quinta-feira, 27 de junho de 2013

Novelas que valeram à pena; Amor com Amor se Paga

No final, ele dançou... e gostou.

Do tempo em que a televisão valia eu amassar o derriére por meia hora, com algumas saídas necessárias durante os comerciais, me lembro das novelas. Como eram boas! Não estou sendo meramente saudoso, falo de obras primas que mostravam as coisas como elas são, mas sem azedume. Cafetão Pasthéo não tinha vez entre os personagens.

Uma das melhores, de todos os tempos, foi Amor com Amor se Paga, de Ivan Ribeiro, exibida às 18h. Não vou discorrer sobre detalhes, isso vocês encontram com muita confiabilidade na internet, inclusive na Wikipédia, aqui.

A novela mostrou de forma magistral, o que vocês, crianças, pensam que só se discute depois da invenção do iPad. Puxada pelo emblemático e avarento Nonô Correia, nome pelo qual até hoje o mestre Ary Fontoura é chamado nas ruas, a novela colocou em panos limpos uma série de questões vitais, de forma leve e fácil de se compreender.

A própria avareza do personagem central foi explicada no decorrer da trama. Apesar de rico, ele chegava a inventar dietas malucas, para economizar comida, como a dieta líquida uma vez por semana. Apesar de muito carismático, ele conseguia ser perverso, conseguindo tratamento médico com chantagens e tratando a filha Elisa como uma propriedade... que podia viver de vento.

O sossego do muquirana acaba quando o clarividente Tio Romão, animado por Fernando Torres, chega à cidade e de cara lhe joga na cara que sabe de seu tesouro, conseguido às custas de cobrança implacável de dívidas. Ele é a contraparte e o tempero da novela.

Como nenhuma outra, ela mostrou os riscos da auto medicação, que ainda hoje faz vítimas e a televisão parece ter esquecido... ou sido paga para esquecer. A primeira dama vai a óbito por isso, e tem seu túmulo feito de palanque eleitoral por seu marido corrupto e populista. Aliás, o corrupto carismático foi escancarado pra o tele espectador.

Unindo vários temas em poucas histórias menores, o embate conservadorismo versus modernismo foi casado com o do patriotismo versus estrangeirismo. As duas faces das duas moedas eram colocadas de forma clara, divertida, para o público aprender enquanto ria.

Também a questão dos órfãos foi levantada. O drama em particular, acabou unindo mais dois temas em sua órbita, tudo de modo simples, sem disfarces, sem poupar quem preferiu se manter na ignorância. Afinal, ser aculturado não é desculpa para agredir e despejar no outro as suas frustrações, principalmente quando o outro é uma criança órfã.

Os conflitos se intercruzaram inúmeras vezes ao longo da novela, com um elenco muito grande, que mesmo assim não viu personagens desaparecerem sem explicação... Né? Segredos revelados no decorrer da novela, não desmentiram cenas anteriores, e foram muitos! Alguns totalmente inesperados, mas perfeitamente encaixados no antes, durante e depois.

Nos capítulos finais, as emoções vêm à flor da pele, mas sem agressividades desnecessárias, que certos autores de hoje chamam de "atitude" ou "a vida como ela é". Vida de quem? Todo mundo vive no inferno? A minha vida pode ser uma lástima, mas não é esse circo de horrores que apresentam nos dias correntes.

A reta final mostra Tio Romão orquestrando, sem parecer que o faz, as reconciliações, os perdões, mas nada gratuito. Em nenhum momento a novela fez o jogo do contente. O final feliz se deu em decorrência do burilamento lento e contínuo das relações entre os personagens, fruto de suas próprias escolhas.

E aqui temos uma lição que as novelas modernas(?) tratam como alienação, no mínimo. A de que as pessoas mais duras e arraigadas em seus hábitos, podem sim se retratar e até serem melhores do que os que os atacavam, se dizendo vítimas. Mas na pessoa do prefeito, mostra que isso só pode acontecer se a pessoa quiser mesmo... e ele não quis. É, nem tudo acaba bem para todos, mas cada um colhe o que plantou durante a novela.

E mais, o cuidado estético é um colírio para nossos olhos cansados de louvores à pobreza, como se isso melhorasse a vida dos pobres, ou lhes garantisse a simpatia dos ricos.

Se encontrarem os vinís das trilhas sonoras, comprem, eu asseguro a satisfação completa, ou seu azedume de volta em dobro.

Os cento e cinqüenta capítulos, exibidos de 19 de Março a 14 de Setembro de 1984, e reprisados de 26 de Outubro de 1987 a 1° de Abril de 1988, foi exportada para pelo menos dezenove países. de vários idiomas e culturas.

Para quem quiser ter lições de vida de forma séria, mas leve e divertida, eu recomendo baixar a novela inteira e assistir no seu ritmo, porque valerá cada segundo e cada riso investidos.

sábado, 15 de junho de 2013

Perdeu, Playboy!


Os rumores são fortes e muitos jornais sérios (existe isso?) dão como certo o cancelamento de várias revistas pela Abril, inclusive as mais icônicas. Mesmo já tendo sido líder no ramo por décadas, a decadência lenta e agonizante não perdoôu. A revista Playboy está em vias de encerrar suas actividades no Brasil, se um improvável milagre não acontecer.

O leitor típico da revista, ao contrário do que pode parecer, ficou órfão desde que os ensaios se tornaram pífios, e as capas passaram a configurar propaganda enganosa. Não é de hoje que eles abusam da edição de imagens. Houve época em que as playmates eram facilmente reconhecidas pelas ruas, apesar da produção toda envolvida, que visava acentuar ao máximo seus dotes. Hoje este é remoto, pois o que se vê nas páginas da revista, muitas vezes nada tem a ver com quem posou para as photographias.

Transferir a cabeça de uma actriz veterana para o corpo de uma modelo jovem, foi o golpe de misericórdia na pouca confiabilidade que ainda tinha. De falso por falso, o leitor passou a preferir as hentais suaves, e a volta às pin-ups clássicas, pelo menos há a mão de um artista de verdade para valorizar uma obra claramente fictícia. Nesta esteira, os ensaios com pin-ups retrôs de verdade ganharam espaço.

Já o público exclusivamente onanista migrou há anos para revistas mais apelativas, ou de conteúdo e linguagem mais agressivos, ou ambos. Sim, porque o ex-leitor da Playboy tinha mais entretenimentos. As charges e tiras de humor eram realmente engraçadas, com arte bem feita e linguagem condizente, tanto com o ramo da revista quanto com o nível que ela propunha.


Por muitos anos ela actualizava os leitores com novidades tecnológicas, não simplesmente pelo apelo tecnológico, mas pela utilidade que o artefato pudesse ter. Foi, por exemplo, uma das primeiras revistas no país a abrir os olhos do empresariado para a importância de se aderir rapidamente à informática, dizendo "Só há uma coisa que o computador não pode fazer por você... ainda".

Lembro também de séries de artigos de utilidade pública, como o que fazer, em caso de se sobreviver a um acidente aéreo. O artigo em questão avisava para não contar com a ajuda da tripulação, que poderia estar morta, embora histórias de heroísmo dignas de cinema recheiem o mundo da aviação, bem como para que se deixasse a bagagem para trás, porque ela provavelmente só atrapalharia, especialmente se o acidente fosse em alto mar.

As entrevistas então, eram apoteóticas. Quase tudo o que os políticos negam na cara dura, eles confessavam à Playboy, ficava tudo bem claro para o bom entendedor. Da mesma forma, crônicas do mundo dos negócios mostravam claramente que o corporativismo ainda tinha, e provavelmente ainda tem, muito apelo familiar, entre os acionistas majoritários. Ou seja, muita coisa ainda anda ou trava por picuinhas domésticas.

As indicações de novidades, quase todas importadas, até hoje, eram sucintas, mas completas. Indicar um carro esporte, por exemplo, usava mais adjetivos do que apelos adolescentes, com mais do que onomatopeias para convencer o leitor de que aquele carango valia à pena.

Ah, claro, também havia resumos e resenhas de livros que o editorial recomendava, e geralmente ele acertava. Haver uma estória, ou história interessante era o mínimo necessário à recomendação. A seção de cinema, então, era implacável, não tinha mesmo pena de absolutamente ninguém, não importando o nome por trás da obra; recomendava a framboesa de ouro sem dó.

E, claro, aquelas mulheres bonitas eram realmente bonitas, mesmo sem luz e maquiagem, podiam ser facilmente reconhecidas ao vivo, com seu glamour natural e o frescor de sua feminilidade sem truques. Hoje, que lástima, não passa de uma vitrine de canastronas de reality show do mais baixo nível, que podem ser verdadeiras ogras, mas têm ensaio garantido em suas páginas; tanto quanto é garantido que ninguém vai reconhecê-las nas ruas. Mais do que erotismo, era uma ode à beleza.

A tecnologia facilitou muita coisa, mas em muitos casos foi a perdição de marcas consagradas, que se renderam ao apelo fácil e traíram seu séquito fiél de leitores, que lhes custara anos para cativar. Nem falo em actualizar linguagens e estilos, isso é indispensável, falo de se renderem aos apelos baixos mesmo. No caso, de trocar uma mulher de fino trato por uma baranga que dá fácil e o whisky ajuda a maquiar. No desespero, em vez de criatividade, se afundaram na facilidade.

Claro, alguns vão dizer que a Globo teve parte da culpa nisso, impondo suas tuteladas. Não tenho tanta certeza, mas também não duvido. O certo é que agora, voltaremos ao tempo de importar revistas do gênero, se quisermos algo que valha à pena guardar.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Nas margens do dia

By Alberto Benett


Não é de hoje, mas tem se acentuado com a crescente imbecilização da televisão, salvo este ou aquele programa.

Os programas que passam em horários que podemos ver, são aqueles que fazem meu cérebro ameaçar cometer apoptose. Superficiais, falsamente úteis e umbilicalmente ligados à audiência, a ponto de os apresentadores delongarem uma besteira qualquer que esteja pesando na balança do ibope.

A Bandeirantes constitui uma feliz exceção, colocando Futurama e Os Simpsons no horário da tarde. Infelizmente é só isso mesmo, e infelizmente, pelo que conheço da emissora, é mais para tapar um buraco do que propriamente para ser uma atração.

Programas como o telecurso, são exibidos quando o cidadão em geral está a caminho do trabalho, sonolento, pensando unicamente nas obrigações, quando não no trânsito. Quando ele chega a algum lugar que tem televisão, os jornais matinais já terminaram de exibir o que faz diferença e se esmeram em falar de futebol... Bem, não propriamente de futebol, mas de fofocas futibolísticas.

Terminada a sessão celebridade da bola, vem um programa matinal, uma revista televisiva que deveria passar de forma leve e mastigada, o que o jornal mostrou de modo denso e objectivo. Infelizmente os apresentadores são priorizados, em detrimento das matérias. Depois disso, o cidadão já está a pleno vapor e não pode prestar atenção a mais nada.

Na volta para casa, no fim do dia, programas que acham que mostrar um assassinato brutal em vários ângulos diferentes, repetidas vezes, dividem o horário com novelinhas bobas e superficiais, cada um em seu canal, tirando o direito de escolha de quem não tem canais pagos em casa. Ou corre o risco de ter pesadelos, ou o risco de ter uma anestesia mental.

Depois que o cidadão se deita, para voltar a trabalhar bem cedo, é que as coisas interessantes voltam a ser exibidas, mas geralmente em doses de tarja preta. Documentários sobre ciências naturais, personalidades que fizeram diferença de modo que voltem a fazer diferença, filmes clássicos que dão um espetáculo de talentos de artistas e profissionais de apoio, programas de entrevistas que demonstram algum grau de inteligência, humoristas realmente engraçados, enfim... Tudo em horários inacessíveis a quem tem o que fazer durante o dia.

Fim de semana? Esqueça. Quem precisa dormir e acordar cedo, mas geralmente não consegue dormir cedo como deveria, está caindo aos pandarecos e usa o sábado para repor o sono. Quando acorda, só tem besteira na televisão.

Mas geralmente, quem trabalha ou estuda duro durante a semana, usa os dias de folga para ver se ainda conhece os próprios filhos, em um passeio ou qualquer evento de família. Ou ainda para provar aos entes que não está morto, só porque não teve tempo de responder a e-mails, ou mesmo a caixa de diálogos do facebook.

Aliás, quem usa a internet para trabalhar, é geralmente quem menos tempo tem para bobagens de televisão. As pessoas pensam que por trabalhar em casa, o cidadão está à toa, à toa no atol de Mururoa... e dana a mandar mensagens, servicinhos "só para olhar como fica", faz ligações a todo momento, e ainda tem a campainha, o síndico, o vizinho chato, MEU DEUS EU TENHO QUE TRABALHAAAAAAARRRRR!!!!!

Só vê filmes alugados ou pelo youtube, ou seja, não tem tempo para televisão, até porque mesmo os noticiários são em tempo real, pela rede. Quando o infeliz consegue terminar alguma coisa, toma um banho, come qualquer tranqueira e desaba na cama. Vida social? Não me façam rir, pois não tem graça.

Tudo o que o trabalhador e o estudante, quando não é ambos, consegue ver, é o que a televisão de onde e quando estiver lhe mostra. O que lhe daria diversão e conteúdo, fica bem nas margens do dia, separadas por um rio de idiotices que fica mais largo a cada dia; margens cada vez mais estreitas, diga-se de passagem.

Há canais públicos novos que tentam fazer algo diferente, mas enfrentam as dificuldades de praxe. Têm pouca verba, produção quase sempre pouco atraente, quase nenhum patrocinador, além de seus canais terem bem pouca abrangência. Precisa de dinheiro para se varrer um bom pedaço deste país gigantesco. Há gente, e muita gente que assiste ao que sua marca preferida patrocina. Não é devaneio, há uma pequena inversão de fluxo se instalando, já há alguns anos, mas isso tem explicação; os programas estão ficando tão absolutamente idiotas, que empresas tradicionais estão lhes emprestando seu prestígio, quando o normal era acontecer o inverso.

Infelizmente o círculo vicioso se instalou e é cada vez mais largo. Patrocinadores só patrocinam o que facilita suas vendas, claro e até certo ponto justo, enquanto o consumidor que poderia mudar isso não tem tempo para fazê-lo. Geralmente, diga-se de passagem, quem tem o controle das televisões nos ambientes de trabalho, é justo um viciado em bobagens neuro adiposas, que até hoje não sabe que estivemos na iminência de um conflito nuclear, mas sabe de cor e salteado cada penteado maluco daquele jogador da moda... E está deprimido por causa de mais um divórcio de mais uma celebridade, que não ajuda a pagar suas contas.

Eu faço parte do contingente que, de vez em quando e por acidente, descobre coisas muito legais na televisão, passando em horários que quase sempre me excluem de seu quadro fixo de telespectadores. E vou lhes dizer, é dose p'ra leão! Porque quando pego a internet, depois do expediente, quase tudo o que faço é trabalho.