quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Querido senhoro professoro

Não faz muito tempo, descobri algo que me deixou chocada e ao mesmo tempo me fez rir muito de mim mesma. Sabe aquelas coisas que a gente descobre que está errada, mas que sempre achou certa e quando alguém explica o porquê de estar errada você se pergunta: "mas COMO foi que não notei o erro?".
Então. Nossa mente é traiçoeira e grava as coisas mais esdrúxulas; muitas vezes repetimos coisas sem nos dar conta, como quando cantamos errado uma letra de música mas achávamos que estávamos catando direito (saudade do Virunduns!!!).
Dei essa volta enorme para justificar o injustificável, mas vamos lá. Entre os aspectos traiçoeiros da mente, existe algo chamado "hipercorreção", que pode ser definido como a tendência que temos de complicar as coisas, e aqui, especificamente a linguagem falada. Mas essa característica é tão intensa que chega  até mesmo às técnicas usadas para facilitar ou simplificar a escrita, como é o caso das abreviaturas.
Se dermos uma pequena pesquisada, encontraremos muitas vezes a abreviatura "Profº" usada para "professor", mesmo em carimbos e documentos oficiais de escolas. Inclusive, na escola onde leciono até pouco tempo ela era utilizada; quando eu a vi pela primeira vez, perguntei  o porquê daquilo; disseram-me que era para designar o gênero; assim, em "Profª" o "a" era porque era para o gênero feminino, então obviamente se fosse masculino, deveria haver um "o" indicando isto. Na época me pareceu óbvio e correto; passei a usar a abreviatura.
Até que... um colega meu da Univille, onde também leciono, publicou um pequeno e divertido artigo em que explicava que as abreviaturas não tem absolutamente nada a ver com o gênero de quem exerce a profissão, mas com a palavra abreviada; assim, não é nem NUNCA FOI "Profº" simplesmente porque a palavra é "professor", terminada em "r"  e não em "o". O colega ainda brincou que, se fosse assim, a palavra seria "professoro", e não "professor". Bem, devo dizer que minha cara caiu no chão e se esmigalhou diante da explicação. Sobre o assunto, indico: http://www.recantodasletras.com.br/gramatica/3178610.
Como pude achar correta a explicação absurda que me foi dada? Por que não fui verificar, se estava em dúvida? Primeiro, porque a explicação me pareceu adequada, igual àquelas falsas explicações para ditados populares - algumas são muito engraçadas, outras parecem ser absolutamente corretas... mas são só empulhação. Segundo, os documentos e carimbos da escola estavam com a sigla "Prof°", alguém teria percebido se estivesse errado. Mas não, não foi o que aconteceu. Assim como eu, todos achavam que outros já haviam verificado ou acharam a explicação convincente. A lição que fica é que não é porque muitos acreditam que algo está certo podemos simplesmente aceitar em vez de averiguar em caso de dúvidas.
Quando apareci com a explicação, houve MUITA resistência, lógico. Ninguém gosta de admitir ter caído no conto da explicação equivocada, nem eu. Hoje já usamos "Prof.", mas ainda vejo muitos colegas abreviando "profº"... Só no "gúgou, encontre cerca de 1.360.000 resultados para abusca de "Profº", inclusive blogues de escolas e de professores do nível superior!  E já vi também "Doutoros" (Dr.º) espalhados por aí.

Só espero não ter que esbarrar em "Senhoros", também....

A contaminação do "Profº" se estende não apenas ao Ensino Superior, mas invade as inclusive licenciaturas em instituições prestigiadas (as tiras em preto são para preservar o nome e a localidade da qual escreve o colega).

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