quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CLII

    O jubileu tem início. A estação 152 dá partida nas comemorações do cinqüentenário da Dead Train, com todas as picuinhas cotidianas de reboque. Mostrem seus convites e embarquem, o trem vai partir.


A campanha do jubileu de ouro ganha as mídias em uma proporção nunca vista. O canal de vídeos oficial da banda exibe um pequeno documentário intitulado “Nós duramos bem mais do que um verão” (...) Até os desafetos da época da estréia saem do ostracismo e ganham, são convidados a esclarecer detalhes de polêmicas e curiosidades de meio século antes. Os garotos de hoje começam a ver que muita coisa considerada ruim no início dos anos sessenta, põe muitos artistas de sucesso no chinelo, é assim que The Cool Boy e The Special Boys finalmente viram cults (...) Amigos e parceiros de décadas comparecem em peso para prestigiar o sexteto, mas essa presença maciça denuncia as perdas caras.

Vendo os ídolos de perto, é quase unânime se lembrar do clipe “Our Last Afternoom”; não lembram em nada as figuras decrépitas e limitadas do vídeo. Enzo, Ronald e Robert estão grandes, fortes, ágeis e muito lúcidos, para o deleite das fãs. Patricia, Rebeca e Renata ainda exibem tônus, curvas, plástica e porte, para o roer de cotovelos dos desafetos (...) Os novatos são cercados como novilhos entre lobos, a boa reputação de lapidadores de jóias raras que a banda conseguiu, alimenta especulações (...) Não tentarem ser cópias dos originais conta pontos a favor.

Enquanto o serviço de som informa das actividades do dia em sete idiomas, os astros do festival se dispersam com seus pares (...) A doce garota dos trópicos tem o assédio extra de religiosos curiosos, ela rejeita o rótulo de líder espiritual, mas confirma a grande freqüência com que é solicitada para assuntos espirituais e aconselhamentos. A pergunta sobre não ter um programa temático com cultos na televisão, é respondida com risadas. Ela explica que não fazem incorporações fajutas nem efeitos sonoros, que nem sempre há incorporações ou mesmo contacto mediúnico nas sessões.

À noite, após verem suas caixas de comentários e mensagens abarrotadas (...) conversam sobre o primeiro dia oficial da campanha do jubileu de ouro. A abordagem dos religiosos gera mais risadas. Pretendiam falar da desenvoltura dos novatos, mas deixam isso para depois das piadas. Eles, de sua parte, estão conversando com os pais sobre a sensação de serem estrelas (...) Dar autógraphos foi o mais emocionante, principalmente porque Phoebe e Sandra já eram conhecidas da mídia, e o caso de Jerry ainda hoje causa indignação pelo país. Giovanni (...) está acostumado a ser assediado, mas não como a estrela do assédio. Carly foi uma grande e grata surpresa, sua voz cristalina e versátil impressionou a mídia especializada. Os seis não deixam isso passar...

- Ela cantou “Ave Maria” de Schubert como se fosse um assovio qualquer – diz Ronald. Imaginem ela cantando Hug Now com a gente!

O segundo dia tem mais gente, mais imprensa e tudo é incrementado pelas notícias do dia anterior. As palestras sobre política internacional e tecnologias limpas deram mais relevância ao evento (...) Os patrocinadores vendem réplicas de produtos e peças publicitárias e editoriais de várias épocas da banda, e vendem muito! Até coisas mais antigas que têm de Phoebe, Sandra e Giovanni. Carly, Dean e Jerry ainda estão sendo estudados. Dinkle aparece, mas desta vez com esposa, filhos e netos, em trajes civis (...) está em uma raríssima folga e é simpático à organização, tem ciência de que ainda terá que se reportar à agente Angel, como precisa se reportar a Princess, que deixa Star confortável em seus bastidores, lidando quase que apenas com os colaboradores.

E é justamente ela, a diva, a lenda, a magnânima, a diva de bilhões, a musa de gerações, sua majestade galáctica Jose De Lane que aparece. Os vários programas de televisão e canais de vídeo presentes, se viram todos para ela. Que exagero, pensa a francesa! (...) E lá vem Patricia, serelepe e saltitante, para abraçar, sacudir e mimar sua madrinha.

Enquanto eles se divertem, uma equipe gigantesca produz e revisa cartuns temáticos (...) para o jubileu de ouro. Também liberaram dezenas de biographias por escritores que só tinham talento e qualidade, agora terão também a visibilidade e o lastro do Dead Train (...) À noite, na Máquina de Costura, Josephine chama Sandra e Phoebe para a reunião com Princess e Genius...

- Está aberta e sessão. Minha vinda não se deu só pelo evento da banda, vim para nomear sua instrutora. Seu treinamento para ingressar na organização começa agora, agente Knockout, sob a supervisão de Angel, que se reportará diretamente a Princess e Genius...

O destino de Sandra está selado por seu próprio arbítrio. A reunião reservada é breve (...) Star está ciente das habilidades que a jovem desenvolveu, no decorrer do curso de medicina, tão úteis quanto perigosas (...) No último dia da convenção, Phoebe lhe mostra e ensina a reconhecer todos os agentes que circulam por lá, crentes de que estão disfarçados (...) um mundo novo se descortina diante de seus violentos olhos. Por agora Phoebe apenas pede que fique atenta, mas sem tensão.

Vai com Albert ver suas herdeiras, tagarelas e agitadas nos  braços dos avós, como Naomi nos da mãe. Ela vê Elias ser interceptado por um repórter de revista acadêmica, a questionar sobre as notícias de avanços sociais e erradicação da pobreza vindas do Brasil. Ele respira fundo e responde de modo educado a quem parece só acompanhar os acontecimentos por binóculos...

- Basicamente, o que foi feito se resumiu a redefinir a classe média por decreto. Quem conta moedas para a passagem de ônibus, pelos critérios novos do governo, é classe média.

O repórter considera um absurdo o que ele disse, então o brasileiro pede que ele diga o que viu in loco no Brasil que ele não tenha visto. Ele adverte para não confiar em estatísticas e propagandas (...) Renata se aproxima, a conversa começou a ficar tensa. O jovem repórter se recusa a acreditar que as notícias boas sejam apenas pirotecnia para distrair a mídia e a população (...) Mais tarde, com a madrinha, ele confessa já estar farto de gente diplomada em teorias da teoria teórica da teorização, já apareceu gente contestando suas lembranças e tentando convencê-lo de que sua vida no Brasil era boa e o atentado foi na verdade um acidente durante uma comemoração de samba pela vitória de seu time preferido, mesmo ele repetindo que odeia futebol...

- Eles nem me ouvem! Parecem ter botões de desligar os tímpanos, quando decidem tagarelar e brincar de jogo do contente!

- Mais um desafeto para a sua coleção, meu querido. Às vezes não tem jeito, você tem que emitir uma opinião ou declarar-se contrário à crença geral. Olha pra madrinha, não esquenta a cabeça com isso, faz parte da vida de quem pensa por conta própria, o silêncio seria até pior.

- O que mais me incomoda é o mundo desmoronando diante de todos, e eles ainda confiarem em heróis antissistema para defendê-los dos escombros que caem. Deveriam colocar um aviso de “Não alimente os heróis” em todos os livros de história. Aliás, haverá algum historiador que faça “HISTÓRIA” de verdade, em vez de “historinha do ditador bonzinho versus democracia malvada”?

- É a droga deles, meu querido. Nenhum deles sobreviveria à crise de abstinência sem acompanhamento profissional e doses generosas de ansiolíticos.

Julia bate na porta da blblioteca e se anuncia (...) quer negociar uma entrevista com Elias. Sabe que será difícil, mas não está com pressa. Ele recusa sumariamente, mas sem rispidez, como previu. Acontece que também é uma das leitoras betas do livro de Stephanie, terá motivos para ele aceitar uma entrevista, ainda que gravada em Sunshadow.

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O aniversário de Patricia já é quase um feriado municipal (...) Ela é categórica, se querem realmente presenteá-la, que ajudem a cuidar das crianças, enfermos, idosos e gente realmente pobre que a banda assiste (...) Há anos a festa íntima é sucedida por uma pública, quando milhares de comprovantes de depósitos nas contas das instituições são apresentados à aniversariante. A alegria é maculada por uma manchete jocosa no dia seguinte, “The little ghost in the party!”. O pequeno fantasma a quem referem-se é Natasha. Prudence precisa ser contida pela mãe...

- Eu vou enfiar uma coisa raquítica e desnutrida no rabo deles!

- Você não vai fazer nada! Qualquer atitude agora vai encher Sunshadow com paparazzi estranhos e vai expor Natasha ainda mais. Faça como Karen, você sabe quem são, então faça como ela e trate-os com o devido desprezo. Deixe o resto comigo.

Patricia sai meio aliviada, sabe (...) que é uma panela de pressão prestes a explodir. O artigo de três parágrafos acusa Prudence de maltratar a filha com excesso de rigores, privando-a até de alimentação. A mídia parceira da banda está trabalhando. O histórico das mulheres cativas é desenterrado, refrescando a memória da população e mostrando por que Natasha é tão pálida e magra (...) A intenção era atingir Sunshadow e dar início a uma série de matérias com acusações conspiracionistas e ideológicas, a menina deu o gancho perfeito para o início da difamação.

O efeito do contra-ataque é o desejado, põe os acusadores na berlinda e acalma a mãe cuidadosa (...) Ainda há reportagens em curso, sobre como estão aquelas crianças levadas para Michigan, que serão levadas a cabo na primavera. Enquanto um grupo tenta provar que Sunshadow é um reduto de extrema direita, e outro que é uma ameaça comunista, a cidade se prepara para o Sunshadow Racer Motor Show. Phoebe tem suas próprias surpresas para o evento.

Vai com a mãe e as meninas para a casa da bisavó materna, aparentemente só uma visita de cortesia (...) Na velha oficina de Richard, os dois Cadillacs repousam prontos para conhecerem sua casa, após anos de restauro meticuloso (...) Enquanto a matriarca faz Marcia e as pequenas rirem, com histórias da grande turnê (...) Phoebe vai ao galpão. Em menos de trinta segundos ouve-se lá dentro uma buzina dos anos 1920. Não é incomum, a cidade tem centenas de carros da década, incomum é a buzina insistir em tocar diante da casa. Marcia quase chora...

- Seu carro, mom.

O Cadillac Imperial está como novo, reluzindo a luz ainda amarelada que as nuvens refletem nesta manhã fria (...) Ela se aproxima daquela moça de saia curta e blusa fina, que ignora o frio já vigente, pega a chave do clássico e chora abraçada ao rebento. Tudo registrado e eternizado pelos paparazzi que praticamente moram em Sunshadow. Claro que ecoxaropes criticam a manutenção e funcionamento de um automóvel tão antigo, claro que eles se valem de redes sociais para protestar contra isso e a cidade com maior concentração de carros antigos no mundo, claro que eles estão jogando pedras na lua (...) por agora a moça quer ver o rosto da mãe aceso e radiante, ao volante daquele carro. Ela fez o ano valer à pena.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CLI

    Os garotos estão prontos. A estação 151 Dá início à carreira dos seis novatos, que agora verão o que é bom pra tosse! Apresentem seus bilhetes e embarquem no novo vagão, o trem vai partir.


Stephanie vai até a mãe, que desfruta de um momento só de lingerie minúscula com estampas da Olívia Palito (...) mostra-lhe o tablet com algo em que trabalhava há mais de um ano, como sempre em silêncio...

- Wow... Baby, você escreveu um livro!... Mel! Mel, a Steph escreveu um livro!

- Woohoo! Sobre o quê?

- Saca só o título: Eliasian pedagogy; General theory, practice and results. Seiscentas páginas!

- Mamãe já viu esse catatau?

Vê agora. A moça estudou com afinco os fundamentos da pedagogia eliasiana, como a chama, aplicou nos métodos pedagógicos herdados de Naomi e agora tem em obra o resultado de mais de um ano de trabalho (...) Nancy chama Glenda, lhe entrega um pendrive e a responsabiliza pela publicação do livro (...) A bruxa começa passando pela casa da prima, deixando uma cópia para ela ser uma leitora beta e volta para a fazenda. Lá faz outra cópia para a mãe e se põe a estudar a obra. Na cidade, Janie e Roger finalmente conseguem conhecer o ocupado e discreto objecto de estudo do livro. Deixou Sandra no ensaio e foi à madrinha explicar os relatórios sobre a multiplicação de taxas e de valores das já existentes, no Brasil, que aumentaram sensivelmente os custos operacionais da BYOP e da Sandra Cocada...

- Então é só mais uma manobra para cobrir as contas públicas?

- Manobra que se tornará permanente. A corrupção explodiu no Brasil, que logo vai implodir por falta de lastro. O facto de sermos multinacionais nos dá condições de sobreviver, mas muitas empresas locais estão demitindo ou simplesmente fechando as portas.

- Não tem jeito! Não tem mesmo jeito! Vai ser da pior forma. Estou mandando a gravação da nossa conversa para nossos agentes, como você concordou. Agora é com eles. Vamos, os pais de Albert querem ter uma palavrinha com você... Tenha paciência, sim?

Finalmente a chance de conversar com a pequena lenda viva da pedagogia, mesmo não sendo pedagogo (...) as polêmicas e os mitos emergem com força. Ele compara o Brasil a uma câmara de máscaras de um teatro, essas máscaras controlariam a personalidade de quem passasse pela câmara de acordo com os papéis escolhidos, mas uma vez terminada a peça, todos voltariam a ser cidadãos normais. Mas se as máscaras fossem utilizadas muitas vezes ou por muito tempo, a influência seria cada vez mais prolongada mesmo após o fim do uso, até se tornar permanente. E o brasileiro médio está perigosamente viciado nas máscaras, que são a desculpa perfeita para toda atrocidade que possa cometer...

- Roger, ele fez uma parábola para nós!

Ficam emocionados. Estarrecidos com a conclusão, mas emocionados. Celulares tocam na casa, os Model S acabam de entrar na cidade (...) Os caminhões param no hotel posto da entrada da cidade e já há gente esperando, em pouco tempo todos os setenta compradores estão lá, com famílias, amigos, cachorro, gato, papagaio e alguns piolhos. Claro que a imprensa cobre. Os bólidos eléctricos descem já cercados pelos donos, inclusive os seis amigos (...) Meio italiano o comportamento dos sunshadowers, imaginam os caminhoneiros, na realidade foi contribuição da família 3R. E já que os fundadores da Dead Train estão lá, aproveitam para tietar também.

Os seis mandam pela internet as impressões e photographias de seus carros, dando graças por finalmente alguém fabricar carros eléctricos para serem usados de verdade (...) Elias, o que mais esperava pelo seu, lê com paciência o manual do proprietário de seu S escarlate (...) Sandra volta de suas obrigações diárias, vê aquele carro de tamanho legitimamente americano, o logo na frente, entra e encontra seu pai com os olhos brilhando, enquanto lê o manual. Fica feliz. Pensa em tirá-lo da frente daquele laptop para irem curtir o carro, mas o deixa se lambuzando, afinal era um sonho de infância.

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Enya conversa com Karen sobre um ensaio que finalmente dividirão (...) Belice leva o lanche para elas não precisarem interromper o planejamento. A garota ajeita o rabo-de-galo e volta para dentro, em seu justo macacão oitentista preto sem alças. Vê uma mensagem do namorado, ele está preocupado com a irmã do segundo casamento do pai, ficou muito estranha depois de entrar para uma seita. Já reportou isso para Alice, que hoje conhece bem os líderes da seita “Arautos do Apocalipse” (...) Conta para Patricia...

- Mais uma que só vai tirar o luto quando Jesus voltar. Ah, que tristeza é este século!

- Quer que eu monitore?

- Não vai ser coisa demais pra você? Então sim, peça à Bel que deixe o rapaz desabafar e me reporte qualquer agravante. Novidades na academia?

- Nenhuma. Tudo ficou muito previsível por lá.

- Um pouco de rotina faz bem. Com o tempo você vai sentir falta da sua, vida de agente é insegurança constante.

Saem da biblioteca e dão com Janie, que aguarda o fim da reunião para dar continuidade à conversa sobre Albert (...) Ele está aprendendo mais sobre prototipação rápida, enquanto Phoebe conclui o projecto para o doutorado. Aquilo assombra os professores, mas não passa de um rascunho do que fez para a organização. Pela câmera de microscopia, vêem centenas de nanomáquinas prontas para uso, alimentadas e comandadas por indução, feitas em poucas horas. Ela (...) liga para a avó e pede que avise Washington. Vai cuidar da burocracia e procurar seus parceiros de senda, a começar pela encrenqueira da banda, que não tarda concluir seu turno na residência. Já ajudou a anestesiar pacientes que se recusavam a receber anestesia, simplesmente com um nocaute, como agora...

- Pronto, pode aplicar a anestesia. O machão tem medo de agulha e botava banca!

- Pancada sendo Pancada! Oi, Sandra.

- E aí, Phee. Às vezes a gente tem que apelar.

- Você mestra em artes marciais, médica e entrando para nosso grupo, não vai prestar!

- Re, re, re, re, re, re, re... Agora eu sei onde bater, como bater e o quanto bater.

Encontram Jerry e Dean carregando Carly pelo jardim do pátio. Após os risos, se perguntam por Giovanni. Sandra localiza-o na reitoria, houve um desentendimento com um palestrante que insistia em aconselhar o abandono das famílias para se ter sucesso (...) em vez de ser repreendido, está descascando o reitor por ter convidado...

- Quelo cazzo maledeto! Aquele vampiro financeiro que usa as pessoas e as joga fora quando não lhe servem mais. Só não dei uma surra nele, quando comparou o carinho da mãe ao de uma prostituta, porque não deixaram...

Sandra se desmancha. Fica recostada no portal (...) Silvia e Enzo ficam divididos, esse sangue quente é perigoso, mas concordam plenamente com a indignação do caçula. Isso é assunto no ensaio da banda...

- Não se esqueça de que ele também é seu afilhado, tem que ajudar a gente.

- Sim, claro, mas eu gostei do que ele fez! Esses seis estão saindo melhor do que a encomenda.

- Posso imaginar o casamento deles, em vez de uma igreja será num ringue...

Patrick arranca risos (...) após Patricia anunciar que os pais de Albert já estão neuróticos dentro dos limites aceitáveis. Voltam hoje para La Grande aptos a retomar o convívio com o filho. À noite (...) Renata se aboleta nos braços de Matthew, contando as novidades de hoje. Estão colocando todas as esperanças nesta nova formação, apesar de três deles só virem a saber depois do show do jubileu de ouro...

- Pelo menos uma boa nova nesta trolha deste século, que já nasceu podre!

- Ainda estamos sob influência do século XX, Matt. Só vamos começar a viver no século XXI, nos anos vinte... Ah, é que todo o ranço, os medos, as neuras, os apegos acumulados em cem anos, não somem em uma virada de ano. O panorama psicológico e espiritual desde século, só começa a aparecer depois de 2020.

- “Começa”? Quer dizer que eu não vou viver pra ver as coisas entrarem nos eixos.

- Só no meio de século o mundo vai começar mesmo a deixar os podres no passado. Não vamos mesmo ver, não de dentro de um corpo carnal, o melhor do século, é o ônus de quem nasceu no meio de século passado e agora tenta deixar alguma coisa decente pra descendência.

- Sinceramente, eu acho que nossa descendência é muito melhor do que esse mundinho, ele não a merece.

- E você tem outro para eles viverem? Não, né. Tem que ser este mesmo.

A manhã seguinte dá início às comemorações oficiais do jubileu de ouro. Não são, desta vez, só paparazzi e jornalistas especializados do show business, as imprensas econômica, política, científica, religiosa, ufológica, pedagógica, militar e de entidades secretas também estão lá (...) A lendária escola de artes marciais da Máquina de Costura é o primeiro alvo. Registram todos os que entram lá, registram os sons, se assustam com o bramir de lâminas e finalmente a saída alegre dos praticantes (...) enfrentar exercícios pesados antes de o sol nascer, é uma demonstração de disciplina e determinação que agrada e assusta os militares.

Hoje Glenda entrega o protótipo digital do livro de Stephanie, a casa da moça fica lotada. A capa tem uma criança alada decolando e um grilhão quebrado no chão. A autora baba pela imagem (...) A bruxa troca olhares com seus comparsas (...) A professora, sem conseguir conter o sorriso, aprova (...) Ao Pentágono, informam que se houver alguma conspiração por parte de Patricia, até as crianças da cidade estão envolvidas. Nem todos os oficiais sabem da organização.

Phoebe leva as filhas ao ensaio da banda, com todos os músicos de apoio e uma parte da orquestra enchendo o estúdio. Cantam e tocam como se estivessem em uma apresentação oficial (...) Phoebe nota a aura da avó e líder da banda, fica extremamente limpa e radiante quando canta, não se furta de tocar no assunto no primeiro intervalo...

- O que você disse descreve exactamente o que eu sinto ao microphone. A carreira é um dos pilares da minha sanidade mental.

- Esse bando de malucos mantêm sua saúde mental?

A farra faz o estúdio parecer ainda menor (...) uma advertência aos três garotos que chegaram tarde à banda, terão que se empenhar mais (...) porque o tempo corre contra e precisarão estar no ponto para e estréia. A responsabilidade é passada para a matriarca, a polidora de diamantes da Dead Train; Nancy Petty Gardner. Ela não faz rodeios...

- Não é para assustar, é para terem ciência de que o que vocês fizerem cansados e com sono, deverá superar o que a maioria dos cantores de hoje faz em sua melhor forma. Vocês vão agora conversar em tons bemóis e andamentos lentos, que vão alterar de acordo com meu comando; Podem começar.

Não é permitido ficar sem assunto (...) Eles penam! Ter que rir em Do quando se estava gargalhando em Fá, é um teste de resistência. Mas eles concluem os três dias de treinamento militar de elite com a audição muito mais apurada, e as vozes cansadas (...) Carly novamente rejeita ligações, quer dormir para desembaralhar o cérebro (...) Os Garotos contam com os mimos das namoradas, mas ela está só há anos. Durante o sono se vê em um paradoxo, é uma figura estranha em uma banda onde virtualmente todos são parentes (...) Fala com Renata assim que termina a reclusão vocal...

- Normal. A gente pegou vocês de surpresa. Phee e Tota se conhecem desde bebês, a Sandra veio ainda menina, vocês chegaram há relativamente pouco tempo, o estranhamento é normal. Só não deixe isso virar neura, tá. Se joga nas nossas actividades, que você é uma de nós.

- Pra mim é meio surreal, ainda.

- A vida neste mundo não é real! Chamá-la de surreal é elogio.

Voltam para o ensaio, depois discutem pormenores (...) Os novatos dão o bôbus de visões também novas, ajudando a dar soluções que quem sempre esteve dentro da banda poderia deixar passar. Ao fim da jornada extenuante de hoje, os três têm uma grata surpresa, recebem pelo trabalho feito. Nunca pensaram que veriam isso, mas têm cheques equivalentes às suas rendas familiares, no caso de Carly até mais. Os pais da garota desmaiam (...) Agora viram que é mesmo para valer.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CL

    Como se constrói um renegado. A estação 150 mostra como fazer uma criança desejar ir embora de casa, um entre vários métodos. Não façam isso! Embarquem, o trem vai partir.


Janie e Roger chegam a Sunshadow. Pela janela do avião vêem a cidade que é quase um jardim urbanizado. No miolo, a cidade velha, tombada como patrimônio histórico (...) Assim que descem à sala de desembarque, se vêem em uma babel, com vários idiomas vindos de todas as partes. Lá está o filho, usando apenas jeans, botas e uma camiseta retrô do Dead Train, mas está um pouco diferente. Aquela camiseta está bem mais recheada (...) Olham para o pescoço do rapaz e vêem uma espessura maior. O reencontro é marcado pela estranheza (...) lhe emprestaram um Coronet Sedan 1956 em dois tons de verde, que faz a mãe suspirar...

- Que carro lindo! É seu, Albert?

- Não, é de um vizinho. Aqui eles têm uma grande fartura de carros antigos, alguns do século XIX... Mas talvez eu precise arranjar alguma coisa sobre quatro rodas em breve. Eu ainda moro com agentes da polícia local, então vocês vão ficar na casa da avó da minha garota.

- Talvez a gente conheça um integrante do Dead Train, não?

- Você vai conhecer, pode ter certeza de que vai conhecer.

Passam pela cidade velha e o casal dispara com suas câmeras (...) vêem Nancy saindo para a fundação, é a primeira celebridade de reconhecem. Ela acena e o rapaz confirma, são seus pais. Mais alguns segundos e vêem a mítica Máquina de Costura, cuja arquitetura fez Janie sonhar até cair em si e ir morar em uma casa normal...

- Eu sonhei tanto com essa casa!

- Eu também, mas se lembra de quanto o arquiteto cobrou pelo projecto?

- É... Tem isso... A gente pode parar aqui e tirar umas photos?

- Quantas vocês quiserem, mas antes seria bom ajudar a levar a bagagem pra suíte.

Ele para o carro e deixa os pais confusos. Olham para a porta transparente e vêem a diva em um vestido verde profundo de alças largas e decote romântico. Ela abre a porta, se aproxima e seus corações disparam, atrás vêm Arthur, Renata, Matthew, Richard, Marcia e Phoebe...

- Bem-vindos, eu sou Patricia Petty. Janie e Roger, seu filho falou muito de vocês...

Eles se viram para o rapaz, boquiabertos...

- Claro que eu não iria contar para vocês! Com setecentos parentes em Oregon, vocês não iriam resistir em contar pra todo mundo antes da hora! Hey, eu conheço vocês! Agora vamos...

É o mesmo Albert casca grossa de sempre, só um pouco burilado (...) São levados para dentro pela diva, enquanto o Albert e Richard se encarregam da extensa bagagem. Richard olha para o pretenso genro, ele já tinha avisado que os pais gostam de impressionar, só que agora as coisas se inverteram...

- Então você quis dar uma lição neles?

- De humildade. Eles têm todas as virtudes do mundo, dizem que quase perderam a casa por se recusarem a sair um milímetro da lei, mas no tocante à humildade eles ainda são imaturos.

- Estou começando a gostar de você.

Assim que deixam tudo na suíte, descem e vão ter com o casal. Não obstante a presença das duas divas e lendas vivas do pop rock mundial, a meiguice e a educação refinada de Phoebe os fazem derreter (...) Ela se levanta para receber o namorado, o acolhe com uma delicadeza que engana com perfeição (...) Marcia aproveita que está um pouco ofuscada para estudar o casal, especialmente a mulher um pouco mais velha do que ela, sinal de que se casou muito cedo, naquela euforia sexual louca do último terço dos anos oitenta...

- Mrs. Withwort, me permita uma pergunta. Por que Albert saiu tão cedo de casa?

- Como? Desculpe... Ele sempre foi muito rebelde, muito dono de si, alistou-se com dezesseis anos e nunca mais morou com a gente... Você é a mãe de Phoebe?

- Yes, I am.

- Meu Deus, parece tão jovem! Desculpe, eu...

- Eu compreendo. Baby, sente-se com Albert aqui, neste pufe.

Uma pequena demonstração de autoridade materna que não passa despercebida por Renata. A moça sabe o que está fazendo. A garota senta-se exibindo seu famoso sorriso, ela mesma cuida de dar mais intimidade à visita, dizendo como o rapaz conquistou suas filhas e seu gato (...) Os faz ter um pouco mais de orgulho do rebento. Vão ao Buffet, preparado por eles mesmos, que estreará o casal na culinária goiana. Do alto, vigilante em seu território, Lady Spy estuda os dois intrusos (...) Ela desce majestosa a escada, indo para os braços de sua senhora e dando mais aristocracia à já impressionante figura de Patricia.

Estranham. Estranham muito, mas os acepipes caem rapidamente em seus gostos (...) Ainda estão tentando entender como entraram na Máquina de Costura e por que as duas divas estão conversando consigo (...) No fim da conversa, pedem que Albert os leve para conhecer a casa, começando pelo jardim...

- Albert, o que você está fazendo?

- Como você se meteu com gente tão rica e poderosa?

- Você tem certeza de que vai se casar com essa moça?

Phoebe ouve o interrogatório, eles não falam alto, mas não fazem questão de sussurrar. Fica indignada, eles falam como se a América tivesse um sistema de castas separadas por lei (...) vai contar aos outros e os choca (...) São interrompidos por um “Por que vocês têm medo de viver, porra?” (...) Phoebe salta do sofá e toma as rédeas da situação...

- Mr. And Mrs. Whitworth, está na hora de conversarmos sério; vocês, meu noivo, eu, minha mãe e minha avó, que são psicólogas. Está claro que o que temos aqui é uma relação muito mal resolvida de família, eu serei parte dela e é bom que esse ingresso se dê sem maiores desgastes. Pra dentro.

Todos reconhecem Patricia no comportamento da garota. Ela leva os três para a suíte, puxando Marcia e Renata pelas mãos. Só diz “Vocês sabem o que fazer” e desce. Albert (...) Não se poupa pelas malcriações que fez, mas também não aos pais pelas tentativas de castrar seu afã de viver à sua maneira. Phoebe pede desculpas aos demais, mas precisava realmente agir daquela forma (...) Na suíte, Marcia se reconhece um pouco no drama de Janie, que viu o filho cortar o cordão umbilical muito cedo (...) Ela cometeu o erro de tentar mimar um garoto que não queria saber de amenidades (...) O pai tentava levá-lo para os jogos de super bowl, mas o esporte dele envolvia rodas e motores (...) Aprendeu a dirigir no Volkswagen Type 3 Wagon 1969 do tio, sozinho. Não se dava com os colegas, ainda hoje é quase desconhecido das irmãs e ficava puto da vida quando ganhava roupa de presente (...) Se lembra com carinho do skate e da única bicicleta que teve (...) foi ele contra mais de setecentos parentes que queriam moldá-lo, inclusive ao temor da família em lidar com gente muito poderosa (...) Renata arremata por hoje...

- Vocês tentaram proteger, mas foram com tanta ânsia que o assustaram e ele se defendeu. Em resumo, foi isso. Quanto a esse medo de gente poderosa, por causa desse passado com gângsters, a gente vai ver o que faz, mas vocês hão de convir que se fôssemos ameaças à sua integridade, nós não estaríamos ajudando. Vamos descer?

Albert desce de alma lavada (...) Não foi difícil como pensava, talvez porque teve ajuda da provável sogra e da grandmother in law. Janie e Roger, mesmo um pouco envergonhados pelo papelão, estão bem, vão se recuperar. Aos que esperaram, Marcia pede que prossigam com a programação (...) Phoebe os observa de lado, querendo ver para crer na melhora. O constrangimento aumenta quando Patricia, Renata e Marcia amam as bomboniéres de vidro recheadas que mandaram fazer, as expectativas eram de desprezo civilizado.

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À noite, na suíte, o casal se olha. Não se fala, mas não precisa (...) acordam juntos ao ouvirem um barulho discreto no jardim. Abrem porta da sacada e vêem o treinamento diário. A cena é impressionante. Patricia, Arthur, os Richards, Rebeca, Elizabeth, Prudence, Elias, Sandra, Albert e Phoebe praticando artes marciais pouco antes de o sol nascer. Se assustam quando treinam com armas (...) Ao fim, a guerreira implacável dos treinos volta a ser a moça meiga e carinhosa, voltando para casa com pai e namorado.

A excelente forma física em pessoas de idades avançadas começa a se explicar, mas alguns ainda desafiam sua compreensão, como Patricia. O histórico de traumas dela é tão extenso e intenso quanto notório (...) De repente se lembram que não mandaram notícias para casa. Ligam e avisam às filhas que suas amigas não têm absolutamente nenhuma chance (...) Ouvem os passos dos donos da casa e vão se arrumar. Hoje conhecerão a casa da provável nora e suas filhas, querem tirar a má impressão.

À mesa do desjejum é inevitável perguntar pelas actividades matinais. Patricia explica que pratica desde a adolescência (...) Janie toca no assunto Elias, de quem soube muita coisa pela imprensa, mas sabe que ela é tão confiável quanto o método uni-duni-te. Com tato, lhes é explicado o histórico do rapaz, que entre afagos da esposa monitora os negócios da família. Já têm oitenta filiais BYOP e quinze Sandra Cocada pelo Brasil. Pensa nos países vizinhos, mas a democracia está passando cada vez mais longe deles (...)Considera uma filial em Punta Del Este e outra em Montevidel, para começar. A dedicação já tornou os lucros maiores do que os investimentos no cronograma de expansão.

Sandra e Kurt encontram os outros no caminho para a universidade, desta vez acompanhados de Carly. Phoebe conta também com tato sobre os episódios de ontem (...)De longe um membro da sociedade ufológica monitora a líder da turma, com uma câmera de infravermelho. Chegam e se dividem quando Elias recebe uma ligação de Los Angeles, ele e vários sunshadowers. Os Teslas Model S com pack de 85kWh estão a caminho. O sonho realizado do carro eléctrico abre o sorriso do baixinho (...) ridicularizado por “engenheiros” de botequim que freqüentavam a casa onde morava.

Na Máquina de Costura, os visitantes conhecem o porão, o trenzinho que pensavam ser lenda urbana e as prototipadoras. Depois conhecem a casa de Renata, que se parece mais com casa de avó do que a futurista que os hospeda. Vão almoçar na caixinha de Música, quando Phoebe tem um intervalo nas actividades cotidianas (...) As meninas e Spark ficam curiosos com os visitantes. Lady Spy os impressionou pelo porte, mas aquele gato é um verdadeiro monstro (...) quase 60 libras de vigor e travessuras. Albert entre eles ajuda a sinalizar segurança, embora o distanciamento seja evidente.

O rapaz aproveita que conheceram as prototipadoras para mostrar o que Phoebe lhe fez...

- Uma hora e meia, não mais do que isso. Dentes de cerâmica que eu poderia implantar agora mesmo, se precisasse.

Não se furtam de abrir a boca do filho para comparar. Aquilo expandiu os limites que tinham com a ficção científica. No fundo da sala, brincando com um carrinho conversível cheio de bonecas, Rose e Serena começam a chamar a atenção dos visitantes. Se aproximam e se espantam com a linguagem...

- Tá grávida! Vai ter bebê!

- O médico tá esperando, põe no carro e vamos pra maternidade!

Os dois olham para Phoebe, ela responde “Eu também fui precoce”. Aponta para a estante o livro que as duas acabaram de ler, no original; Guerra e Paz. Eles voltam a olhar para ela e Marcia dispara a rir (...) Vão ao festim preparado com carinho pelos três, com as pequenas acompanhando e encarando os estranhos. Albert sofre um pouco para explicar que são seus pais, mas não mora com eles (...) o almoço transcorre como manda o figurino.

Todos voltam às suas actividades e os visitantes à Máquina de Costura, após uma passada na feira de pulgas. Concluem que deverão repensar alguns conceitos e preconceitos (...) Um pouco longe dali, Rebeca recebe Elizabeth e Prudence para sua contribuição com a novela que estão planejando...

- Basicamente o dinheiro é só um meio, e um meio incômodo. Quem se torna ditador, não precisa dele, não dentro de seu país. Ele pode simplesmente decidir se apossar de algo ou até mesmo alguém, e não vai encontrar resistência. O dinheiro é como uma ação ao portador, que dá ao cidadão liberdade para decidir no que trocar, e liberdade é tudo o que o ego de um tirano não admite, senão para ele mesmo. Darei três exemplos que eu já enfrentei, num deles quase precisei matar...

Tia Mascote repassa sua experiência às jovens e atentas escritoras, que vêem muitas crenças caírem por terra. Uma delas é que haveria motivações misteriosas e transcendentais para toda a sordidez que permeia as relações internacionais (...) Ao fim da aula de espantos, Rebeca pede que elas a acompanhem, quer entregar um presente para Elias e quer que ele não leve a mal, mas o achou não parecido com ele que decidiu comprá-lo...

- “Parecido comigo”?

Ele observa aquele minúsculo Goggomobil Coupé TS400 azul de teto branco. Olha para a encrenqueira...

- Ele é compacto, fofo, valente e só quem conhece sabe dar valor.

- Oh, claro...
As irmãs disparam a rir. A mãe já lhes contara a história da montadora, que foi incorporada pela BMW e assim a salvou da falência (...) Por contágio ele também ri, abraça a menos baixinha do que ele e chama a Enya para estrear o presente. Patricia aponta para a direita e ele estaciona (...) Se espreme no espaço do banco traseiro, praticamente feito só para crianças, e manda tocar o carro (...) ela comprime naquela cabine minúscula mais alegria do que caberia em um Cadillac.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CXLIX

    A falha da NSA. A estação 149 traz uma lição por cuja negligência o ocidente pagou caro. Embarquem e não digam tudo o que sabem, o trem vai partir.

Alice é posta para aprender com Glenda, que não se furtará de lhe passar alguns feitiços para se proteger (...) As irmãs cuidam da academia, enquanto ela aprende a cuidar do mundo. Reconhecer gestos suspeitos e ler expressões faciais faz parte do aprendizado (...) Volta para casa mais calma, treinando seu aprendizado com os transeuntes. Identifica vários mal intencionados pelo caminho, a maioria conhece, são paparazzi. Vê Albert acompanhar Melody à Maison (...) dispara a rir. Ele está irremediavelmente apaixonado. Encontra a mãe e sua namorada em casa, ambas estranhando o sorriso e os passos leves. Já não está às cegas, sabe exactamente o que está acontecendo com o mundo e não será pega de surpresa, é isso.
Vai ver as Lices mais jovens (...) espera que não tenham comido muita besteira. Leva almoço para suas gêmeas e assume o comando da academia, como de costume. Vê a matícula de um novato, busca pelas câmeras de segurança e lá está ele, com Richard, tentando diminuir a distância muscular entre si e os Gardner. Sorri e volta aos negócios, precisa mandar o relatório para os avós paternos, e mostrar mais uma vez que não foram esquecidos pelas netas.
Enquanto isso em La Grande, Janie e Roger renovam o guarda-roupas, para impressionar a família da moça. Acham de bom tom levar um presente (...) As irmãs do rapaz tentam explicar às amigas que ele está comprometido, mas elas continuam inconsoláveis. Assim como alguns figurões da política internacional, que cairiam de quatro bastando Phoebe acenar com um dedo e apontar para o chão. Ela está concluindo seu projecto para o doutorado, já consegue emaranhar materiais completamente diferentes com aplicações precisas de laser, durante a nanoimpressão em 3D (...) faz com muito mais sofisticação para a organização. Concluido. Agora pode produzir grafeno e nanotubos de carbono como quem prepara massa de espaguete, com custos comparativamente desprezíveis.
Patricia aproveita um intervalo entre negócios para falar com os demais a respeito também disso. Enumera todas as ocorrências mais sérias decorridas de terem abraçado a carreira, desde Matthew até Albert (...) a influência e conseqüente responsabilidade que têm faz o show business ser muito pequeno. Os seis começam a se lembrar dos momentos mais importantes dos primeiros anos (...) A banda cresceu muito mais do que pretendiam, se esforçaram para a corporação não crescer demais (...) Ronald é o primeiro a colocar os pés para fora, com Rebeca apaixonada em um abraço. Enzo ainda tenta entender tudo o que aconteceu na turnê brasileira, arrancando risos. Renata se lembra da Grande Turnê, que hoje não seria factível, não com o roteiro completo. Robert também se lembra com muito amor daquela turnê (...) Patricia apenas ouve, com um sorriso meia boca, compenetrada...
- Você com essa cara de novo?
- Saudades, Rê. Muita gente ficou pelo caminho! Me lembrei do Maurice... E agora o Robin também está mal...
- Eles são agentes também?
- Não, mas já ajudaram algumas vezes, inconscientemente. A música “Israel” foi utilizada como código para deter uma centena ou mais de ataques ao ocidente. Hoje dá pra falar, esse perigo já passou. A seqüência de cordas foi a utilizada em ataques a células terroristas, para evitar que elas pudessem se comunicar, mas com tempo suficiente para se desesperarem e se exporem a público. Os soldados envolvidos ouviram a canção todos os dias, para que não cometessem um erro sequer. Há muito, mas muito mais coisas envolvidas na disputa entre israelenses e palestinos, do que a mídia e a história oficial mostram. Vamos pra dentro, tem coisas que esses paparazzi mal disfarçados não vão saber veicular sem soltarem mais besteiras e piorarem tudo.
Enquanto ela conta detalhes sórdidos demais para contar à mídia popular, dados a seu respeito (...) vazam pelas mãos de um jovem e revoltado funcionário da NSA. Na manhã seguinte, a internet expõe provas da cooperação de Patricia em assuntos ultra secretos, negociações, intimidações a grupos hostis, bem como menções do quanto ela é admirada e temida por muita gente poderosa, mas também a lista de chefes de Estado que já caíram e ainda caem de quatro por ela (...) Felizmente todo o foco foi para si, como sempre, preservando a organização e entidades secretas auxiliares. Quando lê, após os treinos matinais, ela simplesmente desaba na cadeira à mesa...
- Meu Deus... Por quê?
A porta da Máquina de costura fica coalhada de jornalistas, paparazzi e aprendizes de fofoqueiros (...) A poucos dias do Festival da Saudade, Sunshadow lota novamente. Lá vêm os Richards, enormes, pisando duro e encarando todo mundo para abrirem caminho. Washington entra em parafuso, teme que encontrem mais pistas e coloquem em risco os agentes e soldados em serviço no exterior. A diva retrô aparece em um vestido de abotoar rodado, com cerejas púrpuras estampadas sobre fundo branco, gola inglesa e mangas curtas (...) basta um gesto de mão e todos se calam, aos poucos. Em primeiro lugar ela afirma que é tudo verdade (...) Em segundo lugar, vai conversar com a família a respeito, para que cada um saiba como se portar diante de perguntas desse tipo. Em terceiro e último lugar, vai se pronunciar hoje à tarde na rádio de sempre. Josephine a chama pela videophonia restrita (...) se mostra preocupada com a pressão absurda que ciclicamente a vitima.
No meio desse turbilhão de polêmicas, cada um que pareça ir para a Máquina de Costura é cercado por câmeras e microphones, como Elias e Sandra (...) Perguntados se eles também são agentes secretos, Elias responde “Se eu disser, terei que matá-lo” e entra com a filha. Encontram a madrinha já cercada de mimos, mas não menos tensa, com netas e bisnetas no colo e nos braços.
Albert recebe da mãe uma rajada de perguntas, ela quer saber de tudo, até do que ele não sabe, já que mora perto da cantora...
- Ela é muito ocupada e não fala da própria vida para estranhos. Tá, eu a conheci, já conversei com ela, mas daí a ter intimidade vai uma longa distância.
- Mas não pode conseguir nem uma informaçãozinha? Vai...
- Vocês vêm para o Festival da Saudade, prometo que aqui eu consigo todos os contactos que você quiser.
Às vezes ele se lembra por que decidiu sair cedo de casa, directo para a guerra. Vai ver em que pé está o tumulto em frente à Máquina de Costura. Encontra alguns Street Warriors tentando organizar a fuzarca...
- Hey, Beastie, vem dar uma mão aqui!
Ele não hesita. Consegue ajudar a organizar aquela multidão (...) Patricia fala com o presidente sobre o caso, até a hora de ir se pronunciar. É uma romaria, ela vai cercada pelos seus, pelos concidadãos, pelos fãs e pela imprensa generalizada. Melinda, Matthew, Mikomi, Fester e Mary Ann estão naquela toada de guerra em seus postos. Eles também são questionados a respeito, pelos outros veículos de comunicação.  Finalmente na rádio...
- Sunshadow, é Patricia quem fala. Em primeiro lugar, peço que jamais coloquem em rede o que for realmente importante para vocês, o que inclui photographias mais íntimas ou familiares, vocês sabem do que estou falando. O material a meu respeito que foi exposto, nem deveria ter sido digitalizado. Hoje ele não causa maiores problemas, mas se fossem eventos actuais a América inteira estaria em apuros, porque terroristas, traficantes, mafiosos e políticos corruptos teriam em mãos os nomes e localizações de quem foi destacado para detê-los. Em segundo lugar, ainda a meu respeito, é tudo verdade. Eu não fiz tudo aquilo esperando reconhecimento e publicidade, deixo isso para as actividades da banda, fiz porque era necessário e não havia outro para fazer. Se não lhes contei é porque não considerei necessário, e será sempre assim, vocês me conhecem. No tocante aos chefes de Estado citados, compreendam, eles são humanos, não estão imunes a paixões e corações partidos. Infelizmente é coisa que só o tempo pode curar. Quanto às intenções de quem repassou essas informações, eu não farei juízo, mas assevero que não mediu devidamente as conseqüências, a não ser que arruinar democracias seja o objectivo dele, porque só os ditadores se aproveitarão disso. Não sou contra denunciar ações danosas de um governo, eu já fiz isso mais de uma vez, mas simplesmente jogar tudo no ventilador expôs detalhes que não só não ajudarão na formação da opinião pública, como deu de bandeja argumentação para as ditaduras se afirmarem e minarem a confiança nas democracias. Se não poder emitir uma opinião sobre o governo sem o risco de execução sumária lhes assusta, então vocês estão entendendo o que digo. Claro que teria ajudado muito, se os governos (todos eles, não só o nosso) não mentissem tanto! Se o autor teve realmente alguma boa intenção, foi um idiota provavelmente manipulado por quem está lucrando com esse vazamento. Agora, como lidar com essa nova realidade, porque mais vazamentos virão, tenham certeza? Vigilância. Infelizmente vocês terão que ser mais desconfiados, principalmente de quem aparecer dizendo que vocês têm razão e tudo isso tem que acabar. Gente que aparecer em seu caminho oferecendo conforto e alternativas que, no fim das contas, levam a algum tipo de ressentimento, deve ser sumariamente afastada; É assim que terroristas e fanáticos fisgam novos adeptos. E por falar em fanáticos, eu preciso dar o braço a torcer ao meu pai, as religiões estão fomentando o terrorismo não só lá fora, aqui dentro há milícias amparadas por brechas na lei, que visam apenas defender seus dogmas de todos os que considerarem, ao seu próprio critério, ameaças à “palavra de deus”, a qualquer custo. Não são poucas e têm representatividade no congresso. O nosso velho pacto de proteção mútua ainda é actual, necessário e agora uma questão de sobrevivência.  Nós não somos exactamente o que eles querem em seus quintais, então não toleram que possamos continuar existindo. Sunshadow, não se conforme com informações prontas, especialmente do tipo “é porque assim está escrito” ou “é porque eu decidi que seja”. Pesquise, investigue, não confie em suas próprias opiniões para tirar uma conclusão, porque nossas opiniões estão mais subordinadas aos nossos anseios do que seria salutar. Lamento que a América tenha se acomodado na indolência e no senso comum, e nisso incluo universitários que se consideram esclarecidos, mas só enxergam o que sua linha ideológica permite. Nós ainda vamos pagar caro por essa comodidade intelectual, por isso urge que vocês se mantenham e se aprimorem como um foco de resistência a essa mentalidade popular, que no fundo é a responsável por toda essa encrenca. Por agora, compreendam, é tudo o que tenho a dizer a respeito. Obrigada.
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“O pronunciamento de sua majestade” estampa os noticiários, desta vez incluindo o Interesse Popular, Sunshadow News e Coast to Coast News. Sunshadow ainda fervilha de gente, enquanto o show business mundial e os canais de internet organizam fóruns (...) Ela ter afirmado categoricamente que há milícias em território americano amparadas em brechas legais, por si só já daria semanas de polêmica. Cada sunshadower torna-se instantaneamente uma celebridade (...) Mais da metade dos sunshadowers com mais de quarenta anos tem ao menos um doutorado, isso bastaria para alimentar mais teorias conspiratórias. Também uma geração nova de agentes secretos passa a freqüentar a cidade (...) Cada um é entregue de bandeja aos cidadãos, pela ainda desconhecida rede social local. Patricia tenta levar sua vida o mais próximo possível da normalidade (...) Toca a campainha um homem de meia idade, usando suspensórios, é atendido por Arthur. É o senhor que restaurou a jukebox de 1947 (...) Ele pede ajuda para encontrar um lugar para guardar três carros que trouxe do Brasil e pretende vender no festival...
- Será que a fazenda dos Fischer teria um cantinho para um Uirapuru, um SP2 e um Concorde?
- Eu acho que se a Patty souber, eles não vão à venda no festival...
- E não vão mesmo! Onde estão?
Ele os leva ao Chevrolet COE 1956 com os três carros no reboque. Um Uirapuru 1964 azul, um SP2 1973 amarelo e um Concorde 1976 tão branco que dói nos olhos. Patricia faz algumas perguntas, testa o acabamento, liga os motores, testa as marchas...
- Arthur, traga meu talão de cheques. Vamos descer os carros... e o COE também fica. Mommy, tenho uma surpresa pra você...
Ela vai, com Robert Richard pela mão, reconhece de pronto aquela frente tristonha com aquele bigode ladeando o “VW” inscrito. Se empolga (...) estica a mão para receber a chave. A posição de dirigir é familiar, embora quase deitada, mas aquele painel é único. O ronco do motor de 102½”  a anestesia. É a reação que Patricia esperava para neutralizar a tensão das últimas quarenta e oito horas. Nancy vai menina, com Robby de carona, dirigindo seu SP2 para casa. Claro que a imprensa noticia “A agente Patricia Petty dá um esportivo exótico para a mãe. Será que tem algum armamento secreto instalado?”. Ela volta para o trabalho bem mais leve, para a alegria dos comparsas de meio século de carreira.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CXLVIII

    A rendição. A estação 148 rende os louros à perseverança e, claro, ao mérito. Não desistam e embarquem, o trem vai partir.


Nina e Lola herdam as funções das mães, que foram promovidas e cuidam sozinhas de empresas da corporação. Elas assistem a um ensaio da banda completa, com os novatos. No intervalo cuidam de adular os gêmeos (...) Se entendem tanto que as coisas engrenam e Enzo chama as irmãs para uma conversa com os pais dos garotos. As irmãs são sucintas, as filhas são inexperientes (...) há anos estão sozinhas, por isso é muito fácil magoá-las...

- Elas são virgens?

Sim, são. Para o desespero de Ann, as garotas são realmente inexperientes (...) Os pais das meninas, no começo, ficavam aliviados, mas os excessos de pudores hoje os preocupam. Excessos que se desvanecem rapidamente no momento, elas (...) cuidam deles como se fossem seus maridos. A timidez está morta. Vão às mães, puxando suas presas, e dizem com as caras mais lavadas do mundo “A gente vai se casar”. Cabelos eriçam, mãos tremem e expressões de terror se formam. Enzo e Maria interferem, chamam todo mundo para uma conversa séria. Ela, cupido do filho, se adianta...

- Vocês duas vão falar com a Marcia, estou estranhando muito essa mudança tão radical e repentina! Quero prudência nesse namoro e, no mínimo, seis meses conhecendo cada um os defeitos do par, antes de tomarem qualquer decisão. Vocês ainda são garotos!

- E por falar em defeitos, vamos escancarar de uma vez os seus, vocês escancarem os de seus filhos...

Horas de conversa e broncas prévias. Enzo dá a Silvia momentos de luxúria, enquanto isso, pela idéia de chamar seus pais. Quando terminam, já esgotados, Marina liga dando as boas notícias (...) que foram possíveis, os quatro encasquetaram que vão se casar com seus pares, não houve argumentação e nem ameaças de panelas de pressão voando além da velocidade do som que demovesse os irmãos. Enfim, atam namoro já conhecendo as regras. Seja o que Deus quiser.

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A melhor forma de irritar uma descendente de Naomi, é tocar em seus filhos. O modo mais garantido de cometer suicídio (...) é tentar ferir seus filhos, principalmente se a mãe for Phoebe Petty Gardner Tamasauskas do Prado Ribeiro. As pedras que alguns radicais jogam (...) são todas interceptadas. Enquanto Albert tenta proteger as duas com seu corpo, ela vai tirar satisfações. Dois machões se adiantam e são os primeiros a cair (...) Os outros a vêem chegar tão depressa, que não conseguem esboçar reação, a não ser se encolherem e recolherem as cabeças sob os braços. Ela está furiosa, Marcia fica furiosa, Patricia fica furiosa, Renata fica furiosa, Nancy pega um pente extra de balas, entra no Itamar e corre para Summerfields a 140km/h. Os outros vão atrás para evitar uma tragédia.

As coisas ficam tensas na chefatura, especialmente quando o herói de guerra obstrui completamente o portal de entrada (...) Patricia precisa segurar a própria ira e controlar os outros, as coisas estão ficando perigosas lá dentro...

- Ela não está na “sua” cidade, Summerfields não é sua propriedade privada. Aliás, quando dezenas de summerfielders precisaram de ajuda pra não passarem o inverno ao relento, não foi a vocês que recorreram. Eles sabiam que não teriam ajuda de quem simplesmente despreza o segundo mandamento...

Expõe todos os podres, toda a hipocrisia, todos os exemplos de Jesus que eles simplesmente se recusam a seguir. Ainda avisa que se Richard decidir entrar furioso por uma porta, não haverá força humana e trancas capazes de detê-lo. Quando saem, lá está a imprensa (...) clicando como loucos e enviando as imagens previamente vendidas. Phoebe não se preocupa com eles, quer manter as filhas nos braços o mais aconchegadas possível. Josephine os espera em Sunshadow, quer mimar as afilhadas, porque o mundo simplesmente decidiu ser tão grosso quanto injusto com elas. Mas ela sabe (...) que está previsto nos planos gerais como um dos efeitos colaterais da intoxicação a que a humanidade de expõe desde seu surgimento.

À noite a calidez da meia-luz preenche a Caixinha de Música. Os amplos vidros, com batentes ornados por curvas manuscritas, deixam silhuetas difusas aparecerem pelas finas cortinas de algodão. Lá dentro, as meninas já calmas fazem sua última refeição antes da naninha. Adormecem depressa, cercadas por mãe e avós, que então podem falar da manhã tensa...

- Albert ficou ao meu lado o tempo todo. Se alguma pedra tivesse escapado, teria acertado a cabeça dele, porque foi para onde aquelas marionetes miraram.

É ele quem toca a campainha de carrilhão (...) ele ganhou o respeito da família. Phoebe o trata com carinho, apesar de focada na batalha, percebeu o modo como tentou proteger suas filhas. Servem pão de queijo com chá mate forte, dois desconhecidos dele até agora (...) Ele fala do quanto ficou impressionado com ela em ação, de seu preparo para o combate e a facilidade com que se livrou dos interceptadores. O clima está bom e ela faz um convite...

- Você tem um terno? Semana que vem minha prima se casa, eu gostaria que você fosse minha companhia.

- Eu arranjo um.

Não consegue (...) esconder a empolgação. As meninas sentiram o abraço de proteção dele, já têm essa impressão muito forte no subconsciente (...) Na manhã seguinte ela lhe mostra os Cadillacs que está restaurando, o 1925 é presente para a mãe. Ao lado o 1954 que o pai restaurou, onde ensinou a amada a dirigir e ela à filha.

Patricia toma conhecimento dessa visita, trata com Phoebe e Richard logo após o treinamento, depois é Renata que chama Phoebe e Marcia. Já viram que a futura formação da banda tem sua própria história e seus próprios traumas (...) As duas só pediram, no final das contas, que tenham cuidado, o rapaz mostrou valor, mas ainda é um estranho na cidade (...) Renata pede ainda que o levem à casa religiosa, nos próximos trabalhos.

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Pela primeira vez em um centro kardecista, Albert estranha deveras o silêncio, a ordem visual e a ausência de adereços (...) Ao contrário dos problemas enfrentados pela maioria das casas religiosas, aqui os médiuns são dedicados e numerosos, por isso há menos desgaste para cada um. O novato se espanta quando vê a amada ajudar a presidir a mesa...

- Capitão, ela...

- É médium. Agora silêncio, depois ela te conta tudo.

Não há incorporações desta vez, mas as advertências feitas desde a inauguração são reiteradas (...) Ao fim são levados em grupos para a sala de passes, Phoebe é posicionada para fazê-lo em Albert. O torpor mal começa e ele é liberado. Na saída pergunta o que aconteceu, pois ficou leve, relaxado e ao mesmo tempo arrepiado (...) por hora só lhe dizem que sofreu uma limpeza.

No casamento de Glenda e Juan, mais uma surpresa, Renata, Marcia e Phoebe o celebram. A diva repassa às descendentes, gradativamente, mais responsabilidades (...) Unir uma maga draconiana com o neto de católicos fervorosos foi uma costura delicada, embasada na experiência. Aqui entrou o intelecto muito superior da neta, que arrematou a costura com bênçãos em sânscrito, que ela domina como ninguém. Não haverá viagem de lua de mel, para Glenda a fazenda onde nasceu (...) é o paraíso na Terra. Ficarão por aqui mesmo, tocando a vida e cuidando da descendência.

Sem problemas para ela, se outras mulheres não querem ter filhos, por um lado é até bom que não tenham, sua descendência tornar-se-á mais representativa, e sabe que virão muitos netos (...) No meio da festa, antes de jogar o buquê, ela vai falar com Patricia, Tobby, Zigfrida e Josephine...

- Espaço não será problema, mas seis filhos? Você já falou com a Karen? Tem idéia do trabalho que essa creche vai te dar?

- Tô por dentro do drama. Tenho trocado umas idéias com ela e tenho um bom propósito para justificar as muitas noites em claro. Agora a segunda questão, bem mais delicada...

- Mais delicada do que meu filho ser sexualmente esgotado?

Josephine ri desatadamente, mas fica séria quando Glenda coça o interior do lóbulo e faz um rápido sinal de “jóia” rapidamente junto ao diafragma. Ela é clara e directa, quer colaborar com a organização e colocar toda a sua rede particular de colaboradores a seu serviço...

- Explique-se – pede Josephine.

- Eu tenho colegas e aprendizes espalhados pelo mundo e nós trocamos informações detalhadas todos os dias. Gostariam de ver?

A seguem. Patricia faz um sinal para Phoebe, que chama os outros e o quarto de solteira fica lotado. Ela mostra relatórios (...) de vários países. Chega mais um e-mail (...) da Dinamarca, um aprendiz reclama da diferença entre o discurso de um mundo melhor e as intenções egoístas que realmente permeiam muitos dos que se dizem “activistas”. Quer fazer mais do que apenas registrar dados que os governos não divulgam. A capacidade de realização da moça já era impressionante, mas isto está em outro nível...

- Chérie, aproveite sua lua de mel. Seu treinamento começa logo em seguida.

- Eu já tenho um codinome em mente, se já não foi usado: Tiamat.

- Prazer, sou Star. Ela é Princess, Beyond, Genius, Angel, Brain, Firehair, Barbarian, Doom, Fly…

Voltam à festa, respondendo apenas “salvando o mundo” aos curiosos. Como ela descobriu, não vem ao caso, sabem que ela é capaz de conseguir informações valiosas com muita agilidade e sem levantar suspeitas. Mas chega a hora de jogar o buquê e as moças vão só pela farra, exceto Phoebe (...) mas é no seu colo que caem as flores (...) Carolina e William se aproximam com aqueles sorrisos mais marotos do mundo, Phoebe levanta o olhar mais inocente do mundo...

- Tanto insistiu, moço! Tanto insistiu!

- A gente não tá nem namorando ainda...

- “Ainda”?

Ela fica rubra. Carolina chama os ancestrais vivos da moçoila, de longe Glenda vê os resultados de sua travessura elfidica (...) Já em casa, ela confessa aos pais que tem muita simpatia por ele (...) e defendeu suas filhas e seu gato, embora proteger Spark seja quase inútil. Ele costuma afugentar cães grandes e turistas que não respeitam os limites da privacidade.

Albert (...) liga para a mãe. Em momento nenhum ele disse que está interessado me neta de Patricia Petty e Renata Rodrigues, ela o internaria (...) Assim que desliga, ela se despe da máscara de impassibilidade e grita pela casa para La Grande inteira ouvir...

- ROGER! Albert tomou juízo! Finalmente virou homem de verdade, ele vai se casar!

- Bebeu de novo, mulher?

Após acordar (...) ela lhe conta em detalhes (...) não sem inventar algumas coisas, como “moça prendada e excelente dona de casa” que Phoebe realmente é. Ela, por sua vez, vê as filhas e o gato tão apaixonados pelo forasteiro, que...

- Eu sei quando estou derrotada. Mãe, pai! A gente tá namorando.

Pronto, agora os exageros da provável futura sogra são todos verdadeiros. O rapaz toma uma taça de vinho seco do porto, celebrando com a família da namorada. Na manhã seguinte ele marca uma visita dos pais a Sunshadow, Patricia oferece uma suíte para eles.