sábado, 30 de março de 2019

Dead Train in the rain CCII

    Tensão. A estação 202 acrescenta a tensão da vida secreta aos problemas cotidianos. Respirem fundo e embarquem, o trem vai partir.


Albert liga para a Máquina de Costura e confirma, Patrícia também está assim. Ele se aproxima com discrição, notando detalhes daquele cenho franzid (...) Verifica o perímetro e se aproxima um pouco mais, até ficar ao lado dele (...) Na Máquina de Costura, Patrícia mergulha em seu abismo após coordenar o resgate de seis agentes de países aliados, e duas famílias desesperadas que pegaram carona no plano. O governo polonês concordou em seu homem levar os civis, mas as perdas que eles sofreram quase os fez desistir e se entregar à morte certa, Zigfrida sabe disso e pouco pode fazer a respeito, além de agir nela. No escritório da loja, o rapaz começa a lacrimejar...

- O que tá pegando, Brave Bear?

- Farpas que ainda machucam. Ainda tenho alguns vácuos que as mantém presas... Nem me lembrava deles...

- Putz, o negócio é grave...

Acolhe o rapaz e se põe a pensar no que fazer. Enya está em Detroit, posando para a Cadillac, Sandra está tratando de negócios com os comparsas, então só resta mesmo...

- Eu não queria incomodar, tia Frida, mas o Elias começou a chorar e...

- Elias o quê???

Ela ouviu. Deixa a depressão profunda de lado e acerta o passo. Esquece da própria dor e abraça o afilhado, que é um homem feito, mas está no momento muito vulnerável, após um estresse absurdo. Ela olha para a sueca, que promete investigar o caso assim que ele estiver em condições de responder a algum estímulo. Com carinho e o necessário silêncio, ele consegue respirar e emergir o suficiente para ser ouvido. Albert fica por perto, para o caso de precisarem. Ele fala do vazio repentino, que causou uma avalanche de lembranças e lutos antigos. Alguns deles imaginários...

- Lutos imaginários... Fale a respeito.

Zigfrida passa da preocupação para a curiosidade. Ele fala de pessoas que simplesmente imaginou, ao longo da infância e adolescência, e que de uma hora para outra as tinha como perdas trágicas, sempre associadas a perdas reais (...) São como personagens dos anos trinta aos cinqüenta, se lembra deles sem se lembrar de detalhes fisionômicos, apenas que são perdas (...) Sempre se lembrava, e voltou a se lembrar, do ponto de vista de uma criança pequena entre adultos altos.

À noite a sueca fala do quanto está impressionada com a criatividade, ainda que passiva e dolorosa, que viu nos relatos do rapaz (...) ele foi capaz de descrever muitos por suas roupas e seus gestuários, o que na prática é o que fica na memória de longo prazo (...) O humor melhora em pouco tempo, com a receita que Renata deu à amiga. Ela sai de casa com Naomi em um vestido longo e fresco, que é facilmente tremulado pelo vento, dando aos paparazzi uma noção precisa do que ele esconde. Enquanto o bordão “Oh, grandma!” volta aos tabloides, ela entra na Máquina de Costura para ver o primo (...) A menina se adianta e se recosta nele, se deixa amolecer e ele quase instintivamente a acolhe.

Mais tarde, inteirada de tudo e já maquinando caminhos a seguir, Renata trata a respeito com Zigfrida (...) O sentimento de perda que emergiu pode ser uma chave para ajudar a madrinha também. Apesar de tudo, o rapaz é um grande fornecedor de material para estudos, suas crises são valiosas para os pesquisadores...

- Na minha opinião o seu primo é um doido às avessas. O comportamento dele é todo certinho e retinho, mas por dentro ele é um doido igual a vocês.

- Um doido com procedimento operacional padrão.

- Yes! Ele não se enquadra em padrões alheios, tem os seus próprios e não abre mão deles. E ele está coberto de razão!

- E, trocando de assunto, aquela gente que voltou conosco ainda está com a Jose?

- Está e eu estou trabalhando com eles. Eles vão ter vida nova, com todas as encrencas que uma vida normal merece, com idendidades novas, rostos novos e histórias de vida na ponta da língua. E, é algo que você pode saber, muita gente ainda vai morrer nos próximos anos, para poder viver e se safar de regimes autoritários. Você pode ajudar, quer?

- É claro! O quê que eu tenho que fazer?

- Verá na hora. Alguns deles virão da América do Sul, inclusive do Brasil. As coisas estão ficando realmente ruins por lá, muitos correligionários e simpatizantes de políticos formaram verdadeiras gangues que são toleradas e até financiadas por debaixo do pano. Eles vão precisar de toda a ajuda que tiverem.

- Nós três vamos ajudar.

Convoca a filha e a irmã, explica o que pode da situação (...) Marcia, após as instruções, puxa a filha e manda soltar o verbo. Ela não pode contar muito, pode dizer os tipos de históricos que trarão e adiantar o expediente...

- Essa porra toda já tá podre... Se for tirar quem não presta de lá, não fica um sequer... Amado, tirei umas informações da Phee e quero que você complemente. Me espere aí mesmo.

Vai à Culture Train, de cuja entrada vê as obras do museu de Patrícia em andamento (...) Encontra Richard à sua espera, no escritório. Ele complementa com alguns detalhes sórdidos (...) Avisa ainda que a pior parte da política brasileira está tentando se infiltrar na política americana, só não conseguiu ainda porque a maioria deles está na lista negra da CIA, alguns a Interpol pega assim que puserem um pé para fora do país...

- É tudo o que posso te dizer, amada.

- É o bastante... É o bastante para eu perder a fome...

Quando volta para casa, a mãe está lá, com a caçula, esperando para dar o abraço de que a filha aturdida precisa. Fica com ela e as bisnetas pelo resto da tarde (...) Ela conversa com os comparsas na manhã seguinte, em um intervalo entre assuntos corporativos...

- Vou parabenizar os dois, por conseguirem dizer todo o necessário sem falar demais. A situação é essa mesma, o Brasil é uma preocupação bem maior do que a ditadura venezuelana. E por falar nestes dois problemas, eu proponho manter nossos investimentos no primeiro, e mandar ajuda clandestina ao segundo, porque aquele bufão psicopata não vai aceitar ver gente de fora, muito menos burgueses, ajudando o povo que ele atirou à mais podre miséria. Todos comigo?

- Tô contigo, irmã.

- Nós dois contigo.

- Desde que usávamos fraldas.

- De acordo.

- Na hora, uai!

Decidem e mandam executar. Passam para o próximo assunto (...) A união europeia se fragilizando, ditadores se aproveitando disso, terroristas se misturando a refugiados, enfim, o caos nosso de cada dia bate à porta (...) Com todas as meninas na escola, a casa fica muito silenciosa, silenciosa a ponto de incomodar. Eles se olham, vão aos instrumentos e começam...

- We no have love for the music, we no have love for the art...

Na falta ade um show agendado para hoje, cantam para si mesmos e desopilam.

&

Os picaretas mordem as próprias nucas de raiva, não podem fazer mais do que isso. Está ficando cada dia mais difícil negociar com gente de Michigan (...) No momento, balizados por Phoebe, eles assinam a cooperação com várias entidades para acelerar as pesquisas de aeronaves eléctricas, bem como fábricas de baterias melhoradas e empresas para reciclagem das descartadas (...) Os novos parceiros voltam para suas respectivas empresas, para tomarem as devidas providências e evitarem puxões de orelhas. Os seis vão à copa e comemoram. Marie pede licença para anunciar uma polêmica, precisará da experiência dos pais...

- Foi o mesmo que aconteceu com Elias. A gente sempre passava pela instituição, quando ia pra Memphis...

- O que acontece dia sim, dia também – diz Rebeca.

- É... Mick, traz ela... Ela se agarrou à gente e não quis soltar... Eu até chorei... Nos dois últimos meses a gente grudou e... Vem com a mamãe... Gente, esta é nossa pequena Zsa-Zsa.

É como se vissem Zigfrida na primeira infância. A pequerrucha é branquela e intensamente ruiva, tem dois olhos que parecem ter sido recortados do céu, quase como as mulheres cativas (...) Ela se arreganha para todo mundo assim que os pais asseguram que pode. Rebeca e Ronald compreendem os temores, ela tem toda razão (...) Norma, Diana e David chegam e se derretem completamente pela pequena novata. Nancy se anuncia e reclama a educação da menina, com Josephine reclamando a afilhada de Zigfrida...

- Oras! Dêem-me! Vejam só essa carinha... É a Frida desenhada e desavergonhada!

- Re-re-re-re...

Os risos pueris da petiz amolecem ainda mais os adultos, ela está se divertindo muito. Chamam Elias, ele é o expert em educar e proteger crianças polêmicas. Ele (...) a pega nos braços e a leva ao jardim, apresenta-lhe as flores e os pássaros. Lady Spy vai investigar a intrusa e também é apresentada...

- Com cuidado, bem devagar... Isso...

O casal aprende na prática, de forma didática, e ele já avisa que a menina tem mais em comum com a sueca do que a aparência, é tão geniosa quanto. Ela despenca de Los Angeles para conferir. A encontra rindo com Belize, que aguarda com os irmãos a hora de ir para casa com a mãe...

- Oi, Luppy! É ela?

- Yeap, é ela! Você doou sangue nos últimos anos? Alguém te clonou!

As marroquinas ajudam a cuidar da menina e a educá-la (...) Na biblioteca, em uma reunião leve e egradável, Rebeca se derrete pela neta incidental. Está resistindo facilmente, mas a tentação de mimar a pequena é grande, ainda mais por ser a caçula (...) Pensam nas crianças que estão em gestação, na bagunça que suas casas vão se tornar, na correria que será todos os dias... Se derretem nas poltronas.

Voam para New Mexico no dia seguinte, em estado de graça, e de cara vêem que realmente há polêmica. Em Sunshadow a imprensa aprendeu a respeitar, mas aqui fora o medo de levar uma surra é atenuado pela pouca convivência (...) Se instalam no resort e exploram o ambiente, enquanto os parceiros do show não chegam. Sandra e Phoebe conversam com uma copeira sobre um fã clube local, ela é mãe de um membro. Chamam o garoto e ele surta, mas consegue se controlar até a hora de tratarem de negócios. Um deles, descendente de turcos (...) não deixa passar a oportunidade assim que os papéis são assinados...

- Elas estão se adaptando bem, são acompanhadas por profissionais e sempre há alguém por perto para qualquer caso.

- Me desculpe, mas o Hassam era louco?

- Não, o que ele fez se deu no pleno exercício de sua lucidez, não há um pingo de loucura aqui.

- Só amor.

- É... No fim das contas ele conseguiu o que queria... Mas vamos mudar de assunto. Joe, vem cá...

Se entretém com o jovem fã para dissipar um pouco da densidade do assunto. Ele acaba sendo útil, informando de movimentações que Patrícia pede a colaboradores locais que investiguem. À tarde, quando testam o palco, uma moça de cabeça raspada com a cruz de Ank tatuada faz o sinal, e as quatro agentes vão ter consigo...

- E agora? O FBI está investigando tanta gente, que está todo embaraçado nos procedimentos!

Alertam assim mesmo e a resposta é a esperada (...) precisariam do dobro do efetivo para quitar o serviço. Mas concordam em pedir a agentes locais que aproveitem o expediente e tenham consigo (...) Voltam aos outros, tensas, decidem fazer um pré-ensaio para relaxarem, para a alegria dos operários. Têm a agradável surpresa de uma acústica maravilhosa, a mais perfeita que já tiveram...

- Ricky, é mamãe. Não sei o que vocês fizeram aqui, mas quero que façam de agora em diante em todos os nossos shows.

- Yeap, mom, vou das as ordens agora mesmo. Gente, ela gostou. Podemos colocar o revestimento novo em todos os palcos da banda.

A equipe se sente lisonjeada (...) Quanto à irmã adoptiva, Arthur a aprova. Hamira torna-se estagiária da Culture Train, arrancando dias depois o sorriso mais largo que a mãe pode oferecer (...) Em Marrakesh as onze começam a ser vistas como celebridades (...) na família e entre os maridos das que ficaram, sobram admiração e orgulho, querem ver logo o nome da moça nos créditos de uma animação de Hollywood.

Na volta dos três shows, Patrícia vai directo para o prodígio que Arthur descobriu sob a poeira de uma bordadeira competente...

- Amor da mamãe vai ter seu nome nas telas de cinema! Conte-me tudo, Arthur!

- Descobri esse talento quando a flagrei simulando bordados animados no tablet. Dê uma olhada nisto e segure o queixo se puder.

A animação de treze segundos mostra duas flores bordadas brotando de um pano de prato, saindo dele e dançando juntas (...) Ela fica boquiaberta, aperta a moça em um abraço até sair suco de marroquina, e avisa o marido que o nome artístico dela é Princess Hamira Alander, nem um grau nobiliárquico a menos.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Dead Train in the rain CCI

    Autoridade. A estação 201 Mostra os ingredientes de uma liderança nascente, e a força da consolidada. Todos à bordo, o trem vai partir.


Mikomi conversa com Mary Ann na Maison (...) Falam das crianças, a japonesa conta das travessuras de Nanako e Hiroshi, os dois se especializaram em investigar boatos da internet (...) Melody, Tracy e Gina estão estudando tecidos novos, incluíram testes de resistência e inflamabilidade. Sobre Sakura...

- Ela se tornou uma ponte entre ocidente e oriente, está empenhada em deixar uma boa impressão de um lado para o outro. Bobby já pediu para moderar, que ela está fazendo o trabalho de embaixadores.

- É uma garota responsável... Talvez demais... Patty, meu amor, você tem notícias da Sakura?

- Tenho, tia, acabei de dar uma bronca nela, por excesso de trabalho. Mandei o avião dar meia volta e ela chegará em alguns minutos, para descansar.

O avião pousa e Mikomi está lá, com olhar triunfal em seu vestidinho minimalista rosa sem mangas, esperando pela filha. A leva primeiro para exames médicos, depois para (...) a casa da mamãe, onde recebe os cuidados de que necessita e adiou indefinidamente (...) À tarde, após a reunião chata, estressante e nem um pouco engraçada, os seis vão ver a moça. Robert trata de afagar a filha e aplacar o aborrecimento...

- Já explicamos a todo mundo que você precisou voltar para uma emergência médica. E não é que os exames revelaram justo isso? Você não tem que carregar o mundo em seus ombros, isso é função da sua tia Patty.

Finalmente ela consegue rir (...) Patrícia espera todos se recuperarem e avisa à teimosa que a quer em plenas condições, antes de se aventurar novamente pelo mundo, tentando promover a paz e o entendimento...

- Não é fácil como parece. Há muitas pessoas que simplesmente não toleram a existência do outro, elas não vão te poupar se você as deixar em paz, porque seu objetivo é ser o único grupo humano do mundo. Não se iluda, minha querida, existem sim pessoas que se esmeram em ser realmente más, e esses apelos de internet não as comovem, só alimentam seu ódio. Bobby, vou ensinar alguns macetes para ela, assim que o médico liberar, nem um segundo antes.

- Tá, eu entendi... Só uma perguntinha... Como você fez o avião voltar?

- Eu mandei voltar e ele voltou, simples assim. Tá pensando o quê, menina? A menininha mandona agora é a Phee, hoje eu sou a princesa mandona.

- Se você mandar, por exemplo, explodir um país...

- Nem brinca, Sá. Nem brinca. Tem gente que leva muito a sério o que eu digo... Inclusive Hassam... Por isso eu não falo com chefes de Estado, quando estou de mau humor.

- Acho que ninguém deveria negociar nada de mau humor, especialmente assuntos de Estado.

- Mas eles o fazem. Eles o fazem.

O vôo foi retomado normalmente (...) À imprensa, sabendo que se trata de Sakura Spring, só dizem que o excesso de trabalho estava minando sua saúde. A imprensa, tendo em mãos o boato de quem teria dado a ordem para o avião voltar, lucra horrores com polêmicas novinhas, quando as antigas nem esfriaram ainda.

Na manhã seguinte ela começa o tratamento, alguns problemas foram detectados em estágio muito inicial. Patrícia se dá por satisfeita (...) Voltam à programação normal. Conversam sobre negócios, falam de problemas que brotaram do nada, começam a rir deles e terminam rindo de si mesmos (...) Sobre o trem morto, querem saber a quantas andam as investigações sobre sua origem...

- Praticamente travadas. Ele tem tantas peças de tantas origens, que não dá para dizer quem o fabricou. A falta da caldeira agrava tudo. O último prefeito vendeu o que podia, para suprir o orçamento, só não vendeu a locomotiva inteira porque apanharia.

- Por falar em locomotivas, lembrei de uma novela brasileira! Oi, gente!

Zigfrida, linda em sua idade bastante madura, chega se anunciando, arrancando risos da sobrinha outrora ranheta (...) A sueca distribui abraços e sacolejos entre os seis, depois vai para as marroquinas, abraçar e sacolejar até não restar nenhuma seriedade entre elas. Lady Spy se esgueira por entre as pernas e pula no colo da psicóloga. Ela fala a sós com Patrícia e Rebeca, enquanto Ingrid conta a triste história de Asma...

- Um problema com religiosos, é que muitos têm uma espécie de interruptor subconsciente, uma vez acionado ele desliga parcial ou totalmente o discernimento. É o que acontece com muitos fiéis dessas igrejas que te perseguem, basta o pastor dizer uma palavra-chave, após a preparação, que eles entram em uma espécie de transe e têm seu próprio julgamento substituído pelo do pastor. É assim com qualquer radical, de qualquer religião e, nos últimos tempos, até com alguns ateus. Qual a má notícia? Nossas amadas marroquinas, apesar dos esforços de Hassam, tinham os seus. Fraquinhos e extremamente limitados, mas finham. Qual a boa notícia? Esse interruptor pode ser removido e trocado por uma ligação directa, o que elimina sua ação de uma vez por todas. Foi o que eu fiz com elas. Não quis te assustar, por isso trabalhei em sigilo, fiz os testes e agora elas estão plenamente aptas a viver e conviver no ocidente.

- O que poderia ter acontecido?

- Nada de grave, justo porque Hassam fez um trabalho magnífico, mas aborrecimentos e constrangimentos seriam inevitáveis... e claro que você, tendo mostrado desde o começo quem manda, inibiu essa tendência.

- Valeu... Você sabe que peguei amor nessas meninas...

- Seguindo a philosophia de um menino por quem pegou amor desde o começo, sim, eu sei. Agora, elas já tiveram problemas, falando com quem ficou em Marrakesh?

- Não dá pra não estranhar. Elas eram donas de casa, as mais novas estavam se acostumando a ser donas de casa, mesmo com profissões possíveis pela frente, agora temos seis delas independentes e donas de seus narizes, três estão de caso com ocidentais, um deles judeu e o outro ateu, e as três já garantiram que vão se casar e procriar. Imagine a fofoca que deve estar rolando! Muita gente já deve considera-las apóstatas.

- Xiiii... Ok, aqui elas estão seguras, mas não podemos fazer de Sunshadow uma bolha de sobrevivência.

- De boa, mulher, a gente avisa nossa gente e a América inteira fica de olho nelas... Igual a Patty de olho na Sá, mandando o avião dar meia volta, ra, ra, ra, ra, ra...

- Assumindo sua coroa, majestade?

- Foi necessário. Eu conversei com médico dela, antes de tomar aquela decisão.

- E aquele pouso secreto do Air Force One? Também foi após consulta médica?

- Não brinca, Mascote! Deus sabe o que aconteceria, se aquele avião caísse, principalmente em área residencial... Que choro é esse? Yasmin!

Ela quase arromba as portas da biblioteca e corre para o jardim. Ingridi acabara de contar a história triste de Asma (...) Todas estão tristes, entre menancolica e chorando, mas o choro enlutado e escandaloso é o dela. Patrícia a pega no colo e leva para dentro, onde a nina até ela se acalmar. É um alívio ver em seu colo o que Zigfrida lhe disse (...) Decide que é hora de todas elas, antes que as mais velhas se casem, lerem o diário de Naomi.

Nesta noite (...) Phoebe lê para elas como se fosse uma historinha de ninar, mas com factos históricos (...) Ela aproveita para as filhas também ouvirem. O tom carinhoso e severo Patrícia reconhece, era como sua avó falava consigo. A moça aproveita o efeito de memória falsa para integrar melhor as marroquinas à família. Na terceira noite de conto, elas já se sentem descendentes de Naomi. Zigfrida fica espantada, aquela moça a surpreende sempre, mas não se acostuma com as surpresas. Ela usou o tom certo para cada uma em cada momento, leu com o cuidado necessário e não excedeu as páginas necessárias, para poder comentar o conteúdo.

Nancy nota a mudança de reverência para com sua mãe (...) agora falam dela como sua ancestral (...) A matriarca deixa-as com as crianças e vai ter com a bisneta, na fábrica. Vê um anel de metal soltando vapor frio com uma Supergirl clássica de metal flutuando embaixo, orbitando o suporte central. Ao lado está uma espécie de geleca translúcida que muda de forma, aparentemente com comandos do aparelho que a suporta. Decididamente aquilo lhe parece um laboratório de cientista louco, mas é o de Phoebe. Vê a bisneta montando uma turbina de reação, que pretende que produza pelo menos 1000kg de empuxo. É o primeiro protótipo funcional da Gardner...

- Vovó!

A engenheira competente e eficiente dá lugar à bisneta meiga e carinhosa. Ela apresenta a alvorada de uma nova era para a fábrica e para a família. Aquilo, explicando à bisavó, não só parece como é uma turbina de avião, mas com alguns aprimoramentos (...) Já conversaram com a fábrica, o próximo Airtrain terá turbinas Gardner. Richard chega, alertado pelos funcionários e tem alguns minutos quentes com a esposa, depois ele explica o que farão após os testes, então ela explica o que veio fazer...

- A Phee integrou de vez as nossas novatas à família. Eu não imagino um modo de agradecer por isso, nunca vi aquelas meninas tão radiantes e tão felizes em falar de mamãe!

- Não me surpreende, ela faz o mesmo aqui, com os funcionários. Temos dez imigrantes que ela ajudou a se adaptarem ao nosso modo de vida, foi incrivelmente rápido. É a sucessora da Patty!

- Você tem falado com o Elias?

- Todos os dias, praticamente... Até porque o Albert está protegendo ele, então eu sei até do que não pergunto. Fora que a Pancada fala no pai sempre que se lembra dele, qualquer motivo serve.

- Isso explica... Como você está no aprendizado cabalístico?

- Eu precisaria de um rabino experiente, para me avaliar.

Ela consegue. Itzhak traz o de sua sinagoga (...) Ficam seus parceiros ao redor, acompanhando o diálogo, inclusive Nancy. O rabino muitas vezes se esquece que está falando com uma garota não judia, que poderia ser sua neta ou até bisneta. A conversa termina com o sacerdote aturdido, mas Nancy está perfeitamente esclarecida, Phoebe conseguiu igualar a sabedoria de Naomi, embora ainda tenha todo o frescor juvenil em seus trejeitos.

&

Quase um mês de intervalo até o próximo show; os seis aproveitam para adiantar assuntos e dar recados a picaretas, ainda há gente querendo perder as calças. Robert cita o caso de um sujeito que abriu seis contas bancárias em Estados diferentes, para tentar enganar a corporação e desviar o pagamento a fornecedores. As coisas iam bem para ele até começar a agir, o departamento financeiro ligou imediatamente para o parceiro, antes de fazer o depósito (...) Vão para a situação da propriedade em Marrakesh, que está com as obras a pleno vapor, apesar de tudo...

- O problema é todo cultural. Não há qualquer inconveniente de outra natureza, por isso o treinamento tão rigoroso dos funcionários – diz Patrícia.

- A situação lá não está muito boa para turismo.

- Não, Bobby, não está... Mas tem gente que visita o Marrocos assim mesmo, visita a Turquia, até o Irã! Mas o grosso do negócio será o de espaço para repouso mesmo, talvez se torne uma clínica... E o bunker será um ítem de segurança para qualquer eventualidade... Provavelmente será necessário.

- Desfranze! Desfranze! Isso, desfranze a testa... Pronto... A gente não pode fazer nada mais, Super Patty! Vamos focar o que pode ser feito, certo?

- Certo... O museu. O pessoal do Veteran Car club quer conhecer o meu acervo, eu penso em trazer o presidente do clube em breve, e uma excursão de antigomobilistas durante o festival da saudade. O que acham de um bom argumento turístico?

Conversam e planejam, depois vão à copa forrar os estômagos. Luppy os observa de olhos arregalados, pensativa, preocupando a patroa, até que sereniza a expressão e solta...

- Eu percebi que estou ficando doida quando comecei a entender o que vocês falam.

A copa espera um pouco, até os seis terminarem de rir. Eles começam com a algazarra, carregam a moça pela sala, jogam-na na piscina e pulam em seguida (...) ela está se tornando apta a passar de empregada a colaboradora.

Não muito longe, aproveitando um intervalo entre aulas, Aisha medita sobre a leitura do diário de Naomi (...) Vê as irmãs no karaokê, normalmente estaria lá, mas agora está introspecta demais e não quer perder a linha da introspeção. Volta ao mundo quando é chamada para a aula de biologia. Quando voltam para casa, Patrícia e Sanaa tomam conhecimento. A jovem postulante a escritora fala das muitas idéias que desfilaram em sua mente ao mesmo tempo...

- Amor da vovó tem uma queda pela psicodelia! O que você descreveu se parece com o álbum Sargent Pepper dos Beatles.

- Conheço... Mas nunca ouvi. Tem?

Ela vai à jukebox e põe o som, a identificação é imediata. Já tem um nome para seus delírios, agora sabe como chama-los e puxá-los pela orelha (...) Quando vai com Sabaya ter aulas práticas com as tias, é felicitada por ter descoberto seu estilo, e convidada a escrever com a irmã algo a respeito...

- Agora?

- Tem algum encontro marcado? Não? Então é agora!

Mãos ao teclado, as duas, as louras vão seguir os métodos da avó e acelerar as aspirantes, que carregarão pedra morro acima pelo resto de suas vidas.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Dead Train in the rain CC

    A guerra fria de cada dia. A estação 200 demonstra porém, que não se deve deixar de viver, isso não selaria a paz tão distante. Embarquem, o trem vai partir.


Elias conclui uma negociação e vai descansar. Anda a passos cadenciados sem perceber algumas câmeras (...) Lembra-se de que tem a visita de mais um casal disfarçado da CIA, nesta tarde. Está cansado, mas acredita que consegue conduzir a conversa. Chega em casa praticamente junto com eles, que o alertam...

- Eu vi centenas de câmeras!

- Este homem, você o viu?

- Estava photographando você. É agente de um dos países que mais nos odeiam.

- Será que Patrícia sabe dele?

- Sim, eu sei e já dei o recado para ele e para aquele premier safado. Ninguém toca no meu menino!

Sem amarras burocráticas, sem travas de protocolos, sem ter a quem prestar satisfações; a organização alertou Princess e ela foi com Barbarian ter pessoalmente com o agente em questão (...) vai ela mesma monitorar a entrevista de hoje. A guerra fria recomeçou, mas as pessoas estão mais preocupadas em defender suas “verdades” do que as necessidades do país. O rapaz é vigiado há tempos, todos os chefes de Estado acreditam que ele sabe mais do que parece, alguns que se trata de um membro secreto da organização, uma espécie de guru interno, apesar de todas as negativas.

A visita dura um pouco mais do que o normal, por conta das recomendações que os agentes oficiais passam para o rapaz (...) Patrícia conversa com a organização, avisa que os estão testando para saberem até onde podem ir. Sandra fica incumbida, para após o parto, de monitorar o pai. O presidente manda sua solidariedade, quando é informado (...) precisam deixar bem claros os limites, para evitar encontrar um espião lanchando na cozinha pela manhã. Na saída da reunião, Albert fica encarregado de proteger Elias, até Sandra estar em condições...

- Sem problema. Tenho que saber algo importante?

- Não tolha a liberdade dele. A CIA está de olho e vai nos avisar de qualquer novidade, então deixe ele tocar a vida do jeito que gosta enquanto for possível. Sandra, desfranze. Não vai acontecer nada.

- Claro que não vai... Não com meu pai.

- Nem com você. Seu pai se tornou precioso para o nosso governo e os aliados, existe uma máquina gigantesca que o quer vivo, nós não somos os únicos protegendo ele.

Ela mal termina de falar e Amina chega esbaforida, avisando que Elias arrebentou com a coluna de um agressor que tentou ameaçar Robert Richard. Às vezes se esquecem de que ele também treina pesado (...) O encontram na delegacia, prestando depoimento, com o menino agarrado a si, sempre protegendo o rebento, está visivelmente furioso. E o agressor é ninguém menos do que...

- O que esse retardado está fazendo em Sunshadow?

O filho do deputado, que pensou que conseguiria tratamento diferenciado nos Estados Unidos, por ser “autoridade” (...) O caso é de idiotice fora de escala de um fedelho mimado que nunca cresceu, mas poderia ter sido um profissional. Em todo caso ele mostrou que não é indefeso, e a cidade mostrou que ele não está sozinho.

À noite o deputado chega, tenta argumentar para levar o filho embora (...) Ser tratado como qualquer um é o que ele mais odeia, isso nunca aconteceria no Brasil, tem muita gente corrompida para evitar isso. Ser deportado significa nunca mais poder voltar ao país e usufruir da mansão em Orlando, de que a receita federal brasileira não tem conhecimento... Ainda. Chuck e Mamma Buzzy ficam estarrecidos com o alto grau de ignorância de um homem que deveria ser, pelo menos, bem informado, mas só conhece os bastidores da malandragem institucional brasileira...

- Como é que os brasileiros votam num cara assim, Ritchie?

- Eles não têm escolha. A política por lá é um clube fechado, só entra quem esses tipos deixam entrar e só fazem o que eles deixam fazer. O Brasil nunca foi uma democracia.

- Tipo um sindicato do crime?

- Precisamente, com hereditariedade. Aquele imbecil que vai sair da cadeia para  um vôo econômico, de volta ao Brasil, é um dos herdeiros dessa máfia.

- Era mais fácil quando eu podia simplesmente metralhar nazistas.

- Na guerra não há discursos, só ação, é por isso que tanta gente tem a ilusão de que ela é boa.

- As pessoas estão cansadas de discursos sem fim, Ritchie. Esses caras com diploma e nariz empinado, querem discursar e repetir discursos só pra terem razão.

- E fazem parecer que é diálogo, querem que você pense, mas não aceitam que conclua nada diferente do que eles concluíram. Eu sei, não tenho diploma e às vezes preciso calar alguns arrogantes. Mas o pior mesmo é ver historiador fazer merda, defendendo ditadores e atacando democracias.

Na manhã seguinte (...) o Street Warrior medita sobre a conversa da noite anterior. Já foi desmentido por acadêmicos sobre factos de guerra que ele não só testemunhou, como ajudou a executar. Quando disse que foram recebidos com festa em algumas aldeias francesas, após repelirem os nazistas, começaram a repetir “A história é contada do ponto de vista do vencedor”, como argumento para o desmentido. “Nenhum deles estaria vivo pra falar merda, se aquilo não tivesse acontecido” pensa o veterano. Agradece por viver em Sunshadow, que considera o último reduto da vida legitimamente americana...

- Chuck, tem uns caras chegando de ônibus, da estação ferroviária. Acho que você os conhece.

- Pois avisa que eu não devo grana, não fiz nada e não tenho filhos tortos.

- Puta que pariu, esse vagabundo ainda tá vivo?

Ele se vira bruscamente para a direita e reconhece, debaixo de todas aquelas rugas, o tenente John Huston, com quem revezou o posto de alvo de artilharia, quando desembarcaram na Normandia. Eram dois malucos que esticavam a cabeça para ver o que estava acontecendo, quando as ordens eram para ficarem quietos (...) O ônibus é de uma excursão de veteranos para a cidade dos mil heróis. São todos os vinte convidados por Daniel para uma conversa na prefeitura, ele mesmo um órfão de guerra, com a imprensa local cobrindo o acontecimento. São levados para um tour por conta da prefeitura, pelo que conhecem os outros órfãos, inclusive os mais ilustres. A população os cerca, quer ouvir suas histórias, suas impressões e suas piadas de caserna.

Patrícia os recebe em casa, apresenta sua família e seus comparsas de carreira. Os paparazzi aproveitam para também ouvir as experiências de guerra (...) Eles ainda conhecem o museu da Culture Train, o museu particular da diva, a fundação para as crianças, o general Krumb, a cidade subterrânea altamente resistente a um ataque inimigo. A visita é estendida até a manhã seguinte (...) Se há os que usam a visita para reforçar seus discursos acusatórios, a maioria se admira e até agradece pelo tratamento de chefes de Estado que aqueles homens receberam.

O Pentágono solta uma nota oficial elogiando a recepção. Uma conversa com Daniel e fica acertada pelo menos uma excursão de veteranos todos os anos para Sunshadow. Ainda há tempo para as pessoas verem a história bem à sua frente (...) Na Máquina de Costura, os seis aproveitam a inspiração e maturam uma ópera rock complexa, com os recados de um hipotético veterano no leito de morte, em suas últimas palavras à posteridade. “I Win My War” fica acertado como título (...) Antes da próxima viagem para shows, a canção está pronta.

&

Glenda anuncia aos amigos e parentes a segunda gestação. Elvira percebeu a diferença e foi a primeira a anunciar, antes que a mãe contasse aos pais. Morgana será o nome, a pequena já escolheu...

- Hey, a mãe sou eu, atrevida!

- Mas ela é Morgana!

- “Mas ela é Morgana”, eu sei, cara de fuinha... Só estou te enchendo o saco. Você vai ter que aprender a trocar fraldas, pra me ajudar.

- Mas eu não uso mais fralda.

- Mas a Morgana vai usar, e você vai ter que ajudar. Vem, vamos pegar a sua boneca e treinar.

Sanaa olha para as filhas, diz “Eu deveria ter feito isso também”, então leva mais a sério a proposta de Billy. Vêem a menina fazer lambança (...) é claro que ela não vai deixar a pequena usar um alfinete em um bebê, será só para ela se acostumar a ajudar e cuidar da irmã.

Elas voltam para casa encantadas, tanto com a fazenda quanto com as duas bruxas (...) Mas o que realmente encantou a adulta foi a relação de companheirismo das duas (...) Patrícia lhe conta que foi o que fez com os irmãos, todos eles foram acostumados desde a mais tenra idade a ajudar e cuidar dos menores. Conta como Richard cuidava de Elizabeth, o que o ajudou a controlar sua força e disciplinar sua inteligência privilegiada, já que precisava se comunicar com uma criança bem mais jovem. Sanaa e Suha se olham, olham para as filhas (...) Ligam para seus affaires e os chamam para a oficialização das relações.

Amina fica com cara de “E eu?” (...) É a mais jovem das três, pouco mais velha do que as duas filhas solteiras mais velhas de Hassam (...) foi salva de ser entregue a um troglodita e estava assustada, quando chegou com ele à sua casa. Os empregados foram orientados a trata-la como uma filha mais velha, até que tivesse o primeiro filho (...) Ela suspira e vai à copa, ou iria, não fosse detida por Arthur e acolhida no abraço, como uma garotinha emburrada por ver as outras ganharem um presente e ela não...

- Você já pensou em namorar um artista?

- Artista? Eu não conheço nenhum, além de vocês.

- Mas tenho um amigo que te conheceu, de longe, e me confidenciou o interesse.

Ela se anima. O rapaz é ateu, mas é um discípulo de Richard Gardner, não vai implicar e nem desrespeitar a cultura dela. O animador digital chega à noite, tranqüilo, mas respeitoso, com as madeixas negras presas por uma fita de malha metálica (...) Filho proscrito de neopentecostais, Joshua percebe que (...) toda a família está lá. A conversa do havaiano interessa, ele consegue a chave mágica, fazendo-a rir. Atam o relacionamento. Imediatamente Itzahk e Billy o chamam para uma conversa confidencial, ele terá regras a seguir e cuidados a tomar.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Dead Train in the rain CXCIX

    A alegria e a agonia de ser sunshadower. A estação 199 mostra que a tinta respinga longe quando cai, a da fama e da polêmica mais ainda. Todos à bordo, o trem vai partir.


Stanley começa a exibir os cacoetes do pai, divertindo os amigos com suas reações teatralescas. O ambiente comum permite que Robert Richard o observe (...) Happy Moon chama para a aulinha de música. O aprendizado é alegre e com alegria eles atendem ao chamado (...) Corrige com carinho, mas sem deixar de corrigir o ponto, inclusive o filho. As canções tradicionais da América têm lugar de destaque, mas os pequenos se esbaldam mesmo é com os clássicos do pop e rock. Ela percebeu (...) que as crianças não vão se interessar pelo que não gostam, simplesmente porque não têm o senso de prioridade de longo prazo de um adulto. Concluída a parte livre da aula (...) ela pode pedir a atenção da classe para demonstrações vocais ao piano. Relaxadas com a brincadeira de agora há pouco, as crianças se comportam com um riso ou uma brincadeira, mas a rigor a atenção requerida lhe é dada. Vão todos descansar, ao fim da última aula. Algumas mães são voluntárias na fundação e têm o gosto de cuidar dos próprios rebentos, inclusive Stephanie. Ela leva a pimpolha consigo na volta ao lar, à tarde, depois do almoço vão à chocolateria, ajudar Audrey a lidar com as trolhas dos negócios.

O primeiro problema é uma quebra de safra, que encareceu o cacau e atraiu a sanha dos especuladores. Audrey procura pelo mundo inteiro quem tenha estoques antigos ou ainda esteja vendendo a tonelada por menos do que os rins. Ela usa tática de guerrilha, com gente agindo por perfis pessoais em redes sociais, localizando sorrateiramente sem revelar a empresa por trás de suas buscas (...) Quando a Brook’s Hot Chocolate se revela, já está em cima dos fornecedores e arremata o cacau bem na frente da concorrência, que ficou presa aos protocolos e à burocracia de redes gigantescas. Mas não foi fácil, ela chega ao fim da tarde querendo tão somente um pouco da vida de vagabunda que pensa que um dia teve.

Melinda corre para mimar a irmã, até porque também passou por um temporal nesta semana, mas com a vantagem de não precisar lidar com artigos sensíveis ao clima...

- Esses caras estão doidos! Estão cobrando pela arroba o preço da tonelada! Vai todo mundo enterrar dinheiro nisso e vai todo mundo levar na tarraqueta, quando os preços despencarem!

- Então vamos fazer um trato? Comprar juntas a xepa dos malandros desesperados?

- Hm... Eles merecem se ferrar... E eu mereço a desforra! Fechado!

Comprar plantações, nem pensar! Já pagam um pouco mais para garantir aos clientes que estão comprando chocolate cultivado por adultos remunerados, não querem mais dores de cabeça com burocracias do terceiro mundo (...) Os outros insumos estão absurdamente caros na medida do razoável.

A cooperação entre as irmãs gera resultados e um deles é a choradeira (...) Mais uma vez juram vingança e mais uma vez têm que engolí-la com martíni seco. As marroquinas reconhecem um pouco daquilo, elas são negociadoras astutas, como era Hassam...

- Patty, cadê a Rê? Ela tem que explicar isso, esse cara deve ter ligação espiritual com a gente!

- E tem... Ela me disse que tem, Dee. Só não me pergunte por detalhes, são constrangedores.

- Então a gente quer saber.

- Vai ficar na vontade, abusada. Vocês acreditam que eu amamentei essas duas?

- Com três meses aqui, acredito em tudo – diz Amina. Até que coelhos são uma espécie de cacaueiro ovíparo.

- Três meses... Cara, parece que vocês sempre estiveram aqui! Me fala uma coisa, que grude é esse com a Greta e Mirtle? Elas se matricularam só para prolongar as conversas, é isso?

- A história delas me emocionou. A Mitle foi quase uma mãe pra irmã, mais ou menos como vocês.

As duas planejam um álbum em dueto (...) enquanto os fãs são questionados sobre a conveniência de ela ainda estar viva, por prodígio de uma terapia caríssima e muito sofisticada, enquanto tanta gente não tem acesso nem à saúde básica. Ela não se furta de responder “Se eu morresse, essa criança de quem falam ressuscitaria? Parem de desprender tempo e phosphato com retóricas de moto perpétuo, façam alguma coisa pelo que dizem lutar, como serem voluntários do Médicos Sem Fronteiras, por exemplo... Só mais uma coisa, essa criança morreu em 1998”. Volta à irmã (...) enquanto os fãs compartilham e fazem memes com a reposta, alguns abusando do sarcasmo. Laura as procura, a repercussão está causando surtos de diarreia, incontinência urinária e espasmos abdominais pelo mundo, a zoeira tomou conta e já tem desafeto desactivando as contas em redes sociais, porque a carapuça serviu.

&

Cidadãos em férias na Flórida são abordados, após um linguarudo vazar sua origem (...) O que deveria ser apenas uma conversa sobre uma cidade famosa se torna perigoso. Não demora muito para ditos ativistas os procurarem para tirar satisfações, mas são rapidamente socorridos por ghost drivers...

- A concentração de recursos em Sunshadow está causando a miséria e as guerras pelo mundo!

Mas não conseguem desligar a vitrola louca que só toca uma faixa (...) não mudam sequer os erros de concordância. Ligam para o escritório central, certos de que todos se conhecem em uma cidade de noventa mil habitantes. Uma conversa com Aubrey e a secretária passa a ligação (...) liga para Sunshadow, onde as mães do casal se descabelam e pegam o primeiro vôo para Orlando, furiosas (...) elas chegam distribuindo sopapos e abrindo caminho à força, querem ver seus filhos e seus netos e querem que estejam bem. Em Sunshadow, Patrícia vê a notícia com muito pesar, pede que um colaborador de base ajude no que puder e desaba no sofá...

- Eu não acredito nisso... Mascote?

- Irmã, que merda é essa que me contaram?

- É a mesma em que o mundo está mergulhado até o cocuruto. As pessoas agora acreditam que ter boas intenções as imuniza contra erros e actos de crueldade. Desta vez eu não vou fazer comunicados, vamos conversar com as pessoas, para só nós sabermos, pedir que mantenham a discrição de origem.

- É foda... O problema maior é que muita gente daqui é famosa, mesmo sem querer! Basta uma olhada em imagens e vídeos pra reconhecer um sunshadower! Cê sabe que o nosso comportamento é bem diferente da média.

- Assim uma virtude se torna um delito... Vamos desligar e começar a falar com o povo.

Começam em casa, mandam espalhar pela família, pela vizinhança e logo a cidade inteira recebe as instruções (...) sem que estranhos à cidade saibam do que se trata. A rede social de Sunshadow oficializa as recomendações de Patrícia. A imprensa oficial da banda publica o que seus cidadãos (...) têm a dizer sobre o incidente. A polêmica rende muito patrocínio, que rende muitas entrevistas bobas com alta audiência, que rendem mais patrocínios.

Quando a banda volta à estrada, na primeira coletiva, ninguém deixa passar o episódio. Só Enzo responde, ainda assim de forma sucinta com “O século XXI é uma ilusão” (...) não querem alimentar mais polêmicas, especialmente porque os amigos tiveram arruinadas as férias que precisaram adiar por cinco anos... E nem viram o Mickey!

Voltam ao andar reservado, para conversarem a respeito. Naomi percebe o que acontece, apesar de parecer brincar com as bonecas de papel que desenhou e pintou (...) As bonecas que fez estão todas olhando para cima, com expressão de súplica e postura retesada. Eddie cutuca a irmã e mostra...

- Ela percebeu tudo... Acho que vou chorar... Não é bom uma criança nesta idade se ligar tanto ao mundo dos adultos!

- Mas já se ligou, não tem volta. A gente até pode e deve dar um jeito nessa tensão, mas não dá pra desligar ela da realidade. Nah, vem cá...

Vale-se de sua extensa experiência com as crianças da fundação, entre as quais está a sobrinha. Matthew gosta de saber do resultado, mas não gostou de saber o que o tornou necessário (...) Fica taciturno até ver as bonecas que ela fez...

- Que coisa linda, Rê!

- Triste, mas é lindo mesmo... Olha o nível dos detalhes!

- É isso que meus óculos estão mostrando aos meus olhos!

Ela pega uma lupa e vê que até as íris foram detalhadas em cores (...) O casal coruja faz questão de mostrar aos outros, trazendo a lembrança das bonecas de papel da banda (...) Vão ao almoço comentando sobre as bonequinhas de papel e a possibilidade, quase certeza, de autorizarem releituras das suas, que alguns artistas já fizeram. Encontram na mesa um bilhete manuscrito, pedindo mil desculpas, mas alegando que precisa fazer aquela pergunta desconfortável. Entregam para Patrícia, ela sorri...

- “Vocês têm opiniões muito conflitantes, do ponto de vista ideológico, defendem pontos específicos de direita e outros de esquerda, rejeitando na mesma linha outros tantos, vocês parecem não fechar os olhos para nada. O que de facto lhes convém ideologicamente, se posso dizer assim?” Klauss, depois você publica este bilhetinho e a minha resposta, que ouvi do Elias uma vez: Eu não compro pacotes fechados nem de doutrina, nem de ideologia, nem de nenhum conceito humano. Fechar os olhos para o lado B da fonte de onde bebo é um direito que não me convém. Desde que isso se tornou um hábito, só o que me convém é a minha própria depuração.

À tarde, enquanto ensaiam, a curta publicação agita a imprensa. A autora do bilhete anônimo gostou da resposta, mas o autor citado nem tanto de vê-la publicada, especialmente com parte da imprensa lhe pedindo para explicar o que quis dizer com aquilo. Ele (...) não entendeu a dúvida. Um paparazzo (...) pergunta se ao escolher um caminho, não seria mais ético abraçar todas as nuances dele...

- Você me disse uma vez, mui educadamente, que é vegetariano, mas só não come a carne.

- Certo, eu não consumo cadáveres.

- Você tem suas marcas preferidas de alimentos, presumo.

- Inclusive a Canard Noir, por questões também de ética.

- Por sua observação, você não deveria consumir também a galinha que cedeu os ovos para fazer aquela variedade toda de doces?

- Não, eu passaria mal se... Eu entendi... Agora entendi.

Ele está conseguindo lentamente sua própria cota de respeito por parte da imprensa. Assim que os xeretas se dão por satisfeitos, pode voltar ao trabalho, uma reunião por teleconferência com aquele pessoal que se interessou em franquiar a Vintage Way of Life (...) Tem uma grata surpresa ao ver entre eles executivos que conhece bem e com quem tem boas relações. Ao fim da tarde, marca uma reunião presencial com os outros principais sócios para fecharem negócio. É uma atitude meio mafiosa, meio japonesa, que inclui uma manhã de conversa fiada, lanche, provavelmente uma troca de presentes simbólicos, olho no olho e só então o negócio em si.

Pouco antes do show, os amigos recebem a boa notícia (...) só ficaram os que realmente têm compromisso com a philosophia da loja. Sandra fica muito feliz, particularmente inspirada para o show (...) sendo mais activa do que se esperaria de sua adiantada situação gestacional. Quando voltam para casa, após um dia e meio de descanso merecido da farra que é cantar para centenas de milhares de fãs, vão ter com o brasileiro o resultado de sua conversa séria e objectiva com homens que metem medo na maioria dos executivos...

- “Medo” por quê?

- Porque são ricos, poderosos, influentes, admirados e todas essas coisas que não deveriam dar medo a ninguém, deveriam inspirar, mas o senso comum acaba estragando – responde Renata.

- Essa gente não sabe o que é medo... Bem, vamos ao que ficou acertado.

Seis novas lojas são o que esperam para o próximo ano, mas para isso terão que assinar logo os contractos (...) Ficam a tarde inteira cuidando do assunto, da forma mais leve que conseguem, até Renata tocar no assunto das bonecas de papel da caçula. Aproveita o ensejo para sugerir o que ficou conversado informalmente na Philadelphia. Acatam, mandam para o escritório central e vão ao happy hour. Patrícia comenta que as filhas e netas estão se preparando para o hamadã, por isso fará um cardápio especial (...) Conseguiu uma dieta apropriada com os nutricionistas da fundação, e elas já experimentam. Já acostumadas a começar o dia bem antes da alvorada, começam a se dar conta da grande vantagem que têm, e fazem montinho na responsável por tudo isso.

terça-feira, 26 de março de 2019

Dead Train in the rain CXCVIII

    Um mundo que desaba um pouco a cada dia. A estação 198 se mantém de pé entre os escombros, para vocês poderem embarcar. O trem vai partir.


O casal de baixa estatura está amedrontado. Entra no Airtrain após ter trabalhado nos bastidores do show, como disfarce. Um casal com estatura semelhante estava no avião e desceu, para despistar melhor. Desatam a chorar quando decolam (...) Choram ainda mais quando descobrem que sua protetora doravante é Jose De Lane, quase desmaiam diante dela. Serão seus hóspedes até findarem o treinamento...

- Vocês devem manter doravante o mesmo sigilo que assegurou sua sobrevivência e seu resgate. Não vieram com eles por golpe de sorte, nós temos ligações com o governo e corrigir as besteiras que ele faz, é parte do nosso trabalho. Zigfrida os acompanhará em seu aprendizado...

Ela explica superficialmente o que fazem, sem revelar a organização (...) seus novos nomes, um resumo de sua nova história de vida e lhes entregam um espesso compêndio (...) bem como dispositivos com imagens, vídeos, sons e depoimentos falsos para aprenderem quem são agora, para se prepararem para as cirurgias plásticas. Tudo explicado, voltam para fora, há gente esperando pela atenção da diva estrelar. Dezenas de afilhados cansados da labuta musical, de comerciais longos, de entrevistas maçantes e de paparazzi sem noção. Ela quer em especial ver suas gestantes, já reclamando a afiliação dos rebentos em gestação.

Voltam à tarde para Sunshadow (...) Patrícia encontra Arthur à sua espera, à porta de casa. Não é o comum, mas deixa para perguntar de coisas sérias depois, por hora quer os braços do marido e se despir de seu poderio. Ele conta meia hora depois, com Lady Spy já aboletada no colo de sua senhora...

- O Billy...

- Ele levou a sério o que você disse na primeira entrevista. Hoje o flagrei conversando com Sanaa, muito mais próximos do que os dois normalmente se permitem.

- As coisas estão andando muito depressa! Luppy! Luppy, quero informações e eu sei que você as tem; Sanaa e Billy!

- Eh... Ele já ajudou ela com sacolas de compras duas ou três vezes... Já os vi conversarem à porta de casa... Acho que até já riram juntos... Achei que vocês sabiam!

- Eu viajo a trabalho todas as semanas, bandida, não posso ficar de olho em todas o tempo todo. Desembucha, o que mais?

- É tudo mais do mesmo... Ah, lembrei! De vez em quando o Elias aparece e traz o Robby pra entreter as meninas...

Agora sim, ela se interessou de verdade. Ele ajuda o rebento com suas actividades (...) O menino está se habituando rápido a ambientes de trabalho. Fim da tarde, voltam para casa, a pé mesmo, passando pelas seções dos anos 20, 30 e 40, virando à esquerda nos anos 60 e à direita nos anos 80 (...) Enya voltou de ensaios em Toronto e quer seu petiz em seu colo. Para o roer de cotovelos dos que disseram que estava gorda e demodê para a alta costura, é chamada com freqüência e às vezes precisa recusar trabalhos, para dar conta dos compromissos. A diferença é que suas peças não têm apelo popular, às vezes nem passam na televisão...

- Meu bebê!

O menino se arreganha todo e corre para os braços da mãe. Em casa eles têm mantido o ar bucólico e tranqüilo que Elias tanto queria ter com Abigail. Aliás, Sandra conta a Happy Moon que será o nome da menina que espera...

- Vocês amavam muito, não?

- Demais! Eu não posso reclamar, mas queria que ela estivesse viva aqui, com a gente... Mas aconteceu, estava fora das nossas possibilidades...

- Pare de se lamentar, ela está bem melhor do que nós. Eu queria saber de seus sobrinhos.

- Estão dando trabalho, mas cada vez menos. Estavam acostumados a serem empurrados na escola, ter nota zero arredondada para cinco... Na escola nova não tem disso, eles vão aprender a ser gente!

- Virão com seus pais biológicos, na próxima vez, eu espero.

- É difícil, Moon! São quatro crianças mal acostumadas, elas ainda precisam aprender a se comportar. Por que o interesse repentino?

- Saberá quando for a hora, Knockout, é parte da minha seara. Por agora quero que eles aprendam música, você precisa providenciar isso o quanto antes... E quero ver seu pai influenciando esses quatro!

Ela providencia, contracta dois professores, um maestro e um de canto (...) Quanto a Elias, terão que esperar pelo encontro.

&

Itzhak e Billy trocam figurinhas. Falam das impressões das respectivas prováveis cunhadas, para não serem surpreendidos em virtude da miopia da paixão. O problema, observa o jornalista, não é nem de longe o relacionamento com muçulmanas (...) é a reação com viés para represália por parte de outros muçulmanos, que podem considera-las apóstatas...

- O amigo observou muito bem! Vamos lembrar que Mikomi Spring sofreu um atentado por parte do irmão, não faz muito tempo.

- Também bem observado. Mas não são só ameaças externas e tampouco só de religiosos. O amigo deve se lembrar da cena das bandeiras de Israel e do estado islâmico, em uma universidade.

- Ouvi falar, mas nunca vi.

- Vou procurar aqui, enquanto explico... Essa turminha de garotos “engajados”, “politizados” me dá nos nervos. Um grupo filmou uma pegadinha, um rapaz tremulou a bandeira dos terroristas em plena praça universitária, recebeu apoio moral de praticamente todo mundo, mas quando tremulou a de vocês... Meu amigo, ele quase foi atacado, aos berros, com palavras de ordem e esse monte de frases que dizem “Meu lado é sempre bom e o seu é sempre mau”... Aqui...

Ele desgosta logo de cara, mas fica mais perplexo no decorrer do vídeo, até ficar boquiaberto...

- Cara! Eu estudei nessa universidade! Agora fiquei com medo de visitar a faculdade, iriam botar fogo no meu carro gritando “allá é grande”! Só faltaria isso!

- Eu vou confessar que já fui um pouco assim, antes de vir pra cá. A convivência com a Patty e o respeito que o medo de apanhar me fez ter no começo, alargaram aos poucos a visão limitada que eu não acreditava que tinha de política internacional. Nesses dezessete anos em que quase moro em Sunshadow, eu posso te afirmar categoricamente, que os muçulmanos radicais são o problema mais distante de vocês dois, o maior perigo são os nossos próprios radicais de igrejas milagrosas. Eles vão ver na união de vocês uma afronta à sua interpretação da bíblia. Se forem se casar, fiquem em Sunshadow.

A conversa descompromissada (...) não passa desapercebida pela chefe da franquia. Audrey liga para a irmã e transmite imagens da conversa compenetrada e aparentemente tensa. Ela chama as maiores interessadas no caso, Suha e Sanaa reconhecem as expressões de decepção dos dois. Vão as três à chocolateria, Patrícia as deixa perto deles, enquanto fala com a irmã sobre aquelas caras de quem perdeu o último ônibus...

- Os garçons disseram que é sobre aquele episódio das duas bandeiras em uma universidade, também sobre aquelas igrejas picaretas, os problemas que vão enfrentar se os relacionamentos forem pra frente... Eles devem estar mesmo interessados, porque estão sofrendo por antecipação pelo que nem ocorreu ainda.

- É claro que vão cair de pau, quando os namoros engrenarem e vierem a público. Eu já espero por isso. O que não esperava é eles se encontrarem para conversar a respeito. Quanto tempo?

- Menos de uma hora, mas parece que já falaram de muita coisa relacionada. Já foram quatro cappuccinos e uma cesta de biscoitos de côco.

Ela se vira para eles, olha para as moças, sabe que não dá para simplesmente sair sem ser vista (...) Faz um sinal para as duas e elas os abordam. Se inteiram da conversa, se olham e cuidam de acalmar os dois, pedem dois cappuccinos e mudam os rumos da conversa. Patrícia vê que pode deixar os quatro por sua conta e vai para casa (...) Conversa com Arthur à noite, à sós, na suíte. Ele está muito envolvido com uma produção, mas pelo menos agora trabalha com o filho e sua equipe, volta quase todos os dias para casa.

Contam da conversa de ontem à mesa do desjejum, onde as meninas trazem à tona a dúvida de todas sobre Ana Clara e Elisa. Amina fica de cabelos em pé com as filhas, mas a brasileira põe panos quentes e conta a história (...) As marroquinas compreendem, embora saibam o que lhes aconteceria em muitos países de sua origem, se morassem lá. A falta traiçoeira da filha e conseqüentemente dos netos, ainda dói um pouco...

- Mas você fez a escolha certa – consola Aisha. Você se reconciliou com seu pai antes de a noite dele cair, é a única que vai sair limpa na hora do julgamento. Cabe à sua filha agora se reconciliar com você, não o contrário.

- Você venceu, conseguiu me consolar. Mas ainda me arrependo de ter mimado minha filha, mesmo que por omissão, foi minha culpa ela ter escolhido uma mãe de conveniência.

Sanaa olha com orgulho para o rebento (...)  Ana Clara põe a adolescente no colo, afagando e fazendo cócegas como se ainda fosse uma criança. A estatura é semelhante à sua, quando tinha aquela idade. Pede a menina emprestada à tarde (...) Precisaram se reinventar, para concorrer com a internet móvel, e a crescente falta de critério de qualidade do público (...) a BYOP prima por sempre oferecer o que é muito caro, muito grande e pouco prático para se ter em casa, mas por isso mesmo ser justo o que oferece o melhor e mais confiável resultado. Há até uma impressora a laser que grava em metais e pedras o que o computador simular. O que der certo nas lojas de Sunshdow e Detroit, é adoptado por todas as outras da franquia familiar.

Aisha corre para a Máquina de Costura, chama todas as irmãs e as leva para ver. Elas ficam encantadas, da caçula à mais velha, como se todas tivessem a mesma idade. Elisa pega uma amostra de demonstração, photographa as oito e grava a imagem no pedaço de mármore (...) não demora a contarem da novidade para os que ficaram em Marrakesh. Eles ficam chocados com a história de lesbianismo (...) mas se comovem com o modo como aconteceu a reconciliação. A imagem das oito na pedra esverdeada impressiona (...) As namoradas se abraçam para observar o entusiasmo daquelas moças, acreditam que ao menos duas novas lojas podem vir a sair daquela festa. Lá mesmo elas fazem os trabalhos do colégio e da faculdade, de lá mesmo enviam a parte virtual para seus professores e lá mesmo imprimem o que lhes cabe.

Chega a hora de as mais velhas irem para seus compromissos (...) agora querem virar nerds. As duas fazem a festa pelo serviço bem feito, cooptaram mais oito para sua laia de malucos cibernéticos. Ellizabeth e Prudence agradecem a tia, isso vai facilitar muito o aprendizado de sua discípula...

- E como tá indo?

- Ela é doidinha mesmo! Parece que é nossa irmã de sangue! Os textos dela estão dando saltos grandes de qualidade.

- Mais do que isso, ela consegue fazer a Nath esquecer um pouco dos problemas pela falta de cor.  A gente tem que manter essas moças na cidade, a começar pelos dois romances em fase de cultivo.

Ouve-se uma rajada de risos compulsivos que interrompe a conversa, é uma usuária que leu uma resenha do segundo livro da novela das irmãs, com um trecho autorizado à reprodução. Ela precisa ser socorrida, mas (...) quer seus exemplares autographados.