domingo, 24 de março de 2019

Dead Train in the rain CXCVI

    Ultimato e casamentos.  A estação 196 acelera um pouco com o cuidado de não deixar ninguém de fora dos vagões. Embarquem, o trem vai partir.

Leonard supera a meta, levanta cento e vinte quilos nos alteres, exibindo o peito que nunca mais depilou, mas penteia com capricho (...) Evelyn arreganha um sorriso malicioso. Aquele rosto de menino arremata maravilhosamente bem aquele corpo robusto, com aquela barba bem cortada. Eles marcam a data do casamento. Desta vez ele agüenta e corre ao lado dela até sua casa, mas Rebeca e Ronald estão na Máquina de Costura, tanto melhor. Correm para lá e dão a notícia a todos de uma só vez. Como reza a tradição, são carregados e jogados na piscina, onde Norma, Diana e David pulam assim que chegam.
A alegria contagiosa não chega a Goiânia, os filhos ingratos viram os pais na festa de casamento da primogênita, pela mídia, estão furiosos por terem escondido tudo (...) Não demoram a encontrar o endereço deles, para tirar satisfações e dinheiro, querem tirar férias no exterior no fim do ano...
- Pois vão tirar dinheiro da puta que os adoptou!
Sandra foi avisada em tempo hábil. Com ela estão o marido e as fiéis comparsas de organização. Ela é directa e não dá chance de revide (...) investigou os últimos dez anos de ingratidão e exploração, que tem as fichas corridas de cada um e os problemas que já enfrentaram com a polícia, por picaretagens...
- Eu não vou impedir que eles ajudem vocês, mas só pelo respeito que eu tenho por eles e vocês nunca demonstraram! Vocês estão mais sujos do que poleiro de galinheiro.
- Nóis também tem direito, uai! Nóis também é da família...
- Vocês não têm direito legal e muito menos moral! E por falar em moral, aquele agiota parou de te perseguir porque eu o paguei, depois dei um jeito nele. Minha mãe me pediu quase chorando e eu salvei a tua pele, então fica no teu canto que a tua vida tá falada, malandro! Antes que comecem a chorar, eu sei que vocês têm filhos pequenos, sei que eles não têm a mínima culpa pelo caráter dos pais, por isso mesmo vou deixar de lado a vontade de torcer seus pescoços e farei minha proposta uma só vez. Banco a educação e a saúde dos que já nasceram, até a faculdade, mas só deles. A condição é eles morarem aqui, com os avós.
Eles pensam, balançam as cabeças para seus cérebros pegarem no tranco, conversam entre si e Sandra lembra que os petizes serão baitas despesas a menos para eles (...) avisa que o tempo e a paciência estão acabando. Os quatro se mudam para a casa nova na mesma noite. Eles voltam para Sunshadow logo em seguida, com a facilidade que os ricos têm para se deslocar. Não vão resolver os problemas sociais do mundo se pararem de usufruir de seu trabalho (...) Há uma agenda de shows e três casamentos no ano para darem conta.
De manhã, logo após o treinamento, Patrícia quer saber dos resultados...
- Sem escolha, eles aceitaram minhas condições. As crianças moram com meus pais e eu pago até a faculdade deles, mas minha verdadeira intenção é privá-los da convivência com maus elementos que freqüentam aquelas casas.
- Ah, eu não acredito!!! Você virou madrinha dos seus sobrinhos!
É festa. Jogam-na na piscina de onde acabaram de sair. Em casa, cuidando dos negócios, ela pensa bem e conclui que é mesmo o que se tornou. Conversa com Giovanni, liga para Goiânia e comunica seu status, agora quer satisfações freqüentes dos garotos.
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Phoebe sai de casa com Aretha nos braços (...) a 30cm do chão, diante de uma imprensa que mesmo acostumada ao extraordinário, não se furta de gastar gigabites com aquela cena. Ela fez outro transdrone, aperfeiçoado, mais silencioso e fácil de se carregar. Luppy olha para a moça sobre aquela coisa, flutuando porta adentro, deixando a flanela e o queixo caírem. Os outros vão à sala e a reação é a mesma...
- Phee!
- Você prometeu, eu esperei, fiz minha parte e construí um novo.
- Eu sei! Desce...
Ela alivia a pressão entre os calcanhares e o aparelho desce suavemente. Aretha, sem a menor noção de perigo, se esbalda. Phoebe desce e se joga no sofá, enquanto primas e tias adoptivas cercam sua invenção. Patrícia se senta com ela (...) mas recebe um pendrive antes de abrir a boca...
- Para organizar o mundo.
É uma senha. Ela leva o dispositivo para a biblioteca e pede para não ser incomodada. O que vê seria interessante, se fosse uma cena de filme, mas aquele cristal crescendo dentro de um líquido em um recipiente preparado, aparentemente controlado para ter o formato desejado, é real. Em uma pasta estão as instruções (...) Convoca uma reunião da cúpula, pede que Angel traga o experimento para explica-lo aos comparsas...
- É o mesmo princípio de recarga por indução aqui com polarização por laser, são dez mil pontos indutores por polegada quadrada, em todas as paredes...
Os cientistas da organização gravam cada palavra, no decorrer da explanação fica claro que é muito mais do que um novo modo de prototipação rápida (...) é inegável que aquilo é um trabalho de alto valor estratégico. Knockout pergunta no que pensava, quando decidiu fazer aquilo...
- Abastecimento em locais remotos e inóspitos. Assim como produzi esta amostra de quartzo, posso cristalizar metais dissolvidos, com pureza próxima dos cem por cento. Por exemplo, o magnésio dissolvido nos oceanos. Mas também sintetizar nutrientes, se as pesquisas avançarem para esse lado.
Star lidera as conversas, todos decidem o que fazer e ela encerra a agenda da organização. Então todo mundo cai de montinho no gênio com o bebê nos braços. Ela é mimada, carregada e jogada na piscina (...) Sanaa, após ser puxada para a piscina, pergunta se é realmente séria essa história de salvar o mundo. Patrícia apenas diz “Há coisas que mamãe não pode contar sob hipótese alguma, há coisas que eu posso contar quando for propício”.
O presidente recebe notícias da novidade, até onde Star acha que ele deve saber. Ele aproveita o canal aberto para pedir opiniões, especialmente sobre o Brasil...
- Quer mesmo minha opinião? Deveremos estar prontos para ajudar, quando for necessário, mas até lá deveremos ser o mais neutros possível. Não importa de que lado pareçamos estar, neste momento, vão interpretar isso como apoio ao lado oposto. É melhor não mexer lá enquanto não for realmente necessário. Sim, as coisas vão piorar muito ainda, a ponto de deixar até mesmo os terroristas perplexos, mas deixe como está.
Ele acata (...) Josephine sai de sua armadura e vai para os braços do marido, no deck da piscina, onde ele também medita sobre a deterioração da civilização, em contraste com os progressos científicos já conseguidos. Espera conseguirem construir algo para tomar o lugar, mas a tempo.
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Itzhak chega constrangido (...) após um mês de castigo sua mãe deu a bênção para o que decidisse. Dos ataques que receberia por sua escolha, porém, não poderia ser poupado. Deu uns tapas nos recalcitrantes e mandou o filho ir atrás da felicidade. O judeu entra em Sunshadow com o coração na mão (...) Vê os seis rindo à porta da Máquina de Costura, estaciona o Buick Regal vermelho, com a estrela de David tridimensional pintada no capô. Inconfundível entre tantos outros. Ele toma coragem, respira fundo e vai ter com a mãe da donzela. A estonteante senhora de largo sorriso o nota e reconhece o fornecedor de nozes e franquiado da Sandra Cocada, que no final ganha em dobro, porque nozes são parte de um dos recheios. Ele tira o quipá, em sinal de respeito e ganha em definitivo a atenção da diva...
- Bom dia, Itzhak. A que devo sua visita e sua timidez?
- Bom dia, amigos... Eu poderia falar com a senhora e seu marido?
Eles reconhecem aquela história (...) Imaginam e começam a rir, porque as únicas garotas disponíveis naquela casa são muçulmanas. Conhecem histórias de casamentos entre judeus e muçulmanos, mas são poucas e nem sempre bem aceitas em seus locais de origem. Suha está com sua primeira turma do dia, enquanto o amigo conversa com seus pais adoptivos...
- Sua mãe não te bateu por isso?
- Sim, senhor, ela me bateu e me deixou de castigo por um mês... Mas hoje ela concordou.
- Suha sabe disso?
- Não, eu acho que ainda não.
Complicou (...) dizem que ele começou pelo lado errado. Mesmo levando em conta as tradições das culturas e tudo mais, avisam que é com ela que deve conversar. O conhecem (...) pedem que volte à tarde, quando ela estará de volta, cansada, mas pronta para ouvir. Ela chega acompanhada de Elizabeth e Prudence, com quem tem contribuído em sua epopeia literária. Luppy está saindo para a última tarefa e avisa da visita de hoje, sem dar muitos detalhes...
- Itzhak é um homem que fornece nozes de vários tipos para nossas empresas.
- Tá, você sabe quem é ele, mas você o conhece?
- A você eu conheço bem o suficiente para saber que está escondendo algo. Desembucha, o que ele tem a ver com essa conversa maluca?
- Fale com seus pais, os três estarão de volta daqui a pouco. Não me pergunte mais nada, não estou ouvindo! La, la, la, la, la...
Sai para buscar o molho que Renata prometeu para o evento. O casal chega pouco antes do judeu, como combinado (...) Ela é directa, o rapaz veio falar consigo, enfrentou a família, ficou de mal com os pais, conseguiu a bênção da mãe...
- Tô chocada. Por que ele não falou comigo?
- O rapaz é um negociante nato, mas...
- Ok, já entendi... Rapaz tímido, hein... Comecei a gostar.
Ele chega, consegue falar, mas não com a desenvoltura a que está acostumado. A mulher em modelito de camisa amarelo ouro e saia longa verde escuro, no melhor estilo anos quarenta, se comove (...) Ela aceita iniciar uma relação, por enquanto bem comportada e quer conhecer a família dele. Patrícia sugere mais, chamar os pais dele para o casamento de amanhã, como convidados de honra. Ele comunica, os pais estranham, mas vêem isso como um gesto de aproximação das famílias.
Não seria necessário, mas eles levam um singelo presente, uma torat que é bem aceita pelo noivo. Conhecem a garota, uma mulher de trinta e sete anos, bem cuidada, bem instruída, ciente de que Deus não é idiota para confiar sua sabedoria literal a criaturas extremamente limitadas. Ela conhece as bíblias e a torat, conhece as origens de sua religião (...) Os pais incrédulos do noivo estão trêmulos ao lado de Jose De Lane. Uma colega da revista foi enviada para cobrir o casamento. A cerimônia tem início e Klauss treme feito vara verde. Carly aparece com o pai, em seu longo vestido pérola com botões do ápice à base e o espesso véu de três camadas (...) A orquestra toca a marcha nupcial e hipnotiza os noivos, que só se vêem de volta ao mundo quando Renata diz “Eu vos declaro marido e mulher”, do resto não se lembram. A família de Itzhak fica bem impressionada com aquelas pessoas, incluindo as muçulmanas. Ficam para ver o casal sair no Bugatti Royale para o aeroporto. Voltam após uma semana de esforços intensivos devidamente recompensados. Quando anunciam a gravidez, Joan começa a berrar e correr pela cidade, anunciando que terá um sobrinho. Volta meia hora depois, nos braços de Robert, esbaforida, ainda repetindo a ladainha.

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