Dois começos. A estação 142 traz uma nova tripulante, embora ela ainda não saiba disso. Embarquem e sejam gentis com ela, o trem vai partir.
Os seis voltam do último show da primeira
fase da turnê e vão directo para a Máquina de Costura. A casa está cheia (...) Richard não esconde na felicidade
o fio de preocupação pela decisão tomada meses antes. Técnica e
psicologicamente Phoebe está pronta, mas comparativamente ainda é uma menina (...) As portas da biblioteca
são fechadas. Josephine põe a mão na vertical, diante do nariz e Star abre a
sessão (...) Olha para a novata, espantada com
a quantidade de estrelas de elite que nem desconfiava que fossem
colaboradores...
- Doravante, entre nós, em contextos
oficiais, você é a gente Angel, nome escolhido por Genius, seu pai. Vire-se.
Dele para a direita temos Princess, Beyond, Brain, Firehair, Barbarian, Vulcana,
Fly, Shopp, Doom, Bird, Blue Ball, Squirrel, Deep Fish…
A garota abre um sorriso largo, com as mãos
juntas ao queixo e os olhos cerrados (...) Findada as apresentações, Star lhe entrega sua primeira missão e
alerta para os riscos que deve evitar. Ficará atenta a líderes religiosos que
há muito rondam Sunshadow. Ela conhece a gravidade do que ouve, mas (...) mantém o sorriso meigo em forma de coração (...) Star põe a mão à
testa, na horizontal, faz que tira algo e Josephine vai abraçar a afilhada.
Ficará a cargo do pai mostrar-lhe o caminho das pedras (...) Abrem as portas e a família lota a biblioteca,
Nancy orgulhosa de ter mais uma descendente salvando o mundo, mas (...) vai ensinar-lhe tiro, não quer que a
tentativa sofrida por Patrícia se repita com a bisneta.
&
Avisam Patrícia de um hoax que tem deixado os
fãs aflitos, de que a teriam assassinado em uma missão secreta. Ela vai ver do
que se trata e lá está ele, circulando pelas redes sociais...
- Que grosseria! Me matam e nem me avisam! Eu
ainda estou em Sunshadow, não vai dar pra ir ao meu funeral!
Ela sai de casa (...) seguida
por uma jovem fã que foi ver por si a mentira. A diva se vira, sorri para a
garota de mãos no peito e oferece companhia. Vai conversando com ela até a casa
de solteira, onde o boato já chegou. A visitante fica em êxtase (...) servida por ninguém menos do que Mamãe Broto.
Sakura mostra no tablet a repercussão da resposta (...) As duas pensam um pouco, vão aproveitar esses
hoaxes que de vez em quando matam alguém que está mais longe da morte do que a
dívida pública de ser paga...
- Carly, quer conhecer os outros?
Era para ser apenas uma visita (...) mas ganhou a vida. É apresentada aos outros e aos
que a banda lançou (...) Decidem que farão os próximos clipes baseados em todas as
bobagens que circulam a seu respeito. Carly estranha as presenças de Sandra,
Phoebe e Giovanni (...) Começam com um aquecimento, afinam
as vozes, então todo mundo canta qualquer coisa para aquecer, ninguém deixa de
notar um timbre diferente...
-
…Is when you'll think impossible to live again, without it, and you believe
the sadness is for ever. You can stay a little time, for cure a pains, but
after need move on, you’ll need move on…
Todos param para ouvir Carly cantar
“Resignation” (...) seu timbre agudo aveludado. Termina de
cantar e se vê alvejada pelos olhares...
- Vem cá... Você é profissional? Oh, no? Agora
é. Vamos conversar...
Patrícia a coloca no meio de uma roda. Em uma
hora os pais da garota estão lá (...) Decidem que ela vai largar aquele colégio mediano e se enfurnar
na fundação em tempo integral, a entregam para Happy Moon já prevendo o que ela
vai dizer...
- Você está ciente de que vai carregar pedras
morro acima todos os dias, pelo resto da vida?
Eles fazem a festa, é como esperar pelo
bordão de um humorista de seriado. Fica para ser avaliada (...) Josephine é comunicada, com
photos, o relatório dos agentes e a impressão que a garota deixou nos outros...
- Irônico... Tudo vai de mal a pior, mas tudo
está indo bem.
Divagações afins também se dão em Sunshadow,
Elias encontra Kurt no jardim, ensimesmado em um momento que parece ser tão
lúcido quanto realmente é (..) Ele se
aproxima do garoto, que deu à maison a idéia de repetir o “erro” das estampas
fantasmas, elas deram vida aos tecidos, a roupa parece se mexer mesmo em
repouso (...) A introspecção lembra a
depressão do pai, mas não tem correlação...
- Do início ao meio do século XX o mundo
viveu uma reedição do renascentismo...
Ele solta (...) em tom melancólico. Elias recolhe os lábios, o que
normalmente indicaria o início de uma crise depressiva, e responde...
- Houve muitos conflitos de conceitos na
época. A imprensa e a tecnologia acenavam para um mundo novo, mas a mentalidade
ainda estava velha, como até hoje, o cenário de contrastes deixou os conflitos
pessoais muito evidentes na fronteira das transformações e dos apegos.
- Houve as guerras. Já havia guerras, mas
houve duas mundiais em um período curto de tempo. Teriam os conflitos se
refletido em pares internos de consciência, entre a necessidade de realização
legítima das aspirações e o aparente egoísmo de se desejar viver seu próprio
mundo, enquanto o mundo clamava, ferido, pela quota de sacrifício de cada um?
- Houve. Eu já vivi esse conflito. Mas depois
daquele atentado, e de conhecer sua mãe, compreendi que as feridas do mundo não
serão curadas tirando os curativos das minhas. Uma ferida pede gazes novas e
limpas, as usadas só tendem a agravar uma infecção, mas os que sobrevivem à
ela, tendem a se tornar imunes aos seus agentes patogênicos.
- Os gênios que tivemos até o meio de século
sobreviveram, bem ou mal, às feridas e infecções. Eles também aprenderam a sua
lição, mas não deixaram descendência em suas sendas. O meio de século foi o orgasmo
da genialidade que se formou durante todo o século anterior, mas o gozo dura
pouco e a depressão se avizinha quando o prazer se finda. O meio de século
passado não parecia ser maravilhoso, ele foi, foi o gozo, o ápice do trabalho
iniciado no meio de século anterior.
- Estética e conceitualmente sim, foi. A
disseminação massiva dessa estética e desse conceito, partindo deste país que
tanta gente repudia, fez a coletividade se esquecer por algum tempo que os
problemas do mundo não tinham sido resolvidos e que as chagas do século XIX
ainda persistiam. Mas houve esperança como em nenhuma outra época.
- Beleza e esperança... Beleza e esperança...
Beleza e esperança... Troca-se uma refeição por uma noite de esperanças, mesmo
com o estômago vazio... Não só de pão vive-se... Até as plantas esperam receber
mais luz e consomem recursos para lançar folhas ao lado mais claro.
- Ainda que as raízes permaneçam nas trevas. A
árvore não vive sem elas, as folhas colhem dióxido de carbono e luz, mas não
podem colher os nutrientes dissolvidos na água do solo.
- Não se precisa parecer vanguarda para ser
vanguarda.
- Não. Às vezes a vanguarda legítima parece
velha, mas porque está insistindo há muito tempo sem perder sua essência,
enquanto a mentalidade rançosa muda de táticas e vestes para convencer as
pessoas a se manterem no mesmo lugar, às vezes se fazendo de moderna.
- Tudo o que transforma já foi vanguarda.
- Tudo o que transforma é vanguarda. A roda
ainda transforma o mundo, o colisor de hádrons é uma roda e o movimento das partículas
em seu interior consiste em uma roda efêmera.
- A roda já existia, não foi inventada pelo
homem, foi transposta para o uso mundano.
- Só inventamos o julgamento do outro tomando-nos
como parâmetro e paradigma. As raízes da árvore, ao contrário do ranço mental,
não a privam de crescer e lançar sementes para longe, com o vento e os animais.
- Inovação e tradição não são incompatíveis.
- Não. Pelo que a madrinha tem me dito, muita
gente compreendeu isso por algum tempo, quando eles começaram a carreira.
Infelizmente os rançosos não se conformam em viver seus ranços, eles precisam
que todos no mundo mergulhem nesse mesmo ranço e se nivelem por ele.
- Um século de trabalho árduo, e tão pouca
gente se apercebeu dele... Então a vanguarda é em si imutável, só troca de mãos
e se adapta ao tempo em que for aplicada.
- A única coisa que nunca muda, é o facto de
que tudo sempre muda, porque se o homem não aplica a vanguarda, a evolução, o
próprio universo se encarrega de impô-la, mas em vez de aprender com o erro, vê
tudo como castigo ou como ira divina pelo comportamento do outro; Sempre do
outro.
- Tia Mascote e tio Bobby são vanguarda...
Quase meio século de trabalho e o mundo ainda não se deu conta do que eles
realmente fazem... Mas eles estão deixando descendentes.
- Como a sua irmã. É necessário alguém pegar
o bastão para a corrida continuar.
- É por isso que a estética de meio de século
me parece tão mais moderna do que a de hoje! Ela é mais moderna, ela é
vanguardista, uma mesa de centro dos anos quarenta tinha o formato de um
paramécio com o núcleo de vidro e três pernas em “V”! Isso é mais funcional do
que uma mesa quadrada com sua eficiência supérflua!
Norma e Enya observam (...) A mãe do jovem philósopho filma, sabe que não terá palavras para
descrever e não conseguirá se lembrar de todos os meandros desse diálogo (...) Mostra para os irmãos, que cuidam de
mostrar aos outros. O áudio é baixo, mas Sunshadow é relativamente silenciosa,
o que dizem é perfeitamente audível. Patrícia se desmancha novamente, ver dois
intelectuais conversando sem discursos prontos, frases de efeito e palavras de
ordem, é um alívio (...) Uma pequena reunião se dá na Máquina de Costura, para todos
verem. Carolina tem um pequeno curto-circuito, mas consegue compreender em
essência o que dizem. Josephine, com tantos anos de serviço secreto (...) percebe um pouco dos caminhos que eles
usaram para chegar a cada conclusão e formular cada fala...
- C’est incroyable... A linguagem de Kurt é
mais acadêmica e rebuscada, mesmo assim eles se entendem!
- Elias é uma ponte – diz Nancy. Ele consegue
unir dois mundos completamente diferentes...
Todos olham para Renata, esperando alguma
resposta para esse talento e uma explicação para ter sido tão reprimido por
tantos anos...
- Hello, eu não sou Deus! Eu não sei de tudo!
Só sei que ele não está aqui por acaso e rejeita a idéia de estar no mundo só
de passagem. Bons leitores, eis o ponto para vocês lerem. Por que não perguntam
à minha digníssima filha e à minha descomunal neta?
- Porque eles ainda não falam nada disso pra
gente. Não sei porque eles preferem minha amantíssima mãe, mas quero que
continuem preferindo.
- Mas vão falar, vocês podem esperar que eles
vão falar e vocês terão que dar conta do recado.
Enquanto elas divertem os demais com seus
dramas mediúnicos, Kurt (...) Ensina lógica
para crianças todas as terças-feiras, de modo lúdico, sem poupá-las de
raciocinar (...) Na volta da aula (...) ouve uma voz compassada repreendendo outra de um
agudo incrível. É sua amiga Lidia com uma novata, nunca se esquece de uma voz,
então a aluna é novata...
- Com licença... Oi, Moon.
- E eu pensando que não teria mais malucos na
minha sala por hoje... Olá, Kurt. Desculpe se a lição incomodou seus ouvidos.
- De modo algum. A nova aluna.
- Patrícia e toda a turba, incluindo irmãs,
filhos e netos, descobriram um talento difícil de lapidar... Carly, este é Kurt
Spring, você provavelmente o conhece dos editoriais de arte e moda.
- Oi – diz completamente encantada.
- Bem-vinda. Qual a dificuldade?
- Ela veio de um colégio comum, isso já
dificultaria muito. Infelizmente esse colégio primou por manter adormecido um
talento difícil de mensurar, agora ele acordou e não sabe se portar. Os agudos
são tão amplos e variam tanto de intensidade, que parece que ela mesma não
sabia deles.
- Pode dar uma demonstração?
Ela consegue ser quase ultrassônica (...) excedendo fácil cinco oitavas. Para ele, ela varia da seda pura de fios mais
longos à lona de carga mais grossa. Dá um sorriso que inquieta a apache, sugere
que procure auxílio de Eddie (...) Ela vai. O teste é como se tivessem jogado mil latas de
tinta, uma de cada cor, em uma parede, quebrado mil frascos de perfume totalmente
diferentes entre si, colocado todos os temperos do mundo em um cachorro quente,
enfim, ela quase se desespera...
- Moon! Dome este animal, pelo amor de Deus!
- O que você percebeu?
- Ela tem todas as vozes do mundo e solta
todas de uma só vez!
Ela pensa um pouco, entra na sala e pede que (...) imite as vozes do Dead Train. Precisa
corrigir várias vezes, mas encontra o nó que precisa desatar...
- Eddie, muito obrigada, agora eu sei o que
fazer. Voz da Rebeca, comece a afinar...
A sinesteta, quase tonta, vai à Máquina de
Costura (...) Relata sua experiência traumática e
pergunta onde encontraram aquela hidra vocal. Os seis vão ver isso, desta vez
levam Josephine e a garota desmaia. Happy Moon fala de todo o potencial que
encontrou naquela adolescente (...) Os seis se olham, sorriem, encontraram a
quarta sucessora. Não lhe contarão por enquanto, querem que esteja pronta para
receber a notícia.
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