A CIA manda recado. A estação 185 mostra que a agência dá conta de quase todos os tipos de monstros, mas alguns cada um precisa enfrentar sozinho. Todos à bordo, o trem vai partir.
Maracanã cheio, mas longe do limite. De longe
a imprensa vê aquele Paradiso 1800LD pintado nas cores da banda (...) e já começa a tagarelar. Os fãs vão ao
delírio com os vinte e quatro acenando e atiçando às janelas. Lá dentro a
equipe os espera para o início do trabalho. Eddie coordena o aquecimento e
alongamento muscular, então passam para a preparação vocal. Os músicos de apoio
sobem ao palco e começam a entreter o público. Os cariocas sobem e se assustam
com aquele público, estão vivendo um sonho (...) Lá dentro o sexteto se concentra, pausa
bem a respiração, se dá as mãos e vai à entrada do palco. Rita toma a
palavra...
- Gente boa do Rio, afine o gogó, aqueça as
pernas e se prepare! Vem aí o Dead Train!
É o apocalipse. Os ghost drivers abreviam a
vida útil dos remendos e a festa começa. O som cristalino (...) reflete o tradicional e inflexível padrão de
qualidade dos amigos de Sunshadow. Os músicos convidados ganham não só a
experiência, como a simpatia de um fã que tem na sua designação quase um
gentílico.
Voam de manhã bem cedo para Curitiba. Vêem
pelos jornais o estrondo que conseguiram, com um elogio em especial pelo
prestígio dado a uma banda local (...) Claro, os comentários abaixo da linha ventral também
estão lá (...) Dão
uma olhada nos livros que ganharam, enquanto voam. Phoebe e Renata reconhecem
elementos espirituais legítimos em alguns deles, foram escritos por quem sabia
o que estava fazendo...
- Vou falar com a Glee a respeito desta
bruxa.
- Nós vamos. Pode ser uma aliada para nos
ajudar a salvar o mundo.
- Já estou ligando pra ela... Glee, mamãe que
saber que monte de malucos são esses, que você conheceu pela internet... Esse
tal Renato e essa outra Eddie... Desembucha!
Patrícia vai até o casalzinho, quer ouvir da
boca dela a resposta, olhando naqueles olhos azuis como piscinas naturais...
- Amor da madrinha, está tudo bem? Mesmo?
- Tô, madrinha. Chorei um pouco no ombro do
Tota, na volta, mas foi por causa da situação deles.
- É só isso?
- É. Eu já deixei um pouco para eles se
virarem até eu mandar a primeira mesada, quem nem o meu pai faz pros dele.
- Ele vai amar ouvir isso!
Anunciam a “curitissagem”, arrancando sonoras
gargalhadas (...) o estrondo equivale
a um terremoto assim que Patrícia se mostra. Enquanto isso, em Sunshadow,
Arthur vai com o filho ver como funciona exactamente a Culture Train. Glenda
praticamente comanda tudo, ela está em todos os lugares ao mesmo tempo (...) Ele fica atento aos detalhes, os procedimentos, os métodos, os
problemas e as soluções que encontram...
- Quer saber? Eu tenho um trabalho para
vocês. É um trabalho grande!
- Que tipo de trabalho?
- Hollywood, meu filho. Contractem mais
gente, vocês vão aliviar a pressão que eu sofro naqueles estúdios... Bart, meu
filho vai me salvar de novo, acompanhe a coversa...
Ele explica o que tem em mente (...) Amilton pega o smarthphone da
filha e fala com Eddie, ela acha a idéia maravilhosa (...) A sinesteta,
tampando a visão periférica direita, para não ter enjôo com um cartaz em letras
coloridas e customizadas, conta à irmã (...) Patrícia liga para o filho, avisa que eles têm
sinal verde para começar a investir, depois liga para Josephine, que liga para
Arthur e vai logo em seguida para os estúdios, avisar que Arthur encontrou uma
solução para equilibrar seu trabalho no cinema com a vida doméstica. Os estúdios
ligam para a Culture Train, Arthur ainda está lá e confirma, pede que mandem os
técnicos para avaliarem como a cooperação poderá se dar.
É em clima de festa que a banda vai vistoriar
o local do show, e conhecer os doidos que aceitaram o convite. Carly se sente
em casa, com aquela quantidade de vintagistas pelo caminho (...) Klauss vê aqui um bom meio de agradar a amada (...) O Busscar Jumbuss também pintado de verde e preto, entra no estádio enquanto os
integrantes saúdam o público. Lá estão os convidados, vestidos a caráter. Carly
desce em um vestido de saia ampla, azul marinho com cinta e gola brancas, esta bem
ampla e desabotoada. O chapéu côco branco com rosas de seda, completa o
deslumbre para aqueles curitibanos. Patrícia de calças rancheiro vermelhas e
camisa branca de gola careca, com ramos de flores subindo ao redor dos botões e
formando um colar. Eles vão ao delírio.
Por agora é apenas uma confraternização,
enquanto eles vistoriam tudo. Testam a acústica, pedem alguns vasos com plantas
em pontos específicos, testam de novo e aprovam. Um colaborador faz o sinal,
Rebeca corresponde e pede licença...
- Outras agências vieram com vocês?
- Várias, incluindo a CIA.
- Há uma conspiração para matar o embaixador
americano, no próximo encontro que tiver com a presidente. Este pendrive tem
tudo o que conseguimos até agora.
- Quando foi isso?
- Descobrimos há três dias, quando recebi uma
mensagem de celular por engano. Fomos ver e confirmamos.
- Tem gente grande da política brasileira
aqui! Por que fariam isso?
- Ainda não sabemos, mas com certeza tem a
ver com a guerra ideológica que o país vive. Isto aqui tornou-se um inferno,
Barbarian! Opinião virou crime!
- Bom trabalho, Caju... Patty, temos um
problema aqui.
Vão as quatro. O assunto é grave, convocam os
agentes da ABIN e da CIA que os acompanham e pensavam estar incógnitos. Mostram
provas tão contundentes quanto inúteis para o congresso nacional (...) mas o caso aqui é espionagem e preservação da relação bilateral (...) A
máquina gigantesca e implacável da agência americana de inteligência consegue
rastrear todos os envolvidos. Terão uma conversa com os líderes, na próxima
reunião que tiverem em uma fazenda grilada, perto de Belém. Por “conversa”
leia-se “suas vidas não valem nada para seu povo, que dirá para nós. Estamos de
olho em vocês”. Deixarão claro (...) o quanto é fácil tudo parecer um acidente.
&
No final do ensaio, quando estão todos rindo
e as bandas convidadas vêem que eles são mais humanos do que imaginavam, Klauss
aparece de camisa rancheiro bege, uma gravata borboleta azul escuro, corte
militar, calças sociais pretas e sapatos envernizados. Carly arregala os olhos,
dá um sorriso pelo lado esquerdo da boca e nem se vê caminhando em passos de
pluma até ele...
- Achei que iria gostar.
- Você sabe convencer uma mulher!
- Você me convenceu a largar a Alemanha, eu
tinha que fazer por merecer.
- Avisa as pistoleiras que você já tem dona!
E dona brava!
Ao som de cantarolas de “É casamento!”, eles
se beijam. Os pais da moça são avisados, se olham, se abraçam e choram. Nancy
tem trabalho para convencê-los de que ele é que vai mudar de país, não ela.
Estão viajando a trabalho (...) mas um creme doce de frutas altamente calóricas não fará mal.
A noite seguinte é a despedida do Brasil (...) Patrícia dá início ao show. Eles repassam suas experiências e técnicas aos
brasileiros do melhor modo, na prática. Chamar fãs ao palco para envolver o
público, é um dos expedientes preferidos, todos se sentem representados pelos
felizardos. É a melhor parte do trabalho para os dezoito.
Quando voltam ao hotel, tão exaustos quanto
felizes, mais de cem quilos de chocolate artesanal os esperam (...) Patrícia puxa o freio e confisca tudo. Só
comerão aquilo quando puserem os pés em solo americano (...) Em Sunshadow eles podem se esbaldar, mas terão uma
preocupação quando chegarem. Elias começa a sentir dores abdominais, elas
irradiam para o tórax, se estendem ao dorso, tomam a cabeça de uma vez e logo
está se contorcendo com dores fortes generalizadas. Chega desmaiado ao
hospital, com a esposa quase em prantos. Os exames de imagens complexas
conseguem identificar e quantificar a crise...
- Descobrimos finalmente o que ele tem! Não
sabemos o que é, mas já sabemos como combater.
- Por favor, doutor, faça algo logo!
- Estamos fazendo, ele vai ficar bem. Essa
crise revelou exactamente como essas dores agem e, desculpe dizer isso, mas é
uma contribuição e tanto para a medicina!
- Onde está ele?
Nancy e Richard chegam apressados (...) O homem baixo de membros ligeiramente mais
curtos do que o proporcional está sedado. O sono induzido o poupa da tortura
electroquímica, enquanto as enzimas trabalham. Na manhã seguinte (...) São recebidos com calor, sim, mas
Patrícia conhece aquela gente desde que nasceu, aquelas caras não são as
festivas de sempre. Sandra nem entra no carro, corre como louca ao hospital,
desviando e saltando para não perder tempo. Só vêem um vulto violeta e branco
passando pelos corredores, e uma loura enfurecida surgir dele, exigindo o
paradeiro do pai. Se esquece de tudo ao vê-lo inconsciente. Se ajoelha ao
leito, segura aquela mão pequena e chora. Ele já suportou dores tão intensas (...) que não imagina o monstro que foi
capaz de derrubá-lo.
Os outros chegam em seguida, com Patrícia
exigindo satisfações do próprio Criador. O ex-agente da MI6 que o socorreu, se
limita a dizer “A dor que o derrubou teria matado qualquer um de nós” (...) Josephine desembarca no
fim da manhã, entra sem se anunciar e ninguém se põe em seu caminho. Encontra
Sandra ao lado dele, se recusando a sair de lá enquanto não houver uma melhora
mínima e consistente. É médica, saberá quando acontecer...
- É meu pai!
- A dor dele vai curar muitas. Ele vai
acordar e não vai mais sofrer.
- Eu quero meu pai!
- Queria que uma fração dos filhos fosse como
você. Vou te acompanhar até ele reagir.
- Obrigada...
Ele começa a respirar normalmente no início
da noite, com as enzimas sintéticas já em pleno funcionamento e os agentes
neuropatogênicos neutralizados. Acorda lentamente, tentando se situar, se
lembrando aos poucos do que aconteceu e da agonia que tomou conta de tudo.
Pensou que fosse morrer. Olha para o lado, vê a filha e se indigna, pronto para
dar sopapos...
- Quem te fez chorar?
- Pai...
Ela abraça aquele corpo tão geneticamente
diferente do seu, que um alienígena diria que são espécies distintas. A diva
afaga os cabelos recém-cortados...
- Sua missão kármica aparentemente já está
completa. De agora em diante vai ser mais fácil.
- “Fácil”? O que é esse tal de “fácil”?
- Pai... Meu pai... Fiquei com medo!
- Vaso ruim não quebra, meu amor. Não vou
embora tão cedo!
- Elias!
Patrícia chega com Enya. Com o marido
finalmente se recuperando se deixa chorar, enquanto os médicos agradecem Deus e
Darwin por ele ter sido forte o bastante para suportar vivo aquelas dores
dilacerantes (...) Alguns sites sensacionalistas já têm prontinhas as
homenagens póstumas (...) mas o vêem sair
vivo do hospital. Amparado por esposa e filhos, mas hígio e com os melhores
prognósticos...
- Merda... Tive tanto trabalho pra traduzir
esse português de loucos, com essas expressões regionais estúrdias, e ele sai
vivo? Porra, é sacanagem!
- Fala baixo, senão é capaz de um míssil
explodir a redação, idiota!
Robert Richard não tem noção do que
aconteceu, sabe que o pai sofreu e chora no colo dele (...) Sandra e Kurt assumem os negócios até
Patrícia o liberar para trabalhar. Ele recebeu bem a história dos pais
biológicos da filha (...) mas também se irritou
com a canalhice dos filhos ingratos.
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