sexta-feira, 29 de março de 2019

Dead Train in the rain CCI

    Autoridade. A estação 201 Mostra os ingredientes de uma liderança nascente, e a força da consolidada. Todos à bordo, o trem vai partir.


Mikomi conversa com Mary Ann na Maison (...) Falam das crianças, a japonesa conta das travessuras de Nanako e Hiroshi, os dois se especializaram em investigar boatos da internet (...) Melody, Tracy e Gina estão estudando tecidos novos, incluíram testes de resistência e inflamabilidade. Sobre Sakura...

- Ela se tornou uma ponte entre ocidente e oriente, está empenhada em deixar uma boa impressão de um lado para o outro. Bobby já pediu para moderar, que ela está fazendo o trabalho de embaixadores.

- É uma garota responsável... Talvez demais... Patty, meu amor, você tem notícias da Sakura?

- Tenho, tia, acabei de dar uma bronca nela, por excesso de trabalho. Mandei o avião dar meia volta e ela chegará em alguns minutos, para descansar.

O avião pousa e Mikomi está lá, com olhar triunfal em seu vestidinho minimalista rosa sem mangas, esperando pela filha. A leva primeiro para exames médicos, depois para (...) a casa da mamãe, onde recebe os cuidados de que necessita e adiou indefinidamente (...) À tarde, após a reunião chata, estressante e nem um pouco engraçada, os seis vão ver a moça. Robert trata de afagar a filha e aplacar o aborrecimento...

- Já explicamos a todo mundo que você precisou voltar para uma emergência médica. E não é que os exames revelaram justo isso? Você não tem que carregar o mundo em seus ombros, isso é função da sua tia Patty.

Finalmente ela consegue rir (...) Patrícia espera todos se recuperarem e avisa à teimosa que a quer em plenas condições, antes de se aventurar novamente pelo mundo, tentando promover a paz e o entendimento...

- Não é fácil como parece. Há muitas pessoas que simplesmente não toleram a existência do outro, elas não vão te poupar se você as deixar em paz, porque seu objetivo é ser o único grupo humano do mundo. Não se iluda, minha querida, existem sim pessoas que se esmeram em ser realmente más, e esses apelos de internet não as comovem, só alimentam seu ódio. Bobby, vou ensinar alguns macetes para ela, assim que o médico liberar, nem um segundo antes.

- Tá, eu entendi... Só uma perguntinha... Como você fez o avião voltar?

- Eu mandei voltar e ele voltou, simples assim. Tá pensando o quê, menina? A menininha mandona agora é a Phee, hoje eu sou a princesa mandona.

- Se você mandar, por exemplo, explodir um país...

- Nem brinca, Sá. Nem brinca. Tem gente que leva muito a sério o que eu digo... Inclusive Hassam... Por isso eu não falo com chefes de Estado, quando estou de mau humor.

- Acho que ninguém deveria negociar nada de mau humor, especialmente assuntos de Estado.

- Mas eles o fazem. Eles o fazem.

O vôo foi retomado normalmente (...) À imprensa, sabendo que se trata de Sakura Spring, só dizem que o excesso de trabalho estava minando sua saúde. A imprensa, tendo em mãos o boato de quem teria dado a ordem para o avião voltar, lucra horrores com polêmicas novinhas, quando as antigas nem esfriaram ainda.

Na manhã seguinte ela começa o tratamento, alguns problemas foram detectados em estágio muito inicial. Patrícia se dá por satisfeita (...) Voltam à programação normal. Conversam sobre negócios, falam de problemas que brotaram do nada, começam a rir deles e terminam rindo de si mesmos (...) Sobre o trem morto, querem saber a quantas andam as investigações sobre sua origem...

- Praticamente travadas. Ele tem tantas peças de tantas origens, que não dá para dizer quem o fabricou. A falta da caldeira agrava tudo. O último prefeito vendeu o que podia, para suprir o orçamento, só não vendeu a locomotiva inteira porque apanharia.

- Por falar em locomotivas, lembrei de uma novela brasileira! Oi, gente!

Zigfrida, linda em sua idade bastante madura, chega se anunciando, arrancando risos da sobrinha outrora ranheta (...) A sueca distribui abraços e sacolejos entre os seis, depois vai para as marroquinas, abraçar e sacolejar até não restar nenhuma seriedade entre elas. Lady Spy se esgueira por entre as pernas e pula no colo da psicóloga. Ela fala a sós com Patrícia e Rebeca, enquanto Ingrid conta a triste história de Asma...

- Um problema com religiosos, é que muitos têm uma espécie de interruptor subconsciente, uma vez acionado ele desliga parcial ou totalmente o discernimento. É o que acontece com muitos fiéis dessas igrejas que te perseguem, basta o pastor dizer uma palavra-chave, após a preparação, que eles entram em uma espécie de transe e têm seu próprio julgamento substituído pelo do pastor. É assim com qualquer radical, de qualquer religião e, nos últimos tempos, até com alguns ateus. Qual a má notícia? Nossas amadas marroquinas, apesar dos esforços de Hassam, tinham os seus. Fraquinhos e extremamente limitados, mas finham. Qual a boa notícia? Esse interruptor pode ser removido e trocado por uma ligação directa, o que elimina sua ação de uma vez por todas. Foi o que eu fiz com elas. Não quis te assustar, por isso trabalhei em sigilo, fiz os testes e agora elas estão plenamente aptas a viver e conviver no ocidente.

- O que poderia ter acontecido?

- Nada de grave, justo porque Hassam fez um trabalho magnífico, mas aborrecimentos e constrangimentos seriam inevitáveis... e claro que você, tendo mostrado desde o começo quem manda, inibiu essa tendência.

- Valeu... Você sabe que peguei amor nessas meninas...

- Seguindo a philosophia de um menino por quem pegou amor desde o começo, sim, eu sei. Agora, elas já tiveram problemas, falando com quem ficou em Marrakesh?

- Não dá pra não estranhar. Elas eram donas de casa, as mais novas estavam se acostumando a ser donas de casa, mesmo com profissões possíveis pela frente, agora temos seis delas independentes e donas de seus narizes, três estão de caso com ocidentais, um deles judeu e o outro ateu, e as três já garantiram que vão se casar e procriar. Imagine a fofoca que deve estar rolando! Muita gente já deve considera-las apóstatas.

- Xiiii... Ok, aqui elas estão seguras, mas não podemos fazer de Sunshadow uma bolha de sobrevivência.

- De boa, mulher, a gente avisa nossa gente e a América inteira fica de olho nelas... Igual a Patty de olho na Sá, mandando o avião dar meia volta, ra, ra, ra, ra, ra...

- Assumindo sua coroa, majestade?

- Foi necessário. Eu conversei com médico dela, antes de tomar aquela decisão.

- E aquele pouso secreto do Air Force One? Também foi após consulta médica?

- Não brinca, Mascote! Deus sabe o que aconteceria, se aquele avião caísse, principalmente em área residencial... Que choro é esse? Yasmin!

Ela quase arromba as portas da biblioteca e corre para o jardim. Ingridi acabara de contar a história triste de Asma (...) Todas estão tristes, entre menancolica e chorando, mas o choro enlutado e escandaloso é o dela. Patrícia a pega no colo e leva para dentro, onde a nina até ela se acalmar. É um alívio ver em seu colo o que Zigfrida lhe disse (...) Decide que é hora de todas elas, antes que as mais velhas se casem, lerem o diário de Naomi.

Nesta noite (...) Phoebe lê para elas como se fosse uma historinha de ninar, mas com factos históricos (...) Ela aproveita para as filhas também ouvirem. O tom carinhoso e severo Patrícia reconhece, era como sua avó falava consigo. A moça aproveita o efeito de memória falsa para integrar melhor as marroquinas à família. Na terceira noite de conto, elas já se sentem descendentes de Naomi. Zigfrida fica espantada, aquela moça a surpreende sempre, mas não se acostuma com as surpresas. Ela usou o tom certo para cada uma em cada momento, leu com o cuidado necessário e não excedeu as páginas necessárias, para poder comentar o conteúdo.

Nancy nota a mudança de reverência para com sua mãe (...) agora falam dela como sua ancestral (...) A matriarca deixa-as com as crianças e vai ter com a bisneta, na fábrica. Vê um anel de metal soltando vapor frio com uma Supergirl clássica de metal flutuando embaixo, orbitando o suporte central. Ao lado está uma espécie de geleca translúcida que muda de forma, aparentemente com comandos do aparelho que a suporta. Decididamente aquilo lhe parece um laboratório de cientista louco, mas é o de Phoebe. Vê a bisneta montando uma turbina de reação, que pretende que produza pelo menos 1000kg de empuxo. É o primeiro protótipo funcional da Gardner...

- Vovó!

A engenheira competente e eficiente dá lugar à bisneta meiga e carinhosa. Ela apresenta a alvorada de uma nova era para a fábrica e para a família. Aquilo, explicando à bisavó, não só parece como é uma turbina de avião, mas com alguns aprimoramentos (...) Já conversaram com a fábrica, o próximo Airtrain terá turbinas Gardner. Richard chega, alertado pelos funcionários e tem alguns minutos quentes com a esposa, depois ele explica o que farão após os testes, então ela explica o que veio fazer...

- A Phee integrou de vez as nossas novatas à família. Eu não imagino um modo de agradecer por isso, nunca vi aquelas meninas tão radiantes e tão felizes em falar de mamãe!

- Não me surpreende, ela faz o mesmo aqui, com os funcionários. Temos dez imigrantes que ela ajudou a se adaptarem ao nosso modo de vida, foi incrivelmente rápido. É a sucessora da Patty!

- Você tem falado com o Elias?

- Todos os dias, praticamente... Até porque o Albert está protegendo ele, então eu sei até do que não pergunto. Fora que a Pancada fala no pai sempre que se lembra dele, qualquer motivo serve.

- Isso explica... Como você está no aprendizado cabalístico?

- Eu precisaria de um rabino experiente, para me avaliar.

Ela consegue. Itzhak traz o de sua sinagoga (...) Ficam seus parceiros ao redor, acompanhando o diálogo, inclusive Nancy. O rabino muitas vezes se esquece que está falando com uma garota não judia, que poderia ser sua neta ou até bisneta. A conversa termina com o sacerdote aturdido, mas Nancy está perfeitamente esclarecida, Phoebe conseguiu igualar a sabedoria de Naomi, embora ainda tenha todo o frescor juvenil em seus trejeitos.

&

Quase um mês de intervalo até o próximo show; os seis aproveitam para adiantar assuntos e dar recados a picaretas, ainda há gente querendo perder as calças. Robert cita o caso de um sujeito que abriu seis contas bancárias em Estados diferentes, para tentar enganar a corporação e desviar o pagamento a fornecedores. As coisas iam bem para ele até começar a agir, o departamento financeiro ligou imediatamente para o parceiro, antes de fazer o depósito (...) Vão para a situação da propriedade em Marrakesh, que está com as obras a pleno vapor, apesar de tudo...

- O problema é todo cultural. Não há qualquer inconveniente de outra natureza, por isso o treinamento tão rigoroso dos funcionários – diz Patrícia.

- A situação lá não está muito boa para turismo.

- Não, Bobby, não está... Mas tem gente que visita o Marrocos assim mesmo, visita a Turquia, até o Irã! Mas o grosso do negócio será o de espaço para repouso mesmo, talvez se torne uma clínica... E o bunker será um ítem de segurança para qualquer eventualidade... Provavelmente será necessário.

- Desfranze! Desfranze! Isso, desfranze a testa... Pronto... A gente não pode fazer nada mais, Super Patty! Vamos focar o que pode ser feito, certo?

- Certo... O museu. O pessoal do Veteran Car club quer conhecer o meu acervo, eu penso em trazer o presidente do clube em breve, e uma excursão de antigomobilistas durante o festival da saudade. O que acham de um bom argumento turístico?

Conversam e planejam, depois vão à copa forrar os estômagos. Luppy os observa de olhos arregalados, pensativa, preocupando a patroa, até que sereniza a expressão e solta...

- Eu percebi que estou ficando doida quando comecei a entender o que vocês falam.

A copa espera um pouco, até os seis terminarem de rir. Eles começam com a algazarra, carregam a moça pela sala, jogam-na na piscina e pulam em seguida (...) ela está se tornando apta a passar de empregada a colaboradora.

Não muito longe, aproveitando um intervalo entre aulas, Aisha medita sobre a leitura do diário de Naomi (...) Vê as irmãs no karaokê, normalmente estaria lá, mas agora está introspecta demais e não quer perder a linha da introspeção. Volta ao mundo quando é chamada para a aula de biologia. Quando voltam para casa, Patrícia e Sanaa tomam conhecimento. A jovem postulante a escritora fala das muitas idéias que desfilaram em sua mente ao mesmo tempo...

- Amor da vovó tem uma queda pela psicodelia! O que você descreveu se parece com o álbum Sargent Pepper dos Beatles.

- Conheço... Mas nunca ouvi. Tem?

Ela vai à jukebox e põe o som, a identificação é imediata. Já tem um nome para seus delírios, agora sabe como chama-los e puxá-los pela orelha (...) Quando vai com Sabaya ter aulas práticas com as tias, é felicitada por ter descoberto seu estilo, e convidada a escrever com a irmã algo a respeito...

- Agora?

- Tem algum encontro marcado? Não? Então é agora!

Mãos ao teclado, as duas, as louras vão seguir os métodos da avó e acelerar as aspirantes, que carregarão pedra morro acima pelo resto de suas vidas.

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