quinta-feira, 7 de março de 2019

Dead train in the rain CLXXIX

    E começa o ano musical. A estação 179 Mostra que às vezes, o melhor plano é simplesmente reagir ao ambiente. Embarquem, o trem vai partir.


Pela primeira vez, a banda começou o ano sem nenhum planejamento (...) Os rapazes do LP32 recebem as lendas vivas do pop rock mundial com ansiedade e gratidão, porque só o anúncio do show já rendeu muito à big band. Aquele mar de fãs é uma ensação nova para eles, assim como os cachês gordos e as sondagens de patrocinadores (...) Perguntados pela falta de uma agenda oficial, até anunciarem esses shows com artistas retrôs...

- Se a gente tivesse uma agenda para este ano, não teria espaço para esses shows.

Patrícia entra no hotel sem dizer mais, apenas esperando pela repercussão e pela resposta dos agentes, a quem mandou a mensagem cifrada (...) Phoebe entrega um detector de drones à gerência (...) só então a piscina é liberada. Aqueles idosos com corpos bem construídos, peles bem cuidadas e disposição juvenil, humilham involuntariamente os jovens serviçais do hotel. Alguns se munem de revistas em quadrinhos para comparar, especialmente a enorme e opulenta neta de duas. Em casa, o que inclui as dos avós, ela nada nua, aqui precisa do biquíni.

Sem photographias, nem por câmera de celular, mas com talento para desenho, um dos funcionários passa para uma apresentadora de televisão o que viu, em troca de uma gorjeta (...) A chamada para o programa de hoje é “Você estará assim, quando tiver a mesma idade?”. Eles vêem pelas redes sociais e respondem “Vocês conhecem a receita, ponham em prática”, o que dá autenticidade aos desenhos e mais apelo à chamada.

A entrevista se dá nos intervalos do ensaio, quando os novatos vêem o que os veteranos diziam, eles são meticulosos e rigorosos com a qualidade, a ponto de perceberem a diferença da acústica nos extremos do estádio (...) eles querem que os fãs da esquerda ouçam a mesma coisa que os da direita ouvirem. E durante o ensaio, Evelyn e Leonard estão bem próximos (...) Um dos credenciados pergunta a Enzo se esse primeiro ano após o jubileu de ouro, seria um retorno às orgens, ou um recomeço...

- A gente recomeça todos os dias. Não é de hoje, é desde o começo da carreira.

Lá atrás, enquanto assistem ao interrogatório, alguém diz “Menina, eu sou gay, mas funciono” ouvindo “Eu quero ver funcionar”. Lhe alisa o glúteo e volta à orquestra.

O show de abertura do ano musical tem gosto de sobremesa tradicional de família (...) Eles fazem alguns solos que transformam o palco em uma pista de dança, e na dança as formas físicas dos dezoito vovós ficam bem evidentes. Vão para o intervalo e se jogam nas mãos dos massagistas (...) Relatórios informais sobre a repercussão na internet, com arquivos enviados do público, os distraem.

Voltam exaustos ao hotel, com um passageiro a mais. Evelyn banca a durona e leva Leonard à sua suíte...

- O que você está fazendo?

- Como se não soubesse. Quem vai te enrabar de hoje em diante, sou eu.

O joga na cama, despe e cumpre com a promessa, e libera o próprio traseiro, até agora intocado. A manhã de retorno tem os nobres afagando o rebento, que repete “Ele é meu” com um sorriso de triunfo. Em casa, com os irmãos e avós ansiosos pela novidade, ela conta o que pode (...) Confessa que muita coisa que fizeram era novidade...

- A gente dormiu de conchinha. Ele perguntava “O que você fez comigo” e eu disse que agora ele é o meu veado, meu macho e logo vai morar comigo, em Sunshadow. Acho que fui muito mandona, mas funcionou... Ai, eu tô feliz...

A celebração tradicional da cidade é levada a termo, a carregam pela sala, depois ao quintal e a jogam na piscina, pulando todos em seguida (...) ele dá a notícia aos pais. Não cita nomes, até eles perguntarem quem é o rapaz que abalou tanto um coração experiente...

- É uma mulher.

Um lapso. O tempo para dentro daquela sala. Algumas bolinhas coloridas, que esqueceram do natal (...) refletem o contraste entre a imobilidade do ambiente interno e a brisa acariciando a vegetação lá fora. O pai rompe a paralisia...

- Você gosta dela?

- Gosto... Eu ajudei ela a se liberar, não ser tão tímida e... o feitiço se voltou contra mim.

- Quem é essa moça?

- Well... Evelyn de Marselha. A filha de Ronald e Rebeca do Dead Train.

Agora o tempo não só se paralisa como entra em colapso (...) permitindo o encontro e casamento de Tonny Stark com Barbara Gordon. Então o Lobo finalmente se apaixona e tem uma relação conjugal de tapas e beijos com a Garota Esquilo, e a mãe do saxofonista se pronuncia...

- Uma filha do Dead Train... Você sabe que eles têm uma tradição, não sabe?

- Várias! Aquela cidade e em especial aquela família, tem uma riqueza cultural invejável!

- E você sabe então o que eles fazem, quando homenageiam alguém da família.

- Sim, eles carregam pela sala, e depois... Hey!

É levantado, carregado ao redor do sofá e depois jogado na piscina, para já ir se acostumando.

&

Do Brasil Renata recebe a notícia de que o retardado, filho do deputado, é vereador recordista de votos em Goiânia. Todas as provas contra ele (...) foram inócuas para o eleitorado. Fica deprimida. Vai à Máquina de Costura, se aproxima da amiga, a abraça e começa a chorar. Conta a história e Patrícia suspira...

- Até tudo isso terminar, vai piorar muito, minha amiga. Tem gente pior do que ele ascendendo.

- Mas vai sobrar alguma coisa pra Naomi conhecer?

- Vai. Tem gente nossa segurando as pontas por lá, como nós seguramos por aqui.

Sandra também não fica feliz, mas sua reação é aprimorar suas técnicas de degola e decaptação. Phoebe já imagina isso e vai ter com ela...

- Aquele cara não vale nada! Os que a gente tem por aqui são escoteiros, perto dele!

- Eu sei, Pancada. No momento certo, quando desarticularmos as operações deles por aqui, eu te acompanho para tirar satisfações pessoalmente. Até lá, doutora, lembre-se do juramento.

- Quando eu tiver que voltar pro Brasil, se ele se meter na minha frente...

- Nós vamos para o Brasil. Temos um show agendado em Curitiba, é a capital retrô do Brasil.

- Mas é longe o suficiente daquele melanoma. Vai ser a primeira volta da banda, desde aquela turnê...

- Uma banda que já era grande na época, e hoje é uma instituição.

- Ei, a Carly sabe algo de Curitiba? Ela vai pirar!

Informam-na. Falam do gosto do curitibano pelo retrô, da quantidade de lojas especializadas, dos encontros, das bandas com que vão tocar, ela quase vomita arco-iris. Procura saber tudo o que pode sobre a cidade. À tarde vão recepcionar Barney para a gravação do primeiro álbum. Filho de brasileiros, três das doze canções são em português (...) Poderiam ir directo para o estúdio, gravar e ele voltar no mesmo dia, mas já é uma pessoa muito íntima para tão pouco. Primeiro vão hospedá-lo, dar-lhe um bom lanche, falar potoca, amanhã cedo ele treina com os outros, depois ensaia no estúdio, vai à orquestra e lá grava, então vai dar uma entrevista coletiva de que só saberá na hora e voltará à Máquina de Costura, para festejar e ser jogado na piscina.

À noite Sandra o acompanha em uma patrulha (...) Ele em seu indefectível uniforme, ela no macacão com véu e máscara. São discretos, ele manda informações para a central da liga, ela aprende técnicas de comunicação estenotipada (...) Motra-lhe um grupo de forasteiros que pensam que ninguém os está vendo, mas todos na cidade são vigilantes comunitários, todos podem dar voz de prisão a um encrenqueiro, se for seguro...

- Beberam todas.

- Tem gente famosa que costuma se refugiar aqui, mesmo com a massa de paparazzi. Devem ter encontrado alguém.

- Além de vocês, claro.

- Além de nós. Somos cercados de muitas polêmicas, nossa presença acaba dando alguma privacidade aos outros.

Olhando para os lados, eles conversam em voz bem baixa e compassada. O grupo vai embora assim que consegue se equilibrar (...) Não se demoram nesta noite, precisam acordar cedo amanhã, mas a troca de experiências fez valer o trabalho.

Acordam sem dificuldades, treinam se dificuldades, mas aceitam os préstimos de Eddie e Deborah (...) Estão prontos para o trabalho, que hoje inclui fazer coro e ajudar Barney na gravação. E a primeira canção, titulo do álbum, é “The Money is Mine”...

- When I was fourteen, in the streets of San Francisco. I lived carefree, as if thinking, "The world is mine". My father then told me: "If you are old enough to hunt problem also has to work". I thought "My Life is over, I'll have no more fun". While my friends had fun after school, I worked hard. Later in the month, when almost cried, my boss called me and paid my salary, I opened my eyes and thought, “this money is mine!”...

Canção à moda Elvis Presley em seus últimos sucessos. Foi composta com base no que Barney contou de sua história, de quando ele teve a alegria de receber um dinheiro do qual não prestaria satisfações a ninguém (...) Deixa claro que trabalhar não é vergonha, não é doença e não priva ninguém de aproveitar a vida. Ele sabe que atrairá a ira de muita gente, mas dane-se! Ele acredita no que está cantando e conhece mais gente com a mesma história para provar, mas se quiserem tirar isso a limpo, é só esperarem ele lá fora...

Em uma tarde a gravação é concluída, a coletiva é gravada e ele é jogado na piscina. Foi um dia muito alegre. No seguinte os discos já estão sendo gravados e músicas avulsas estão à venda pela rede (...) E a festa continua na sede da liga, vários comparsas começaram a trabalhar ainda adolescentes, sem prejuízos para os estudos. A coletiva foi uma surpresa...

- Para mim também! Depois da gravação me levaram à sala de imprensa, que eu não conhecia, e estava lotada de bisbilhoteiros! Ter pais brasileiros rendeu!

- Ra, ra, ra, ra, ra... A gente viu, Mars Storm!

- Quando é que você vai gravar um samba?

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra... Não se esqueça de gritar “olé”, ra, ra, ra, ra...

Começam a rir das besteiras dos repórteres, que em pleno século XXI têm praticamente o mesmo conhecimento de América Latina que os do meio de século passado (...) em Sunshadow os paparazzi quase residentes choram de rir dos colegas de fora, pelos mesmos motivos. Pensavam que fossem incultos em política internacional, mas viram que estão bem acima da média (...) Se seguraram para não rirem de Renata e Sandra, suspirando fundo e meneando as cabeças com as mãos nas testas. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. A repercussão é boa, a música título do álbum tem os efeitos esperados, para o bem e para o mal. Ninguém pode provar que ele está errado, mas se quiserem sair no braço...

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