Dead Train in the rain CLXXXII

    Duplo de urânio! A estação 182 consolida a mítica banda Dead Train, de quebra tem um noivado inusitado. Embarquem, o trem vai partir.

Evelyn Termina o trabalho por hoje. Está treinando gente nova para a orquestra, são pelo menos seis meses até poderem se apresentar no padrão Dead Train de qualidade. Dá as recomendações de sempre (...) sigilo faz parte das atribuições que pleiteiam. A tutora da orquestra aguarda a maestrina, quer que trate de um assunto delicado em local reservado...

- No meu escritório? Mas vocês sempre me chamam para tratar de emergências no seu...

- Oi... Eu... Eu decidi que não quero mais voltar pra Las Vegas.

Leonard, tímido como nunca antes (...) Abre uma caixinha de veludo violeta dark com strass nas bordas e, em uma almofadinha de pelúcia pink escândalo, exibe o par de alianças que fez, mesmo arriscando ainda ser muito cedo...

- Quer se casar comigo?

- Meu veadinho... EU QUERO!

Após quase sufoca-lo, o puxa correndo para casa, quase ficando previamente viúva (...) Ele chega à casa dela quase botando os bofes para fora. Os pais da moça socorrem o rapaz esbaforido, avisando de pronto que ele precisa aprimorar a forma física, se quiser sobreviver a uma relação com uma sunshadower. Evelyn mostra a aliança de noivado, com um sorriso maior do que a boca...

- Cara, cê tá doido? Ou você vira um atleta, ou não tem casamento! Tu vais morrer na lua de mel!

- Vamos comemorar pelo caminho!

- Caminho... pra... onde?

- À academia, Leo! Você não vai agüentar o pique dela com esse fôlego curto! Vem com a mamãe!

Coloca casal no banco traseiro da Escalade preta e verde com kit Gardner Hub 100kWh, afagando o rebento, e então seguem ruidosamente à Macbeth. Alguns paparazzi reconhecem Leonard e o boato explode (...) Se essa mulher for a maestrina mais famosa da América e filha de dois membros da Dead Train, é garantia de polêmica e patrocínio para mais de ano! Vão atrás daquela Cadillac.

Quando chegam e descem, vêem um comboio com centenas de bisbilhoteiros pendurados para fora dos carros (...) Os dois saem aos beijos e abraços, ele ainda meio mole pelo esforço intenso. Enquanto a internet entra em polvorosa e acirra ânimos, ele é matriculado e começam imediatamente os exames de avaliação justo com Julius Macbeth, tio das lices...

- Meu amigo, sem onfensas, mas o que você faz além de carregar aquele saxofone?

- Eu corro nos fins de semana... Ou corria, antes de morrer...

- “Fins de semana”? Quantos quilômetros?

- Uma volta no quarteirão, pra manter a forma.

- Caso grave! Você é um penso-que-sou-atleta e quer se casar com uma exímia praticante de artes marciais? Vamos começar pelo condicionamento básico, mas quero ver você levantar pelo menos cem quilos nos alteres, até marcar a data, entendeu? Ela levanta!

- Meu Deus, eu vou me casar com a She Hulk!

- Ouviram? Ele vai se casar, mesmo com medo de apanhar! Woohooo!

- Oi! A gente pode ver o massacre?

Patrícia se anuncia e aos demais, titulares e novatos. Assistem todos à estréia de Leonard na vida dura de Sunshadow. Ele vê, assustado, garotas aparentemente franzinas carregarem manilhas pesadas para treinar ao ar livre, deitadas na grama, cercadas por flores campestres e um riacho artificial que desemboca em um laguinho cheio de peixes coloridos (...) E Leonard sofre! As calorias que queimava (...) não acrescentaram massa muscular significativa. As risadas proliferam, enquanto hackers se mordem de raiva ao tentar invadir as contas de internet da banda. Cada vez que tentam uma senha, são mandados para a central da Dead Train Corporation, que utiliza os computadores topológicos. Seus equipamentos simplesmente não reconhecem nada, entram em pane e travam, mas a organização os localiza, cataloga e investiga até a quinta geração anterior dos gênios frustrados.

Eles se reúnem em um fórum secreto que já não é mais secreto, pois estão sendo vigiados por um colaborador de base, que passa ciberneticamente entre eles e não é detectado (...) Começam a acreditar que Patrícia é mesmo membro de uma conspiração alienígena. O colaborador se reporta a Star, ela autoriza e ele coloca um gif enorme com a enterprise acelerando em dobra. Eles entram em pânico, tentam deletar o fórum, mas não conseguem mais subtrair nem um bit (...) Se desconectam pela primeira vez em seis anos e passam a falar por celular, mas também estão sendo vigiados. Não são garotos marotos que só querem brincar, eles já tiraram sites do ar, alguns de utilidade pública, só porque não concordaram com os modus operandi ou a ideologia de directores, colocando um emblema de pirata com “The Net Revengers” ao redor. Queriam fazer o mesmo com o cibertrain.

De volta a Sunshadow, Leonard está exausto, após os exercícios leves. É levado à lanchonete da imensa academia, que não dá a mínima para a onda de compactação estrutural, conveniência ao alcance das mãos, empolgação forçada, babás cibernéticas e modas de gosto duvidoso (...) Ele come uma salada de frutas e cereais para começar, depois uma baita omelete com tudo a que tem deireito e suco feito da fruta na hora (...) Ele estranha muito, mas se satisfaz sem se empanturrar.

Voltam à Máquina de Costura se desmanchando de rir. Encontram, Melinda e Aubrey mimando Lady Spy...

- Eu tinha que dar pessoalmente e notícia. É sobre o Golden Train Age...

- Discos de ouro, presumo – diz Patrícia.

- Na verdade é um duplo de urânio... Em plena era do download, ele vendeu cento e dez milhões de cópias!

O disco do jubileu de ouro está vendendo horrores! (...) Na sexta-feira à noite, lá estão eles, garbosos, elegantes, arrancando suspiros e causando histeria por onde passam. O sexteto mais famoso da história mata seus desafetos de inveja, recebendo das mãos de Tobby McGinness os discos de urânio emoldurados, e alguns discos de ouro e platina, que já são rotineiros. Em trajes de gala, os seis amigos de Sunshadow exibem aquele acervo, que exigirá intervenções na galeria do escritório central.

Rapidamente os desafetos publicam desdéns a premiações artísticas, nas redes sociais. Quem até ontem se ressentia por não ter nem um disco de alumínio, agora tacha o prêmio de “opressão mercadológica pela concorrência agressiva na música”. Ainda acusa o sexteto de divulgar um modo de vida segregatório (...) de alienar os fãs com músicas sem atitude e nunca se engajarem em causas humanitárias. A reação vem primeiro dos ex-desafetos, que avisam para ele parar com isso (...) Ele insiste que é fodão badass, cheio de atitude e não tem medo de dizer o que pensa. A segunda reação vem de amigos dos seis, perguntando de várias maneiras de onde o cidadão os conhece (...) se ele alguma vez realmente ouviu algo deles.

A terceira e apocalíptica reação vem dos ghost drivers furiosos, que vai de um simples link para ele mostrar qual letra da banda faz o que ele diz, até exposição de podres e ridículos que ele fazia de conta que não existiam (...) A coisa fica séria. Mesmo achando que ele merece, Julia interfere, pede que ele tenha um mínimo de ética profissional e evite mais um processo, entre tantos (...) que já enfrenta. Ele apaga a postagem, coloca selfies idiotas no lugar e finge que nunca escreveu aquilo.

Patrícia, perguntada por um fã a quem agradeceriam pelo sucesso, responde de pronto...

- A você.

- A mim?!

- Nossa formação devemos às nossas famílias, mas nosso sucesso devemos inteiramente aos nossos fãs. Vem, me dá um abraço.

Ele vai, abobalhado e sem acreditar que está acordado. Os seis fazem montinho em cima e ele se vicia naquele abraço. Nem se vê voltando para a plateia.

Em Sunshadow, Sandra vê Julia poupar uma viagem e uma surra (...) Robert Richard aparece cantando e dançando, arrasta a irmã para o meio da sala e a festa dura até o fim do programa, quando ele finalmente se cansa e dorme.