quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Operação Tapa Buraco de Natal

- Garçom, tem uma rena na minha sopa.
- Decerto que sim, os coelhos só vêm na páscoa.
- Quer dizer que não tem ovos de chocolate hoje?
- Não. Aceita um chocotone?

- Garçom, tem uma mosca na minha sopa.
- Você pediu um CD do Paul Seixas, é por isso. Pule a faixa que ela vira uma metamorfose ambulante.

- Papai Noel, tem um garçom no meu presente.
- Ho! Ho! Ho! Não é garçom, é o anãozinho que me ajuda a entregar. Ele é devoto de Iemanjá.

- Rena, tem um floco de neve na minha sopa.
- Então meus parabéns! Papai Noel aceitou seu pedido de um fim de ano na Suécia!
- Jura? Que emoção!

- Árvore de Natal! Tem uma bola quebrada na minha sopa.
- Que #@*§!! Além de cobrar caro por uma trolha feita com mão de obra escrava, ainda vendem porcaria! Só um instante, já trago a bolinha nacional.

- Garçom, tem uma luzinha queimada na minha sopa.
- Só um instante, senhor... Ah, foi só mau contacto.
- Obrigado. Traga mais bolinhas de plástico, as minhas já acabaram.

- Mamãe Noel, tem uma mosca anão na minha sopa natalina.
- Coitadinha! Ela é uma órfã, estava passando fome! Não a julgue, meu filho, lembre-se de que até Nosso Senhor passou fome no deserto! Divida como puder o que tens com os seus próximos, permita que o espírito de natal banhe seu coração...
- Buáááááá...

- Presente, tem uma quinta-feira no meu natal!
- Foi mal, aí! É que este ano foi tosco mesmo, só deu fora!
- E agora, o que eu faço? Me entupo hoje e saio cedo amanhã?
- Rá, rá, rá! Até parece que seu chefe gordo e folgado não vai enforcar a sexta-feira!
- Pôxa, é mesmo! Valeu!

- Shopping Center, tem um black friday na minha sopa.
- Que horror! Mil perdões, já vou trazer suas ofertas de natal.
- Traz umas com brindes, já sou cliente antigo no restaurante.

- Garçom, tem um pronunciamento presidencial de fim de ano na minha sopa.
- NÂO! Mil, perdões, senhor! Lhe será providenciado um banquete por conta da casa. Se a Vigilância Sanitária souber, interdita o restaurante!

- Natal, falta um Joe Cocker no meu fim de ano.
- E faltará em todos os outros. Me desculpe.


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Ninguém contava com sua astúcia





  Todo mundo vai embora algum dia. Não porque não nos ame mais, não porque tenha se magoado, não porque não se importe mais. As pessoas vão quando é hora de ir, e quando é hora elas precisam ir. Às vezes porque seus papéis em nossas vidas acabaram, às vezes porque nosso papel nas delas acabou, mas por algum motivo elas precisaram ir.


  O problema não é a despedida, é o apego. Parece que estamos chorando por quem se foi, quando na verdade choramos por nós mesmos. O apego traz consigo a acomodação, que o tempo se encarrega de alimentar, com isso começamos a não acreditar mais que a pessoa um dia vá embora. Não desejamos perdê-la, relutamos em aceitar a mais remota idéia da perda, mas nos esquecemos que aquela pessoa nunca nos pertenceu.

  Por não nos pertencer, a dor da perda na realidade é uma ilusão tanto maior quanto mais longa tiver sido a convivência. Não que não doa, ela dói, mas dói mais porque não perdoamos a pessoa que se foi, nos sentimos abandonados por ela, às vezes traídos. Mas nós é que nos traímos ao nutrir a mentira de que alguém nos pertence e não tem o direito de ir embora. Não que não choremos pelo sofrimento que o outro porventura tenha sentido, mas a maior parte do choro é pelo rompimento do cordão umbilical, que de mal acostumados estendemos até o outro.

  O sentimento de perda é proporcional ao valor que demos a quem partiu, e ganha força se a afeição for compartilhado por um grupo, tanto mais quanto maior ele for. Então o sentimento de perda ganha sobrevida, porque já não é uma pessoa a ser consolada, é um grupo de pessoas pedindo consolo umas das outras, dificilmente alguém dá o que pede. Não é maldade, é inconsciente, mas mesmo assim os danos se materializam cedo ou tarde, às vezes na somatização de doenças.

  Quando se pergunta a alguém o motivo de o outro não poder ter partido, quase sempre ouve-se a primeira pessoa comandando a maioria dos parágrafos da explanação, "eu queria tanto" e "seria muito legal se um dia eu" costumam ser âncoras da argumentação. Não é por maldade, é inconsciente, a pessoa raramente está preparada para reconhecer e tratar seu egoísmo e suas fragilidades emocionais, então projeta no luto aquilo que não quer assumir. Somos todos egoístas, em menor ou maior grau, inclusive eu.

  Digam, taleitores, por que Roberto Bolaños deveria continuar vivo? Ele queria estender sua sobrevida biológica? As mazelas em sua fragilizada saúde não o faziam sofrer o suficiente? Foi um sofrimento prolongado!

  É digno e legítimo lamentar a perda de um profissional do humor, que dificilmente terá substituto, certamente não pelos próximos cinqüenta anos. É compreensível e até saudável, até certo ponto, lamentar a ruptura de uma obra muito bonita, que nos ligava fácil e rapidamente a períodos em que a humanidade ainda tinha esperanças de um mundo melhor, que em que as atrocidades que nos aterrorizam hoje não eram vistas como "atitude" ou "militância legítima". Eu conheci as décadas finais desse período e reconheço que é verdade, mas só até aí.

  De resto, dignos seguidores do Corcel Azul Calcinha, vamos simplesmente chorar de uma vez o que temos a chorar e depois tocar nossas vidas. A obra que ele deixou está viva, registrada e preservada, pronta para apreciação e ataques de dores abdominais por excesso de risos. ainda que o luto prolongado revertesse algo, mas não reverte e ainda piora tudo. Absolutamente tudo.

  Aqui é Nanael Soubaim encerrando esta conversa, dizendo "TINHA QUE SER O CHAVES MESMO"!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Princesa e o Plebeu


Este texto é um pedido da leitora Iza Pinheiro.

  Um dos maiores clássicos do cinema mundial, rodado em 1953, que fundamentou em definitivo a carreira de Audrey Hepburn. O tripé do filme tem Audrey como a Princesa Ann, Gregory Peck como o repórter Joe Bradley e Eddie Albert como seu leal escudeiro photográphico Irving Radovich.

  Uma das lições do filme é o que Stephanie Elizabeth Marie disse certa vez, que princesas de contos de fadas não existem. Pelo contrário, apesar de todo o luxo e conveniência, é uma posição opressora, que exige uma grande dose de abnegação e resignação. Princesas de verdade nem sempre conseguem ser pessoas, muitas vezes acabam engolidas pelos deveres e se tornam uma extensão do Estado. É esta situação asfixiante que dá o pontapé na trama. Aliás, o título original "Roman Holiday" é porque ela realmente faz dessa aventura um feriado de sua realeza.

  Acompanhando seu pai o rei em uma visita oficial à Itália, a princesa Ann surta e consegue fugir às escondidas do palácio. O facto é que ela esteve em Roma pela última vez quando criança, poucos a reconheceriam, e um desses poucos é o sem-vergonha do Bradley. Ele a reconhece mesmo após ela ter cortado sua longa cabeleira real pelas mãos de um cabeleireiro comum; Sim, aquela cena em que o prícipe Akim (Eddie Murph) corta seu rabicho real foi (mal) inspirada aqui.

  O facto de ser culta e bem educada, como convém às princesas de verdade, não assegura que conheça a vida, e ela cai direitinho na lábia do jornalista. Os dois tiram a barriga da miséria, no decorrer do filme, acumulam material para serem lançados à elite da imprensa mundial, mas Lady Murph nunca dorme em serviço e algo foge ao controle deles. Ann, ao contrário das celebridades vazias e das socialites fúteis com que já lidaram, é uma moça ingênua, de bom coração, autenticamente educada e interessada pelas pessoas.

  Não precisa muito para se apaixonar por uma mulher assim. Para a desgraça de Bradley, ele se apaixona por sua vítima. Eles namoram durante a aventura, que tem direito até à princesa pilotando pela primeira vez uma Vespa, tresloucadamente pelas ruas estreitas e movimentadas da antiga capital do mundo. Ver aquela carinha sapeca de Audrey animando a realesca personagem mostra algumas coisas que depois ficam claras, primeiro que o imenso sucesso da fidalga (Audrey era filha de uma baronesa) era inevitável, segundo que o Oscar era mesmo inevitável, terceiro que Elizabeth Taylor e Cary Grant fizeram um favor em recusar os papéis, que se encaixaram como luvas para Audrey e Gregory, quinto e último, mas não menos importante para quem conhece a diva, Ann era Audrey interpretando a si mesma.

  Na cena final, a estreante Audrey Hepburn, nervosa, só conseguiu chorar como mandava o roteiro porque o director William Wyler ficou bravo com ela e a fez chorar de verdade. O público não ficou sabendo, claro, ou o risco de morte prematura seria real, porque ela arregimentou fãs ardorosos desde muito cedo. O desempenho de Audrey foi tão bom, que Peck tinha certeza absoluta de que ela levaria o Oscar, então exigiu que o nome dela encabeçasse o elenco nos cartazes do filme.

  Agora vocês devem estar se perguntando como o filme termina? Bem, asseguro que o final é lindo, realmente lindo, mas não tem absolutamente nada de óbvio. chega a ser surpreendente, até há um início de suspense. É um filme para rir, chorar e meditar, às vezes tudo ao mesmo tempo. Foi rodado um remake muito bom em 1987 e um ruim mais tarde, mas meus amigos, ninguém ainda hoje fez a Princesa Ann como Audrey Hepburn.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

De dentro para fora e para a história

Divulgação

  Inside Out, em uma tradução literal, é isso mesmo: De dentro para fora. O tema é antigo, uma família americana que se muda para uma cidade distante e completamente diferente do que estava acostumada. Riley é a filha da família e protagonista da animação, ela se vê em um mundo novo e assustador ao sair de Minnesota para San Francisco.

  Para quem não sabe, há rusgas e trocas de farpas entre os Estados centrais e os litorâneos dos Estados Unidos, as crianças crescem dentro dessa animosidade doméstica. Algo como um gaúcho da serra se mudar para o Rio de Janeiro. A qualidade da obra tem uma certa garantia, Pete Docter é o autor e também está dirigindo.

  Continuando, boa parte da trama se passa na mente da menina, onde há uma disputa de influência entre cinco sentimentos diante da nova vida: Alegria, Repúdio, Ira, Tristeza e Medo. Todos vão florear o que lhes convém e acinzentar o resto, ajudando a formar a memória subjetiva da menina. A dificuldade de adaptação, os problemas para estabelecer e manter contacto com os nativos e as saudades dos amigos deixados em Minnesota, darão ao espectador uma pequena e lúdica aula de como se formam a memória e a impressão pessoal.

Divulgação

  Complica tudo Riley ter onze anos, ela está entrando na adolescência. é a fase em que as meninas começam a largar as bonecas e prestar mais atenção ao próprio corpo, porque ele passa a mudar muito rapidamente e os hormônios literalmente são derramados no sangue. É por isso que adolescentes são bipolares, às vezes insuportáveis, e é por isso que os sentimentos de Riley darão tanto trabalho, para ela e uns aos outros.

  A temática não é nova, filmes institucionais da disney já abordaram isso, mas de forma mais sucinta, afinal eram de curta metragem, mas Inside Out mostra isso de forma mais profunda e fundamentada. O cenário é perfeito! Uma pré adolescente de um Estado tido como mais conservador, que tem uma vidinha pacata e previsível, de repente desembarca em definitivo em uma cidade com péssima fama moral, onde o próprio fluxo de turistas impulsiona uma vida bem mais corrida. Provavelmente ela se sentirá uma monga nos primeiros dias.

Imagem de / Image from Time

  Nestas condições, a cabecinha da menina entra em parafuso mesmo. E nós veremos esse turbilhão de emoções não só se formando, mas tomando forma e se manifestando humanamente dentro da cabecinha confusa de nossa protagonista. Por falar nisso, é interessante notar que as figuras de Alegria e Repúdio são as mais humanizadas, sendo a Alegria a única com cor de gente.

  Se tenho esperanças? Infelizmente sempre caio nesta armadilha, quando vejo boas argumentações, e vocês se lembram que eu quebrei a cara com Manda-Chuva. Neste caso o histórico da Disney deve legar à Pixar uma excelência na temática psicológica, que sempre foi um ingrediente de sucesso da turma do Mickey e a Disney não se reergueu até retomá-lo em suas produções. Visualmente o filme seduz, porque até mesmo em seus momentos mais apagados Riley é uma menina bonita, e San Francisco dispensa comentários, é de uma beleza difícil de igualar.

  A precisão de lançamento é para 19 de Junho de 2015 nos Estados Unidos, chegando rapidamente por aqui, em 02 de Julho. Se for metade do que as credenciais prometem, teremos "pricesinha" nova no mundo da animação. O único risco é Alegria e Repúdio roubarem a cena e aparecerem mais do que Riley...

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Orbitas, um curta que merece um longa


  Imagine um planeta habitado por duas espécies dominantes, que vivem em guerra. O planeta está completamente devastado e seus habitantes vivem unicamente em função de exterminar a espécie inimiga. Sim, é mais ou menos como se os biotipos humanos decidissem se digladiar até a extinção de quase todos eles.

  É esta a argumentação básica de Órbitas, um curta metragem digital que foge muito à regra, conforme explicarei logo adiante. A trama principal é entre duas fêmeas em estações espaciais distintas, uma de cada espécie, que orbitam o planeta e se encontram duas vezes, muito rapidamente, em cada volta. Elas sempre aproveitam esses rápidos encontros para se verem, presas pelos cabos ancorados ás estações, chegando a ficar literalmente a poucos centímetros uma da outra, mas nunca conseguindo se tocar.

  Os mais maliciosos vão logo dizer "TÃO NAMORANDO! TÃO NAMORANDO! TÃO NAMORANDO!". Pois estão mesmo. Elas se apaixonam no decorrer desses breves encontros. Infelizmente são puxadas de volta às suas estações assim que elas se afastam, quando voltam à dura rotina de esperar ordens para bombardear o lado inimigo. Não é preciso muita perspicácia para deduzir que elas perdem gradativamente o interesse pelo que fazem. Enquanto os monitores mostram seus líderes em discursos inflamados, elas preparam presentes com o que dispõe, para o próximo encontro, presentes que são levemente impulsionados no espaço, já que não conseguem se tocar.

  Não há nomes para as personagens, nem diálogos na trama. Nem fazem falta. A ação e a expressividade delicada e intensa das duas dizem tudo. Aqui, aliás, cabe uma descrição que mostrará um pouco da revolta dos autores para com a humanidade, e que diz que é de nós que eles realmente falam.


  Uma delas é aparentemente humana, ou uma humanoide muito próxima à humanidade. Ela vive em uma estação escura, desgastada, fria e desenhada unicamente para abrigar sua operadora e as ogivas. as texturas rudes, os ângulos retos, parafusos expostos, os sons abruptos, enfim... E ironicamente parece ser a humana de cabelos verdes a mais delicada das duas.

  A outra tem compleição humanoide, e um corpo escultural, mas o crânio é bastante alongado para cima e não tem nariz. Ao contrário da amada, ela vive em uma estação de cores claras, bem iluminada, repleta de plantas e com todos os comandos executados com toques em hologramas digitais. Ainda tem uma planta, digamos, uma planta ambulante como "bicho de estimação", além de praticar meditação sempre que pode. Preciso dizer o que eles querem passar? Não, meus leitores sabem ler mais do que o simples phonema das palavras.

  Enquanto o mundo lá em baixo é iluminado por explosões e rastros de foguetes, elas permanecem em órbita, como se aquilo fosse apenas um vídeo game enfadonho e de péssimo gosto. Só o que lhes interessa é se manterem belas e assim se reencontrarem na próxima aproximação, mesmo que não possam se tocar.

  Certa, feita, porém, a "humana" dispara acidentalmente uma ogiva para a estação onde está sua amada. Se desespera, aciona a nave de emergência e intercepta a arma, que desintegra seu veículo. O desespero da fêmea vegetal é claro, ao ver a flor que lhe havia dado a flutuar sem o caule. O resto eu não conto!

  A animação, feita pela agência Primer Frame, primeiro quadro em tradução literal, consegue colocar altas doses de poesia e sensibilidade em um cenário absolutamente agressivo e apocalíptico, emprestando às personagens uma fragilidade comovente e uma feminilidade tão intensa, que o espectador pode acabar se apaixonando pelas duas.

  A única parte que mostra a guerra em si, é a primeira, mas dura poucos segundos e logo passa para a beleza que a distância e a solidão preservaram.


  Antes que perguntem, ondas de choque se propagam no espaço.


Orbitas | by PrimerFrame from PrimerFrame on Vimeo.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Luv; pouca roupa e muito carisma



  É uma fórmula com data de validade. Não adianta tentar estender muito, porque ela só dura enquanto tudo estiver durinho e o shortinho tiver o que realçar. Mesmo assim há grupos que aproveitam tão bem sua fase, que voltam de vez em quando, claro que não nas mesmas roupas.

  É o caso do LUV. Formado em 1977 por Marga Scheide, José Hoebee e Patty Brard que faziam
dancinhas insinuantes, naquele jogo de esconde e mostra, com carinhas de inocentes, como se não estivessem fazendo absolutamente nada demais, além de deixar os marmanjos mais sensíveis e carentes em situação constrangedora em público. Alguém aí vai dizer "Naquele tempo era só dancinha, ninguém esfregava a buzanfa na cara do espectador. Sim, é verdade, inclusive as coreografias não se resumiam a cantar de costas para público, mas meu amigo, eram doses cavalares de sensualidade! Não eram coisas que as mamães quisessem ver suas filhas pequenas imitando, muito menos em público, pior ainda em rede de televisão, nem me fale se existisse youtube na época!

  Ainda tiveram quatro integrantes temporárias, para os períodos em que José e Patty se afastaram: Rita Tielsch, Diana Van Berlo, Michelle Gold e Carina Lemoine. Sim, taleitores, o trio enfrentou turbulências, inclusive com troca de empresários. Só a loura Marga Schneide se manteve nele ininterruptamente. O que gerou as turbulências? Tudo o que vocês imaginarem e muito mais. Eram garotas bonitas, mas sem ter aquela beleza acima da média, por isso precisavam vendê-la bem, era o cartão de visitas para os fãs. Vocês podem imaginar que acusações de exibicionismos poderiam ter permeado e estremecido as relações pessoal e profissional das três. Todo mundo pensou que o fim estava próximo, exceto Marga. A posição central em quase todas as apresentações, se talvez tivessem gerado ciúmes, mostrava quem era a líder ali.

  O período de actividade foi de 1977 a 1981, de 1989 a 1995 e de 2005 a 2012. Elas chegaram a ter uma carreira internacional, de 78 a 81, não tanto pela relevância musical, mas muito pelo sex appeal que era muito bem vendido e comedido; não muito, mas elas conseguiram se manter livres de excessos. O que esperar de um grupo assim, se grupos femininos até hoje não são levados à sério? Pois elas lograram êxito, talvez muito mais do que pretendessem. Chegaram a vender 750.000 cópias, mesmo o público sabendo que não as enxergaria dançando com o disco girando... A imaginação criava asas. O facto é que como os Monkees, o Luv nunca acabou oficialmente. Decerto que elas não usariam aquelas peças ínfimas em shows, hoje são senhoras maduras, mas não há impeditivos para uma nova reunião.


  Por que elas voltaram na primeira vez? Por causa do ABBA. O quarteto sueco voltou a fazer muito sucesso em meados dos anos oitenta, atraindo atenções para mais gente e elas pegaram carona. Funcionou muito bem, tanto que um segundo retorno aconteceu para comemorar os vinte e cinco anos de fundação do trio, com as integrantes originais. Não só elas, muita gente deve aos quatro o retorno ao sucesso, e quem o agarrou está até hoje colhendo os louros.

  Um novo retorno? Difícil. Muito difícil! Mas como eu já disse, são carismáticas, espertas a ponto de terem aproveitado um revival em que nem todos acreditavam, têm um séquito de fãs que perpetua sua fama, como acontece com muita gente que sumiu dos grandes circuitos. Não sei se caberia, mas não seria nem um pouco parecido com a estréia, não mesmo!


  As canções? Tem alguma coisa mais sofisticada para ouvir? Quer só passar o tempo e relaxar? Então compensa. É como ouvir a maioria dos grupos de pop rock brasileiros dos anos oitenta, só entretenimento mesmo. Ah, claro, os mais velhos vão gostar de ver três moças não masculinizadas e bonitas por inteiro, não só onde foi colocado um litro de silicone. O que os vídeos mostram, era de verdade.

  Sim, estão todas vivas e as pausas fizeram bem à amizade. Como em namoros sérios, dar um tempo às vezes é necessário. Cá entre nós, sinceramente? Para quem se acostumou às musiquinhas bobas e quase monossilábicas que invadiram a era da discoteque, até que as letras eram bem cuidadas. Só não se pode elogiar demais...

Para mais informações clique em All About LUV, um blog dedicado a elas. Wikipédia. Algumas músicas aqui,

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Pier Angeli e seu amor proibido



Vejam que interessante, só hoje (11/07/2014) percebi, é o meu 300º texto no Talicoisa!

  Anna Maria Pierangeli teve como única falta grave, nos deixar cedo demais. A italiana de Cagliari veio em 19 de Junho de 1932, se foi em 10 de Setembro de 1971 em Beverly Hills. Era baixinha para os padrões hollywoodianos, 1,52m. O que lhe faltava em estatura sobrava no carisma. Gêmea de Marisa Pavan, ela teve uma história um pouco mais triste e trágica do que a irmã.



  Teve dois maridos em sua vidinha conturbada, Vic Damoni e Armando Trovaioli. Deixou dois filhos, Perry Damoni e Andrew Trovaioli. E como ela amava esses meninos! Foram casamentos problemáticos, especialmente o primeiro, que agradou à sua repressora mãe; ela parecia estar mais preocupada com seus padrões do que com a felicidade da filha.



  Seu primeiro trabalho foi no italiano “The Million Dollas Nickel”. O estranho é que ela está lá, nas cenas, mas seu nome não aparece nos registros. Ela não ficou muito tempo restrita à península, após "Domani è troppo tardi" de 1950, Hollywood a nacionalizou rapidamente.



  Conseguiu coisas que pouca gente no ramo consegue, ser amiga de verdade da maioria dos colegas, como Debby Reynolds, com quem veio ao Brasil em excursão em 1953, e o galã meteórico James Dean. Já perceberam que seus parceiros de cinema eram estrelas de primeira grandeza, como Paul Newman, Cid Charisse, Kirk Douglas... Enfim, a moça não foi para brincar, ela aterrissou na Califórnia para ser uma estrela de primeira linha. Dona de uma risada gostosa e de uma voz aconchegante, ela tinha uma facilidade imensa para cativar as pessoas.



  A carinha de anjo não escondia sua índole namoradeira. Não pérfida, mas namoradeira, o que gerava muitos ciúmes e cotovelos doloridos. mas trazia princípios morais da família dos quais não conseguia se desvencilhar. Namorou sério o rebelde James Dean, com quem teve um amor impossível, a mãe de Pier impediu o casamento por ele não ser católico. Sim, meus amigos, a namoradeira Anna Maria era uma moça à moda antiga, obedecia à mamãe mesmo depois de adulta e dona de seu nariz, mas desta vez a obediência foi daninha e custou caro. E dizem que ela também foi a única mulher que ele amou de verdade.



  Faleceu em casa, por choque anafilático. Nunca superou a morte de seu único e verdadeiro amor, James Dean, o que motivou suspeitas de suicídio. Quem a conhecia e sabia do amor quase obsessivo pelos filhos, descartou e rechaçou a hipótese. Como Romy Schneider, morreu mesmo foi de coração partido.

  Se tivessem se casado, talvez ela ainda estivesse viva, porque Marisa ainda está, talvez até Dean estivesse vivo. Mas nos fim das contas, mesmo contra a vontade da megera, eles estão juntos.




Wedsite dedicado à diva: Pier Angeli 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Operação Tapa Buraco - piadas recicladas


- Mestre Yoda, tem uma mosca na minha sopa.
- Uma mosca na sua sopa não há, pimenta do reino voadora é.
- Pimenta do reino voadora...
- Enquanto quente está coma.
- Pimenta do rein... Casp...

- R2D2, tem um C3PO na minha sopa!
- Oh, mil perdões, mestre cliente! O que você está fazendo aí, idiota?
- Peeew pew tzir Twm!
- Então moste logo esse holograma e saia da sopa!
- Ptw teeew: Por favor, socorro! Tem uma mosca na minha sopa! mandem um garçom, rápido!

- Chewbacca, tem uma mosca na minha sopa!
- Woaaan!
- É eu sei, mas de repente apareceu uma, deve ter entrado pela janela da nave!
- Woaaan!
- Sua argumentação é boa, mas eu estou com fome, sabe?
- Woaaan!
- Ah, sim, eu espero, obrigado.

- Palpatine, tem uma rebelião na minha sopa!
- Os levarei para a estrela da morte, só um instante.

- Hanz Sollo, tem uma Leia na minha sopa!
- E você tá reclamando do quê? Não gosta da coisa? Então deixa que eu como! Jabba, traz uma sopa de clone nova pra ele!

- Obi-Wan Kenobi, tem um jedi na minha sopa!
- Ele a está guardando direito?
- Sim, nenhuma mosca se aproximou até agora!
- Fico feliz por isso. Que o apetite esteja com você.

- Darth Vader, tem uma Disney na minha sopa!
- Faz parte da franquia. Agora coma.
- Sim, mestre!
- Você vai achar deliciosa e pagar por todas as bugigangas do Mickey.
- Eis meu cartão e senha, mestre...

- Luck... This is your soup!
- Nooooooooooooo!

sábado, 31 de maio de 2014

Mädchen in Uniform

   Há muitos filmes que mereceriam uma releitura de Hollywood, a maioria deles eu gostaria muito de ver em uma, mas há um que merece e eu espero que jamais ganhe. Explicarei, é só um minutinho e já lhes digo.

  Mädchen in Uniform, que em português literal seria "senhoritas no uniforme", é um drama alemão escrito por Christa Winsloe (aqui) e filmado pela primeira vez em 1931, baseado na bem sucedida peça "Gestern und heute", ou "ontem e hoje" em tradução literal. Sua característica mais marcante é ter o elenco todo feminino, não se vê um homem durante todo o filme. Essa primeira versão utilizou grande parte do elenco do teatro e filmado no orfanato militar de Postdam.

  A trama se passa no fim da bélle époque, conta a história da adolescente órfã Manuela von Meinhards, que perdera a família recentemente e é encaminhada ao orfanato, onde conhece a professora conhecida na trama por Governer Fräulein von Bernburg. Era um orfanato militar do início do século passado, as formalidades eram sim realmente necessárias à época. Quem quiser voltar no tempo e mostra-lhes métodos melhores, sinta-se à vontade. O primeiro elenco tem Hertha Thiele (aqui) como Manuela e Dorothea Wieck (aqui) como Fräulein Elisabeth von Bernburg.

  O enredo foge muito aos dramas esperados de um filme sobre orfanatos. O que temos aqui não é uma garota rebelde que quer se livrar das amarras formalistas de uma época repressora, bla-bla, bla-bla e bla-bla. Manuela é uma garota muito bem ajustada, obrigado, seu único sofrimento até então é mesmo a perda da família. O enredo trata de lesbianismo. Muito diferente do que alguns de vocês estão pensando e pelo que já começam a suar, não é nem de longe um filme erótico, não há sequer uma cena de intimidade sexual. Há carinho, algumas carícias leves, abraços longos, mas não o que muita gente esperaria de uma trama assim. A certa altura Manuela beija Fräulein, mas para os onanistas é a coisa mais sem graça do mundo.

  Devido ao trauma súbito e recente, a professora passa a dar atenções especiais à nova interna. O que normalmente a transformaria em uma mãe substituta para a aluna, acaba despertando a paixão dela. Trata-se de uma professora experiente, mas relativamente jovem e muito bonita, que certamente desperta a atenção masculina quando sai à cidade. Bem, o homossexualismo não era novidade na Europa da época, só era velado, mas nesta condição chegou a ser bastante tolerado pela maioria; embora um casamento nos moldes tradicionais continuasse nos planos sociais, enfim. Com o tempo e a resistência da professora, a moça tímida e aplicada passa a ter os arroubos costumeiros da adolescência. Em uma peça teatral dentro do orfanato, vestida de garoto do fim da idade média, Manuela se vale do papel, fura o roteiro e se declara publicamente à professora, sendo repreendida com dureza compreensível para a época, pela duquesa que comanda o orfanato. Claro que Hitler não gostou e esta foi uma das obras proscritas pelo nazismo.

  Manuela chega a tentar se matar, se atirando da escadaria. O orfanato é um prédio bem alto para a época. Isso fez a directora rever seus métodos, mas causou a renúncia da professora e... Não contarei o filme, ele está disponível para baixar e até algumas locadoras têm as duas versões mais famosas. A segunda versão foi filmada em 1958. Manuela é interpretada pela maravilhosa Romy Schneider (uma boa biographia aqui e uma aqui), Lilli Palmer (aqui) fez Elisabeth. Com o cinema falado, a expressividade vocal e a modulação da própria voz passaram a fazer parte do filme, e Romy emprestou uma doçura rebelde muito grande à Manuela. Ela foi mais melancólica do que Hertha, mas por isso mesmo até um pouco mais agressiva na demonstração de uma paixão proibida naquele ambiente de disciplina severa.

  O filme mostra a realidade nua, mas sem qualquer apelação. Tudo é contado de forma muito gentil, às vezes tempestuosa, mas muito gentil. Mesmo na versão de 1958, quando já era normal fazer alusão clara a relações sexuais, quando não insinuadas abertamente, o filme se preserva de excitações que distrairiam a atenção do público de sua mensagem central. Não há mais rebeldias do que as necessárias, não há mais intimidades do que as necessárias à trama, não há sequer um discurso explícito e politizado para colocar tudo a perder. Tudo, exceto a beleza da obra, está dentro do absolutamente necessário. E a segunda versão tem mais beleza por quadro do que as últimas bombas do cinema têm todas juntas em sua íntegra.

  Por que não quero que façam um remake? Porque os productoers de hoje dificilmente saberiam respeitar a obra. Hoje sequer se cogita a sutileza com que as duas versões trataram a paixão arrebatadora entre aluna e professora. Hoje se quer simplesmente chocar, como se as aves fossem a solução para os problemas mundiais. Bem, vou contar-lhes uma história triste e bela, a melhor forma de fazer um cabeça-dura ter certeza de que tem razão, é bater de frente com ele, ou chocá-lo pura e simplesmente. Eu sou um cabeça-dura assumido, sei do que estou falando.

  Dificilmente um director vai aceitar que tudo fique em um beijo roubado, que as carícias não adentrem nos vestidos e que não haja um homem sorrateiro que não existe no livro. Vai querer transformar o filme ou em uma tragédia desnecessária, ou em um lesbo-pornô desnecessário. Por isso, até que os factos e os parâmetros provem o contrário, prefiro que não haja refilmagens.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Sabe de nada, inocente!

Semana passada (depois de muito tempo) eu conversei um pouquinho com a Debs (saudades) e um dos assuntos (não tinha como passar batido) foi a nova onda de sucesso do Cumpádi Uó: agradecerei eternamente ao bomnegócio.com por dar uma oportunidade de renascimento para o muso!
A ideia de fazer um texto sobre isso foi da Debs, espero que ela leia a minha homenagem ao sucesso do divo. 
É muito bom passar na Av. Bonocô e ver um outdoor estampado com a cara do ordináááááário: de um lado temos o mítico metrô de Salvador e do outro temos aquele rosto de tamanha beleza e siacabância! E ainda tem que ache aquela avenida feia: sabe de nada, inocente! Cumpádi Uó dignifica qualquer lugar!

Brilhe eternamente, ordináááário!

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Uma cobrinha salvando nossa honra


Fonte: TV Conectados

  A capacidade que os teledramaturgos têm para fazerem dos vilões personagens muito mais interessantes do que os mocinhos, a ponto de o público torcer por eles, já é antiga. Desde fins dos anos oitenta que eles fazem o público desejar uma morte lenta e dolorosa para os mocinhos.

  Não é para menos, eles recebem as piores falas, as cenas mais idiotas, aquelas caras de vítimas inocentes que quase pedem um tapa na cara, e parecem ser o depósito de lixo dos defeitos mais íntimos de seus autores. Só são os mocinhos porque a trama diz que são, porque muitas vezes são absolutamente dispensáveis.

  A última novela do horário nobre, como se tornou tradição, é uma coleção de motivos para odiar o mocinho, ou no caso, a Helena da vez. Para quem nunca veio para Goiânia, aviso que o que aquela novela imbecil mostra só existe na cabeça oca do autor. Goianos patetas como aqueles seriam automaticamente os bestas de qualquer roda de conversa nesta metrópole, que já engoliu algumas cidades do entorno e tem todos os problemas de qualquer outra, inclusive o facto de que não existe um goianiense que todo mundo conheça.

  Goiano tem algumas coisas a ver com o texano, para o bem e para o mal. Além da mania de querer tudo grande e em grande quantidade. Goiano é romântico, sim, mas não é meloso. Goiano tem um "R" gutural e arrastado, não fala chiando, isso é coisa de carioca. Goiano parece tranqüilo, a primeira vista, mas tem pavio curto com gente fresca. Está com frescura para ir ter com aquela pessoa que te interessou? Vire as costas e o goiano te dá um chute na bunda, para deixares de fazer doce e ir logo ao que interessa.

  São apenas os erros mais elementares que gente que nunca saiu do litoral comete, ao tentar falar do interior do país. Acha que ter um milhão de habitantes a menos do que as suas cidades já torna qualquer lugar um rincão tranqüilo e alheio ao resto do mundo. Como parece ser a regra, gente que tem um fascínio incontido por um mau-caráter.

  Em meio a tantos personagens tão verossímeis e quase tão divertidos quanto acertar o joelho na própria nuca, uma geminiana paulista faz a única goiana verossímil e interessante. Inicialmente parecia ser uma personagem fútil e perversa, mas está fazendo um bem imenso a uma novela idiota, fazendo os personagens de água e sal que seriam os protagonistas ficarem ainda mais bobos. Se recebesse um pouco de atenção, se tornaria uma filial brasileira da Paola Bracho.
Vai fundo, minha aprendiz de desprezo!

  Não, eu não sou do fã clube de Viviane Pasmanter, sou um apreciador do que é bom. Após tantos anos tendo seu aspecto jovial explorado para fazer lolitas malvadas, mesmo já adulta, a mulher agora faz uma mãe de adolescentes, que cuida (mesmo que de modo belicoso) do pai senil a quem parece ter puxado sua personalidade escorpiana e debochada, e tem uma cobra como bicho de estimação. Aliás, ela educa seus rebentos muito melhor do que as outras mães da novela, aquelas bananas. O que ela faz para viver eu não sei, esses autores não parecem gostar do trabalho diário e deixam isso claro no pouco espaço que dão ao ambiente laboral.

  Não bastasse ser bonita, Viviane emprega muito bem sua carinha de desconfiada profissional à personagem, destacando-a ainda mais de gente que parece olhar para o nada o tempo todo. Uma personagem que deveria ser antipática e totalmente nociva na trama, passou a ser a única com os pés no chão, com emoções minimamente maduras e coerentes. Como foi criada para ser má, a personagem acaba recebendo uma atenção bem mais carinhosa da direção, não só do autor. Mas como os personagens sempre se desvirtuam no decorrer da trama, ela deixou de ser essencialmente uma vilã, agora tem seus momentos de maldade, mas é uma maldade absolutamente necessária para puxar os outros para a realidade.

  Ela tem expressividade, não faz a mesma cara do início ao fim do capítulo, como se fosse um manequim de vitrine, o que até faz bem para a actriz, porque mostra que aquela carinha bonita não se segura às custas de toxina botulínica. Sabem aquelas pessoas que há muito já trocaram o pancake pela argamassa, para disfarçar rugas e flacidez? É esse tipo que vira personagem de novela, mas Viviane tem conseguido fugir dessa armadilha. Não é só arreganhar boca e estufar os olhos, é dar vida à expressão, e dar vida à expressão inevitavelmente faz as marcas e rugas aparecerem, mesmo que elas sumam depois. Gente de verdade tem marcas de expressão, ainda que elas só apareçam quando a expressão está em uso. Até a Barbie da animação digital já exibe algumas, quando exagera na expressão!

  Até agora a menina malvada tem sido a única goiana do elenco que me faz reconhecê-la como tal. Ainda não a vi preparando arroz com pequi, frango e guariroba, ela é rica, tem quem faça isso por si, mas a brejeirice espontânea dela não faz apenas parecer uma goiana autêntica, faz os outros parecerem ainda mais falsos. Não conheço a actriz, mas deve ter uma personalidade muito forte, para não ter sido contaminada com as neuras do autor, que até agora tem demonstrado um desconhecimento de causa muito grande; como praticamente TODOS os seus colegas. Desperdiçar o talento da Julia Lemmertz já deve ter sido o suficiente para ele.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Kojak, o pirulito mais rápido da cidade!



   Há casos em que a vida imita a arte, outros em que a arte imita a vida, mas um caso pelo menos foi de a arte esculhambar a vida. foi como nasceu o seriado Kojak. Theo Kojak apareceu pela primeira vez em um tele filme (que era moda, Audrey Hepburn fez muito sucesso com eles) inspirado em um caso real, chamado The Marcus-Nelson Murders, em 1973. O público amou, então os picaretas da televisão trataram de espremer a fruta até o bagaço, e olha que tiraram muito suco dali.

   De Outubro de 1973 a Março de 1978, a CBS exibiu a série de um detetive criado por Abby Mann, com uma combinação tão rara quanto inusitada; era careca, durão, meio malandrão, debochado, terminando cada episódio chupando um pirulito... Sim, aquele doce colorido com uma haste de madeira ou plástico, para não melecarmos as mãos enquanto o degustamos.


   Ele era tenente do 13º Distrito de New York, Zona Sul de Manhattan, reconhecido por sua competência e intimidade com o submundo, que lhe garantia informações privilegiadas. Bem, na época os Estados Unidos viviam uma onda de criminalidade jamais vista, mas que era um paraíso de tranqüilidade se comparado ao que vivemos hoje no Brasil. Telly Savallas vivia um herói carismático, que conseguia ser do bem sem ser chatonildo, o que certamente angariou alguma simpatia da população pela polícia, que estava muito em baixa.

   Para quem não sabe, o supersticioso povo americano ainda hoje tem paúra do número treze. O 13º Distrito seria algo como "Tem tudo para ser um fiasco, mas é o melhor distrito da cidade". Eles não se levavam à sério, levavam o trabalho, não a si mesmos. Comandando com uma dureza leve os detetives Stavros (George Savalas, irmão de Telly e às vezes identificado como Demóstenes nos créditos de abertura), Saperstein (Mark Russel) e Rizzo (Vince Conti), Kojak não deixava serviço para o pepisódio seguinte. Faziam parte do elenco ainda o detetive-chefe Frank McNeil (Dan Frazer), ex-parceiro de Kojak nas ruas, e o tenente Bobby Crocker (Kevin Dobson). Era um elenco meio grande para uma série de televisão, mas não havia atropelos por causa disso.

   Os 125 episódios foram tão bem sucedidos, que foram também um sucesso de vendas para outros países, com reprises insistentes por muitos anos depois do seu fim. Savallas, aliás, ganhou o Emmy por sua atuação, e o seriado legou o Globo de Ouro em 1975. Ele mostrou algo que parece não ter sido aprendido pelos picaretas de Hollywood, mostrou como um herói moderno deveria ser. Ainda hoje é considerada uma das melhores séries da história da televisão.

   No Brasil, Kojak virou sinônimo de calvice, tamanho o sucesso da série. Tanto, que Savallas nos fez várias visitas promocionais. Era quase uma ponte aérea. O sucesso foi tamanho, que a Manchete exibou a série até 1989, nas madrugadas, antes de sua administração imbecil acabar com o legado de Adolpho Bloch.



   Aliás, Vin Diesel, que tal fazer um papel diferente? Candidate-se! Chupar pirulito é fácil!

quinta-feira, 13 de março de 2014

Castidade à brasileira


   Irmãos! Os baluartes da moralidade, de decência, dos bons costumes, da família tradicional e dos especiais ruins de fim de ano estão firmes em sua sina! Nossas famílias podem dormir em paz, quer dizer, depois que a Joseneide parar de bater no carteiro. Como o coitado grita!

   Irmãos! Após tentarem invadir a sacramentalidade de nossos abençoados lares, os ímpios impuros foram barrados novamente, impedidos de colocar em nosso mercado um filme imoral, indecente, uma verdadeira chacota aos nossos valores! Graças aos controladores de conteúdo importado, o blu-ray de Ninfomaníaca (ver aqui) foi recusado pela Sonopress. E ninguém vai importar, por que importaria um... Joseneide, deixa o homem em paz, ele tá quase morrendo, coitado!

   Como ia dizendo, irmãos, nossas famílias podem agora ficar tranqüilas, mas não pensem que é censura! Não, de jeito nenhum! É apenas controle de conteúdo! O Brasil é uma democracia plena, um país justo, desenvolvido e com o maior IDH do mundo! Não precisamos disso. Nossos jovens sabem o que não devem der e não vêem! Só porque mostra uma puritana em cenas de sexo explícito que beira o bizarro, com um apetite insaciável e contrariando sua aparência de religiosa fervorosa? Por que seria censura? Ninguém se identificaria com ela! A Joseneide me explicou todas as posições e disse "Isso aí eu faço enquanto escovo os dentes". Se minha santa esposa, que teve três filhos pelo Espírito Santo (um nissei, um negro de bengala e um louro caucasiano) diz que não se identifica, é porque nenhum de nossos irmãos se identificaria também. Foi recusado porque é imoral, só isso!

   Nossas famílias podem descansar em paz, irmãos! Poderemos nos entreter com programações sadias, como aquele reality show que mostra adultos brincando de esconde-esconde feito crianças, sob lençóis, sempre focando partes baixas de seus corpos, para seus rostos não serem expostos desnecessáriamente à curiosidade popular. Já pensaram, se nossos jovens descobrem... Sexo? Menores de dezoito anos, ainda com as lembranças da infância fresquinhas, se escandalizando e se traumatizando com cenas escandalosas! Cenas que nossas televisões nunca mostrariam nem por insinuação!

   Ah, que desgraça seria que nossos jovens começassem a ver pernas nuas! Colos descobertos! Glúteos insinuados por sob os tecidos! Bocas pintadas! Cinturinhas finas requebrando! Ah, eu nem quero imaginar! Seria a completa ruína de nossa pátria casta e imaculada... Joseneide, o moço é vegetariano, ele não gosta de lombo! Pare de fazer ele comer o que não gosta! Você está sendo dura demais por causa de uma carta atrasada, minha santinha!

   Não se preocupem, irmãos, pois temos quem defenda nossa moralidade! Poderemos nos divertir sem medo com as novelas, repletas de personagens equilibrados, bem intencionados, com noção de decência e respeitadoras de nossas inteligências, que promovem a boa convivência, mostrando vizinhos brincando de esconde-esconde debaixo dos lençóis... Joseneide, o que é isso?? Meu bem, o rapaz vai acabar fazendo um B.O! O que ela tanto bronqueia com ele? Irmãos, me dêem licença, vou ver o que está acontecendo... Joseneide, você acabou com o rapaz!

- Ensinei umas coisinhas que ele não sabia! Agora vai fazer direito, não vai?
- Só!
- Moço, me desculpe, pode pegar uma de minhas camisas... Joseneide, você não precisa ser tão brava, meu bem!


E o casal conversa tranqüilo, certo de que a inocência dos jovens jamais será maculada por costumes que nunca existiram no sagrado solo brasileiro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Bread - E o ego levou!


Houve uma época em que as relações pessoais começaram a ficar superficiais. As pessoas começavam a perceber que seus heróis também morriam, que o sistema falhava, que as grandes corporações não eram perfeitas e que a vida alheia não era da sua conta. Tudo isso poderia servir para que as pessoas caíssem em si e agissem com mais maturidade, mas a massa preferiu levar para o outro lado: heróis não valem nada, o sistema é podre, as grandes corporações são o próprio satanás e não tô nem aí pros outros.

Neste contexto a revolução sexual, iniciada na segunda metade dos anos sessenta, transformou-se em freeway for fuck, que levou as pessoas a buscarem nas sensações hormonais a digestão que não conseguiam fazer da realidade; só que a realidade batia à porta no dia seguinte, as pessoas ficavam frustradas, buscavam mais relações superficiais e depois ficavam mais frustradas, buscando então alívios que não dependessem de contacto com os desprezíveis seres humanos... Como se não o fossem também. Foi quando a humanidade começou a perder a sua humanidade.

Enquanto certos grupos pegavam carona lucrativa na moda do “sexo, drogas e drogas sonoras”, alguns artistas colocavam os pés no chão e as mãos no coração, mesmo os que não eram a mamãezinha. Eram ilhas de serenidade e diversão não suicida em uma época que só enxergava os podres do mundo. Um desses artistas era o grupo Bread.

Em 1968, David Gates e Jimmy Griffin se juntaram para cantar, depois veio Robby Royer e, acabando com os planos de ser só uma banda de estúdio, Mike Botts completou o quarteto. Assim como suas canções mais famosas, como “Aubrey”, "Guitarman" e "Diary", os períodos de actividade da banda tem a aparente serenidade de uma respiração pausada: 1969/73, 1976/78 e 1996/97.

Classificados como “soft-rock”, o sucesso bateu inesperada e intempestivamente à sua porta com “Make It Whit You”, obrigando-os ser popstars sem terem se preparado para tanto. O problema era que os talentos eram acompanhados de egos proporcionais, sem haver um quinto componente respeitado e com serenidade para conduzir tudo. Se separaram em 1973, com dois retornos, após egos e rancores terem se acalmado devidamente

Ao contrário de suas pessoas, o trabalho da banda era simples, despretensioso e fácil de ser assimilado, demonstrando o quanto o mundo ansiava por ilhas de afeto e compromisso, naqueles tempos de maremoto de valores. A separação foi lamentada, porque quando os quatro conseguiam se entender, o resultado era excelente, com algumas canções que podiam servir até para ninar uma criança com insônia, nos braços da mãe.


A banda, em verdade, era um pequeno retrato de uma parcela da sociedade mundial da época, que insistia em manter o ânimo e o optimismo, mesmo com o mundo desabando ao seu redor. Embora se esforçassem e até tenham deixado um legado admirável, como o mundo de então, o quarteto não resistiu às rusgas de seus fundadores, e líderes, Gates e Griffin. Tal qual o mundo não resistiu muito mais tempo aos golpes da decadência que enfrenta até hoje, pelas rusgas de seus líderes.

Os sucessos do quarteto têm voltado à voga neste início de século, em que as pessoas acham que heróis não valem nada, o sistema é podre, as grandes corporações são o próprio satanás e não tô nem aí pros outros, buscando prazeres fáceis e acolhendo a perversidade como algo natural. Essa espécie não aprende, Meu Deus! Mas não é em qualquer rádio que se ouvem suas canções, em Goiânia eu ouço e recomendo a Executiva FM 92,7.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Guia talicôsico para o público noveleiro, ou: telenovelas for dummies

Como descobrir quem são os autores das novelas da Glóbulo:

1. É das "sete" e tem cenas de torta na cara e/ou guerra de comida: Walcyr Carrasco

2. É das "nove" e tem cenas de "cultura exótica", em que todo mundo fala português inclusive no país/grupo de origem: Glória Perez


3. Fala sobre o Leblon, tem bossa nova e uma Helena: Manoel Carlos


4. Drama suburbano carioca intrincadamente ligado a elites decadentes em que, com alguma sorte, haverá uma vilã maravilhosa: Aguinaldo Silva


5. Tem mais caçambas de lixo atuando que boa parte do elenco: é "Amor à Vida", do Walcyr. E depois desse enredo nonsense, você finalmente entende porque o sobrenome dele é Carrasco.



6. Fala sobre São Paulo e sempre tem gente com sotaque de países europeus: Sílvio de Abreu.

7.  Fala sobre o Rio de Janeiro e sempre tem vilões que sempre mostram que todo brasileiro é canalha: Gilberto Braga.

8. É um drama histórico que une religião/folclore: Duca & Thelma

9. São novelas água com açúcar, cujos temas sempre remetem ao espiritismo: Elizabeth Jinn, mas pode ser Carrasco também.

10. É "das seis" e vai fracassar na audiência - quase sem dúvida: Ana Maria Moretzsohn.

11. Fala sobre o Rio de Janeiro, com atores sem camisa até para ir trabalhar no escritório e mulheres gostosas: Carlos Lombardi.

12. Novelas que quase sempre se passam na praia, às vezes têm criaturas sobrenaturais e um texto que poderia servir para Malhação: Antônio Calmon

Com a colaboração de Paloma Ayres no subtítulo e nos itens 5, 7, 9, 11 e 12; mais o incentivo do Nanael Soubaim. 



Um brinde a você, que dirá para lermos 
livros em vez de discutirmos novelas.
E por que a Paola Bracho está aqui, se "A Usurpadora" nunca apareceu na Góbulo? Porque sim, o blog é nosso, quem manda é nóx.