domingo, 17 de março de 2019

Dead Train in the rain CLXXXIX

    Estremecendo o Japão. A estação 189 faz a última escala do ano musical e vislumbra uma janela para Phoebe. Embarquem, o trem vai partir.


Paparazzi sem noção e sem medo da morte não são novidade, mas a estupidez tem avançado vários patamares neste século. Um deles pergunta a Evelyn se não teme uma recaída do noivo. Ela interrompe uma sessão de photos com fãs e o encara. Ele (...) alega que Leonard pode se engraçar para o lado de Jean Pierre, afinal é homossexual assumido. Ela pede licença aos garotos e fica de frente para ele, como se estudasse que parte arrancaria primeiro com as mãos. Em seu vestido cinturado preto de bolinhas, com meias arrastão, ela se aproxima do atrevido (...) entre souvenires, sem espaço para escapar...

- Falar tanta merda não te dá azia? Me conta uma coisa, alguma vez você transou com a sua sogra, depois de casado?

- Não, claro que não! Nem antes!

- Nem com as sobrinhas da sua mulher?

- Nunca! Nem olho pra elas assim...

- Leonard está comigo. A mulher e parceira dele, sou eu. Se você, que é totalmente sem noção, não faz essas besteiras, imagine ele, que tem a cabeça no lugar!

Volta aos adolescentes, que publicam o mico em seus perfis, onde estavam postando as photos. Ela volta para o noivo (...) Sandra rola de rir, e ri com escárnio. Outros paparazzi vão perguntar o que aconteceu e se a estupidez de que souberam é verdade, ela confirma...

- Cara, ser gay é questão de sexualidade, não é questão de caráter. Meu noivo tem de sobra, ele nunca foi cafajeste.

- Nem serei! Tenho hor-ror a homem mau-caráter!

- E ainda saca de moda e do mundo feminino como ninguém! Vocês não imaginam como ele me ajuda a me produzir!

Em outro ponto do centro de convenções, Sandra confirma os boatos (...) Ri com os comparsas da nova formação. Elias chega com Enya, Robert Richard e Norma, após ter tratado de assuntos que infelizmente não puderam esperar; como gente que pensava que a Vintage Way of Life o tivesse sobrecarregado (...) Ele aceita de bom grado novos parceiros comerciais, mas não tolera jogo sujo. Repórteres, paparazzi e fofoqueiros ordinários o cercam (...) O menino até olha para aqueles xeretas com curiosidade, mas a mãe o protege. Por vias tortas e sem saber de onde tirou o assunto, um deles fala da beleza nórdica de Sandra, rara mesmo no hemisphério norte...

- Na verdade foi ela quem me escolheu. Ela quase me monopolizava naquele orfanato.

- Ciumenta?

- Mais ou menos. Eu podia cuidar das outras crianças, mas ela não saía de perto.

- Sempre te encarando com aquele sorriso lindo e aquele rosto de porcelana?

- Nem sempre. Ei-la logo adiante. Dê uma boa olhada naquele rosto. Os olhos dela são bastante profundos, quando sorri é um anjo, mas não queira vê-la irritada, se transforma completamente.

- Bom saber, vou tomar cuidado.

Ela os vê e corre. Cerca o pai de cuidados e mimos, aproveitando os carinhos para examiná-lo. Pega o irmão nos braços e leva para brincar com Stanley, Elvira, Caroline, Rose e Serena. Volta aos outros quando um valioso amigo de longa data da banda aparece. Os seis vão lá, o abraçam, fazem-no rir e o carregam até o estande da banda. A conversa do Dead Train com o último dos Bee Gees é prato cheio para a imprensa (...) Chamam os novatos, combinam, o convencem e vão de improviso. A nova formação o leva ao palco para a apresentação surpresa. Conversam com os músicos de apoio, com Evelyn e começam. Carly faz as vezes de Samantha Sang em “Emotion”, com Sandra e Phoebe como suas segundas vozes. “How deep is your love” vem em seguida, depois “Good bye Larissa” e “Tomorrow, tomorrow”, “I wish you here” fecha o espetáculo.

O britânico chorou pela música. A orquestra fez seu papel (...) parecia até uma festinha particular em uma sala de estar, com a vitrola hi-fi ligada. Vão para junto dos demais, aproveitar o curto tempo de folga até a viagem para Tóquio. Sakura disse que quer ir, Kenji não quer ficar sem ela, Nanako e Hiroshi não querem perder a oportunidade de conhecer suas origens (...) Vão depois do aniversário de Patrícia, que é feriado municipal e todo mundo quer tê-la por perto.

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O Airtrain aparece nos radares e se anuncia, recebendo as boas-vindas do controle aéreo japonês. Logo aquele gigantesco e poderoso Boeing torna-se visível a olho nu (...) Os fãs estão mais assanhados, mas não muito, já fazem bastante barulho quando o 747-400 pousa. Nanako e Hiroshi vêem pela primeira vez o país de seu pai e seus avós. Mikomi envia do avião mesmo as imagens para a revista, enquanto Klauss se prepara para a corrida escada abaixo. A porta se abre e o renano colhe os frutos dos exercícios (...) desce com agilidade e precisão.

Patrícia tem quase o efeito de godzila, Tóquio treme. A longa comitiva prolonga a histeria na terra do imperador. O acolhimento dos fãs é retribuído, antes de irem para o ônibus. O cenário high tech impressiona (...) Os olhos de Phoebe brilham, toda aquela tecnologia disponível e ao alcance mesmo dos cidadãos mais humildes a encanta (...) e muitos paparazzi a utilizam agora. Chegam ao hotel no Fuso Aero Queen pintado nas cores da banda. Mikomi comenta com Robert da série de facilidades que notou e não teve, quando decidiu incluir o Japão na Grande Turnê...

- Incrível, não? E com toda essa facilidade moderna, tem gente que não consegue fazer metade do que você fez praticamente sozinha, quando o telephone era a única mídia de comunicação recíproca em tempo real no mundo.

- Tenho preguiça de lidar com preguiçosos... Essa geração não tem feito jus ao que a nossa construiu a duras penas...

- É pra isso que a gente tá na estrada, mom. Estamos plantando sementes para mudar isso. Não fica assim, a tia Patty já disse que tudo isso era previsível e esperado.

- Pular de um avião também torna o desastre previsível, Sakura, mas pular dele sem para-quedas ou wingsuit, é estupidez.

- Ei, aí está algo que ainda não fiz...

Phoebe deixa as avós de cabelos em pé (...) Rebeca intercede, pede que confiem mais na moça e promete levá-la a um lugar seguro após o parto, como o Michigan Lake. Chegam ao hotel, no meio do mar de fãs e paparazzi. Alguns dos garotos que foram ao show de 1964 estão lá, com filhos e netos (...) Vão entre abraços e selfies ao hall, onde o Década Louca, como passaram a chamar, os espera. Eles entram em parafuso, com todos os ataques de fãs a que têm direito.

Findados os protestos de tietagem, o Dead Train se instala (...) Reiteram a admiração que têm, por formarem uma banda e se arriscarem no mundo louco do show business, só para tentar convencê-los a incluir o Japão na agenda improvisada. Os oito estão vestidos como na segunda metade dos anos setenta (...) Mikomi e Klauss aproveitam para trabalhar juntos e fazem uma boa matéria sobre este primeiro encontro (...) Três deles são grandes nerds de tecnologia, se entendem muitíssimo bem com Phoebe. A formação é de quatro garotas e quatro garotos, de início elas seriam apenas dançarinas e back vocals, mas conseguiram se firmar cantando e tocando.

Vão às sacadas, saudar o público, antes de Patrícia reiterar as instruções, especialmente aos novatos. Têm uma entrevista à noite, após conhecer o estádio do show (...) A familiaridade dos anfitriões com a robótica dá um bom ponto para trocarem experiências (...) Na hora da entrevista, lá estão os vinte e quatro saudando todo mundo em bom e claro japonês. Nos bastidores, Matthew repassa sua experiência para Klauss (...) ver coisas que a posição em que se encontrava aé então não permitia...

- Totalmente diferente de estar lá no meio deles.

- Cem por cento diferente, especialmente porque agora você defende uma dos entrevistados.

A entrevista entra no campo das lendas e das maravilhas de Sunshadow, como a cidade subterrânea de três pavimentos (...) Sobre as impressões que têm da Tokio de hoje, eles dizem se sentir em um bom filme de ficção científica (...) A boa impressão com o domínio do japonês torna essa fluência motivo para mais perguntas (...) Motivo a mais para visitar a cidade.

No fim, nos bastidores, com Matthew levando Klauss para arrematar os pontos, um funcionário do governo entrega a Patrícia uma carta do Imperador (...) não pode deixar de receber um membro da realeza e uma colaboradora tão valiosa da paz mundial. Todos olham para ela e Sandra se atreve “Você conhece o imperador???”...

- Não pessoalmente. Ele já ajudou muita gente a escapar de fins cruéis, mas disso a imprensa não sabe... Meu Deus, o que vou levar para ele?

- Phoebe vê uma pequena relojoaria pelo monitor de segurança – Deixa com a gente. Vem, Pancada. Tia Mascote, acompanha a gente!

Patrícia e Renata sentem-se mal, sabem que ela pediu a companhia de Rebeca para não haver objeção à saída (...) O velho relojoeiro as reconhece, fica honrado com a ilustre visita e elas permitem photos, se puderem elas mesmas fazer o que precisam. As duas conversam rapidamente, escolhem o que precisam, inclusive um ovo bipartido de porcelana azul florida, em pedestal folheado a ouro. Sandra escolhe e une os mecanismos, enquanto Phoebe fabrica-os a uma velocidade espantosa (...) Rebeca escolhe uma das bonecas, uma geisha com carinha feliz. Testam um a um, o conjunto, refinam a sincronia, montam de novo e testam, instalam, testam de novo, colocam a boneca de porcelana na base, dão corda, ela rota e transla suavemente enquanto músicas tipicamente japonesas tomam o ambiente. A engenheira atenta a audição, aprova, pagam e pedem que faça uma embalagem digna do imperador...

- Farei como se fosse para ele.

- Mas é pra ele – responde Rebeca!

- Você está brincando, não está?

- Não. Por isso fizemos questão de colocar esse broche com a sua marca no ovo.

O relojoeiro (...) aproveita a chance de sua vida. Faz uma armação piramidal de bambú amarrada com fitas douradas, põe com o ovo musical em uma fazenda de seda branca, cuida para que fique firme e arremata o pacote. De volta ao hotel, após explicar do que se trata...

- Ah, amor da vovó! Ah, amor da madrinha! Você vem comigo, princesa Phoebe... Vamos pegar menos no seu pé, de agora em diante.

Na manhã seguinte (...) as duas entram em um aristocrático Toyota Century preto e partem para o encontro. A massa de paparazzi segue o carro. Como muito raramente, Patrícia vai no banco de trás (...) Nas mãos da gestante, o presente que não tem réplica em loja nenhuma do mundo. Voltam uma hora depois, com um camafeu feito por um joalheiro, o imperador sabe que Patrícia gosta. O que lá se conversou, salvo as amenidades, lá fica.

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