sábado, 16 de março de 2019

Dead Train in the rain CLXXXVIII

    Uh! A estação 188 mostra um pouco de cotidiano, mas também o peso e o glamour de ser Patricia Petty. Todos à bordo, o trem vai partir.


Elizabeth e Prudence apresentam o segundo volume de treze de The Spy Novel...

- Mas não eram doze?

- Então... A gente confabulou e decidiu que um livro final, mais narrativo e explicativo, seria necessário.

- Terminando o décimo segundo, a gente revê tudo e escreve as cenas pós-créditos.

Glenda pega o original e se põe a trabalhar nele, enquanto saias são levantadas e sustos levados. Ninguém está lá, ninguém além da bruxa e sua filha, que está sentada à mesa de trabalho (...) Prudence ouve um estralo, põe a mão no bolso do blusão e começa a procurar o smartphone. As outras olham com estranheza, Exceto Elvira, que ri com gosto. Glenda aponta para o aparelho no bolso...

- Mas gente, eu procurei aqui!

- Eu vi. Procurou e não encontrou o que estava na sua mão... Zig! Quer parar com isso agora ou vou ter que chamar Chobb?

Os estalos cessam. Ela pede desculpas, foi só uma travessura de um elemental fanfarrão. A menina pega uma bala no bolso da salopete, oferece para alguém que as visitantes não vêem e logo a brisa leva a embalagem embora. Pelo modo como rola no chão, está vazia...

- Ela é advogada desses pestinhas, são só crianças como ela, mas por isso mesmo precisam de limites. Deu um doce para compensar a bronca, porque eles sabem que eu cumpro com o que prometo.

- A gente vai ficar mais um pouco.

- Conta mais esses lances de elementais, espíritos, devas e bichos afins.

- Tá, uma pausa vai fazer bem... Eu já notei vocês! Podem ficar e ouvir, mas não quero uma travessura sequer! Elementais são infra-humanos, são seres com consciência primitiva, mas pouca ou nenhuma noção de bem e mal...

Explica de forma didática e sucinta, com a competência de quem tem estudo, experiência e amor no que faz. As duas vão felizes pelo novo conhecimento e fonte de inspiração, ela fica feliz porque as mentes das primas postiças nunca mais voltarão ao tamanho de há pouco (...) Depois vê aqueles livros da amiga brasileira, primeiro o dever, depois o prazer. Senta-se e vê um alerta em uma aba. Abre, um colaborador da Suécia avisa da movimentação de radicais, que os serviços secretos subvalorizam. Repassa imediatamente para Princess, a CIA confirma e avisa aos países nórdicos, que novamente não dão a atenção devida, mas já mandam alguém investigar o caso...

- Vai correr mais sangue, minha amiga.

- Eu sei... Tantos lobos solitários com instruções claras e simples, cegos pelo fanatismo... Vamos tocar nossas vidas até lá, já estamos fazendo o que nos cabe.

Volta à rotina, mas com o semblante fechado. Phoebe se apressa em ir ter com a avó, faz sinal de convite e ela se deixa envolver...

- Quando isso vai acabar, Phee?

- Logo... A gente só tem que agüentar até a virada da década, depois eles começam a enfraquecer, mas tem a chance de suicídios em massa pela frustração por perda de motivação de vida...

O provável desfecho a entristece. Queria poder parar tudo isso, mas teria que lobotomizar toda a humanidade (...) As duas chegam para contar à mãe sobre as idéias malucas que tiveram, mas a encontram naquela situação. Phoebe se vira para as tias e só diz que “Salvar o mundo sempre tem suas perdas”, e elas choram também, abraçadas à mãe e à sobrinha. Não sabem o quanto a carga sobre os ombros da mãe é pesada e contundente, sabem que ela é tão respeitada pelos chefes de Estado, que às vezes eles lhe cedem decisões importantes (...) Arthur e os Richards sabem o quanto seu fardo é pesado, não hesitaram em ir vê-la assim que souberam do alerta (...) Ter conseguido manter o coração morno com tudo isso, é tanto um alívio quanto uma grande preocupação. Arthur se sproxima, quando ela já não lacrimeja...

- As crianças, Arthur. Elas sempre são as maiores vítimas. Desta vez elas serão usadas como mercadoria e o mundo inteiro vai assistir ao vivo, pela internet... Audrey Hepburn não suportaria viver nesta época! Vamos nos preparar para matar pessoas e trazê-las, para recomeçarem suas vidas.

Elizabeth e Prudence ficam com caras de paisagem. Lhes explicam sucintamente (...) elas dão saltitos e correm para casa, para encaixar algo assim na novela.

&

Glenda manda uma mensagem para Patrícia, consegue finalmente fazê-la rir (...) diz que quase morreu engasgada e expeliu refrigerante pelo nariz, molhando o tablet inteiro, de tanto rir do capítulo 17, não há uma só página que não faça rir, a maioria dá dores de barriga, algumas suscitam risadas psicóticas. Luppy (...) ri como louca. Se o comentário da editora já causou convulsões, então o capítulo deve ser um atentado à ordem pública. As duas  (...) cogitam escrever um conto de humor. Zigfrida chega ouvindo as risadas e corre para o tablet; é a risada mais louca que Sunshadow já ouviu...

- Hey, essas duas ficaram malucas! Ficaram maluquinhas e eu tive a honra de colaborar com isso!

- O mais impressionante é a naturalidade quase pueril com que elas recebem informações de nossas operações! É como se tudo para elas fosse uma brincadeira!

- E é. Para elas o que estão fazendo é diversão. Por que acha que me descabelei toda pra ajudar Little Betty? A Proo não teve uma primeira infância, a noção de infância dela é toda herdada da irmã, a quem cresceu grudada.

- E foi a Betty quem pediu a irmã de presente, não nos esqueçamos.

Arthur trabalha tão feliz quanto a esposa e a comparsa (...) Criaram um departamento de efeitos visuais e um de edição sonora, que contará com a orquestra da cidade para produzir sons impressionantes e absolutamente perfeitos. Com um Hemi 440 six pack debaixo do braço (...) Richard auxilia o pai no planejamento de um trailer, depois coloca o motor no ombro e vai levá-lo ao Barracuda conversível violeta que o aguarda. A cena é assustadora, mas devidamente clicada e publicada por paparazzi que ganham bem pelas imagens...

- Dammit!!! Foi esse monstro que a gente enfureceu, quando todo mundo pensava que tivesse morrido na guerra?!

- Lou, vamos considerar a cirurgia de troca de sexos mais seriamente, ele não pode nos reconhecer!

Ligam para o cirurgião e agendam uma entrevista. Estariam borrados de medo, se não estivessem há quase vinte e quatro horas trabalhando e vivendo a base de sucos.

Ele pendura o motor na grua e o baixa lentamente, com o carinho de quem está fazendo isso pela mamãe. Fixa, instala, testa e o carro está pronto (...) Ela vai imediatamente ver e estrear o Plymouth. Ele ronca forte e o filtro de ar sacoleja com vontade no capô (...) um toque no acelerador basta para ele sair do controle de novatos. Patrícia é experiente, ela faz bem mais do que tocar, ele sai fritando pneus e urrando forte pela pista de testes, com a sueca berrando de alegria no banco carona. Voltam extasiadas...

- Gozamos – diz Zigfrida, com a cara mais sem-vergonha do mundo.

Claro que as cenas chamaram a atenção dos visitantes do museu, que pela primeira vez (...) podem entrar e conhecer a vasta coleção particular da diva. Os carros brasileiros causam espanto, ver o logo da saudosa Willys em uma limousine é quase como descobrir a América. Ela dá aulas sobre antigomobilismo (...) Os paparazzi pegam carona e fazem perguntas bem inteligentes, para variar. A fileira de Opalas chama atenção especial...

- É na realidade o Opel Rekord alemão com mecânica Chevrolet de quatro e seis cilindros, respectivamente 151, 230 e 250 polegadas. Este é o Opala Diplomata com motor a álcool, de 140cv...

- Está falando do nosso velho motor pré-guerra Stovebolt? 140cv líquidos de fábrica neste motor??? E ele agüenta???

- Billy, você entende do assunto! A gente poderia ter conversado mais e melhor, se tivesse se revelado! Sim, robustez e durabilidade do carro e da mecânica são lendárias. São140cv e não é o auge. Ali, o Opel Ômega que, nos últimos anos no Brasil, recebeu o mesmo motor, mas apimentado para gerar 165cv com gasolina...

- POUTZ!!! Seriously??? Eu tenho que rever meus conceitos sobre o Brasil... Sou todo ouvidos.

E é uma verdadeira aula. A boa fama que os motores americanos têm no Brasil, chega a reverter a baixo autoestima de alguns presentes. Um deles trabalhou na linha de montagem da Chevrolet, nos anos sessenta (...) Manda para os executivos da GM que ainda conhece, e pede para esfregar nas caras de alguns orientais abusados.

Na internet, o banho de conhecimento que sua alteza deu gera debates. Algumas pessoas questionam se ela tem o direito que ser tão culta e poderosa. Isso poderia ser uma ameaça, talvez ninguém seja capaz de detê-la, se ela decidir se virar contra alguém (...) Dezenas de páginas com milhares de comentários e réplicas em um só dia, logo as redes sociais divulgam a existência desse fórum. A própria Patrícia toca no assunto, quando compartilham a notícia em sua linha de tempo...

- Como assim “ter direito”? Acaso existe lei que limite do desenvolvimento de uma pessoa? Alguém aí leu o livro “1984” e realmente aprendeu alguma coisa? Eu convido todos vocês a se dedicarem a algo útil e me alcançarem, em vez de ter medo de mim e querer que eu me ampute e abdique do que eu construí. Não se nivelem por baixo.

Isso também gera polêmica. Ela estaria confessando que é super poderosa, super culta, super rica, super linda, super inteligente, super capacitada e estaria esfregando isso na cara de todo mundo. Passam a ter então pavor de Phoebe (...) então surge uma teoria conspiratória tão estúrdia e exagerada (...) Patrícia e Renata se olham, fazem caras de espanto e incredulidade, levantam as sombrancelhas e disparam a rir. Zigfrida lê o que consegue e aproveita a idiotice para seus estudos sobre a criação de neuroses modernas. Vê uma fresquinha nascendo bem diante de seus olhos nórdicos.

Agora vão para a caminha, amanhã cedo abrem o Sunshadow Dead Train Fan Week (...) Chegam no garbo do Cadillac Fleetwood Imperial V16 1931, arrancando suspiros e gritos dos fãs (...) Abrem a convenção em meio a lucrativas polêmicas que aquela palestra rápida e improvisada sobre carros brasileiros suscitou. Fazer o quê? (...) Serviço de som e aplicativos informam sobre cursos, palestras, entretenimentos e novidades desta edição (...) Klauss tem mais trabalho do que imaginava, enquanto Matthew só observa-o se dividindo entre a cobertura, o trabalho de assessoria e o assédio à namorada. Às vezes precisa fazer o que já fizeram consigo em muitas ocasiões, como pedir ao colega que dê um tempo e deixe a moça respirar.

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