sexta-feira, 27 de maio de 2011

A banda mais visitada da cidade

Perfume musical para nossos "sábios" de internet.

A Banda Mais Bonita da Cidade está com a agenda lotada, graças em parte aos revoltadinhos acadêmicos cheios de azedume que não toleram músicas sem pretensões de revolta política, de preferência em seu favor. Eles se esforçaram tanto em criticar sem tréguas, difamar e xingar até o nariz ouvir, abrindo grupos de discussões só para isso, que todo mundo ficou curioso e decidiu ver o vídeo de "Oração", que extrapolou dois milhões de acessos.

Aos politipatas que não têm o que fazer, meus sinceros agradecimentos. Sua implicância infantilesca de pré-aborrescente, sua insistência chata em entrar em discussões só para atacar quem gosta (embora exija respeito para consigo) de músicas bonitinhas, seu preconceito contra tudo o que louva o afeto (inclusive xingando a própria mãe se ela der-lhe um beijo em público) sem conotação sexual, enfim, sua imaturidade crônica e aguda em crer que adultos devem ser inimigos dos sentimentos mais simples, tudo isso poupou milhões de reais em marketing. Agora as gravadoras estão disputando o quinteto, que era independente e carente de recursos.

Claro, vocês como sábios incontestes e acima dos sentimentos alheios, sabem que os anos oitenta e noventa foram infestados com músicas de protesto, que faziam de xingar o governo a insinuar uma revolta armada, gente que falava bobagens para parecer adulta e ganhar o dinheirinho dos revoltados de classe média-alta. Assim, também sabem que absolutamente nada disso adiantou de porcaria nenhuma, pelo contrário, praticamente todos os revoltosos que esculhambavam o romantismo, na época, se venderam baratinho ao sistema que diziam combater, tal qual acontecerá com vocês.

Muito obrigado, rebeldes sem causa e sem o que fazer, vocês deram aos pais e mães de família, que são donos do dinheiro e pagam as contas no fim do mês, a chance de conhecer uma bandinha legal e boa para gente que trabalha relaxar no fim do dia. Agora podem descansar e ouvir suas músicas de adulto antenado e politizado, sua contribuição foi dada de graça para a banda.

Ah, sim... Vocês podem ficar tranqüilos, viu. Nós, piegas alienados que resolvemos os problemas do dia a dia, em vez de cabular aula e emprego para protestar contra tudo isso que aí está, não vamos invadir seus fóruns de discussão, que devem ter citações até em idioma atlante de tão intelectualizados, para ofender vocês como vocês fazem conosco. Afinal, sabemos que o Brasil é uma democracia e como tal cada um deve respeitar os gostos do outro, até mesmo os de vocês.

Em sua homenagem, bobos alegres que logo se venderão como todos os outros que os precederam, dois clipes do grupo jovem japonês Perfume. Mas sua mãe, que deve estar chorando pela última ofensa em público, também pode ver, pois é um grupo bem alegrinho, ela se sentirá bem.

Mais sobre elas e outros achados orientais, no excelente J-Station (aqui), o site de música japonesa (e extremo oriental em geral) no Brasil.


sábado, 21 de maio de 2011

Músicas para uma pausa

Sem muita idéia do que escreveria, fui surpreendido em conhecer uma banda nova, chamada A Banda Mais Bonita da Cidade. Vi o primeiro vídeo no Estúrdio Blog's New.

O trabalho da banda curitibana é simples, mas aquela simplicidade que, quem conhece do assunto, sabe que custou muito suor para ser conseguida. O capricho e a calma das melodias as torna próprias para dias de chuva, ou para lembrar da pessoa que foi embora, de vez ou não.

São canções para uma pausa, como muito se fazia nos anos setenta, quando as pessoas começaram a ver a loucura do consumismo em que se enfiaram e a crise do petróleo obrigou todos a sentar e pensar mais na vida. Infelizmente nem todos levaram a lição à sério.


O que temo é que formações assim costumam durar bem pouco, e hoje já não se dá mais a devida importância a um serviço simples e bem acabado. Felizmente eles têm apresentações agendadas, estão começando de baixo e de forma independente, sem um selo a cobrar-lhes sucesso estrondoso em pouco tempo. Ser independente é uma faca de dois gumes, os integrantes podem se sentir à vontade para sair da formação, mas também podem se sentir naturalmente à vontade na formação.

Sem apelações, na verdade até descuidando um pouco da estética pessoal, eles agem como um grupo teatral universitário, que busca mais tocar em quem está propício do que arrebanhar multidões de fãs histéricas. A juventude do grupo pode agir em prol de sua coesão, são garotos na flor da idade com tempo de sobra para apararem suas arestas e garantir a continuação.



Não sei dizer, pela novidade que ainda são, o que os fãs gostam tanto neles. De minha parte gosto do cheiro de terra molhada que suas canções exalam, às vezes misturado com cheiro de cobertor quente. O ambiente pode ser o quarto escuro, coma a avó fechando a porta e tu esperando o sono agir, se é que já não o fez.

Também traz lembranças de natais passados, tristes por terem sito tão mais alegres do que os de hoje, de aniversários que ainda tinham importância e passeios de domingo. E viagens... Viagens de ônibus com a paisagem ficando para trás, sem brinquedo electrônico, sem celular, sem internet sem fio, sem sequer um video-game de bolso. Só a paisagem indo embora, para a qual eu é que ia embora.

O melhor modo de se aproveitar as canções deles é sentar-se em uma cadeira de balanço e deixar a música trabalhar, embalar os balanços enquanto o dia passa. Tudo passa.

Depois de uma semana de muita estafa, é bom ouvir algo assim. Embora muitos prefiram ouvir um rock pesado, para desabafar, é uma música mais calma que ajuda a regenerar uma pessoa cansada. A massa cinzenta precisa de um calibre equilibrado pra reajustar suas funções. Ele precisa de uma pausa.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Meus super-vilões atrapalhados favoritos

Depois de um tempo sem escrever, volto à cena com um tema do qual gosto muito: vilões e vilãs. Nas novelas, como já disse aqui, muitas vezes a única coisa que segura a audiência é o núcleo malvado. Indo para desenhos animados e séries, um ponto que me chama sempre atenção são os super-vilões atrapalhados, que tentam destruir o mundo, controlar o universo ou se vingar do herói, mas tudo que conseguem é garantir muitas risadas. O que não é pouco.
Vamos a aluns exemplos?

Fuzzy Confusão, Gangue Gangrena e Trio Ameba são alguns dos vilões que estão constantemente no caminho das Meninas Super-Poderosas. Neste desenho, é quase todo mundo muito desastrado, somente "Ele" é um pouco mais ardiloso e faz planos elaboradíssimos, que, é óbvio, nunca funcionam. A Gangue Gangrena, por exemplo, só faz faz planos tão idiotas quanto ficar passando trotes. E ainda não são trotes bons.

Dr. Simon Sinistro é o desajeitado gênio do mal que persegue um de meus favoritos super-desastrados, o Vira-Lata. Seu ajudante bobão não o ajuda em nada, o que só torna mais cômica sua tentativa de fazer-o-mal.

Nesta mesma linha (super gênio atrapalhado do mal) temos o recente Dr. Doofensmirtz, do fantástico Phineas & Ferb, animação totalmente amalucada. Para quem não conhece, ele é constantemente detido em seus planos com um agente secreto chamado Perry, o ornitorrinco, que o engana usando disfarces tão primorosos quanto um óculos com nariz e bigode falso. Isso que ele é um gênio do mal, imaginem se não fosse.

A Molecada da rua de baixo, eternos inimigos da Turma do Bairro, também nunca dá uma dentro. Seguidamente caem nas próprias armadilhas, nem bolo conseguem roubar e comer. Algumas vezes dá até pena deles.

Um que nem é tão super assim é o fado Juandissimo Magnifico, que tenta sempre roubar Wanda de Cosmo, o fado-padrinho de Timmy, em Os Padrinhos Mágicos. Ele se acha O gostosão do pedaço, mas qualquer um que consegue perder para Cosmo não dá mesmo nem pra ser vilão direito. E é justo isso que o torna tão divertido.

Numa série absolutamente tosca e incrivelmente deliciosa, Spectreman, existe a dupla de vilões mais bizarra de todos os tempos: Dr. Gori, com seus gestos coreografados, seu visual mega estranho e seu amalucado ajudante Karas. Qualquer vilão que use uma peruca loira realmente merece ser eterno.

Longa vida aos vilões, ainda mais aos atrapalhados!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O que aprender com o Pato Donald

Um pato mais humano do que muita gente!
Ao contrário do que diz muita gente de nariz empinado, que repete ad infinitum, é possível ter boas e sólidas lições com qualquer manifestação, mesmo os desenhos animados do He-Man. Não, não estou exagerando, até daqueles desenhos toscos e pobres em roteiro eu consegui extrair algo de útil; se bem que o bom humor e a ironia fina das alfinetadas trocadas entre mocinhos e vilões, compensavam a pobreza técnica.
Mas há uma fonte quase inesgotável de aprendizado, que me acompanha até hoje. É a Disney. Com todas as escabrosidades que se ouve falar dela, a parte artística dá um show quando é para unir entretenimento e aprendizado. Quem vai pagar o pato desta vez é (ver) Donald Duck, com quem aprendi algumas lições como...
  • Ter parente rico não é ser rico.Quando precisa, Donald vai na cara dura pedir um empréstimo, se consegue submete-se às condições  do tio com toda a humildade, se não consegue os dois brigam feito cão e gato, mas no dia seguinte estão conversando de novo. Donald sabe que não pode contar com a sorte do Gastão e muito menos com a fortuna do Patinhas, então se vira com qualquer emprego. Donald não rejeita emprego, qualquer um que consiga exercer ele aceita, sem orgulhos. Seu carro é velho, mas bem conservado, e sua casa é humilde, mas nada falta lá dentro. Por isso mesmo vem a segunda lição;
  • Nunca adule ninguém. É certo que o esquentado costuma falar mais do que o bico e acaba se arrependendo depois, mas Tio Patinhas sabe bem que não deve irritar o sobrinho à toa. Donald não é orgulhoso, mas tem amor à própria dignidade. Enquanto os outros falam mansos e submissos ao quaquilhonário, ele consegue colocar o tio na linha com um bom arranca-rabo, gritando no mesmo tom. Fortões? O vizinho Silva sabe que deve manter uma esporadicidade prudente, no contacto com o marinheiro briguento; sim, pra quem não sabe, Donald serviu na Marinha durante a Segunda Guerra. É baixinho, mas é casca-grossa. Ele sabe manter o respeito e não abre mão dele;
  • Errar é humano, reincidir é burrice, se conformar com o erro é ser uma ameba. Tombos em profusão, em todos os episódios e quadrinhos, em filmes e programas de tevê. Donald muitas vezes esteve às portas do sucesso financeiro, caindo no último instante por um erro próprio, por trapaça de inimigos, por falar pelos cotovelos, por perder o controle e destruir tudo, pela combinação de algumas ou todas juntas. Donald se esforça para jamais cometer o mesmo erro e, principalmente, sob hipótese alguma se deixa dominar por ele. Na aventura seguinte já está se estrepando de novo, mas por causa de um erro inédito e tão espetacular que deixa os outros ao redor abobalhados, como que pensando "Putz! Como foi que não cometi essa asneira há mais tempo? Valeu, Pato!". Depois do tombo ele se vira com qualquer bico honesto para sustentar os sobrinhos;
  • Pai é quem cria. Tenho curiosidade para saber quem são os pais biológicos de Huguinho, Zezinho e Luizinho. O pai de facto é bem conhecido, chama-se Donald Fauntleroy Duck. Solteirão convicto, há décadas enrolando Margarida, Donald cria os sobrinhos do jeito que consegue. Ninguém ganha presentes só porque quer, principalmente porque ele sabe o quanto custa ganhar cada centavo. Se adiantou, sabendo que mentes vazias não produzem o que presta, e os colocou no escotismo, onde os trigêmeos se encontraram. Não que tenham se tornado santos, o que dá pistas da índole dos pais, mas estão crescendo longe da delinqüência e tomando gosto pelo serviço à comunidade. Afinal ele não é um pedagogo, precisa de ajuda e buscou no lugar certo, em uma instituição semi-militar, vida que ele conhece bem;
  • The love is in the air. Sim, desde 1937 que ele enrola a namorada, mas é por culpa da própria Disney, que só os fez se casar em episódios esporádicos. Nos bastidores ninguém sabe, são discretos. Margarida é a única pessoa no mundo que põe um pouco de medo nele, quando ameaça terminar tudo para que tome jeito e trate as pessoas como se deve, então ele chora! O marinheiro que enfrentou o Eixo chora feito um patinho recém-saído do ovo. Ela sabe que o namorado vai aprontar de novo, mas eles se amam. O modelo de romantismo do Pato não é água com açúcar. Ele até declama algumas poesias, faz serenatas, leva presentes que suas poucas posses podem comprar, mas é muito prático e inquieto para fazer uma novela mexicana. Seu romantismo não é grosseiro nem meloso, é autêntico, e a garota está com ele há mais de setenta anos;
  • Medo não é sinônimo de covardia. Lembremos, Donald foi militar, ele conhece o inferno dos bombardeios e a necessidade de avançar para ter uma chance mínima de sobrevivência. Quando sozinho, ele evita brigas com brutamontes, sabe o quanto dói um murro no bico. Mas basta que um dos seus seja tocado e... Aha!!! O pato baixinho e branquelo se volta a ser o soldado com um nazista na mira. Se tamanho fosse documento, ninguém fugiria de marimbondo. Coragem não é genética, é necessidade, e nosso amigo vive no fio da meada. Quem se atira ao perigo por gosto é estúpido;
  • Um mico a mais, um gorila a menos, que diferença faz? Donald vive sendo exposto ao ridículo pela própria trama de cada filme. Acontece que se ele não o fizer, não paga as contas do mês. Foi por necessidade que ele aprendeu a não se levar à sério. Desde que a situação não tenha sido provocada deliberadamente, não há saída senão engolir seco e sair de fininho. O constrangimento passa. Até porque a maior parte das situações vexatórias nasce de seu próprios descontrole, como é com todo mundo. Vais fazer o quê? Dar um murro no próprio nariz? Será um mico a mais;
  • Mais presta quem se presta. Não foi uma, não foram duas, nem três, nem quatro, foram inúmeras as vezes em que só tinham Donald com quem contar. Bronca? E ele vai se furtar o direito (e às vezes deleite) de dar uma reprimenda a quem merece? Mas o repreendido sabe que terá um pato prático e persistente à frente da empreitada. Ele não se esquiva do trabalho duro e árduo, não mede serviço e fica mais tenaz quanto mais o problema o irrita. Não é raro ele carregar todo mundo nas costas, até o fim da jornada. Por mais brigão e estourado que seja, ninguém sai de sua presença sem uma ajudinha que seja. O melhor é que os bons exemplos estão sendo repassados aos sobrinhos, porque é com os adultos que as crianças realmente aprendem;
  • Quem faz bem feito, faz falta. Novamente Tio Patinhas e Pato Donald. Nesta dança medonha de admite-demite, admite-demite, admite-demite, o escocês sabe que o sobrinho é a única pessoa a quem pode confiar um trabalho sério. Gastão é carismático e elegante, mas não quer nada com nada. Peninha é a simpatia em pessoa, mas mal tem competência para respirar sozinho. Margarida não é da família, mas ele espera que um dia se torne. Resta-lhe Donald, que enfrenta os Irmãos Metralha quando o sangue ferve e vale por um cão de guarda. Não adianta o velho Patinhas espernear, é o sobrinho quem faz o serviço como ele quer que seja feito, com os resultados que ele quer ver e pelo salário miserável que quer pagar... Aqui ele leva o tombo, pois com o serviço em mãos o sobrinho com freqüência lhe cobra o preço justo, que ele paga chorando. Ficam algum tempo sem se falar, por causa da pãoduragem do Patinhas, mas é só um serviço de responsabilidade surgir que o empresário sabe a quem recorrer. Na vida real, os empregadores têm o mesmo comportamento... Salvo, claro, os panacas que estão falindo um a um, por não terem se adequado aos novos tempos. Já vão tarde;
  • Quem lê bem, lê um ponto. Quem lê mal, não entende o conto. Disney, com todas as controvérsias e teorias conspiratórias que o cercam ainda hoje, soube colocar em seus filmes uma série de entrelinhas que as gerações seguintes perceberam prontamente. A papagaiada politicamente patética, que impede as pessoas de separarem um quadrado azul de um círculo vermelho, é recente. Enquanto personagems descartáveis e politicamente patéticos surgiam e sumiam (graças à Deus) do cinema e das bancas, Donald permanecia firme até um público suficientemente grande perceber que entrelinhas ensinam melhor do que "meu bumbum tá doendo porque alguém bateu nele". Não se trata de ser um idiota politicamente incorrecto que ofende para ter audiência, trata-se de respeitar a inteligência do espectador, saber que ele não precisa engolir regurgitados, é capaz de mastigar uma fruta dura por conta própria, ainda que em pedaços pequenos. O cérebro é que comanda o corpo, precisa de exercícios constantes e dificuldades progressivamente maiores para não atrofiar. Se ele atrofiar, há outro órgão riquíssimo em neurônios para tomar seu lugar: o intestino. Melhor rever um bom desenho, ou pesquisar depois o que não se entendeu, ou ambos, do que ter uma lobotomia politicamente patética ou deliberadamente ofensiva atrofiando as sinapses.
Enfim. Eu poderia ficar aqui a noite inteira, mas o pato também ensina a não ultrapassar seus limites sem necessidade, pois ele não dispensa uma sesta depois do almoço. A quem já viu e não conseguiu ver estas lições, é uma pena. Talvez o conceito de desenho animado tenha mudado demais e vocês sejam muito jovens, já tendo nascido com a perda de conteúdo. Eu conheço o que vocês vêem, então posso pedir que vejam desarmados os desenhos clássicos. Se surpreenderão.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Robozinho de novela



Não, eu não voltei a ver novelas e elas ainda não recuperaram minha confiança. Continuam um monte de porcarias, boas idéias pessimamente executadas por gente que tem medo do que os outros vão pensar, especialmetne a patrulha do politicamente patético... Fora a canastrice generazilada.

Hoje, vendo jornal pela rede, vi uma manchete a respeito do ganho de audiência da novela das sete, com a retirada de um robozinho. Averiguando, descobri que se trata de um modelo japonês altamente sofisticado, que existe de verdade, é fabricado em série e é caríssimo no Brasil, para um robô de estimação. Apesar da alta qualidade e tecnologia, vi também que a "actuação" do pequeno era uma contra-propaganda que a concorrência agradece de mãos juntas. Foi péssima.

Mas houve uma novela em que era diferente. Em Transas e Caretas havia um robô que roubava as cenas. O protagonismo era (ou deveria ser) de Reginaldo Faria e José Wilker, dois irmãos tremendamente diferentes. O primeiro era tradicional, morava em uma mansão sóbria e levava uma vida muito contida; o segundo era um farrista prafrentex, morava em uma casa futurista e não perdoava uma noite. Era dele o Robô Alcides.

Alcides era uma espécie de mordomo cibernético, que cuidava do dono placidamente como um servo ao seu amo. Ele não contracenava com crianças, mas com adultos tarimbados e com brilho próprio, como Lidia Brondi, e conseguia se destacar. As falas eram inteligentes e cabiam muito bem no contexto da cena.

Segredo? Nenhum. Enquanto o robozinho descartado é um robô de verdade, que poderia ter recebido uma programação decente, Alcides era pouco mais do que uma lata de lixo com um anão dentro. Não chegava a ser tosco, mas era evidente que se tratava de um actor fantasiado de robô. Mesmo assim ele era crucial para a novela.

A certa altura da trama, Alcides deu curto. Não foi só o personagem de Wilker quem sentiu, todo o elenco ficou consternado e preocupado. Mais do que isso, e é o que faz toda a diferença, o público da novela (eu incluso) ficava torcendo para que Alcides fosse consertado. Foi chamado um técnico da fábrica, que fez tudo o que poderia ser feito, até implorar aos deuses do ofício e do fogo com rituais religiosos, mas a lata de lixo, digo, Alcides permanecia imóvel.

Certa noite, Alcides desapareceu. Os personagens e o telespectador ficaram com o coração na mão. Todo mundo amava Alcides. Este ponto da novela marcou uma reviravolta, quando os irmãos começaram a se reaproximar, Jordão para consolar Tiago, e as personalidades foram sendo suavizadas. Este começou a se tornar mais responsável e introspecto, o outro percebeu que não precisava viver em um mosteiro para ser um homem respeitável.

Um dia Alcides volta, mas volta diferente. Reconhece facilmente todo mundo, mas é outro robô. Passou a ter personalidade e vontade próprias, às vezes negando o que seu dono lhe pedia. Tinha sido restaurado e reprogramado por alienígenas. Foi então que ficou periclitante o que já era assaz interessante.

Mas o que aconteceu para todo esse cabedal ser sumariamente esquecido? A televisão piodou muito, só isso. O público passou a dar mais audiência para atrações pubianas, os bons autores já não atraiam como antes e tudo despencou. Agravou a onda politicamente patética que hoje faz terem medo de tocar em polêmicas productivas de modo productivo, como os conflitos de modernidade e tradição que Transas e Caretas explorou com maestria. Os autores estão com medo de mostrar o que todo mundo conhece de modo que todo mundo possa ver. Todo mundo precisa ser protegido de tudo para que não haja trauma nenhum, ao contrário do que acontece na vida real. As pessoas já desaprenderam a diferenciar a ironia fina da ofensa explícita, o humor da afronta, até o vocabulário está mais restrito e deficiente. Neste cenário fica fácil para qualquer malandro com pretensões políticas encher a cabeça do povo com caraminhola. Assim, a boa idéia do robozinho na novela das sete foi reduzida a um infantilismo medíocre e ultrajante a qualquer inteligência. Quem poderia mudar isso é a própria televisão, mas não dá audiência. Teria sido melhor ressuscitar a fantasia e colocar uma criança lá dentro.

Abaixo os dois vídeos que consegui encontrar com a participação de Alcides., provando que um robô na trama é uma excelente idéia, se a novela for feita com respeito e sem medo. Se encontrarem mais, dividam conosco.

Contracenando com Lidia Brondi, ainda na primeira fase.

Já na segunda fase, com entrevista a José Wilker.