, um figurão do show business o ouviu, se aproximou e colocou-se a ouvir. Jogava uma moeda a mais por cada música, até que se deu por satisfeito e conversou com ele. Ainda criança, precisou dos pais para assinar um bom contracto.

Como uma criança, Austin era totalmente moldável ao bel prazer de seus tutores, só tinha os pais para colocar limites na ganância dos empresários, que viam imitadores de marginais ganhando milhões em pouco tempo. A imagem de Austin, pelo contrário, era a do garotinho tímido e bom partido para casamento, algo que os pubianos dias vigentes pouco ou nada valorizam.

Línguas maldosas começaram a atacá-lo, variando entre gay e retardado os adjetivos que lhe dirigiam. O empresário, vendo o quanto ele se irritava com o assédio moral, deixou correr solto, esperando para colher uma imitação de bandidão barra pesada, quando ele pudesse se livrar dos pais. Foram alguns anos, com ele sofrendo de depressão e a raiva crescendo. Como fizeram com Elvis, o empresário queria que ele se matasse para lhe dar o retorno desejado.

E Austin fez dezoito anos. E Austin fez tudo o que seu empresário previra. Estava perfeito, o garoto tímido estava revoltado, uma presa fácil para sua manipulação egoísta. A imagem de bom homem para casamento, que muitas mães tinham nutrido, se desmanchava rapidamente.

Austin começou a esnobar os fãs. De início era só isso. O market que o envolvia se tornava paulatinamente maior do que ele, e todas aquelas garotas começavam a achar natural que um ídolo fosse esnobe mesmo. Mais ou menos como no caso do sapo cozido, que fora colocado em água fria e não percebeu o aumento lento da temperatura, até ser tarde.

Com o tempo, Austin passou a maltratar deliberadamente os fãs, cuspindo neles e os xingando publicamente. Passou a ser visto em baladas perigosas, cultivou a fama de machão promíscuo, tornando-se mais um bad boy boboca que só é valente quando cercado de jagunços.

Aos poucos, os fãs cozidos acharam natural que ele se tornasse vândalo, alegando que era autenticidade, que não precisava ser o bonzinho que todos esperavam e tudo mais. Afinal, a mídia idolatra bandido, os quadrinhos até os tornaram mais fortes do que os heróis. Embora nenhum deles queira estar diante de um de verdade.

Ser expulso de hotéis que ainda mantêm uma dignidade mínima, tornou-se comum, assim como a peregrinação dos fãs cozidos para onde quer que ele se hospedasse, deixando de estudar, de trabalhar, de tomar banho e até fazendo tratos com marginais de verdade, para garantir um lugar nos shows.

Aliás, foi-se o tempo em que os shows eram de musiquinhas açucaradas e imaturas. Atrasos e péssimo comportamento passaram a predominar. Muitas vezes ele só mexia a boca, pois estava rouco com a vida desregrada, deixando a cargo de uma gravação o trabalho que ele deveria fazer.

ídolo marginal não atrai público comportado. Tornou-se comum também os fãs atirarem coisas ao palco. No começa eram só lingeries, que o deixavam assustado, depois começaram a atirar garrafas d'água, sapatos, discos e até celulares, na esperança de que ele devolvesse pessoalmente; a infantilidade era inaparente, mas ainda sobrevivia, em ambas as partes.

O único adulto na história era o empresário, que estava sugando toda a juventude de Austin, espremendo tudo a qualquer custo não só para obter mais lucro,  mas mais para se sentir poderoso e dono da vida de alguém. No caso, ele era o amo e senhor do artista, que pensava sê-lo.

Um dia o esperado aconteceu. Austin foi encontrado morto em um quarto de hotel. O empresário ligou rapidamente para a agência e mandou quadruplicarem a produção de tudo o que fosse relacionado a ele. A comoção pela morte durou meses, detratores e defensores, ambos histéricos, alimentavam com polêmicas fúteis a venda alucinada de quinquilharias feitas por mão de obra semi-escrava.

Ironicamente, em seu tumultuado sepultamento, ele foi lembrado justo pela imagem que tinha abandonado. Por horas tocaram o hit açucarado "Oh, baby darling, oh!" no cemitério. Houve suicídios de fãs que insistiam em segui-lo para onde quer que fosse, a qualquer custo.

A causa mortis nunca foi conhecida com exatidão. Descobriram tantas coisas, que qualquer uma delas poderia tê-lo morto. DST, drogas, AVC, cirrose, cânceres resultantes da "vida louca"... Ninguém sabia ao certo. O certo, como ocorreu com Elvis, é que a única doença de verdade de Austin, era o empresário.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mais quinhentos, Charlie Brown!


Caros fãs de Charles Schulz, é hora da bipolaridade. é hora de vocês oscilarem freneticamente entre a euforia e o desespero.

Com a morte física do criador de Peanuts em 2000, ver aqui, milhões de fãs ficaram órfãos de um dos desenhos mais inteligentes E divertidos de todos os tempos, que ensinava, entre outros, psicologia, sociologia e política, de uma forma que fazia as pessoas gostarem dos temas.

A boa notícia é que estão planejando mais quinhentos episódios da trupe do Snoopy. A má é que está planejando mais quinhentos episódios da trupe do Snoopy. Explicarei.

A nova fornada incluirá um longa metragem digital, feito pela mesma equipe de Rio e Era do Gelo. Os curtas serão em animação tradicional, com episódios de noventa segundos, que nos Estados Unidos serão exibidos nos intervalos comerciais. Aliviados? Eu também, mas não muito. Apesar da excelente reputação da Blue Sky, e da colaboração do legendário 20th Century Fox, lembremos que teve gente que conseguiu arruinar até desenhos simples e sem pretensões, como Hong Kong Foey.

Peanuts não tem absolutamente nada de despretensioso. É uma trama que ganhou fama, fãs e respeito com tramas de narrativa simples, mas altamente complexas, que prendem a atenção das crianças, mas também de adultos altamente intelectualizados. A criação de Schulz está para a animação como Star Wars está para a ficção científica. É extremamente fácil alguém querer "actualizar" os personagens, e fazer com que uma onda de protestos exija o ressuscidio do pai de Charlie Brown.

Lembremos que eu anunciei com meses de antecedência, o longa metragem do Manda Chuva, e fui um dos primeiros a revelar a bomba que ele é; tanto que caiu no esquecimento rapidamente.

Tomara que com Peanuts seja diferente, me surpreenda positivamente e me faça ver a mente de Schulz em cada cena e traço, como os novos Thundercats me surpreenderam. Mas sou gato escaldado e evitarei essa água, até ter segurança de sua temperatura.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Casal 20 - O mundo de Sheldon

Fonte: Zeebox

De 1979 a 1984, com cerca de 110 episódios, o mundo viveu uma das mais adoráveis e fajutas histórias de amor da televisão. Um casal de milionários que viaja pelo mundo ajudando, involuntariamente, a desvendar tramas e crimes para a polícia... Não que não haja ricos bem intencionados, da mesma forma como não se pode dizer que pobre é sujo e ignorante. Angelina Jolie é a prova disso. Mas arriscar seus pescoços milionários, já tendo em vista seu histórico para atrair encrencas, em vez de montar uma entidade de investigação com profissionais qualificados para isso, é tão fantasioso quanto imprudente.

Hart to Hart, produzido pela ABC, estrelado por Stephanie Powers (como Jennifer Hart)e Robert Wagner (como Jonathan Hart), com os carismáticos coadjuvantes Leonel Stander (mordomo Max) e seu cãozinho Freeway, foi criado pelo escritor Sidney Sheldon. Aham, sim, agora vocês entenderam de onde saiu a argumentação. O roteiro também não era nenhum primor, mas eram episódios absolutamente adoráveis!
Fonte: Daily Mail

Imaginem, nos dias de hoje, um milionário sair da segurança de seu Mercedes-Benz e correr atrás de bandidos internacionais! Isso inclui assassinatos e espionagem internacional, em plena vigência da guerra fria! E mais, mesmo em uma época em que a internet era só um meio quase secreto de comunicação das forças armadas americanas, Max conseguia ajudá-los com conselhos e pesquisas POR TELEPHONE!!!!!

Não, ninguém engolia a argumentação. Nem mesmo eu, que sou troncho! Mas tudo era maravilhoso, desde o altruísmo quase irreal, até a plástica da série, que dava lições belíssimas de bom gosto e elegância. Apesar de tudo, Sheldon é um homem fino e bem formado, ele sabe diferenciar uma coisa cara de uma coisa elegante, e que as duas qualidades nem sempre coincidem. Tanto que Jennifer não hesitava em usar jóias falsas, se elas fossem bonitas e de bom gosto.

Alguns episódios isolados e saudosistas foram produzidos, anos após a série acabar. Sempre com os mesmos protagonistas, e sempre mostrando que a idade estava chegando e eles não poderiam fazer aquelas estripulias para sempre. Ainda mais na amarga e pessimista década de noventa.

Stephanie ficou viúva quase ao mesmo tempo que Robert. Ela perdeu o marido Willian Holden após ele bater com a cabeça e, em vez de procurar ajuda médica, ignorou a dor por ter se sentido bem depois. Ele perdeu a diva Natalie Wood para o afogamento. Até hoje a família de Natalie o acusa de tê-la agredido e jogado ao mar. Até hoje as sucessivas investigações o inocentam.

Algo interessante da série, útil para quem não viveu a época ou tem dúvidas a respeito, é ela ter mostrado com nitidez a transição dos anos setenta para os oitenta,
Fonte: Veja
com as mudanças de figurino, decoração do cenário, penteados e indumentária. Assistir a série com intervalos de vinte episódios, daria uma noção muito clara disso.

Houve um reencontro público dos protagonistas, em 2010, que pode ser visto aqui e aqui. Mas estrelar de novo a série, nem pensar!

Apesar de todas as críticas, merecidas, Sheldon tem uma philosophia que me agrada: A vida real é ruim o bastante, não precisamos de mais perversidade. Se for para fantasiar, que se fantasie coisas boas, oras!

Merece um filme? Sim, merece. O mundo não ficou mais doce, dos anos noventa para cá, precisamos de heróis de bom caráter, por isso mesmo eu escalaria heróis de verdade e de bom caráter para os papéis principais: Angelina Jolie e Brad Pitt, talvez com Jack Nicholson como Max.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A meiga Doreen Green - uma breve análise



Poucos heróis são tão carismáticos e têm uma imagem tão reconfortante quanto Doreen Green, a Garota Esquilo. Se muitos dos criados dos anos setenta para cá, são praticamente desconhecidos do grande público, por falta de divulgação decente, imaginem uma que é tida como segundo escalão da Marvel.

Se o nome de guerra já soa estranho, apesar do belo nome de baptismo, seus feitos são ainda mais! E merecem uma reflexão que vai muito além das acaloradas discussões de adolescentes barbados, em fóruns de internet.


Vamos antes à nossa doce mutante. É muito jovem, tem cerca de dezoito anos, 1,6m de altura e 45kg... Esbelta! Nasceu em Los Angeles, ou seja, conhece a vida barra pesada de uma cidade que tem glamour de sobra, para quem puder pagar. Todas as versões de sua figura, da mais recatada à mas sexy, mostram o frescor juvenil. E são muitas versões, algumas altamente pervertidas! Estas eu NÃO MOSTRAREI, tirem o esquilinho da chuva!

Não vive de ser heroína, ela se vira para se sustentar e custear os estudos. Seu emprego mais recente é de babá da filhota de Luke Cage e Jessica Jones, dos novos Vingadores... Se a menina começar a escalar paredes e saltitar entre os galhos das árvores, eles não reclamem, pois conhecem a baby sitter que contractaram.

Ah, sim, apesar de muito responsável, ela é meio maluquinha. Fecha o tempo e escancara um sorriso com a mesma facilidade. Sua primeira aparição, em 1992, foi meio tosca, ela parecia uma fugitiva do manicômio usando um uniforme sujo de um enfermeiro, com apliques de pelúcia e um monte de pochetes. Depois da versão tosca de estréia é que o uniforme foi transformado em um maiô de peles, com a parte de baixo variando entre nada e uma malha completa.

Suas habilidades são controversas. Sua calda de esquilo não faz parte do uniforme, nasceu nela... Imaginem o buliyng que a coitada sofreu, na escola! Ela consegue controlar os esquilos como o Aquaman controla as criaturas marinhas, consegue sua cooperação completa e irrestrita. Tem super força, que varia entre levantar de 200kg a 25 toneladas, ou seja, entre um triciclo grade e um caminhão pesado. Sua agilidade, vocês já podem deduzir, é extraordinária, bem como seus sentidos são aguçados. Faz qualquer mestre de artes marciais parecer uma lesma com letargia.

Com essas credenciais, ela entrou em combate e venceu serelepe, muitos vilões, atiçando a ira dos fãs dos bandidos de quadrinhos, inclusive Doutor Doom e Thanos... Bem, isso tem explicação. E não está na variação de seus poderes. Antes de continuar, eu esclareço que não gosto de bandido, seja real, seja de ficção. Chatice se cura com terapia, perversidade é bem mais difícil.

Eu já falei aqui do péssimo hábito de humanizar os heróis da pior forma possível: maculando o caráter, deturpando a personalidade, colocando herói contra herói,
enfraquecendo-o, subtraindo sua bravura quando até policiais comuns se põe na linha de tiro sem hesitar, transformando heróis perfeitos em garotões mimados, corrompendo, et cétera. Um grupo inteiro de heróis apanhando de um vilão que sai ileso e pronto para a festa, ao fim do combate, sendo derrotado por um golpe de sorte, no final.

Vamos à boa e velha psicologia. Essa gente tem problemas com a autoridade, geralmente tem dificuldades em manter um relacionamento sadio, e não raro se rende a prazeres destrutivos; o oposto do que o herói clássico é.  Vamos ser francos, não prestar está na moda, o alívio hormonal que isso causa é quase imediato e as pessoas querem isso. O resultado não poderia ser outro, como índios sendo queimados e indigentes enterrados vivos na praia, além de garotas sendo agredidas e mortas por recusarem uma cantada. Um mundo assim é muito hostil às pessoas que tentam ser boas, imaginem um Kal-El da vida, que é a abnegação e bondade personificada! Se bem que ele é da DC...

Sabem qual é uma das principais características de gente assim? É não suportar a felicidade. Nem mesmo a própria. Eles acham que o mundo não presta, que ninguém presta, que eles mesmos não prestam e, muitas vezes inconscientemente, sabotam sua própria felicidade, quando não a de todos ao seu redor. Por isso têm dificuldades em manter um relacionamento saudável, sem recorrer a hábitos destrutivos e egoístas. Eles se odeiam. Para se punirem, destroem as figuras por quem começam a nutrir alguma admiração, seja uma pessoa, um casamento ou um herói.


Claro que, na hora do aperto, com uma pistola apontada para a cabeça, eles vão torcer de todo coração que a bondade, a justiça e a solidariedade prevaleçam. Ou seja, deixam de amar o bandido e passam a choramingar pela polícia; o herói da trama real, no caso.



A Garota Esquilo, que deveria ser apenas uma heroína classe "B", acabou se tornando um factor de correção de aberrações. É por isso que ela consegue vencer praticamente qualquer vilão, mesmo os que dão pau nos deuses da Marvel. Ela impede, por assim dizer, que a Marvel se destrua dando glamour aos bandidos e azedando os heróis. Como se alguns roteiristas dissessem a si mesmos "Ufa, ainda bem que eu não tenho poderes para fazer essa m&$#*@ na vida real!", ainda que depois façam longos e enfadonhos discursos contra uma "garota estúpida que vence o poderoso Thanos", a quem fica feliz de jamais encontrar na vida real.


O facto de ela ser baby sitter, ou seja, cuidar de crianças pequenas, lhes causa ainda mais repulsa. Psicologicamente falando, uma criança pequena representa uma esperança de alguém vir a fazer menos besteiras no mundo, ou pelo menos cometer erros novos, não os mesmos que têm sido cometido ao longo dos milênios. Comandar esquilos? Quer maior símbolo de fofura e simpatia do que um esquilo peludo e bem cuidado? Tudo isso é muito saudável, muito constructivo, precisa ser taxado de alienação, viadagem, infantilismo e o que mais se conseguir inventar para detratar.

O problema, no final das contas, não são os heróis, somos nós, que não conseguimos ver a felicidade alheia como uma extensão da nossa, e a nossa própria como algo desejável. A humanidade inteira está contaminada por uma síndrome de auto destruição, a ponto de rejeitar sumariamente qualquer medida que possa recolocar sua cabeça em ordem. Ela quer que um tirano invencível apareça e force todos a fazerem o que todos sabem que podem e devem fazer, ma se recusa a fazer isso por conta própria. A história já nos mostrou muitas vezes no que isso dá.


Por isso nossa jovem e meiga amiga, que poderia ser minha filha, ganhou tamanha importância, e um séquito de fãs indemovíveis. Ela é um absurdo, sim, mas um absurdo meigo, escultural e de rostinho lindo, que vive para corrigir absurdos muito piores. E sejamos francos, é uma moça exemplar, adorável, uma filha que qualquer um gostaria de ter.

Mais detalhes sobre Doreen Green, clicar aqui.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Querido senhoro professoro

Não faz muito tempo, descobri algo que me deixou chocada e ao mesmo tempo me fez rir muito de mim mesma. Sabe aquelas coisas que a gente descobre que está errada, mas que sempre achou certa e quando alguém explica o porquê de estar errada você se pergunta: "mas COMO foi que não notei o erro?".
Então. Nossa mente é traiçoeira e grava as coisas mais esdrúxulas; muitas vezes repetimos coisas sem nos dar conta, como quando cantamos errado uma letra de música mas achávamos que estávamos catando direito (saudade do Virunduns!!!).
Dei essa volta enorme para justificar o injustificável, mas vamos lá. Entre os aspectos traiçoeiros da mente, existe algo chamado "hipercorreção", que pode ser definido como a tendência que temos de complicar as coisas, e aqui, especificamente a linguagem falada. Mas essa característica é tão intensa que chega  até mesmo às técnicas usadas para facilitar ou simplificar a escrita, como é o caso das abreviaturas.
Se dermos uma pequena pesquisada, encontraremos muitas vezes a abreviatura "Profº" usada para "professor", mesmo em carimbos e documentos oficiais de escolas. Inclusive, na escola onde leciono até pouco tempo ela era utilizada; quando eu a vi pela primeira vez, perguntei  o porquê daquilo; disseram-me que era para designar o gênero; assim, em "Profª" o "a" era porque era para o gênero feminino, então obviamente se fosse masculino, deveria haver um "o" indicando isto. Na época me pareceu óbvio e correto; passei a usar a abreviatura.
Até que... um colega meu da Univille, onde também leciono, publicou um pequeno e divertido artigo em que explicava que as abreviaturas não tem absolutamente nada a ver com o gênero de quem exerce a profissão, mas com a palavra abreviada; assim, não é nem NUNCA FOI "Profº" simplesmente porque a palavra é "professor", terminada em "r"  e não em "o". O colega ainda brincou que, se fosse assim, a palavra seria "professoro", e não "professor". Bem, devo dizer que minha cara caiu no chão e se esmigalhou diante da explicação. Sobre o assunto, indico: http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/3178610.
Como pude achar correta a explicação absurda que me foi dada? Por que não fui verificar, se estava em dúvida? Primeiro, porque a explicação me pareceu adequada, igual àquelas falsas explicações para ditados populares - algumas são muito engraçadas, outras parecem ser absolutamente corretas... mas são só empulhação. Segundo, os documentos e carimbos da escola estavam com a sigla "Prof°", alguém teria percebido se estivesse errado. Mas não, não foi o que aconteceu. Assim como eu, todos achavam que outros já haviam verificado ou acharam a explicação convincente. A lição que fica é que não é porque muitos acreditam que algo está certo podemos simplesmente aceitar em vez de averiguar em caso de dúvidas.
Quando apareci com a explicação, houve MUITA resistência, lógico. Ninguém gosta de admitir ter caído no conto da explicação equivocada, nem eu. Hoje já usamos "Prof.", mas ainda vejo muitos colegas abreviando "profº"... Só no "gúgou, encontre cerca de 1.360.000 resultados para abusca de "Profº", inclusive blogues de escolas e de professores do nível superior!  E já vi também "Doutoros" (Dr.º) espalhados por aí.

Só espero não ter que esbarrar em "Senhoros", também....

A contaminação do "Profº" se estende não apenas ao Ensino Superior, mas invade as inclusive licenciaturas em instituições prestigiadas (as tiras em preto são para preservar o nome e a localidade da qual escreve o colega).

!


sábado, 10 de agosto de 2013

A Ilha da Fantasia - psicologia aplicada ao extremo




Parece título de filme pornô, mas não é. Trata-se de uma série que fez muito sucesso de 1978 a 1984, e foi muito reprisada nos anos seguintes. Uma versão de 1998 durou meia temporada... E ainda dizem que os oitenta é que foram a década perdida! A série verdadeira teve seis temporadas com 157 episódios de uma hora cada, produzidos pela ABC. e todo mundo ficava grudado no sofá, para ver uma hora de entretenimento com inteligência bem acima da média, na época; hoje seria considerado altamente intelectual.

Funciona assim: O cidadão se inscreve para viver suas fantasias por um dia, ou seja lá quanto tempo, nunca ficou claro. A organização investiga sua vida e trata de, caso seja selecionado, fazer com que a vivência desta fantasia lhe sirva de ajuda psicológica. Parece divertido? Não para o hóspede da ilha.

Os participantes eram recepcionados pelo anfitrião Senhor Roarke (Ricardo Montalbán) e por seu assistente, o anão Tattoo(Hervé Villechaise). Tudo no clima de ilha havaiana, porque afinal é uma ilha. Após todos se acomodarem, são encaminhados aos cenários com actores e animais, se for o caso, devidamente treinados para a missão. Não é interessante alguém adorável como Roarke dividie o mesmo intérprete com Khan, um dos maiores e mais cruéis vilões de Jornada nas Estrelas?

Ainda na recepção, Roarke comentava com Tattoo, e com o telespectador, os problemas e virtudes de cada um, assim que desciam do hidroavião, único meio de se chegar à ilha. Quando ele apopntava no horizonte, Tattoo gritava "Chefe! O avião! O avião". Muito carismático, mas nem um pouco inocente, esse xavecador miniatura.

Ele também, às vezes, fazia o papel de mediador, de forma mais descontraída do que seu chefe. Ele incorporava o cenário, se vestia a caráter e, quando o hóspede menos esperava, se apresentava com os conselhos certos na hora certa, depois voltava aos bastidores da fantasia funcional em que o coitado tinha se metido. Se soubesse...

Tudo é de um realismo ferino. A palavra "fantasia" pode conotar algo prazeroso, mas não era bem assim que funcionava. Embora todos saíssem vivos da história, não era o final que realmente contava, mas o desenrolar dos dramas de cada um. Senhor Roarke às vezes aparecia a cada um, de acordo com as necessidades e urgências dos participantes, para falar a respeito e mostrar o nó da meada. Sim, ele era como um Mestre dos Magos, que só aparecia para orientar e mostrar o que o sujeito ainda não tinha percebido com clareza, porque o trabalho era do participante.

Aos que perceberam, parabéns! Sim, a Ilha da Fantasia funcionava como uma clínica psicológica com o método da dramatização levado ao extremo. Embora não seja a intenção matar o participante, ferimentos podem acontecer. Mais ou menos como as salas de realidade virtual da Enterprise, só que com um mediador a orientar o paciente.

Um exemplo. Uma moça que queira realizar o sonho da avó, que na juventude queria ser cantora na Broadway dos anos pré-guerra. Tudo bem, as ferramentas serão fornecidas, mas o trabalho é dela! Ela terá que conseguir ser selecionada, ela terá que ensaiar e cantar, ela terá que enfrentar as sabotagens de invejosos, ela terá que lidar com o assédio da máfia, ela terá que lidar com ofertas para transar em troca de ajuda profissional, ela terá que administrar eventuais baixas de popularidade, ela terá que lidar com boicotes, ela terá que ser a cantora dos anos que sucederam a quarta-feira negra, quando a bolsa de Nova Iorque quebrou e levou o mundo inteiro consigo, gerando uma época de depressão e pessimismo sem par na história contemporânea.

Que foi? Pensaste que seria fácil? Não mesmo! A pessoa entrava lá para enfrentar seus demônios, não para fugir deles... Aliás, estamos precisando de muitas clínicas de psicoterapia assim, não acham?

Ao fim de cada episódio, os hóspedes voltavam para casa com seus medos e traumas devidamente enfrentados, portanto muito mais felizes e prontos para descer o pau na sociedade imbecil que alimentou suas neuroses, ou seja, prontos para serem adultos bem resolvidos.

Não me consta de alguma vez o anfitrião ter falado em valores, nem mesmo tocado no fator dinheiro,
mas é de se esperar que a estrutura cinematográphica da ilha custasse uma fortuna por dia, então quem anda de Mercedes-Benz com motorista e cobrador, dificilmente teria condições de pagar pelos serviços, principalmente porque eram poucos pacientes atendidos por vez.

Mas, como todo paraíso tem sua serpente, ela deu as caras sem demora. Em 1980 Hervé Villechaise saiu e tiveram que arranjar outro assistente, escolheram Wendy Schaal, uma linda loura de sorriso meigo e jeito de boa moça na pele de Julie, até 1982. O último asssistente foi Christopher Hewett.

A segunda série pecou pela falta de carisma. A tecnologia e a estrutura com vários assistentes, não a salvou do fracasso. Tiveram o bom senso de cancelar antes que manchasse a boa reputação da original, mesmo com as intrigas e brigas internas que teve.


Clicar aqui, para ver a sátira dos Trapalhões. A incorporação estava indisponível.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Supertramp - Vencendo em terreno acidentado

Fonte: Radio Max Music

Era só para ser um negócio, nada mais, mas virou um ícone da música pop mundial. Como não poderia ser diferente, veio da Inglaterra. Foi, na acepção da palavra, uma banda feita sob encomenda do milionário holandês Stanley August Miesegaes. A formação ficou a cargo de Rick Daves.

Vejam só as pérolas que formaram a banda: Roger Hogdson, Douguie Tomson, Mark Hart, Tom Walsh, Kevin Currie, Richard Palmer-James, Bob Miliar, Keith Baker, Dave Winthrop e Frank Farrell. A formação actual é o trio Rick Davies, Jhon Helliwell e Bob Siebenberg, todos estão no grupo pela terceira vez.

Para quem ainda não atinou, estou falando da Supertramp, que no começo se chamada Daddy. foi um curioso caso de grupo que teve grande sucesso de crítica, mas fracassou em vender seu primeiro álbum, em 1970. As primeira baixas, em decorrência do fiasco de público, foram Richard Palmer e Robert Milliar. cantar para agradar críticos, não fazia e ainda não faz o eu feitio.

É a vantagem de se ter um chefe por trás da organização, o projecto não corre o risco de desandar na primeira curva, ainda que sofra danos. afinal, ele está lá para corrigir falhas e apresentar resultados. é o que um empresário de verdade faz; um dia os teremos no Brasil.

Mas o segundo fracasso comercial foi demais. Mesmo com o primor musical, marca registrada da banda, o álbum Indelibly Stamped naufragou, e eles perderam o patrocínio. Hoje o LP em perfeitas condições, é ítem valioso de colecionador. A banda parecia estar morta e enterrada, mas era só catalepsia.

Crime Of The Century finalmente emplacou. Os sucessos Dreamer, School e Bloody Well Right deram início à rotina de altos e baixos, tirando a Supertramp do caixão antes que ele fosse fechado. Ainda que de vez em quando volte ao leito do hospital musical.

Hodgson saiu em 1982, com várias versões motivacionais, nenhuma delas convincente. Ele saiu do Supertramp, mas o Supertramp não saiu dele, que até hoje mantém o estilo da banda.

Já macaco velho e com experiência, Davies contou com a participação de David Glimour, do Pink Floyd, para o álbum Brother Were You Bound. O catatau musical, com a participação de Glimour, e canção-título, tem eternos dezesseis minutos... O equivalente a quatro ou cinco músicas normais longas, só que sem os intervalos.

A formação em vigor é de 2010. Mesmo com quarenta e três anos oficialmente no mercado, tem apenas onze álbuns, justo por conta das quase mortes e das debandadas. Uma desvantagem? Nem tanto. Sabe-se lá se a banda manteria o padrão, se todo mundo estivesse confinado, preso por uma cláusula contractual desde o começo? Há quem diga que Miesegaes foi útil para dar o pontapé, mas que sua saída garantiu a sobrevivência digna da banda.

Como toda banda comercial que se preze, ainda que não se renda ao mercantilismo da moda, a exemplo de Bee Gees, eles exploram bem os sucessos do passado, se valendo justamente dos poucos álbuns e da história repleta de lendas e polêmicas. É um exemplo de como o capitalismo, devidamente DOMADO, pode produzir coisas boas.

Eu recomendo muito a banda, mas deixo claro que é uma banda pro-fis-si-o-nal. Eles estão lá para garantir o pão de cada dia, a rigor não fazem caridade em turnês. Para quem não tem preconceito contra quem quer receber pelo seu trabalho, embora nada os impeça de fazer caridade em suas carreiras solo, o som da Supertramp é ágil sem ser apressado. É como uma locomotiva, que mesmo em boa velocidade, te permite apreciar a paisagem e meditar, com um mínimo de solavancos.

Posso assegurar que, apesar de ser um trabalho, eles o fazem com gosto. Amam o que fazem. provavelmente a velha guerra de egos está entre os principais, se não o principal, motivos para a grande rotatividade de membros, fora os músicos d apoio, que dão uma pequena multidão.

O website da banda é este aqui, devidamente equipado com sua lojinha, cheia de coisas legais, a preços não tão legais.

Um monte de vídeos em uma mesma página do Youtube, clicar aqui.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Merece um filme decente- Os Monstros

Artiste: Dennis Budd


The Munsters, ou Os Monstros no Brasil, foi uma série do tipo pipoca, gêmea da Família Adams. Por que uma sobreviveu e a outra não? Veremos a seguir...

Lançada em 24 de Setembro de 1964 pela CBS, a série tratava de uma família de imigrantes da Transilvânia. Até aí, nada de extraordinário, os americanos dizem que não, mas são chegados em carne de fora. O estranho é a composição da família:
  • Herman, vivido por Fred Gwinne, era o chefe da família. Grandalhão, forte e bobão, ele trouxe a família do velho continente para trabalhar em uma funerária. Mas quando eu digo "forte", não é de um cara que levanta duzentos quilos com dificuldade, é de um que levanta um carro americano da época, com suas duas típicas toneladas, com uma só mão, como convém a um Frankenstein... Isso mesmo, queridos leitores, a Família Monstro é uma família de monstros!... Foi tão difícil deduzir isso?
  • Lily, a adorável esposa, vivida pela sex simbol Yvonne De Carlo. Ela é uma dona de casa (meu Deus, feministas se aproximam  com tochas!) exemplar, que prepara deliciosos ensopados para sua amável família, com ingredientes fáceis de se encontrar como mãos de gárgula, olhos de dragão, língua de demônio, algo típico(?????) da Transilvânia. Ah, sim, Lily também é uma adorável monstra, uma vampira... Leitor, que pescoço bonito o seu...
  • Al Lewis viveu o pai de Lily, o Vovô. Nome? P'ra quê? Ele é o estorv... digo, a reserva de sapiência da família. É um vampiro com tantos séculos, que já não conta mais sua idade em anos, e tem todos eles para se arrepender de não ter ficado rico como o Drácula. Tem duas frustrações nesses anos de morto-vivo, ter saído de sua terra natal, que na verdade era um horror para quem não era rico, e a boa educação que dão ao neto, em contraste com o modo como estragavam as crianças antigamente...
  • Eddie, o garotinho da casa... Uma mansão gótica e fantasmagórica. Vivido por Butch Patrick, ele sofre tudo o que um estrangeiro sofre para se adaptar ao novo país, com o agravante de ser uma criança em idade escolar; sim, o bulliyng corria solto. Por mais que a mãe tentasse, o pai acaba precisando lembrar ao filho o que ele realmente era, um Monstro, um autêntico lobisomem da fam... Pera... Frankenstein mais vampira igual a lobisomem???
  • Marilyn... A, a pobre e estranha Marilyn... E pões estranha nessa parada, meu irmão! Até o episódio treze (meu Deus...) era vivida por Bevertey Owen, do quatorze até o setenta, por Pat Priest. Não, não é esta a característica ais estranha dela, e dizem as más línguas que foi pela sobrinha que o casal decidiu se mudar para a América. Marilyn, coitada, a linda Marilyn... É HUMANA!!!!
Elenco original
As tramas eram simples, fáceis de digerir, até ajudavam a colocar na cabeça neurótica do americano, que o diferente não era necessariamente ruim, pelo contrário, às vezes os nativos é que causavam problemas aos imigrantes... Lindo, né? Mas durou pouco.

Infelizmente, por comodismo e economia, a série foi toda feita em preto e branco, quando o cidadão médio já estava se encantando com o technicolor. E quem matou The Munsters? Não, não foram os Adams, seria anti ético. Foi o pastelão full color protagonizado por Adam West: Batman... Tá rindo do quê? De tosqueira por tosqueira, o povo preferiu uma tosqueira colorida! Ainda mais com uma Mulher Gato de cinta e macacão preto colante, desfilando e provocando o Tubby Batman. Ou vocês pensam que The Big Bang Theory sobrevive, se uma série similar for lançada em 3D e ela não acompanhar? Pensem bem, antes de me responderem.

Para tentar reverter a decadência, foi lançado o filme "Monstros à Solta", em 1966, totalmente colorido, mas já era tarde. Mas asseguro que foi um final apoteótico, vale muito um remake DECENTE E QUE RESPEITE A OBRA ORIGINAL, que respeitou totalmente a série de que derivou. Cinco filmes, no total, remeteram à série:
  • Munster, go home, de 1966, quando o carro Drácula é apresentado;
  • The MIni Munsters, um desenho de curta metragem de 1973;
  • A Vingança dos Monstros, da década mais tosca da história, feito em 1981;
  • Come The Munsters, rodado em 1995;
  • The Munsters' Scary Little Christmas, de 1996... Com Vovô raptado por Papai Noel... É mole?

A série original foi reprisada nos anos oitenta, se não me engano, pela Bandeirantes, mas houve uma segunda temporada, com argumentação tão inverossímil, que casa direitinho com o espírito da série original, e explica as filmagens recentes... de sucesso decepcionante. Foram setenta e dois episódios de 1988 a 1991, quando os Monstros acordaram após vinte e dois anos, por causa de uma das experiências malucas co Vovô, que colocou todo mundo para hibernar.

Curiosos? procurem pela internet, meus caros, vocês encontrarão material farto, fácil e muita coisa em português.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

To Bee Gees


A vida é uma festa, mas só quem arruma a bagunça e paga a conta, é que sabe dos dissabores que toda aquela alegria esconde. A festa começou em 1946, com o mundo começando a acordar para os prejuízos da insanidade do Eixo.

Isto pode ser considerado uma síntese da vida dos três irmãos. Não que não tenham sido felizes, eles sabem fazer boas limonadas, e ganhar dinheiro com elas.

Barry e os gêmeos Robin e Maurice, apesar de terem crescido em Brisbane, Queensland, na Austrália, são ingleses da Ilha de Man. Passaram tão pouco tempo por lá, que se identificam mais com os estereótipos australianos do que com os ingleses.

Colecionadores de recordes, prêmios e hóspedes habituais dos primeiros lugares das paradas de sucesso, iniciaram oficialmente sua carreira em 1966, um ano que particularmente me encanta, não só por causa deles. Mas iniciar no mundo da música, eles iniciaram em 1957, outro ano mítico, que tem o Chevrolet Bel Air como seu mascote.

Mas não comecemos do meio.

 

Eles tocaram de tudo, tudo mesmo... Quer dizer, só não tocaram música ruim. Também não se viram livres do deslumbramento, nos anos setenta, quando estavam decolando, começaram a brigar e quase foram à bancarrota, até que tomaram vergonha e se deram conta de uma coisa, eles eram irmãos. Se se separassem, continuariam sendo irmãos e seus pais continuariam amargurados com a briga.

Sabe aquela chantagenzinha básica? Funciona. Eles se reuniram, ainda se olhando meio torto, mas fizeram o dever de casa. Trocaram a psicodelia por ritmos dançantes, baladas românticas, uma identidade mais irreverente que é a cara deles, e retomaram a trilha do sucesso. Não doeu tanto, né?

Além do mais, os pais eram músicos, Hugh Gibb e Barbara Pass não negaram amparo aos filhos, os cinco, assim como não negaram puxões de orelhas, quando brigavam. Eles não demoraram a perceber o talento que tinham em casa. Já em 1956, ainda morando na Inglaterra, Barry ganhou sua primeira guitarra, Maurice e Robin começaram a acompanhar no vocal e pronto, a encrenca estava formada. Em 1958, Bárbara teve mais um e disse "CHEGA"!!! Estava formada a turminha em casa: Lesley, Barry, Maurice, Robin e Andrew. Este seguiu carreira solo, também na música.

Eles estudaram, não tiveram vida mansa. Se mudaram para Surfers Paradise, no litoral, onde começaram se apresentando em casas noturnas, uma experiência que recomendo a todos os músicos iniciantes. Em 1962 veio a chance, que não desperdiçaram, pela empresa de Kevin Jacobsen. Foi também o primeiro contracto profissional dos irmãos. Spicks and Specks foi o primeiro sucesso.

Voltaram à Inglaterra entusiasmados com o sucesso dos Beatles, em 1967, de navio, pagando a passagem com música. Ou seja, foram ensaiando, comendo e dormindo de graça. Lá, Hugh não deixou por menos, mandou o materioal dos filhos para a mesma editora dos Beatles, a NEWS. Não fosse o australiano Robert Stigwood ter notado um conteúdo australiano naquela pilha gigantesca de material, talvez tivessem que voltar com o rabinho entre as pernas para a Austrália.


 
A banda, como uma estrutura profissional e empresarial, não só com os três garotos de Douglas, logo se tornou necessária. Chamaram gente de sua confiança, é claro. Também tiveram a malandragem de lançar o primeiro álbum New York Mining Disaster 1941", com crédito de artista para "Be... es", um golpe que fisgou os fãs dos Beatles e acertou em cheio. Bee Gees já se estabelecera como uma banda reconhecida. Mas foi Massachusetts que os lançou ao estrelato. Chegaram em álbum ao Brasil em 1968.

Como a cultura vintage ainda não estava estabelecida, o jeito de rock sessentista de suas músicas começou a cansar. Main Course, de 1975, recebeu o padrão de qualidade pelo qual os irmãos ficaram conhecidos. Fica fácil para vocês perceberem que, se não tivessem se reconciliado, não teriam conseguido se reerguer e o Bee Gees teria mesmo caído no esquecimento? São ingleses, mas são bons carcamanos musicais.

 

O sentimento à flor da pele, mesmo nas canções dançantes, sempre os acompanhou, como "I Wish You Here", "My World" e "I Started Joke". A dor de um amor perdido e a morte são recorrentes, em suas obras. O marco de "Os Embalos de Sábado à Noite" os associou perenemente à febre da discoteca, da qual se tornaram sinônimo. E claro que veio uma enxurrada de imitadores, a maioria absoluta hoje, desfruta de um merecido e abençoado esquecimento.

Como todo e qualquer artista, eles tiveram altos e baixos. Mas bastava uma pausa, um disco a menos vendido, um dia a menos nos jornais, e a crítica os atacava com malévolo fervor, taxando-os de cantores e compositores medíocres... Oh, Pai, perdoai-vos, porque eu não o consigo!

Os anos oitenta foram um hiato. projectos próprios, actividades solo, entre outros. Os artistas passaram a também agenciar gente nova, diversificar seus negócios para não ficarem reféns das oscilações e incertezas do sucesso artístico. Funcionou muito bem, embora tenha parecido que o grupo havia terminado. Na realidade, estavam cuidando de si e da família, coisa que a vida insana de shows intermináveis e aparições contractuais não permite. Sabem o que é isso? Ter vida própria? Pois muitos artistas não sabem.

Voltaram com força em 1991, para a alegria dos fãs que sempre os amaram, e dos novatos que quando os conheceram, também sempre os amaram. A cultura vintage começara a florescer e sucessos antigos voltaram, a vender bem, alguns mais do que os novos. Com a lição da quase falência aprendida, eles sempre renovaram seu repertório, e desta vez não foi diferente, só que em vez de seguir, eles ditavam a moda, para quem gosta de música, é claro. Keppel Road é o documentário sobre a banda e os irmãos, lançado em 1997.

 

O grupo era tão coeso e feliz, que só a morte poderia acabar com ele... E ela o fez. No dia do aniversário de Leslie, em 12 de Janeiro de 2003, Maurice morre, em decorrência de complicações de uma cirurgia cardíaca. Ele era o mediador ente os gêmeos, que desnorteados, anunciaram o fim do Bee Gees, ao menos como um grupo oficial, por assim dizer. Acabou em um de seus muitos auges.

Barry e Robin trabalharam em carreiras solo, até 2006. Antes disso, em 2004, receberam o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Manchester, e a Comenda de Cavaleiros do Império Britânico. Preciso dizer que a crítica ranheta e mal amada mastigou os próprios dentes, de raiva? Não, né? Olha só, eu sou doutor, cavaleiro, milionário, ídolo, bem amado, profissional respeitado e tenho uma família feliz. Você é quem mesmo?

Em 2009 os irmãos voltavam ao palco, sem conseguir disfarçar o vácuo que Maurice deixou. mas não deixaram a peteca cair e continuaram trabalhando. Em 2012, infelizmente, o vocal de "Started a Joke" se tornou personagem da música, Robin faleceu, em decorrência de uma pneumonia que corroborou com o câncer de cólon que enfrentava há muitos anos. Após finalmente a crítica ter dado o braço a torcer.

 

Hoje a banda é mantida e regida por Barry, solitário, tocando os corações em sua alegria triste e usando o trabalho como contrapeso ao seu luto. O Bee Gees continua na activa, com compromissos e um legado para dar conta, só não dá para fingir que é a mesma coisa sem eles. Porque no fundo, a cada vez que sobe ao palco, tudo o que Barry queria é que eles estivessem aqui.



Website oficial do Bee Gees, clicar aqui.
O perfil deles no Facebook, clicar aqui.
Querem mais? Então cliquem aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

domingo, 7 de julho de 2013

Betty Boop anos 80


Mais uma vez a mão sutil da sincronicidade me traz (ou me leva a) uma pérola quase esquecida. Vendo cartuns da época da guerra, o site me ofereceu também uma pancada de desenhos da Betty Boop, alguns deles banidos, uns poucos com toda razão, a maioria por pura perseguição mesmo. Eis que me deparo com uma obra feita quando pensávamos que todos já a tinham esquecido. O próprio filme "Uma Cilada para Roger Rabbit" fez crer que aquela era a primeira aparição da personagem em décadas.

Vamos ao filme. The Romance of Betty Boop foi feito na segunda fase dos anos oitenta, em 1985, quando as tosqueiras proliferaram feito ervas daninhas em horta abandonada. A economia com a animação é evidente. Aliás, até fins dos anos noventa, foi um sofrimento só. O que diferencia o trabalho dos animadores, é o uso de colagens em preto e branco, muitas feitas em copiadoras com alto contraste.

A técnica não é absolutamente genial, genial é utilizá-la para concentrar esforços onde interessa, e aqui foi feito. As cores se concentram em Betty, seus amigos e seus ambientes, todo o resto sofre corte orçamentário de tinta. Inclusive pessoas em tons de cinza, em cenários coloridos.

A trama se passa em Nova Iorque, em 1939. Betty, como sempre, é pau para toda obra, e vive em um apartamento que poderia facilmente ser trocado por uma Kombi... Com a vantagem de não precisar aturar vizinhos malas.

Ela é apaixonada por um actor, uma das poucas profissões que davam dinheiro entre a grande depressão e a segunda guerra mundial. Sonhando com esse cidadão, ela acaba desprezando o amor de um amigo, Freddie, que é vendedor de gelo, e fica no subsolo da depressão quando é rejeitado por ela.

Hmm... Estou vendo carinhas de estranheza. Farei um adendo: A geladeira só se popularizou depois da guerra, meus queridos. Antes, as pessoas tinham caixas espessas, na quais colocavam gelo, para poderem preservar os alimentos. Geladeira mesmo, só os ricos e as empresas, como as fábricas de gelo, tinham.

Voltando. A trama tem uma reviravolta quando um mafioso, que vai cobrar uma dívida do dono da boate onde ela trabalha, se interessa por ela. Para piorar, o tal galã está na plateia, e Betty não poupa esforços para seduzi-lo, em seu clássico e indefectível vestidinho vermelho. Daí para frente a confusão realmente começa e vocês terão que ver o filme, para saber.

Tem de tudo um pouco, e tosco, como convém à década perdida, como a chamávamos antes de ela terminar. O modo como as colagens são colocadas, não tem como não ser proposital, porque se vê que são colagens em preto e branco, não desenhos que não receberam cores. Um experimentalismo que fez pensar, no começo, se tratar de um filme dos anos sessenta, porque os personagens secundários são típicos de então, mas o apartamento de Betty e a aparição de Freddie, me fizeram ler a descrição do filme antes de ele terminar.

Aliás, o clássico e vintagesco vestido vermelho passa a ser, quase sempre, roupa de baixo. Sobre ele, ela coloca mini vestidinhos que, francamente, parecem cobrir menos do que ele... Parece impossível? Mas foi a impressão que me deu.

Betty está linda, valente e versátil, como é de seu feitio. O gênio arredio, combativo e o coração de ouro estão intactos, apesar do trauma da perseguição sofrida décadas antes. A sutil adaptação de seus traços para os anos oitenta não tiraram um milímetro de seu chame e beleza, pelo contrário, fizeram por ela o que as técnicas dos anos trinta não permitiam, não sem custar uma fortuna.

O filme poderia ser bem melhor, é verdade, mas fica claro que não se trata de uma super produção. Talvez hoje fizessem algo refinado e repleto de referências às animações clássicas, afinal, releituras de diversas origens e estilos proliferam. Público, ela ainda tem. No fim, ela acaba bancando a idiota, mas tem uma decepção, chuta o pau da barraca e se redime, antes de a fila andar.

Outras animações foram feitas, no decorrer da década, como Hollywood Mistery, ver aqui. com estilo e roupagem mais clássicos, inclusive com os personagens das animações originais e animação melhor cuidada. No mais, aproveitem a animação.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Novelas que valeram à pena; Amor com Amor se Paga

No final, ele dançou... e gostou.

Do tempo em que a televisão valia eu amassar o derriére por meia hora, com algumas saídas necessárias durante os comerciais, me lembro das novelas. Como eram boas! Não estou sendo meramente saudoso, falo de obras primas que mostravam as coisas como elas são, mas sem azedume. Cafetão Pasthéo não tinha vez entre os personagens.

Uma das melhores, de todos os tempos, foi Amor com Amor se Paga, de Ivan Ribeiro, exibida às 18h. Não vou discorrer sobre detalhes, isso vocês encontram com muita confiabilidade na internet, inclusive na Wikipédia, aqui.

A novela mostrou de forma magistral, o que vocês, crianças, pensam que só se discute depois da invenção do iPad. Puxada pelo emblemático e avarento Nonô Correia, nome pelo qual até hoje o mestre Ary Fontoura é chamado nas ruas, a novela colocou em panos limpos uma série de questões vitais, de forma leve e fácil de se compreender.

A própria avareza do personagem central foi explicada no decorrer da trama. Apesar de rico, ele chegava a inventar dietas malucas, para economizar comida, como a dieta líquida uma vez por semana. Apesar de muito carismático, ele conseguia ser perverso, conseguindo tratamento médico com chantagens e tratando a filha Elisa como uma propriedade... que podia viver de vento.

O sossego do muquirana acaba quando o clarividente Tio Romão, animado por Fernando Torres, chega à cidade e de cara lhe joga na cara que sabe de seu tesouro, conseguido às custas de cobrança implacável de dívidas. Ele é a contraparte e o tempero da novela.

Como nenhuma outra, ela mostrou os riscos da auto medicação, que ainda hoje faz vítimas e a televisão parece ter esquecido... ou sido paga para esquecer. A primeira dama vai a óbito por isso, e tem seu túmulo feito de palanque eleitoral por seu marido corrupto e populista. Aliás, o corrupto carismático foi escancarado pra o tele espectador.

Unindo vários temas em poucas histórias menores, o embate conservadorismo versus modernismo foi casado com o do patriotismo versus estrangeirismo. As duas faces das duas moedas eram colocadas de forma clara, divertida, para o público aprender enquanto ria.

Também a questão dos órfãos foi levantada. O drama em particular, acabou unindo mais dois temas em sua órbita, tudo de modo simples, sem disfarces, sem poupar quem preferiu se manter na ignorância. Afinal, ser aculturado não é desculpa para agredir e despejar no outro as suas frustrações, principalmente quando o outro é uma criança órfã.

Os conflitos se intercruzaram inúmeras vezes ao longo da novela, com um elenco muito grande, que mesmo assim não viu personagens desaparecerem sem explicação... Né? Segredos revelados no decorrer da novela, não desmentiram cenas anteriores, e foram muitos! Alguns totalmente inesperados, mas perfeitamente encaixados no antes, durante e depois.

Nos capítulos finais, as emoções vêm à flor da pele, mas sem agressividades desnecessárias, que certos autores de hoje chamam de "atitude" ou "a vida como ela é". Vida de quem? Todo mundo vive no inferno? A minha vida pode ser uma lástima, mas não é esse circo de horrores que apresentam nos dias correntes.

A reta final mostra Tio Romão orquestrando, sem parecer que o faz, as reconciliações, os perdões, mas nada gratuito. Em nenhum momento a novela fez o jogo do contente. O final feliz se deu em decorrência do burilamento lento e contínuo das relações entre os personagens, fruto de suas próprias escolhas.

E aqui temos uma lição que as novelas modernas(?) tratam como alienação, no mínimo. A de que as pessoas mais duras e arraigadas em seus hábitos, podem sim se retratar e até serem melhores do que os que os atacavam, se dizendo vítimas. Mas na pessoa do prefeito, mostra que isso só pode acontecer se a pessoa quiser mesmo... e ele não quis. É, nem tudo acaba bem para todos, mas cada um colhe o que plantou durante a novela.

E mais, o cuidado estético é um colírio para nossos olhos cansados de louvores à pobreza, como se isso melhorasse a vida dos pobres, ou lhes garantisse a simpatia dos ricos.

Se encontrarem os vinís das trilhas sonoras, comprem, eu asseguro a satisfação completa, ou seu azedume de volta em dobro.

Os cento e cinqüenta capítulos, exibidos de 19 de Março a 14 de Setembro de 1984, e reprisados de 26 de Outubro de 1987 a 1° de Abril de 1988, foi exportada para pelo menos dezenove países. de vários idiomas e culturas.

Para quem quiser ter lições de vida de forma séria, mas leve e divertida, eu recomendo baixar a novela inteira e assistir no seu ritmo, porque valerá cada segundo e cada riso investidos.

sábado, 15 de junho de 2013

Perdeu, Playboy!


Os rumores são fortes e muitos jornais sérios (existe isso?) dão como certo o cancelamento de várias revistas pela Abril, inclusive as mais icônicas. Mesmo já tendo sido líder no ramo por décadas, a decadência lenta e agonizante não perdoôu. A revista Playboy está em vias de encerrar suas actividades no Brasil, se um improvável milagre não acontecer.

O leitor típico da revista, ao contrário do que pode parecer, ficou órfão desde que os ensaios se tornaram pífios, e as capas passaram a configurar propaganda enganosa. Não é de hoje que eles abusam da edição de imagens. Houve época em que as playmates eram facilmente reconhecidas pelas ruas, apesar da produção toda envolvida, que visava acentuar ao máximo seus dotes. Hoje este é remoto, pois o que se vê nas páginas da revista, muitas vezes nada tem a ver com quem posou para as photographias.

Transferir a cabeça de uma actriz veterana para o corpo de uma modelo jovem, foi o golpe de misericórdia na pouca confiabilidade que ainda tinha. De falso por falso, o leitor passou a preferir as hentais suaves, e a volta às pin-ups clássicas, pelo menos há a mão de um artista de verdade para valorizar uma obra claramente fictícia. Nesta esteira, os ensaios com pin-ups retrôs de verdade ganharam espaço.

Já o público exclusivamente onanista migrou há anos para revistas mais apelativas, ou de conteúdo e linguagem mais agressivos, ou ambos. Sim, porque o ex-leitor da Playboy tinha mais entretenimentos. As charges e tiras de humor eram realmente engraçadas, com arte bem feita e linguagem condizente, tanto com o ramo da revista quanto com o nível que ela propunha.


Por muitos anos ela actualizava os leitores com novidades tecnológicas, não simplesmente pelo apelo tecnológico, mas pela utilidade que o artefato pudesse ter. Foi, por exemplo, uma das primeiras revistas no país a abrir os olhos do empresariado para a importância de se aderir rapidamente à informática, dizendo "Só há uma coisa que o computador não pode fazer por você... ainda".

Lembro também de séries de artigos de utilidade pública, como o que fazer, em caso de se sobreviver a um acidente aéreo. O artigo em questão avisava para não contar com a ajuda da tripulação, que poderia estar morta, embora histórias de heroísmo dignas de cinema recheiem o mundo da aviação, bem como para que se deixasse a bagagem para trás, porque ela provavelmente só atrapalharia, especialmente se o acidente fosse em alto mar.

As entrevistas então, eram apoteóticas. Quase tudo o que os políticos negam na cara dura, eles confessavam à Playboy, ficava tudo bem claro para o bom entendedor. Da mesma forma, crônicas do mundo dos negócios mostravam claramente que o corporativismo ainda tinha, e provavelmente ainda tem, muito apelo familiar, entre os acionistas majoritários. Ou seja, muita coisa ainda anda ou trava por picuinhas domésticas.

As indicações de novidades, quase todas importadas, até hoje, eram sucintas, mas completas. Indicar um carro esporte, por exemplo, usava mais adjetivos do que apelos adolescentes, com mais do que onomatopeias para convencer o leitor de que aquele carango valia à pena.

Ah, claro, também havia resumos e resenhas de livros que o editorial recomendava, e geralmente ele acertava. Haver uma estória, ou história interessante era o mínimo necessário à recomendação. A seção de cinema, então, era implacável, não tinha mesmo pena de absolutamente ninguém, não importando o nome por trás da obra; recomendava a framboesa de ouro sem dó.

E, claro, aquelas mulheres bonitas eram realmente bonitas, mesmo sem luz e maquiagem, podiam ser facilmente reconhecidas ao vivo, com seu glamour natural e o frescor de sua feminilidade sem truques. Hoje, que lástima, não passa de uma vitrine de canastronas de reality show do mais baixo nível, que podem ser verdadeiras ogras, mas têm ensaio garantido em suas páginas; tanto quanto é garantido que ninguém vai reconhecê-las nas ruas. Mais do que erotismo, era uma ode à beleza.

A tecnologia facilitou muita coisa, mas em muitos casos foi a perdição de marcas consagradas, que se renderam ao apelo fácil e traíram seu séquito fiél de leitores, que lhes custara anos para cativar. Nem falo em actualizar linguagens e estilos, isso é indispensável, falo de se renderem aos apelos baixos mesmo. No caso, de trocar uma mulher de fino trato por uma baranga que dá fácil e o whisky ajuda a maquiar. No desespero, em vez de criatividade, se afundaram na facilidade.

Claro, alguns vão dizer que a Globo teve parte da culpa nisso, impondo suas tuteladas. Não tenho tanta certeza, mas também não duvido. O certo é que agora, voltaremos ao tempo de importar revistas do gênero, se quisermos algo que valha à pena guardar.