quinta-feira, 21 de março de 2019

Dead Train in the rain CXCIII

    O homem que constrangeu Patrícia. A estação 193 mostra a única vulnerabilidade da mulher mais poderosa do mundo, o que não significa que deva ser atacada. Todos à bordo, o trem vai partir.


Elias sai com Enzo da Vintage Way of Life, onde ele concentrou o comando dos negócios (...) Conversam sobre o casamento dos filhos, da perspectiva de netos e do estilo de vida que escolheram. Comenta que a filha aprendeu a dirigir na idade em que ele mesmo mal andava de bicicleta, já que nunca teve uma (...) Enzo fica feliz pela sorte que os netos terão. Um sujeito chega para o brasileiro perguntando “E a copa”? Ele reconhece aquela voz. Olha para o lado e suspira “Meu Deus, vocês de novo”...

- Mas é a copa mundial de futebol!

- Ao inferno com essa baboseira que provocará um rombo sem precedentes nos cobres públicos! Por que vocês não cuidam de suas vidas, pra variar?

- Ei, vocês já estão ficando inconvenientes! Não vão ganhar nada irritando ele e vão perder muito se a filha dele souber que o estão irritando. Guarde suas conclusões para quem acredita nelas.

- Mas ele está desvirtuando sua cultura ancestral primitiva! Todos os países da América do Sul estão vendo suas culturas das florestas destruídas pelo modo de vida ocidental!

- Meu caro idiota – irrita-se – a América do Sul é parte do continente americano, que fica todo no ocidente, portanto eu sou ocidental! Você é capaz de localizar seu país no mapa, sem precisar de legendas? Aliás, já que está tão preocupado com culturas primitivas, por que não estuda e divulga as dos índios americanos, em vez de encher minha paciência com assuntos que você e seus amigos NÃO CONHECEM?

- Cara, cê tá enchendo o saco do meu pai de novo?

Em três minutos, após a área ser evacuada de civis, Patrícia chega (...) Acolhe a afilhada como se não fosse ela a ameaça real e iminente no ambiente. Dirige-se indignada ao chato em tom militar avisando dos riscos que está correndo, e da antipatia que ele e seu grupo estão angariando na cidade...

- Ignorar vídeos, depoimentos e laudos médicos é problema de vocês, mas importunar as vítimas advogando em prol dos agressores excede em muito a sua liberdade individual. Meu afilhado não é um membro de nenhum povo ribeirinho e nem de alguma floresta, que são tipos de comunidades completamente diferentes! Ele nasceu e foi criado em cidades! Não é um coitado manipulável por superstições pseudointelectuais como vocês, é um manipulador e nunca teria sofrido o que sofreu, se tivesse cedido às facilidades desse poder. Avise ao seu grupinho para escolher AGORA entre manter o respeito ou manter distância! Venham, amores da madrinha. Valeu, Enzo.

- Por nada, Patty. Vamos mudar de assunto, vamos falar de netos!

Voltam a falar de netos, o que muda drasticamente o humor da perigosa. Um paparazzo mais “íntimo” ouve, se aproxima e se arrisca, mesmo sabendo do que aconteceu há pouco...

- É, Giovanni e eu estamos pra marcar a data, mas vai ser neste ano. Tá convidado.

- WOOOOOOHOOOOOO!

Dá a notícia em primeira mão e esfrega o status de convidado nas fuças dos desafetos.

&

Informam primeiro Star, para ela decidir como contará a Princess. É uma saia justa que a organização jamais tinha enfrentado. Ela medita, olha para Nelson, decide ligar primeiro para Nancy...

- Eu sinto muito pela família, mas não é o único homem no mundo que se apaixonou pela minha filha... Como “especial”?

- Ele era um bilionário marroquino, Hassam Abdulah Benkirani, a fortuna que deixou é bem difícil de calcular, boa parte dela está em um bunker. Um muçulmano moderado que, graças a nossa Patrícia, veladamente adoptou a linha interpretativa do islamismo, mas mesmo assim nunca negou a ninguém que largaria tudo se ela o chamasse.

- A família sabia disso? Oh, que tola! Lá os homens podem praticamente tudo!

- Ele deixou metade da fortuna para ela, inclusive o bunker.

Ouve-se um longo e profundo suspiro do lado de Sunshadow. Um sussurro de lamento e então ela retoma a ligação...

- Me dê toda a informação, eu falo com ela.

Fica mais pasma a cada dado. Liga para Patrícia e avisa que está indo para falar consigo e com Arthur, a sós. Renata recebe um pedido quase desesperado do outro lado, é Hassam implorando para que convença a amiga a aceitar sua prova de amor, sem o quê não poderia se desligar do mundo....

- Mom, quem é ele?

Naomi o viu (...) Leva-a consigo para a Máquina de Costura. Encontram Nancy assim que saem à calçada...

- Eu sei de tudo, a gente tem que convencer a Patty a aceitar essa herança, depois vemos o que fazemos com ela.

- Imagina se todos os apaixonados decidem fazer o mesmo... A civilização vai entrar em colapso.

A médium explica o que pode no curto caminho, preocupando mais a matriarca. Patrícia e Arthur esperavam por Nancy, ver Renata e a pequena Naomi consigo só assusta, porque a coisa então é realmente séria. Vão para a biblioteca (...) Nancy se senta ao lado da filha, pergunta se ela conhece Hassam e explica o que soube. Os olhos arregalados do casal confirmam que conhecem e parece que preferiam não tê-lo conhecido, mas não é bem assim...

- Nos tornamos um pouco amigos dele, embora nos falássemos pouco... Ele era criticado por muita gente por ser considerado tolerante demais com as filhas... E só teve filhas... O maior problema é que eu acho que sei o que faz parte da herança: gente. Ele disse querer que eu aceite a prova de amor, mas quer na verdade que eu corresponda de alguma forma ao dele, e infelizmente terei que corresponder, senão aquelas mulheres estarão em apuros. Hassam, seu safado, você venceu.

Assim que terminam e abrem as folhas da porta, Luppy avisa da presença de um funcionário do consulado marroquino. É um velho conhecido da organização (...) Patrícia avisa que sabe do ocorrido, mas fica paralisada quando lê o testamento. Como previu, ele deixou suas três mulheres e oito filhas ainda solteiras sob sua tutela, mas o inventário do que lhe foi legado como herança...

- Meu... Deus!

- Não esperava por isso, senhora?

- Não... Arthur, me ajude... Hassam, seu louco! Ele tinha repartido tudo em vida e multiplicou várias vezes o que queria me deixar... Depois de morto ele conseguiu me constranger! Isso é vingança!

- Ele nunca se conformou, senhora.

- Eu imagino... Sente-se, vamos tratar de tudo. Luppy, um lanche, por obséquio.

A notícia não tarda a se espalhar em seu círculo privativo. Marcia olha para Phoebe e avisa que ela não está livre disso (...) Ela vai com marido e filho reclamar a herança vingativa. Ele sabia que ela jamais recusaria acolher pessoas desamparadas (...) só as partes envolvidas sabem desta viagem. Há um Phanton dourado com a Flying Lady esculpida em cristal sobre base luminosa com o radiador em ouro branco, aguardando por eles no aeroporto; também é dela, e o dourado não é uma tinta. Ela usa uma shayla verde e preto de trama bastante compacta para manter a discrição. O motorista presta muita atenção, dá razão ao finado patrão (...) se entregaria facilmente aos seus encantos...

- Madame, sua humilde residência.

O equivalente a metade da área de Sunshadow abriga a propriedade, que tem uma mansão do tamanho de Versalhes e cem casarões para visitas (...) um verdadeiro paraíso em proporções supra salomônicas. Páram em frente à casa principal, em estilo escandalosamente árabe, com cinco metros de pé direito em cada um dos três pavimentos e uma circulação de ar invejável, pelas janelas longilíneas que unem pisos e forros. Entram. Tudo remete à abundância, à generosidade e à esperança de dias melhores. O advogado aparece, acompanhado das três viúvas... Todas poderiam ser suas filhas (...) As filhas solteiras estão apreensivas, esperando no salão de reuniões. Duas delas são filhas da falecida (...) Dentro de casa usam roupas que misturam o mundo árabe e a alta costura, com um pouquinho de elementos prêt-à-porter das pessoas comuns. É uma surpresa para elas a escolhida de Hassam falar bem seu idioma...

- Eu poderia ser mãe ou avó de todas vocês. Ele era mais esperto do que aparentava, eu sabia, mas não imaginava que fosse tanto! Você conseguiu me vencer, mascate... Quem diria...

- A senhora Petty está a par do inventário, mas como executiva eu creio que gostaria de reler o testamento.

Ela aceita. Lê em voz alta o que lhe cabe (...) Ela sorri de perplexidade, meneando a cabeça e repetindo “Meu D’Us, que loucura” em voz baixa. Recolhe os óculos de leitura (...) Suspira, olha para filho e marido, mas as decisões desta vez são todas dela (...) há onze vidas à sua frente que dependem do que decidir a seu respeito. Olha para o advogado, que também foi pego de suepresa, mesmo sendo a pessoa da maior confiança de Hassam. Pede inspiração à avó, lembra-se do que Enya disse sobre Elias: Ele é capaz de amar e ser pai de qualquer criança que deixem sob sua guarda. Pesa prós e contras. Assina os papéis e torna-se então formalmente dona de tudo aquilo...

- Abu, quer ser meu amigo?

- Como sempre fui do senhor Hassam! Seria uma honra!

- Então vamos às regras. Vocês, venham, tudo isto também é de vocês.

Acompanham os americanos, liderados por Patrícia, enquanto ela dá as regras de convivência (...) O resumo é “eu mando e vocês obedecem” de um jeito muito amável, meigo e sutil, que seus comparsas conhecem muito bem. Deixa todos falarem, se sentirem à vontade e os estuda enquanto isso (...) À tarde, após o almoço, são levados ao bunker sob um dos vastos jardins, que aquelas mulheres nem sabiam que existia. Patrícia se aproxima da leitora, ela reconhece suas digitais, suas íris e seu rosto, e abre o portal com um constrangedor “Bem-vinda, meu amor! Tudo isto é seu” como boas-vindas. Ela fica rubra. Depois de morto, o homem que começou a vida como mascate fez o que todos os chefes de Estado e todos os terroristas do mundo falharam em tentar. Uma ampla sala de recepção ricamente mobiliada e decorada com motivos Dead Train se revela. Ela segue a planta que consta do testamento, encontra em uma escrivaninha a chave codificada, a aproxima da porta de madeira, faz um gesto de “vá para lá” e ela se abre...

- Mamãe!

A interjeição (...) faz todos se amontoarem ao seu redor (...) aquilo está além dos seus delírios mais insanos. Destaca-se um caminhão Scania 1902 com um adorável e impecavelmente restaurado Benz Velo 1894 bordeaux e preto, com rodas brancas e peças de latão reluzentes na caçamba, ladeado por dois Phantons Corsairs. Vários protótipos do Fusca, de 1932 até 1936 em várias e reluzentes cores sóbrias (...) alguns aviões de antes da primeira guerra, tudo caramelizado e colorido por ouro, platina, pedras ultra raras, jóias, obras de arte, tapetes, baús com documentos e ações, livros medievais em impecáveis condições...

- Se eu fosse uma mulher típica de minha idade, infartaria agora!

- O que a senhora pretende fazer com tudo isso?

- Eu concordei, prometi que tomaria posse, então preciso levar tudo para Sunshadow. O imposto de renda vai ficar muito feliz com isso! Quanto a vocês, por favor, eu sou sua madrinha, comportem-se como se fossem minhas filhas e netas, me deixarão mais à vontade assim. Há um ponto... Um coração marcando um canto deste lugar... Ali.

Vão até lá, com as mais moças não escondendo o encanto com aquele acervo que nem sabem se há dinheiro no mundo para comprar. Patrícia aproxima a chave, faz o gesto e uma gaveta se destrava, lá dentro está o inventário do tesouro daquele ambiente gigantesco (...) Ela chama Abu e contracta extraordinadiamente seus serviços para ajudar a inventariar tudo (...) À noite liga para Sunshadow, manda dezenas das milhares de imagens que colheu e conversa a respeito com os pais...

- Minha fortuna foi praticamente duplicada! No acervo automotivo aberto existem carros que foram personalizados ou mesmo feitos exclusivamente para ele! Já seria uma garagem dos sonhos. No bunker há alguns modelos que se pensava terem sido extintos na guerra. Tem até protótipos de 1932 do Fusca, reluzindo seus vermelhos, azuis, pretos e cinzas entre obras de arte e jóias! Eles e outros serão seus assim que os exportarmos, mom...

Ficam cinco dias em Marrakesh, comandando uma força-tarefa, doando muitas propriedades e muitos veículos, de passeio e utilitários para a caridade e para os fiéis empregados de Hassam (...) Já os Cadillac voltam todos para a América. Os treinos matinais assustaram no primeiro dia, mas aumentaram o fascínio dos marroquinos. Patrícia tem um lampejo e conversa com os comparsas, eles entram na sociedade para transformar aquela propriedade em um resort e centro de cultura do oriente médio (...) Contractam os empregados da casa mesmo, que já conhecem o ambiente como a palma da mão. Enfim, Hassam conseguiu prendê-la de alguma forma ao Marrocos e à sua família, agora aceita feliz e resignado o auxílio que a espiritualidade oferece. Seis imensos navios cargueiros são utilizados para enviar tudo para os Estados Unidos (...) em fila, próximos, controlados por um computador central e capitaneados por um colaborador de base (...) O capital vultuoso que ela faz circular nesse período, tira muita gente da pobreza, alguns da falência, mas nem faz cócegas na fortuna que mais do que dobra a sua pessoal, mesmo com os muitos bilhões do Tio Sam (feliz!) já depositados no tesouro nacional.

A discrição da ida se devanesceu com o trabalho de curadoria e inventariado, porque o tesouro que ela levou já se tornou lendário. Os três conversam com as marroquinas durante o vôo, explicam como podem o que vão encontrar, como devem se comportar e o respeito que devem impor (...) Não chegam a assustar, elas já conheciam alguns revezes da América (...) Assim que o Airtrain abre a porta, lá estão milhares de paparazzi com milhões de perguntas na ponta da língua. Klauss tem o privilégio de ficar à beira da escada, clica Patrícia assim que ela surge, logo atrás do filho grandalhão. As mulheres que os acompanham causam estranheza. São legalmente suas filhas e netas, mas ela prefere não contar isso, não agora e não para aquele bando de xeretas...

- Boa tarde, meus amigos. A história é muito longa e mais complicada do que vocês certamente já tomaram conhecimento. Então, para evitar que de suas imaginações férteis brotem ervas daninhas, já marquei uma coletiva para a imprensa amanhã de manhã, no auditório quatro do centro de convenções. Estas moças lindas estão sob minha tutela, tratem-nas com o respeito que exijo para com meus filhos e minha netas. Fui clara? Ok, vamos... Mommy!

Finalmente pode se despir do figurino de mulher mais poderosa do mundo e ter abrigo nos braços de sua mãe (...) mostrando às marroquinas que aquele general de saias pode ser também a pessoa mais adorável e carinhosa do mundo, se fizerem por merecer. Vão para casa, todos eles têm que descansar e as novatas precisam aprender a viver neste mundo novo e inusitado. São todos recebidos pelos comparsas e pela enorme família (...) As imigrantes gostam de ver uma família tão numerosa e coesa.

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